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Análise: Doko Roko (PC) traz ação ágil e bela, porém parece incompleto

Em desenvolvimento por sete anos, este título indie tem boas ideias, mas escorrega na execução.


Doko Roko instiga com sua bela e enigmática ambientação e com suas mecânicas ágeis. No controle de um guerreiro misterioso, utilizamos diferentes espadas para enfrentar inimigos e escalar uma torre. O jogo utiliza conceitos consagrados e é competente até certo ponto, porém muitos problemas e uma sensação de incompletude tornam a experiência decepcionante. 

Um espadachim desbravando um mundo enevoado

Um ser encapuzado conhecido como Unslain (ou “não-morto”) acorda em um lugar desolado. Com uma espada na mão, o guerreiro decide escalar uma torre infestada de demônios e outros perigos. Curiosamente, ao ser derrotado, ele desperta novamente na base do edifício, como se nada tivesse acontecido. O que ele busca? O que essa perigosa jornada reserva a ele?

No controle do misterioso personagem, nosso objetivo é simples: escalar a torre, derrotando todos os inimigos que aparecem pelo caminho. O título utiliza esse conceito em uma aventura de ação e plataforma 2D de ritmo acelerado. Para atacar, o herói conta com diferentes espadas cujos golpes podem ser direcionados livremente com a alavanca direita. Ele também conta com movimentos ágeis de locomoção, como um salto no ar e uma investida capaz de evitar ataques.


Um dos aspectos centrais de Doko Roko é a variedade de armas. O encapuzado começa a aventura com uma espada simples, mas pelo caminho ele encontra outras com características diversas: uma lâmina flamejante capaz de incendiar inimigos, adagas enfeitiçadas lançadoras de projéteis, um sabre que expele água a cada corte, espadas imensas, e mais. O personagem pode carregar até quatro espadas, sendo possível alternar entre elas livremente. As armas têm durabilidade limitada, então precisamos gerenciá-las com cuidado.

A estrutura da jornada é bem tradicional, contando com fases com um chefe no final. Morrer significa recomeçar desde o início somente com a espada inicial e os mapas e elementos mudam a cada tentativa. Pelo caminho, podemos utilizar as almas coletadas dos inimigos para comprar armas ou recuperar a vida.



Cortando tudo vigorosamente

Doko Roko foca em velocidade para entregar uma boa experiência hack and slash. O herói se move com agilidade e atacar em qualquer direção traz versatilidade aos embates. Apreciei a diversidade de armas, cada qual com características únicas, o que me permitiu montar diferentes estratégias durante as fases. Por terem uso limitado, precisei pensar estrategicamente na hora de utilizá-las — normalmente guardei as espadas mais fortes para os chefes.

A ação é rápida e descomplicada, porém não pense que não há complexidade, pelo contrário: o jogo é bem difícil. Isso se dá pela atitude agressiva dos inimigos, que costumam atacar em grupo, o que torna cada encontro empolgante e intenso. Golpear de qualquer jeito raramente dá certo, sendo assim é essencial observar os oponentes com cuidado, esquivar de suas investidas e golpear na hora certa. Os chefes, em especial, são o ponto alto com seus ataques complexos e imponentes.


Fora o ritmo acelerado, Doko Roko nos envolve com sua atmosfera misteriosa. O visual é agradável, contando com gráficos em pixel art elaborados e vibrantes, com forte uso de luz e névoa para reforçar o tom enigmático dos cenários. Destaco a movimentação cuidadosa do protagonista encapuzado e dos inimigos, o que deixa cada embate visualmente apelativo. Já a trilha sonora complementa a ambientação com composições suaves e etéreas.

Enfrentando uma infinidade de problemas

Doko Roko explora ideias consagradas com competência, mas depois de pouco tempo uma série de problemas ficam aparentes, comprometendo a experiência.

Para começar, o combate tem alguns aspectos desbalanceados e irritantes. O ataque do herói tem alcance muito curto, nos forçando a chegar bem próximo dos inimigos para atacar. Além disso, o corte tem amplitude bem reduzida, bastando muito pouco para errar os golpes. Some isso a inimigos extremamente ágeis ou pequenos atacando em grupo e rapidamente o combate se torna frustrante. A dificuldade também é desbalanceada, com oponentes muito fortes e espadas muito fracas.


Outra questão negativa está no visual: é comum a tela ficar tomada por efeitos, como brilhos e explosões, o que dificulta entender o que está acontecendo. O contraste entre os inimigos e o cenário não é bom, tornando difícil às vezes distinguir os perigos. Por fim, para piorar, muitos projéteis e inimigos surgem do nada no campo de visão, e dificilmente temos tempo hábil para reagir — foram várias as vezes que morri sem entender o motivo.

Por fim, muitos dos aspectos do jogo carecem de profundidade. A variedade de espadas é bem reduzida e elas são muito parecidas entre si. Os estágios têm mapas desinteressantes e extremamente similares, mesmo com a geração procedural e alguns poucos inimigos diferentes. O combate se torna trivial muito rápido, mesmo com vários tipos de espadas. A jornada pode ser terminada em 30 minutos e depois disso não há mais nada para ver.


No fim das contas, fiquei com a sensação de que Doko Roko é um jogo incompleto, a despeito de estar em desenvolvimento por mais de sete anos. Além das questões duvidosas de design, o título tem várias complicações técnicas, como problemas com os controles e bugs. Não só isso: muitos dos recursos prometidos na campanha do Kickstarter, como feitiços e formas alternativas para o herói, não estão presentes na versão final.

Escalada efêmera

Doko Roko tem boas ideias, mas uma execução morna compromete a experiência. Controlar um espadachim misterioso é empolgante, especialmente por causa da ação ágil e da presença de diferentes tipos de espadas. Além disso, o belo universo do jogo nos envolve com sua atmosfera soturna e misteriosa.

A aventura de ação e plataforma 2D é competente, porém ela apresenta também inúmeros pontos negativos: as mecânicas de combate são rasas, os embates têm problemas de balanceamento e precisão, o conteúdo é repetitivo e pouco interessante, entre outras coisas. No fim, Doko Roko se revela belo, porém nada memorável.

Prós

  • Sistema de combate ágil e intenso;
  • Ambientação notável com ótimo visual e música.

Contras

  • Combate raso que não evolui no decorrer da aventura;
  • Problemas de precisão dos ataques criam situações frustrantes;
  • Conteúdo limitado e pouco variado;
  • Confusão visual atrapalha os embates.
Doko Roko — PC — Nota: 5.0
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida por Eric Mack

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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