Análise: Library of Ruina (PC/XBO) traz a complexidade de um deckbuilder de forma única

A sequência de Lobotomy Corporation apresenta mais uma experiência singular e desafiadora.

em 17/09/2022
Continuando a história de Lobotomy Corporation, Library of Ruina nos oferece uma experiência completamente única em relação a seu predecessor para refletir o estado atual da narrativa. Essa nova aventura do gênero deckbuilding é cheia de complexidades e mistérios, mas ao mesmo tempo difícil de se recomendar sem ter jogado a obra anterior.


Descubra a história distópica da Cidade

Explorando o mundo após os acontecimentos do jogo anterior, seguimos a história de Roland, o novo protagonista. Após entrar acidentalmente na Biblioteca, um local misterioso com espaço interno infinito, acabamos tendo que trabalhar para Angela, a líder da estrutura que deseja encontrar “o verdadeiro livro”. 
 

Seu trabalho aqui é lutar contra os visitantes da biblioteca, que serão transformados em livros com o objetivo de atrair mais pessoas com os conhecimentos das anteriores. Library of Ruina explora a vida e os desejos de indivíduos em uma sociedade distópica e mortal, onde toda tecnologia importante é patenteada e requer um sacrifício, que é escondido do público. 

Essa história, porém, requer conhecimento da narrativa de Lobotomy Corporation, servindo como um epílogo que expande nos personagens e cenário presentes anteriormente, dando uma explicação satisfatória na maioria das questões que foram deixadas sobre o passado e futuro da corporação.

Um livro volumoso e complexo

Misturando elementos de jogo de cartas, visual novels e RPGs, Library of Ruina é separado em múltiplos capítulos, que começam com uma cutscene mostrando os convidados antes de serem atraídos pela biblioteca e logo nos leva até o combate. Aqui temos a parte de maior complexidade da aventura, que foca bastante no aspecto de criação de baralhos para seus desafios.


 
Isso não significa que as lutas em si sejam simples, pois elas ainda têm sua complexidade. No começo do turno, todos os personagens rodam um dado para decidir a velocidade de cada ação, que será usada para decidir ataques. Todo ataque é uma carta com no mínimo dois valores: seu custo em luz — o sistema de energia do jogo, que regenera 1 por turno — e seu dado, que define o dano e qual ataque vence em um duelo.

Por mais que o combate utilize dados e pareça ser decidido principalmente na sorte, não é o caso. Os inimigos decidem seus movimentos antes do jogador, e você pode ver as ações deles e reagir a elas enquanto decide as suas. Combinado com adversários que geralmente são mais fortes que os integrantes da sua equipe, o jogo força uma abordagem estratégica.

 
Diferentemente de outros jogos de cartas atuais, que geralmente são do gênero roguelite e ensinam o jogador a se adaptar, Library of Ruina requer que você conheça as cartas que possui, analise a batalha atual e prepare sua estratégia antes de entrar no combate. Cada confronto irá apresentar desafios únicos e mecânicas ainda não disponíveis para o jogador, forçando-o a aprender a lutar contra elas antes de liberá-las.

Ao derrotar inimigos, você recebe livros que possuem as cartas que eles estavam usando contra sua equipe. Cada livro funciona como o tradicional pacote de cartas de outros jogos, liberando cópias aleatórias de várias raridades até você completar o conjunto. Ao ter um conjunto limitado de cartas em cada livro, temos uma garantia de que, mesmo sem sorte, é possível desbloquear tudo, restando só as partes divertidas de abrir pacotinhos.

Uma biblioteca cheia de carisma

Com um orçamento maior do que o de Lobotomy Corporation, a ProjectMoon conseguiu trazer em Library of Ruina um estilo artístico mais detalhado para combinar com a falta de uma explicação narrativa para utilizar o estilo fofo de antes. Com um enredo muito mais abrangente, temos vários personagens estilosos inspirados em várias culturas diferentes, dando mais vida ao mundo.

Infelizmente, o visual do jogo não é perfeito, tendo uma das UIs mais confusas que eu já experienciei dentro de combate. Vemos uma interface que necessita mostrar várias informações ao mesmo tempo e por mais que seja funcional, ela ainda com certeza não é boa. Mesmo após zerar a campanha, eu ainda não entendo o que está acontecendo quando assisto outras pessoas jogando.



A parte da apresentação audiovisual que realmente se destaca aqui é a trilha sonora, que contém músicas calmas semelhantes a jazz em seu menu e em batalhas fáceis, mas também apresenta músicas agitadas que utilizam piano e violino em estilo EDM para expressar a agitação das lutas mais difíceis e emocionantes.

Uma leitura difícil, porém única

Apesar de ser muito mais acessível que Lobotomy Corporation, Library of Ruina ainda não é fácil de recomendar ao público geral pelos mesmos motivos. Apesar de tentar começar de forma mais lenta para ser mais compreensível para jogadores novos, essa tentativa é falha pela quantidade de texto no tutorial, que ainda não explica tudo de forma clara. Combinado com a sua conexão narrativa ao jogo anterior, temos aqui uma obra feita para um público-alvo bem específico.


Para esse público, que adora teorizar a criação de decks e está disposto a jogar outra coisa (ou assistir no YouTube) antes de começar, temos uma experiência que nenhum outro game conseguiria entregar, e que deve ser usada como referência para outros exemplares do gênero, não só em como fazer algo sólido, mas também em como inovar em um deckbuilder.

Prós:

  • Experiência única que se destaca no gênero; 
  • Gameplay complexa e desafiadora;
  • Audiovisual carismático e memorável;
  • Narrativa que expande nos temas da anterior.

Contras:

  • Interface de usuário e tutorial confusos para novos jogadores; 
  • Requer conhecimento de outro jogo igualmente inacessível.
Library of Ruina — PC/XBO — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio redator 

Amante de jogos e da cultura japonesa, principalmente retrô. Aprendendo japonês para poder jogar JRPGs sem esperar serem localizados. Ama dungeoncrawlers e jogos de luta, mas gosta de todos os gêneros.
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