Jogos esportivos sempre possuem dois extremos: ou são megarrealistas, com equipes, táticas e campeonatos oficiais; ou são fantasiosos, com partidas atípicas e composições inusitadas que focam exclusivamente na diversão. O contato dos gamers com o golfe geralmente vai na segunda direção, com campos na lua, tacos-foguete e bolas com efeitos pirados.
PGA Tour 2K23 pode ser uma alternativa para quem quer uma experiência mais fidedigna ao esporte. Entretanto, nesse caso, a vida pode não ser tão empolgante quanto uma disputa inventada.
Cadê os ingredientes do bolo?
Bom, uma coisa que aprendemos nas últimas décadas com os jogos é que uma estrutura-chave acaba sendo levada para mais de um título, como aquela receita de bolo de cenoura feita pela avó. A 2K obedece essa regra e tenta aplicar os mesmos sistemas em diversas franquias esportivas, mas, em PGA Tour, isso acaba sendo um pouco falho.
A exemplo de NBA 2K23 (Multi) e WWE 2K22 (Multi), ambos lançados neste ano, já sabíamos o que esperar em termos de modos de jogo. É possível criarmos nosso golfista virtual e seguir uma carreira desde os torneios amadores até a famigerada FedEx Cup, a joia da coroa do esporte. E é basicamente isso.
Por se tratar de um jogo individual, não houve qualquer possibilidade de uma introdução na espécie do MyTeam, no qual escalamos uma equipe baseada em cartas, ou do MyGM, no qual gerenciamos um evento. Além disso, o próprio MyCareer é compreensivelmente raso, com apenas menus estáticos e ilustrativos que precedem os torneios. E sim, mais uma vez tudo em inglês, para desespero de quem não conhece o idioma e nem entende as regras do campeonato.
Uma pedida que deu certo com Rey Mysterio e Michael Jordan seria ter um tipo de Showcase ou Challenge focado em Tiger Woods. Com uma carreira de mais de 25 anos e dezenas de recordes, não ter um modo em que podemos replicar algumas de suas conquistas é uma grande bola fora.
A barreira linguística cresce um pouco mais ao chegar a hora de distribuir os pontos de habilidade e customizar nossas roupas, tacos, bolas e até escolher a aparência do nosso caddie. Quem já está acostumado com as partições da família 2K, consegue se encontrar rápido. Agora, se você estiver na sua primeira experiência, irá se perder com uma certa frequência nos menus.
Podemos disputar partidas em rede ou de modo local, mas sem grandes emoções, já que o golfe em si traz uma apresentação mais estática. O que irrita bastante nisso é a necessidade constante de manter a conexão, mesmo jogando offline. Não foram incomuns interrupções e quedas até mesmo no meio de uma sessão de treino solo quando o servidor ficou sem sinal.
No mais, temos à nossa disposição um rol com grandes nomes do golfe, como Bubba Watson, Harold Varner III, Rickie Fowler, Lydia Ko, Justin Rose e o garoto propaganda desta edição, Tiger Woods. Além disso, contamos com a participação inusitada de Michael Jordan e Steph Curry, que, apesar de serem mais famosos nas quadras, são só alguns dos esportistas de outros ramos que são adeptos do golfe.
Entretanto, o elenco só está acessível para as partidas multiplayer, tanto online quanto locais contra CPU. Além do MyCareer, no qual obviamente temos que utilizar nosso avatar, sobra o Treino e mais um modo, que funciona com a premissa de mirarmos em diferentes alvos luminosos para juntar pontos. Em ambos também somos obrigados a ficar com o nosso fulano.
O que dá uma aliviada nesse marasmo de conteúdo é a possibilidade de construir nosso próprio campo de golfe. Já contamos com 20 percursos oficiais, mas, para quem quer diversidade, vai se divertir em variar um pouco dos ambientes verdejantes erguendo um campo no meio do deserto, com direito a elevações, plantas, morrinhos, casas e até jacarés pelo trajeto.
Entre Birdies e Bogeys
Em meio a toda essa escassez de modos de jogo, também tenho que reconhecer que jogar PGA Tour 2K23 não é tão complexo, apesar de ter algumas pegadinhas que podem enrolar quem está começando.
Para explicar de maneira simples: cada buraco tem que ser acertado em uma quantidade determinada de tacadas, chamada de PAR (resultado médio profissional, em tradução livre). A pontuação na partida é determinada pela quantidade de movimentos necessários abaixo do PAR para alcançar o buraco. Eles têm classificações com os seguintes nomes:
Ace: é o famigerado acerto com uma tacada só;
Albatross: é o acerto 3 tacadas abaixo do par;
Eagle: é o acerto 2 tacadas abaixo do par;
Birdie: é o acerto 1 tacada abaixo do par;
Bogey: é o acerto com o 1 tacada acima do par. É sucedido pelo double bogey e o triplo bogey, em caso de mais erros.
Para exemplificar: se estamos no buraco 5 de um campo e o PAR indicado é 4, então temos quatro tacadas para chegar ao buraco. Se conseguimos realizar esse objetivo com 3, então conseguimos um Birdie. O vencedor da partida é quem completar o curso de 18 buracos com o menor número de tacadas.
Nessa parte, o jogador está muito bem amparado pelas mecânicas oferecidas, mas é necessário atenção. Podemos mover o taco com o analógico direito, com o esquerdo ou combinando os dois. Para quem quer algo mais simples, também há a opção de realizar sua ação apenas com o toque do mesmo botão três vezes, para ajustar força, direção e balanço.
Utilizar os analógicos demanda mais tempo até criar o domínio, mas a precisão oferecida com esse método é muito superior à nova, de três toques, que foi inserida nesta edição da franquia. Ela simplifica o trabalho, mas ter que acertar o balanço da barra giratória pode ser um problema em alguns casos.
Além disso, há diversos tipos de assistências que fazem o jogador se acostumar com o andamento da partida. Gráficos que destacam o relevo do gramado e mostram a trajetória da bola durante o putt (tacada curta, próxima ao buraco), até as setas que mostram a trajetória e a velocidade do vento.
Também temos uma ajudinha na hora de escolher o melhor taco e postura antes de fazermos nosso movimento, pensando sempre em não faltar ou exagerar na força. Tudo isso estimula quem está no controle a primeiro estudar o território e evitar uma armadilha de areia, por exemplo, em vez de sair rebatendo de qualquer jeito.
A jogabilidade competente é praticamente o que sustenta os pontos positivos, já que o trabalho de transmissão da partida é feito com base no que é visto nos canais esportivos e, convenhamos, golfe não é o esporte mais dinâmico do mundo e está longe de ter uma avalanche de highlights, como o basquete e o futebol americano.
Até mesmo os visuais e a trilha sonora se colocam de maneira discreta demais. Os modelos dos golfistas não são feios, mas também não comprometem. A trilha sonora inexiste, mas também não dá para imaginar algum tipo de playlist que traga energia para um campo.
Ficamos à mercê dos narradores, que acabam soltando comentários um pouco aleatórios e errôneos, e quem entende pelo menos um pouco de inglês vai sacar que não é incomum eles falarem que nossa tacada está indo na direção totalmente oposta de onde acertamos.
Tem seu charme, mas não é para todo mundo
PGA Tour 2K23 até oferece uma boa experiência em termos de jogabilidade, mas sofre de um mal gerado pelos seus irmãos de outros esportes, mais chamativos e originalmente mais instigantes. O seu conteúdo é considerado muito raso, mesmo com um interessante modo de criação de campo. É um título recomendado apenas para quem for realmente fã do esporte.
Prós
- A jogabilidade é fácil de aprender;
- Diversos recursos que auxiliam na leitura do campo;
- É bem bacana construir seu próprio campo de golfe.
Contras
- Poucos modos de jogo;
- Poderia ter um foco maior na carreira de Tiger Woods;
- Ausência de um elemento sonoro marcante;
- Comentaristas se confundem com certa frequência;
- Não é possível utilizar os demais golfistas fora dos modos multiplayer;
- Sem legendas em português.
PGA Tour 2K22 — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 6.5Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela 2K