Produzido pelo estúdio indie brasileiro Glitch Factory, No Place for Bravery conta a história de Thorn, um guerreiro que parte em uma missão para encontrar sua filha sequestrada há dez anos. Este jogo apresenta uma série de elementos cativantes, como visuais em pixel art, combate frenético e sangrento, e uma mitologia bem desenvolvida. Mesmo com alguns problemas, a experiência proporcionada é divertida, desafiadora e muito emocionante.
A esperança de um guerreiro
Há milhares de anos, quando o Colosso apareceu no mundo de Dewr para destruí-lo, os Quatro Heróis surgiram para impedi-lo colocando-o sob o poder do Selo, uma magia que será passada de geração em geração pelos Guardiões, e criando a Velha Ordem, uma organização que deve recrutar guerreiros e manter o Selo ativo. Hoje, o Colosso encontra-se dormente nas Terras do Oeste com sua espada Quebramundos, apenas esperando que o último Guardião caia e o selamento seja quebrado.
Com o passar do tempo, diferentes pontos de vista acerca das antigas histórias levaram a uma sangrenta batalha entre os cavaleiros da Velha Ordem conhecida como a Batalha da Fenda. Por fim, a organização foi extinta e poucos foram os que sobreviveram. Um dos sobreviventes é Thorn, ex-membro da Velha Ordem e portador do Selo, que desde a batalha tenta viver uma vida tranquila com sua esposa Rosa e sua filha Leaf.
Em um dia de passeio com sua filha, Thorn é confrontado pelo Feiticeiro, um ser mágico e poderoso que a sequestra. Após fracassar em socorrê-la, Thorn encontra Phid, um garoto debilitado em meio ao banho de sangue, e resolve adotá-lo. Dez anos se passaram desde o incidente e o guerreiro, que ainda nutre esperanças de encontrar sua filha, resolve seguir pistas do paradeiro do Feiticeiro após certos acontecimentos na cidade de Ossuário.
Um combate intenso e sangrento
No Place for Bravery apresenta uma estrutura de gameplay simples, porém bem trabalhada. O combate segue a dinâmica de um soulslike, em que devemos planejar os ataques, bloqueios e esquivas com cautela e sempre ficar atentos ao consumo de estamina. Ao longo da aventura, Thorn poderá utilizar até três armas diferentes: a espada, com um maior balanço entre dano e mobilidade; o martelo, que o deixa mais lento, porém profere mais dano; e a balestra, que permite ataques de longa distância.
As armas têm um propósito para além do combate. Os equipamentos são utilizados na resolução de quebra-cabeças e na exploração dos cenários. O mapa não é extenso, mas possui bastantes locais para explorar e coletar itens de vida, documentos e melhorias para os armamentos. Mesmo não sendo obrigatório, vasculhar as áreas é sempre satisfatório e recompensador.
Os desafios durante a exploração se resumem, além de enfrentar inimigos, a percorrer trechos de plataforma. Porém, Thorn não possui habilidade de salto. Esses obstáculos são superados utilizando a esquiva do protagonista. No entanto, esse movimento é, por vezes, impreciso, causando uma série de falhas e perda de vida.
Em alguns momentos, ocorriam bugs na movimentação do guerreiro entre as plataformas de forma que eu ficava preso em determinadas seções. Nesses casos, a única solução possível era torcer para um inimigo me matar ou reiniciar o jogo.
Um mundo hostil em decadência
O ponto mais alto de No Place for Bravery é, certamente, sua história e a forma como é conduzida. O jogo trata de maneira séria a relação de luto e esperança de Thron e, sendo portador do Selo, o seu vínculo com os problemas políticos e sociais de sua cidade. Essa seriedade é vista em toda a construção de diálogos, documentos, ambientação e gameplay.
Por viverem em uma sociedade receosa de sua destruição, os diálogos com NPCs costumam abordar os medos, inseguranças e loucuras dos personagens. Já os documentos costuram os detalhes soltos da história de maneira brilhante, contendo textos sobre todos os elementos apresentados. Além disso, é possível sentir o peso de nossas escolhas durante a jogatina, e as reviravoltas no final me deixaram realmente boquiaberto.
O mesmo vale para a ambientação do continente. Os cenários conversam com a temática hostil e sombria da aventura de maneira excelente. Os gráficos em pixel art dão um charme ainda maior para o jogo, principalmente por conta do seu alto nível de detalhes.
Por fim, o combate intenso e sanguinário mostra que a aventura de Thorn é séria e que ele luta por algo maior que sua existência. O protagonista sente o peso de suas escolhas do passado e precisa lidar com suas consequências. Além disso, algumas ações de combate refletem a alteração de personalidade do protagonista, que finaliza seus adversários com cada vez mais brutalidade.
Mesmo com a alta dificuldade, jogadores menos experientes neste estilo de jogo podem desfrutar da história pois No Place for Bravery possui um modo de dificuldade mais fácil. Os parâmetros de dificuldade podem ser alterados a qualquer momento através do menu, caso o jogador deseje.
Onde a bravura não tem vez
No Place for Bravery aborda de maneira séria e madura a esperança e os medos de um pai em busca de sua filha desaparecida. Todos os aspectos do jogo se encaixam de maneira competente para criar uma história emocionante, além de apresentar uma mitologia rica em detalhes e muito interessante. Apesar de eventuais bugs e a imprecisão nos trechos de plataforma, este jogo é altamente recomendado para os que buscam uma história comovente e combates desafiadores.
Prós
- A possibilidade de balancear a dificuldade torna o jogo acessível a todos os jogadores;
- Mitologia riquíssima em detalhes, com inúmeros documentos relatando a evolução daquele mundo;
- A ambientação é belíssima e constrói de maneira competente um mundo desolado e sem esperança;
- O combate é desafiador e frenético, além de proporcionar finalizações visualmente impactantes.
Contras
- Os movimentos de esquiva durante as sessões de plataforma são imprecisos;
- Eventuais bugs em plataformas forçam o jogador a morrer ou reiniciar o jogo.
No Place for Bravery — PC/Switch— Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Ysbryd Games