Dentre as várias temáticas utilizadas para produzir games, as culturas grega, japonesa e nórdica estão entre as mais populares.
Sword and Fairy: Together Forever, por sua vez, é um RPG de ação baseado na milenar China e seu universo único. Nesta análise, vamos conferir o porquê de essa aventura fazer tão bonito, mesmo que sofra com alguns probleminhas pontuais.
Um novo começo
Antes de analisar o game em si, vale a pena falar um pouco sobre o contexto dele. Ele pertence à série The Legend of Sword and Fairy, criada e produzida na China desde 1995. Apesar do nome, Together Forever seria o sétimo título principal da franquia, que conta com vários spin-offs e prequels. Embora o enredo não seja contínuo ao longo desses jogos, diversos elementos e personagens são recorrentes.
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O game vem de uma longa família de RPGs voltados para a estratégia
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Portanto, Sword and Fairy tem um extenso passado ligado a ele, mas funciona de forma independente. Lançado em 4 de agosto para PS4 e PS5, o game já está disponível para PC desde outubro do ano passado. Ele é do tipo RPG de ação, o primeiro da franquia nesse gênero, contendo vários elementos da cultura e mitologia chinesa.
Confesso que sou mais adepto ao Japão no que se refere ao Oriente, mas a China possui um universo igualmente rico. A ambientação e a estética geral do game são encantadoras e únicas, com destaque para as cutscenes, todas muito bonitas e bem apresentadas. Tudo parece saído de um conto de fadas (chinês, claro), com cenários, indumentárias e monstros interessantíssimos.
O jogo tem como personagens principais Xiu Wu, uma divindade poderosa, e Yue Qingshu, uma humana discípula de uma seita mágica. A história foca inicialmente no primeiro, introduzindo as mecânicas básicas e o universo de Sword and Fairy. Posteriormente, conhecemos Qingshu e um pouco da sociedade em que ela vive.
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A jovem Yue Qingshu é uma das estrelas do game (detalhe para o espírito Qiaoling)
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Depois de quase morto por um grupo de demônios, Xiu chega por acidente ao mundo humano e encontra Yue, justamente em meio a uma invasão das perigosas criaturas chamadas Vicious Beasts. O casal acaba criando uma relação simbiótica que mantém os dois unidos e ambos embarcam juntos em uma aventura em meio a divindades, demônios, criaturas e cenários mágicos.
Era uma vez...
O game tem um enredo bem interessante e repleto de acontecimentos legais. A magia faz parte de cada aspecto da história, o que, junto com a produção visual colorida e estilosa, torna a campanha uma boa experiência. A maior exceção é o começo do jogo, que é um pouco travado, confuso e com diálogos em excesso (inclusive, a tradução em inglês pode ser problemática em diversos pontos).
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As belas paisagens são destaque de Sword and Fairy
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Não que eles diminuam ao longo da história, mas ao menos já estamos mais ambientados para eventualmente pular alguns deles. A questão é que Together Forever larga o jogador de paraquedas em meio a divindades, mundos paralelos e invasões místicas. Somente com o tempo, aprendemos mais sobre o universo do game e finalmente podemos aproveitar as suas qualidades.
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O jogo pode ser meio cansativo, mas ainda assim vale a pena
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É preciso atravessar grandes distâncias a pé no começo do game, por vezes num vai e volta tedioso, ainda que preenchido com diálogos (alguns úteis, outros nem tanto). Eu entendo que essa proposta visa inteirar o jogador ao vasto universo do game e sua respectiva série, mas acaba sendo chato em certas sequências. Seria interessante utilizar-se da bela produção das cutscenes ou tornar as conversas mais dinâmicas para contar essa história.
Quantidade não é qualidade
Felizmente, após as primeiras horas, Sword and Fairy: Together Forever melhora de maneira significativa. Por meio de uma mascote que pode se transformar em um pássaro místico, podemos nos deslocar mais rapidamente. Novos personagens se unem ao casal e proporcionam mais variedade aos combates – que melhoram com o tempo, mas nem tanto.
A jogabilidade é acessível, com combos e golpes especiais fáceis de executar. Por outro lado, faltou profundidade e, sobretudo, ineditismo. Sword and Fairy é simples e familiar demais em termos práticos, se destacando pouco em relação às várias opções do gênero no mercado. Os combos são executados com combinações entre ataques leves e pesados, com habilidades especiais disparadas ao segurar um botão e apertar outro dentre várias opções.
Ou seja, um sistema bastante usual. Além disso, é possível esquivar dos inimigos no último segundo, aumentando o dano do herói, e acionar alguns quick time events eventuais. Existem golpes diretos, magias de recuperação de energia, ataque à distância e poderes elementais, como fogo e trovão. Alternar entre os até quatro membros do grupo em meio às lutas e utilizar criaturas mágicas, chamadas spirits, de apoio completam o leque principal de recursos.
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Embora simplista, a jogabilidade é funcional e agradável
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O leitor pode estar pensando que tudo isso é bastante coisa e que sou exigente demais. Asseguro que, na prática, esses elementos são muito familiares e, por isso, básicos. Vale lembrar que esta é a estreia da franquia no mundo dos RPGs de ação e, ainda que os combates sejam competentes e sólidos, não têm uma identidade e mecânicas próprias que os diferenciem nesse concorrido mercado.
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Missões com mecânicas diferentes refrescam a campanha
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Mesmo as qualidades principais do game acabam sendo prejudicadas em alguns momentos. Embora belo, o jogo tem problemas técnicos que incluem: cenários muito grandes com elementos que surgem/somem de acordo com a proximidade do jogador; animações robóticas, tanto faciais quanto corporais; eventuais travamentos ao pular diálogos, etc. Essas questões não são constantes e poderão ser corrigidas por atualizações futuras, mas chamam a atenção negativamente quando aparecem.
Um verdadeiro negócio da China
De maneira acertada, Sword and Fairy: Together Forever constantemente subverte a rotina “diálogos-combates-viagens” com novas mecânicas. Numa missão, temos que furtivamente nocautear guardas para salvar escravos; noutra, precisamos descer deslizando uma montanha nevada em meio a uma avalanche; noutra, precisamos procurar por cristais especiais para explodir paredes para avançar.
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Embora não sejam super elaborados, os quebra-cabeças são interessantes
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Mais uma vez, nada muito incrível, mas, neste caso, tudo muito bem-vindo. Destaque para o jogo de cartas embutido na aventura, que, embora um pouco confuso nas primeiras partidas (tal como o título em si), é bastante divertido e conta com várias cartas para colecionar. Não que o título precise delas para oferecer ao jogador muito conteúdo e coisas a fazer.
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O jogo de cartas é viciante e bem divertido
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Além da campanha bem recheada – com explorações de montanhas, praias, vilarejos e templos –, combates contra todo tipo de monstros, muitos tipos de itens e melhorias, e os famigerados diálogos, o RPG de ação tem uma boa quantidade de missões secundárias. Infelizmente, apesar do número considerável, poucas são realmente interessantes, seja pelas tarefas monótonas, seja pelas recompensas muitas vezes desprezíveis.
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Prepare-se para enfrentar chefões poderosos
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A dificuldade geral é equilibrada, salvo em alguns chefes com picos meio exagerados, exigindo precisão e paciência. A trilha sonora seguiu a tendência dos visuais, com canções que remetem à cultura chinesa e embalam com competência todos os momentos do game. Novamente, fico na torcida para que as futuras atualizações consigam minimizar os problemas e realçar as várias qualidades do game.
Não há que ser forte, há que ser flexível
Tal como diz o ditado chinês famoso, por um lado
Sword and Fairy: Together Forever não é particularmente forte em nenhum quesito. Por outro, ele é flexível em apresentar boas qualidades em vários pontos diferentes. Mesmo sendo a primeira incursão da franquia no mundo dos RPGs de ação, ela conseguiu entregar uma experiência digna da sua longeva franquia.
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Uma bela e grandiosa aventura em Sword and Fairy: Together Forever
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Baseada na cultura chinesa, a aventura nos leva a paisagens repletas de magia e beleza, com muitos combates e missões emocionantes. Infelizmente, faltou polimento em alguns elementos e mais profundidade nas lutas considerando o longo prazo. Ainda assim, temos uma bela sugestão para a sua biblioteca, sobretudo para os fãs do gênero e de ambientações únicas.
Prós
- RPG de ação com temática envolvente e produção de boa qualidade;
- Embora demore a engrenar, a história é interessante e grandiosa;
- Visuais são, de maneira geral, bonitos e vibrantes;
- Combates são divertidos e dinâmicos;
- Mecânicas secundárias, como jogo de cartas e missões stealth, tornam a campanha variada.
Contras
- Começo do game é confuso e um pouco chato;
- Jogabilidade, diálogos e missões secundárias são por vezes pouco interessantes;
- Problemas técnicos como animações “robóticas”, elementos surgindo/sumindo da tela e picos exagerados na dificuldade.
Sword and Fairy: Together Forever — PC/PS4/PS5 — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia cedida pela Eastasiasoft