A mente de uma criança de cinco anos é fantástica — falo com convicção, pois no momento da elaboração deste texto, meu filho tem exatamente essa idade e um nível de criatividade apropriado. Shin Chan: Me and the Professor on Summer Vacation - The Endless Seven-Day Journey nos coloca no papel de um menino que tem o sonho das férias intermináveis misturado à resolução de um curioso mistério.
As férias que nunca acabam
Shinnosuke Nohara é um menino de cinco anos que tem uma imaginação invejável e um faro apurado para encrencas. Seus pais lhe deram o apelido de Shin Chan e ele protagoniza uma série de histórias cotidianas na sua escola e com seus amigos e vizinhos no mangá Crayon Shin-chan.
Ele também já ganhou uma série animada, que foi exibida aqui no Brasil pelos canais a cabo Fox Kids e Animax. No desenho, algumas de suas atitudes foram suavizadas, como sua característica “dança da bundinha peladinha”, mas a personalidade teimosa e rebelde foram mantidas, o que o tornou um personagem bastante carismático para a época.
Em The Endless Seven-Day Journey, o “pequeno insuportável” sai em uma viagem de férias com a família, na qual ele vai para o pequeno vilarejo de Asso, onde mora uma amiga de sua mãe. No meio do caminho, eles são abordados pelo estranho Dr. Akuno, que presenteia o garoto com uma máquina fotográfica diferenciada: ela transforma as fotos em desenhos feitos com giz de cera.
Ao chegar em Asso, Shin-Chan, seus pais, sua irmãzinha e seu cachorro começam a presenciar um estranho fenômeno: diversos dinossauros estão aparecendo pela ilha e o Dr. Akuno está por trás disso.
Há mais um agravante: sempre que está na hora de voltar para casa, Shin-Chan dorme no trem e volta ao momento da chegada a Asso, recomeçando a semana, só que sempre com novos elementos. Ele é o único que não se esquece das coisas, pois anota tudo em sua agenda. Agora cabe ao garoto descobrir o motivo de toda essa confusão para então conseguir voltar para casa de verdade.
Curta sua estadia sem pressa
Shin-Chan precisa resolver os mistérios da história e concluir missões ao longo dos sete dias da semana. Sempre que chega a hora de ir embora, o período recomeça. Entretanto, a urgência para resolvermos a trama do jogo é zero, sem qualquer prazo para o final.
Fica a critério de quem está no controle decidir o que fazer e, considerando que todo o mapa está aberto, é possível seguir com o desenrolar da narrativa ou só ficar zanzando por aí, caçando insetos, pescando e disputando batalhas com cartas de dinossauros.
Shin-Chan tem sempre o espaço de uma manhã e uma noite dentro de um dia para realizar suas tarefas. Algumas atividades só podem ser feitas pela manhã, por isso a noite é bem mais restrita. Começamos ao raiar do Sol, com plena liberdade de revirar o mapa do avesso. À tarde, temos que voltar para casa e almoçar, e se tentarmos escapar, nosso cachorro vem nos buscar.
Ao cair a noite, podemos voltar a andar por aí, mas com restrições, já que crianças não podem ir muito longe quando está escuro. Ao passearmos um pouco e conversarmos com algumas das pessoas, alguém vem para nos levar para a cama. E assim vem o dia seguinte.
Toda ação que realizamos é condicionada por uma barra de energia. Para enchê-la, basta fazermos um lanchinho, que pode ser um pacote de salgadinhos ou um bolinho de arroz. Se não nos alimentarmos, Shin-Chan irá desmaiar de fome e voltará para casa.
Isso torna o jogo simples e até um pouco repetitivo depois de um tempo, mas o fato de ter toda essa liberdade para fazer tudo da maneira que bem entendemos coloca The Endless Seven-Day Journey em uma inusitada e privilegiada posição de título para se curtir com calma.
Em um momento na indústria dos games em que temos diversas jornadas elaboradas e exaustivas, com builds complexas e múltiplos finais, o pequeno Shin-Chan nos dá uma alternativa relaxante na qual podemos só curtir sem nem ver o tempo passar. As missões vão surgindo e sendo finalizadas com o passar do tempo.
Quanto aos colecionáveis e minigames, eles servem como mais um incentivo para explorar a ilha, mas também pecam um pouco pela repetição. Podemos circular por Asso segurando uma rede de capturar insetos. Sempre que aparece um, é só colocar ele na rede que o bicho será computado no nosso inventário. Por mais que eles componham a fauna em abundância, os inéditos brilharão quando passamos perto, e sempre tem os que são mais raros que os demais.
Entretanto, a caça aos peixes é um pouco mais complicada. Assim que avistamos uma ponte ou local perto de um rio, podemos jogar nossa isca e esperar pela mordida de um peixinho indefeso. Só que, diferentemente dos insetos, não há brilho na água que indique quais já foram capturados ou não. Só descobrimos na hora de tirá-los da água e bater as fotinhos.
Outro ponto negativo na pesca é que as sombras das ondulações nos fazem perder os peixes de vista. É incômodo, mas depois de um tempo o jogador aprende a diferenciar um do outro.
Por fim, podemos ir até a sala secreta do clubinho e jogar uma partida de cartas. Podemos escolher entre imagens dos dinossauros que aparecem na ilha e fortificá-las com itens. As batalhas funcionam no esquema de pedra, papel e tesoura, com cada opção representando um ataque. Para conseguir as cartas que conferem força ou mais vida aos nossos combatentes pré-históricos, devemos comer uma caixinha de Chocobi Snacks, no melhor estilo tazos dentro do salgadinho.
Uma viagem simples, mas bastante reconfortante
The Endless Seven-Day Journey não tenta dar nenhum show gráfico, se atendo ao estilo mostrado nas animações e páginas de mangá, com direito à dublagem da atriz Yumiko Kobayashi, que dubla Shin-Chan desde 2018, ao lado de todo o elenco atual.
A câmera é fixa a cada transição, o que pode causar algumas confusões principalmente na hora de ir atrás dos insetos e peixes, já que em alguns momentos ela está bem distante do protagonista.
Fora esse detalhe, os ambientes coloridos nos fazem sentir em um grande longa-metragem do Shin-Chan, com as suas interjeições peculiares e falas ácidas. Inclusive, uma dica: o jogo possui a opção de ser jogado em português de Portugal, mas para que algumas piadas façam sentido, é mais indicado jogar em inglês.
Uma última menção honrosa é que existe um botão designado especialmente para a característica “dança da bundinha peladinha”. Ou seja, assim como no desenho, mangá, ou qualquer outra representação, é possível fazer Shin-Chan realizar o movimento de maneira espontânea. Ela também é feita durante as missões, o que só contribui para o humor leve do jogo.
Para crianças e adultos
Shin Chan: Me and the Professor on Summer Vacation - The Endless Seven-Day Journey consegue se valer de uma premissa simples e bem executada para criar uma aventura relaxante, que pode ser curtida por jogadores pequenos e grandões. O fato de Shin-Chan ser um protagonista carismático e engraçado só aumenta a diversão proporcionada.
Prós
- O bom humor do protagonista está fortemente presente;
- Não há a necessidade de cumprir os objetivos em ordem ou em um tempo estipulado;
- Belo visual artístico, seguindo as características da série,
- Um botão especialmente para fazer ele dançar com o bumbum para lá e para cá é bem mais engraçado do que parece.
Contras
- A exploração pode se tornar um pouco repetitiva;
- Não fica clara a aparição de peixes novos e eles se confundem nas sombras das ondas;
- É um jogo que pode ser simples demais para quem quer algo mais intenso.
Shin Chan: Me and the Professor on Summer Vacation - The Endless Seven-Day Journey – PC/PS4/Switch – Nota: 7.5Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Neos