Análise: Moonscars (Multi) é uma jornada brutal por um mundo soturno

Troque de corpo e tente sobreviver aos perigos deste título indie bem produzido.

em 28/09/2022

Uma guerreira feita de ossos, argila e essência divina é a protagonista de Moonscars, aventura de ação 2D com toques de soulslike. Para descobrir as suas origens, a mulher precisará desbravar um reino sombrio e repleto de perigos implacáveis em que a morte pode ser enganada: ela consegue trocar de corpo e, no processo, adquire novos poderes. O combate ágil e de desafio acentuado é o seu maior trunfo, e o mundo encanta com o visual sombrio e opressor. O jogo executa bem ideias consagradas, mas alguns aspectos subdesenvolvidos tiram um pouco do brilho da aventura.

Uma espadachim de argila em busca de respostas

Neste mundo, uma entidade divina conhecida como Sculptor criou os clayborne, seres moldados a partir de argila, pó de ossos e de icor, o fluido vital dos deuses. No entanto, algo deu errado: algumas dessas criaturas se tornaram agressivas e passaram a atacar os humanos. Para contê-los, o escultor criou os Pristines, guerreiros menos suscetíveis à corrupção. Um deles é Grey Irma, a única sobrevivente de uma missão em uma região distante. Ela está confusa e começa a ouvir vozes que dizem: “encontre o Sculptor”.


Com isso, a guerreira parte em uma jornada para encontrar seu criador e conseguir respostas sobre sua própria existência. No controle de Grey Irma, exploramos inúmeros cenários sombrios em uma aventura 2D de ação e plataforma. O combate é o foco, com batalhas constantes contra diferentes tipos de inimigos. Além de atacar com sua espada, esquivar e aparar golpes, a protagonista é capaz de consumir suas reservas de icor para lançar feitiços ou recuperar a vida.

Conforme derrota inimigos, Grey Irma adquire experiência e, ao subir de nível, podemos escolher uma nova habilidade passiva. Um detalhe curioso é que, sob certas circunstâncias, a guerreira pode transferir sua consciência para um novo corpo de argila. Ao fazer isso, ela adquire um ataque especial, como uma lança ou um martelo atordoante, no entanto perdemos todos os bônus passivos adquiridos anteriormente. Não só isso: o corpo anterior é dominado por uma consciência maligna e precisamos derrotá-lo.


Fora dos combates, exploramos um mundo intrincado e labiríntico. Os cenários têm trechos de plataforma, caminhos alternativos, segredos e mais. Os mapas são extensos e algumas partes só podem ser acessadas após ativar dispositivos ou encontrar chaves. Por sorte, a navegação não é tão custosa, pois há muitos pontos de viagem rápida. Grey Irma tem acesso também a uma oficina na qual personagens vendem itens e dão informações valiosas.

Entre a vida e a morte no frenesi da batalha

Moonscars me prendeu com seu combate acelerado e brutal. A ação é acelerada e lembra um hack and slash: Irma é capaz de fazer combos rápidos enquanto escapa e lança feitiços. Apreciei, em especial, a possibilidade de lançar inimigos em espinhos e outras armadilhas para derrotá-los com maior facilidade. Há também uma boa variedade de feitiços para usar, como um vórtex que prende oponentes ou estacas que surgem do solo. Tanto as magias quanto a cura utilizam a mesma fonte de energia, então precisamos balancear o uso para sobreviver.


Mas não se deixe enganar pelo ritmo ágil: Moonscars é um jogo difícil. Os inimigos são bem agressivos e é essencial observar suas investidas para agir na hora certa. Muitos oponentes, inclusive, são mais suscetíveis ao contra-ataque, ativado ao aparar os golpes no último segundo — é uma técnica poderosa, mas errar o tempo deixa Irma completamente vulnerável.

Além disso, diferentes tipos de monstros atacam em conjunto e precisamos também evitar as armadilhas dos cenários. Isso faz com que os embates sejam constantemente intensos, mas também recompensadores. O desafio é balanceado e, de modo geral, consegui superar as dificuldades ao reajustar a minha estratégia.


Aspectos de soulslike estão presentes na forma de várias mecânicas. Após sermos derrotados, precisamos voltar ao local da morte para recuperar o nosso estoque de bonepowder, a moeda deste mundo. O combate tem camadas sutis, exigindo observação para entender padrões de ataques, especialmente nos chefes — atacar de qualquer jeito é sinônimo de morte. Por fim, os mapas contam com atalhos e caminhos alternativos que aliviam a frustração da derrota. O diferencial aqui é que as batalhas são bem mais ágeis.

Nesse contexto, o que me incomodou no título foi a pouca evolução das mecânicas de combate. No decorrer da aventura, o arsenal de movimentos de Grey Irma pouco muda, ou seja, executamos com frequência o combo básico e o ataque carregado para lançar inimigos. Alguns aspectos ajudam a trazer variedade, como diferentes combinações de monstros, feitiços e armas secundárias, mas sinto que a ação se beneficiaria de mais opções.



Desbravando um reino lúgubre

Além dos combates, Moonscars conta com um intrincado mundo que convida à exploração. O começo da aventura é bem linear, mas depois de certo ponto a progressão se torna mais aberta com diferentes rotas e possibilidades. Os mapas contam majoritariamente com corredores que mesclam desafios simples de plataforma, combates e um pouco de exploração. Não é excepcional, mas funciona bem na maior parte do tempo.

Porém, a experiência fica um pouco cansativa quando chega o momento em que podemos ir para diferentes lugares. Os cenários são muito parecidos visualmente e as dicas dos objetivos são vagas demais. Além disso, o mapa tem design confuso que dificulta saber com clareza se uma linha é uma parede ou só um ponto ainda não atravessado. A soma desses detalhes me deixou perdido e frustrado, pois fiquei rodando pelos mesmos lugares tentando encontrar o próximo passo.


Já a ambientação me surpreendeu com seu visual belo e soturno. A arte em pixel art usa sombras e um traço levemente impressionista para evocar uma sensação desconcertante, mas também hipnotizante. Os cenários conseguem trazer um tom constante de desolação com corredores apertados de um castelo, um jardim dourado em que a luz transforma tudo em silhuetas e uma montanha infestada de monstros rochosos. Uma trilha sonora repleta de cordas suaves complementam a atmosfera com melodias melancólicas.

O tema de fantasia sombria também é explorado na construção do universo. A trama tem vários conceitos inventivos, e a narrativa é truncada e críptica. Essa abordagem é comum em outros soulslike e nos convida a tentar juntar as peças, mas aqui a execução deixou um pouco a desejar. O problema é que há grande quantidade de diálogos, mas eles são repletos de termos estranhos e mal explicados, o que os torna confusos. Uma quantidade menor de cenas expositivas deixaria a progressão mais agradável.



Um conto taciturno e intrigante

Moonscars usa ação ágil para criar uma boa interpretação do gênero soulslike. O combate de ritmo acelerado é o ponto alto e, como é de praxe, a dificuldade é intensa, porém justa. Os mapas não são memoráveis e as mecânicas de batalha evoluem pouco no decorrer da jornada, mas o frenesi e a tensão constantes conseguem compensar essas imperfeições.

O universo de fantasia sombria nos envolve com o visual elaborado e a atmosfera desoladora, reforçando os temas da trama. A ambientação é críptica e instigante, mas o excesso de diálogos obscuros atrapalha o ritmo. No fim, Moonscars é uma experiência notável.

Prós

  • Combate ágil e com boas opções estratégicas;
  • Dificuldade acentuada, mas justa;
  • As áreas oferecem bom equilíbrio entre plataforma, batalhas e exploração;
  • Ambientação intrincada com visual sombrio e música suave.

Contras

  • O sistema de batalha pouco evolui no decorrer da aventura;
  • Mapas simples e visualmente parecidos demais atrapalham a exploração;
  • Alguns aspectos da ambientação, como diálogos, influenciam negativamente o andamento.
Moonscars — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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