Na indústria do entretenimento, seja na música, no cinema, ou mesmo nos games, os remakes existem basicamente para atender duas necessidades: manter uma obra viva e atualizada. Há décadas convivemos com essa prática, e com o passar dos anos ela vem ganhando mais força graças à tecnologia, que nos permite fazer coisas antes inimagináveis e extremamente trabalhosas.
Nos games, os remakes costumam ser vistos sob dois pontos de vista: os de quem se preocupam com o legado que está sendo preservado e dos que vêem a prática como uma forma pobre, criativamente falando, de fazer mais dinheiro. Pessoalmente, me vejo mais inclinado para o primeiro ponto de vista, desde que o material original continue disponível para fins históricos, ou mesmo nostálgicos, e que possa ser melhorado para que proporcione a melhor experiência possível ao jogador.
Anunciado de forma repentina em junho deste ano, The Last of Us Part I foi revelado como um remake totalmente reconstruído para o PlayStation 5 e com uma versão para PC em desenvolvimento, mas ainda sem data prevista para lançamento. Segundo Neil Druckmann, diretor de criação e roteirista da obra original, revelou em um vídeo de bastidores que a ideia de refazer o jogo nasceu durante as etapas finais de desenvolvimento de The Last of Us Part II (PS4), enquanto a equipe trabalhava nas sequências de flashbacks e pensava no que poderiam fazer com a primeira parte.
Sem a limitação de tecnologia da época do PlayStation 3, a Naughty Dog agora pode chegar o mais próximo possível da visão original de jogo que desejava para a Parte I, tornando os elementos de gameplay, visuais e experiência geral muito mais aprimorados e próximos da perfeição, deixando o título tão bom quanto — ou até melhor — que a Parte II. O resultado dessa visão você confere na análise a seguir.
Na madrugada de 27 de setembro de 2013, um surto da infecção chegou à cidade de Austin, no Texas, onde Joel, sua filha e seu irmão mais novo Tommy viviam, forçando-os a escapar para salvar suas vidas. Durante a fuga em meio a uma cidade envolta em brutalidade e caos, Sarah é baleada e morre nos braços de seu pai.
Vinte anos depois, vemos um Joel mais velho e calejado da difícil rotina de quem ainda consegue sobreviver em um mundo corrompido, devastado e fragmentado em todos os aspectos. Ele agora ganha a vida como um contrabandista junto com uma de suas poucas amigas, Tess, e um dia recebe a tarefa mais difícil de sua vida desde que o mundo acabou: contrabandear uma criança.
A jovem Ellie, de alguma forma, é imune à infecção e se torna a esperança de uma cura para a devastadora doença que ainda assola o mundo. Relutante em aceitar o trabalho, Joel é convencido por Tess a aceitar a tarefa de levar a garota até um grupo de ativistas chamados de Vaga-lumes, para que estudem a mutação gerada em Ellie e possam encontrar uma cura para a humanidade.
Em uma história cheia de reviravoltas e perdas, Joel e Ellie criam um poderoso laço que mudará não apenas suas vidas, mas também as de todos ao seu redor enquanto embarcam em uma perigosa e imprevisível viagem cruzando os Estados Unidos em busca de um motivo para viver um pouco mais.
O remake traz uma edição que podemos chamar de definitiva da obra original com modelos de personagens, cenários e engenharia de som totalmente refeitos para aproveitar todo o poder que o PlayStation 5 tem a oferecer. Trocando por miúdos, o trabalho da Naughty Dog aqui foi pegar tudo que fizeram com a Parte II, refinar e usar para deixar a Parte I da maneira que deveria ser, o que não foi possível por conta da limitação tecnológica da época, no início da década de 2010.
Para mim, que joguei a versão original quase dez anos atrás, voltar a este mundo e ver tudo refeito e melhorado foi uma experiência prazerosa e nostálgica ao mesmo tempo. Não sou o jogador fanático que sabe todas as falas e a localização de todos os itens, mas os momentos-chave que ficaram tatuados em minha memória foram renovados com o esplendor visual e sonoro apresentado no remake.
Um dos pontos que mais chamou minha atenção foi a fidelidade visual dos modelos dos personagens, que, mesmo melhorados na versão remasterizada do PS4, agora são mais realistas e não possuem mais aquele aspecto de bonecos digitais da década passada.
A riqueza de detalhes das texturas e, principalmente, as feições de cada um estão extremamente realistas e detalhadas, passando toda a emoção de cada sentimento, seja nas sequências cinemáticas ou mesmo nas animações in-game. É assustadoramente impressionante e confirma o que Neil Druckmann disse sobre deixar The Last of Us Part I até melhor que a Parte II.
Tomei a liberdade de voltar ao segundo jogo para fazer aquela clássica brincadeira de comparação, e realmente se vê que não houve economia nos esforços do trabalho da Naughty Dog neste departamento. Mesmo com os aprimoramentos proporcionados pelo PS5, a qualidade gráfica é o ponto de maior destaque no remake.
Outros pontos que deixam a experiência com a Parte I mais imersiva, se comparada às versões anteriores do game, são as funcionalidades únicas proporcionadas pelo PlayStation 5: a integração com oDualSense e o áudio 3D. No controle, é possível ajustar a vibração dinâmica a nível de detalhes para sentir até mesmo a intensidade da fala dos personagens; ou seja, se Joel começar a gritar, o controle vai vibrar na mesma intensidade, além de inúmeros ajustes relacionados aos gatilhos e o alto-falante do controle.
O áudio 3D, mesmo sem o uso do headset Pulse 3D, é algo surpreendente. No meu caso, usando um modelo mais antigo (Sony Pulse 7.1), é possível “entrar” no mundo do jogo e ouvir a nível de detalhes tudo que acontece ao nosso redor, enriquecendo ainda mais o produto geral.
Se visualmente os dois jogos já são praticamente idênticos, no que diz respeito ao gameplay temos a mesma uniformidade. A movimentação dos personagens é mais autêntica e precisa, somada a uma inteligência artificial, tanto dos inimigos quanto dos NPCs, mais dinâmica e realista que deixa a experiência de atravessar áreas cheias de infectados, ou humanos, mais desafiadora e fidedigna com uma situação da vida real.
O que isso significa na prática? Não temos mais aquele clássico erro de ter um NPC saracoteando pela área enquanto a IA só entende que a única pessoa que ela não pode ver é o personagem controlado pelo jogador. Ao se movimentar por uma área com inimigos, os personagens não controláveis sabem o que fazer para não “estragar a magia” de enfrentar diversos inimigos de forma sorrateira.
Os inimigos estão mais espertos e sabem usar o trabalho em equipe da mesma forma que vimos na Parte II. Ao ver Joel ou Ellie, eles assumem comportamentos que visam tirar proveito da situação para pegar você. Entretanto, vale ressaltar que esses detalhes são melhor observados ao jogar nas dificuldades mais altas (Difícil ou Superior). Caso você tenha escolhido um nível mais baixo, alguns vacilos ainda são perdoados, mas ao experimentar uma dificuldade mais alta acionada, esteja sempre preparado para a pior das situações.
Outro detalhe que deixou o gameplay mais agradável é a padronização da experiência de usuário com a Parte II. Menus, comandos e até mesmo as animações ao usar as bancadas agora estão uniformizadas, deixando as jogatinas de quem está voltando ao primeiro jogo após jogar o segundo extremamente amigáveis, com a sensação de que está vivenciando a mesma coisa, num bom sentido.
Outra novidade é proporcionada graças a uma função única do PlayStation 5: as dicas de jogo. Caso você não conheça, o PS5 conta com uma funcionalidade de dicas para títulos selecionados, bem úteis para jogadores que desejam obter todos os troféus. Ao pressionar duas vezes o botão PS do DualSense, uma tela de acompanhamento de objetivos é apresentada, mostrando qual é a missão principal do segmento atual em que o jogador está, além de apresentar que outras atividades estão disponíveis naquela etapa.
A funcionalidade é muito bem-vinda para auxiliar na busca por colecionáveis, uma das principais atividades para obter a platina do game, e ainda ajudar quem pode se perder em meio a alguma parte da história com dicas sobre o que é preciso fazer e o tempo estimado para terminar esse trecho em particular.
Assim como a Parte II, The Last of Us Part I conta com as inovadoras e premiadas funções de acessibilidade para permitir que qualquer pessoa possa jogar, independentemente do tipo de deficiência que possua, seja ela motora, visual ou auditiva. O uso destas ferramentas se mostra útil até para quem não necessita realmente delas, pois elas proporcionam resultados únicos dependendo de quais são ativadas durante o jogo, Seja para auxiliar nas seções de exploração ou nos combates.
Atualmente, mesmo no PS5, temos a disponibilidade da versão remasterizada de The Last of Us, facilitada pela presença do game, lançado em 2014 para o PS4, no catálogo da categoria Deluxe do PlayStation Plus. Sendo assim, se já temos acesso ao jogo original, que motivos deixam a Parte I atrativa tanto para quem é veterano na história de Joel e Ellie quanto para quem pode estar vivenciando-a pela primeira vez?
Posso citar as recompensas pela conclusão do game, como as galerias de modelos de personagens e artes, os modificadores de jogo e o modo Foto para eternizar alguns momentos para compartilhar e filtros de imagem, todos também disponíveis na Parte II. A grande maioria destas são habilitadas após concluirmos a campanha pela primeira vez e adicionam um valioso fator replay, principalmente para quem busca um desafio crescente sempre que quiser se aventurar pelo game.
São modificadores visuais, tanto na imagem quanto nas skins dos personagens principais, modos de jogo desafiantes como o de morte permanente e de mundo espelhado, além de trapaças como munição e material de fabricação infinitos e outras para deixar o jogo diferente, com uma pegada mais divertida e descompromissada, por assim dizer. Até mesmo um modo speedrun é habilitado, adicionando uma verdadeira corrida contra o relógio para saber se você realmente domina o game.
Até mesmo os troféus estão mais acessíveis. O fato de não precisar mais terminar a campanha na dificuldade mais alta para obter um dos troféus deixou a tarefa de platinar o game bem mais agradável e menos cansativa.
Assim como na Parte II, os colecionáveis se tornaram a principal atividade a ser concluída para quem quer o cobiçado troféu de platina, e com o uso da função de ajuda do jogo do PS5 e a seleção de capítulos, essa atividade ficou mais fácil de ser concluída, diferentemente do jogo original, que obrigava a conclusão nas dificuldades mais altas para se obter essa conquista.
Entretanto, por mais inovações que The Last of Us Part I tenha trazido — e reforço que não são poucas —, no fundo, principalmente para quem já jogou ao menos uma vez cada uma das duas versões anteriores, o jogo ainda é o mesmo e não traz nenhuma novidade avassaladora, como algum trecho extra da história ou algum gancho para a já conhecida segunda parte.
Nem mesmo a dublagem, principalmente na versão brasileira, traz algo de inédito. Todos os áudios usados nesta versão são os mesmos gravados nas duas primeiras. A atuação de alguns personagens, mesmo que menores, poderiam ter sido substituídas ou refeitas por atuações um pouco melhores que as de 2013, dando um sutil ar de novidade e motivando pessoas que, como eu, valorizam o trabalho de localização dos games e fazem questão de jogar com o áudio em português quando ele traz um resultado legal.
Outro ponto que gera controvérsia é o preço sugerido de US$ 70/R$ 349 cobrado pelo game no lançamento. O anúncio do valor pegou muitos jogadores desprevenidos e pode ser um limitador para quem quer jogá-lo no período de lançamento. Discutir o preço é um ponto que não costumamos abordar aqui no GameBlast, mas nesse caso é válido lembrar que outros games com uma proposta semelhante à de The Last of Us Part I, ou seja, remakes e/ou remasterizações, costumavam ser lançados a um preço mais convidativo justamente por não serem jogos totalmente novos.
Como exemplos mais recentes, temos o remake de Shadow of the Colossus, lançado para o PS4 em 2018 pelo preço sugerido de US$ 40/R$ 179, e MediEvil, de 2019, que chegou custando US$ 30/R$ 119. Os preços mais acessíveis foram determinantes para atrair ainda mais a atenção de jogadores no período do lançamento e popularizar esses títulos principalmente para as gerações mais jovens que não tiveram contato com suas contrapartes originais.
Com The Last of Us Part I, presenciamos a “quebra da regra” pela primeira vez, com um remake sendo vendido pelo mesmo preço de um jogo totalmente novo. Pessoalmente, eu preferia esperar para comprá-lo para pegar por um preço bem mais amigável, visto que também sou fã da série e obviamente ia querer esse game na minha coleção.
Com um novo PlayStation Plus chegando na praça, a Sony bem que poderia fazer do game, já que é tão importante, um chamariz para novos assinantes ao oferecê-lo no catálogo da categoria Deluxe. Seria uma prática semelhante à da sua concorrente direta, Microsoft, e que já se mostrou eficiente e vantajosa para ambos os lados.
De qualquer modo, não sou dono de seu dinheiro e recomendo que você jogue-o quando puder, pois continua sendo prazeroso ver um jogo tão importante como The Last of Us de forma tão polida e caprichada, como realmente deveria ser há nove anos.
Anunciado de forma repentina em junho deste ano, The Last of Us Part I foi revelado como um remake totalmente reconstruído para o PlayStation 5 e com uma versão para PC em desenvolvimento, mas ainda sem data prevista para lançamento. Segundo Neil Druckmann, diretor de criação e roteirista da obra original, revelou em um vídeo de bastidores que a ideia de refazer o jogo nasceu durante as etapas finais de desenvolvimento de The Last of Us Part II (PS4), enquanto a equipe trabalhava nas sequências de flashbacks e pensava no que poderiam fazer com a primeira parte.
Sem a limitação de tecnologia da época do PlayStation 3, a Naughty Dog agora pode chegar o mais próximo possível da visão original de jogo que desejava para a Parte I, tornando os elementos de gameplay, visuais e experiência geral muito mais aprimorados e próximos da perfeição, deixando o título tão bom quanto — ou até melhor — que a Parte II. O resultado dessa visão você confere na análise a seguir.
A história dos últimos de nós
Lançado originalmente em junho de 2013 para PlayStation 3, The Last of Us conta a história do mundo que sucumbiu por conta de uma devastadora pandemia causada por um fungo chamado Cordyceps. Acompanhamos todo o desenrolar da trama sob o olhar de Joel Miller, um pai solteiro e dedicado cuja única alegria na vida é criar a filha Sarah.Na madrugada de 27 de setembro de 2013, um surto da infecção chegou à cidade de Austin, no Texas, onde Joel, sua filha e seu irmão mais novo Tommy viviam, forçando-os a escapar para salvar suas vidas. Durante a fuga em meio a uma cidade envolta em brutalidade e caos, Sarah é baleada e morre nos braços de seu pai.
Vinte anos depois, vemos um Joel mais velho e calejado da difícil rotina de quem ainda consegue sobreviver em um mundo corrompido, devastado e fragmentado em todos os aspectos. Ele agora ganha a vida como um contrabandista junto com uma de suas poucas amigas, Tess, e um dia recebe a tarefa mais difícil de sua vida desde que o mundo acabou: contrabandear uma criança.
A jovem Ellie, de alguma forma, é imune à infecção e se torna a esperança de uma cura para a devastadora doença que ainda assola o mundo. Relutante em aceitar o trabalho, Joel é convencido por Tess a aceitar a tarefa de levar a garota até um grupo de ativistas chamados de Vaga-lumes, para que estudem a mutação gerada em Ellie e possam encontrar uma cura para a humanidade.
Em uma história cheia de reviravoltas e perdas, Joel e Ellie criam um poderoso laço que mudará não apenas suas vidas, mas também as de todos ao seu redor enquanto embarcam em uma perigosa e imprevisível viagem cruzando os Estados Unidos em busca de um motivo para viver um pouco mais.
Nove anos depois
A história de The Last of Us se manteve intacta após nove anos, portanto não preciso entrar em mais detalhes sobre a narrativa — Até porque alguns jogadores eram muito novos ou talvez nem tenham nascido quando a versão original ou sua remasterização para o PS4 foram lançadas, assim evitando possíveis spoilers para quem não lembra ou mesmo não tenha jogado nenhuma das duas outras versões.O remake traz uma edição que podemos chamar de definitiva da obra original com modelos de personagens, cenários e engenharia de som totalmente refeitos para aproveitar todo o poder que o PlayStation 5 tem a oferecer. Trocando por miúdos, o trabalho da Naughty Dog aqui foi pegar tudo que fizeram com a Parte II, refinar e usar para deixar a Parte I da maneira que deveria ser, o que não foi possível por conta da limitação tecnológica da época, no início da década de 2010.
Para mim, que joguei a versão original quase dez anos atrás, voltar a este mundo e ver tudo refeito e melhorado foi uma experiência prazerosa e nostálgica ao mesmo tempo. Não sou o jogador fanático que sabe todas as falas e a localização de todos os itens, mas os momentos-chave que ficaram tatuados em minha memória foram renovados com o esplendor visual e sonoro apresentado no remake.
Um dos pontos que mais chamou minha atenção foi a fidelidade visual dos modelos dos personagens, que, mesmo melhorados na versão remasterizada do PS4, agora são mais realistas e não possuem mais aquele aspecto de bonecos digitais da década passada.
A riqueza de detalhes das texturas e, principalmente, as feições de cada um estão extremamente realistas e detalhadas, passando toda a emoção de cada sentimento, seja nas sequências cinemáticas ou mesmo nas animações in-game. É assustadoramente impressionante e confirma o que Neil Druckmann disse sobre deixar The Last of Us Part I até melhor que a Parte II.
Tomei a liberdade de voltar ao segundo jogo para fazer aquela clássica brincadeira de comparação, e realmente se vê que não houve economia nos esforços do trabalho da Naughty Dog neste departamento. Mesmo com os aprimoramentos proporcionados pelo PS5, a qualidade gráfica é o ponto de maior destaque no remake.
Outros pontos que deixam a experiência com a Parte I mais imersiva, se comparada às versões anteriores do game, são as funcionalidades únicas proporcionadas pelo PlayStation 5: a integração com oDualSense e o áudio 3D. No controle, é possível ajustar a vibração dinâmica a nível de detalhes para sentir até mesmo a intensidade da fala dos personagens; ou seja, se Joel começar a gritar, o controle vai vibrar na mesma intensidade, além de inúmeros ajustes relacionados aos gatilhos e o alto-falante do controle.
O áudio 3D, mesmo sem o uso do headset Pulse 3D, é algo surpreendente. No meu caso, usando um modelo mais antigo (Sony Pulse 7.1), é possível “entrar” no mundo do jogo e ouvir a nível de detalhes tudo que acontece ao nosso redor, enriquecendo ainda mais o produto geral.
Gameplay refinado
Feitas as devidas observações sobre o visual, vamos ao que interessa: o gameplay. Uma das principais promessas do remake foi adequar o gameplay para deixá-lo mais preciso, acessível e dinâmico, e o resultado traz justamente tudo que foi prometido. Em The Last of Us Part I temos algo muito semelhante à evolução apresentada na Parte II, estendendo essa uniformização que a Naughty Dog está dando à série.Se visualmente os dois jogos já são praticamente idênticos, no que diz respeito ao gameplay temos a mesma uniformidade. A movimentação dos personagens é mais autêntica e precisa, somada a uma inteligência artificial, tanto dos inimigos quanto dos NPCs, mais dinâmica e realista que deixa a experiência de atravessar áreas cheias de infectados, ou humanos, mais desafiadora e fidedigna com uma situação da vida real.
O que isso significa na prática? Não temos mais aquele clássico erro de ter um NPC saracoteando pela área enquanto a IA só entende que a única pessoa que ela não pode ver é o personagem controlado pelo jogador. Ao se movimentar por uma área com inimigos, os personagens não controláveis sabem o que fazer para não “estragar a magia” de enfrentar diversos inimigos de forma sorrateira.
Os inimigos estão mais espertos e sabem usar o trabalho em equipe da mesma forma que vimos na Parte II. Ao ver Joel ou Ellie, eles assumem comportamentos que visam tirar proveito da situação para pegar você. Entretanto, vale ressaltar que esses detalhes são melhor observados ao jogar nas dificuldades mais altas (Difícil ou Superior). Caso você tenha escolhido um nível mais baixo, alguns vacilos ainda são perdoados, mas ao experimentar uma dificuldade mais alta acionada, esteja sempre preparado para a pior das situações.
Outro detalhe que deixou o gameplay mais agradável é a padronização da experiência de usuário com a Parte II. Menus, comandos e até mesmo as animações ao usar as bancadas agora estão uniformizadas, deixando as jogatinas de quem está voltando ao primeiro jogo após jogar o segundo extremamente amigáveis, com a sensação de que está vivenciando a mesma coisa, num bom sentido.
Outra novidade é proporcionada graças a uma função única do PlayStation 5: as dicas de jogo. Caso você não conheça, o PS5 conta com uma funcionalidade de dicas para títulos selecionados, bem úteis para jogadores que desejam obter todos os troféus. Ao pressionar duas vezes o botão PS do DualSense, uma tela de acompanhamento de objetivos é apresentada, mostrando qual é a missão principal do segmento atual em que o jogador está, além de apresentar que outras atividades estão disponíveis naquela etapa.
A funcionalidade é muito bem-vinda para auxiliar na busca por colecionáveis, uma das principais atividades para obter a platina do game, e ainda ajudar quem pode se perder em meio a alguma parte da história com dicas sobre o que é preciso fazer e o tempo estimado para terminar esse trecho em particular.
Assim como a Parte II, The Last of Us Part I conta com as inovadoras e premiadas funções de acessibilidade para permitir que qualquer pessoa possa jogar, independentemente do tipo de deficiência que possua, seja ela motora, visual ou auditiva. O uso destas ferramentas se mostra útil até para quem não necessita realmente delas, pois elas proporcionam resultados únicos dependendo de quais são ativadas durante o jogo, Seja para auxiliar nas seções de exploração ou nos combates.
Afinal de contas, vale a pena visitar The Last of Us mais uma vez?
Até aqui pude concluir que The Last of Us Part I é, como produto, um projeto de altíssima qualidade em todos os aspectos. Entretanto, desde seu anúncio, discussões foram levantadas sobre a necessidade de se fazer um remake de The Last of Us agora. Como mencionei no início desta análise, acredito que um remake tenha como principal função atualizar mecânicas e visuais, além de permitir que uma obra esteja acessível ao maior número de pessoas possível.Atualmente, mesmo no PS5, temos a disponibilidade da versão remasterizada de The Last of Us, facilitada pela presença do game, lançado em 2014 para o PS4, no catálogo da categoria Deluxe do PlayStation Plus. Sendo assim, se já temos acesso ao jogo original, que motivos deixam a Parte I atrativa tanto para quem é veterano na história de Joel e Ellie quanto para quem pode estar vivenciando-a pela primeira vez?
Posso citar as recompensas pela conclusão do game, como as galerias de modelos de personagens e artes, os modificadores de jogo e o modo Foto para eternizar alguns momentos para compartilhar e filtros de imagem, todos também disponíveis na Parte II. A grande maioria destas são habilitadas após concluirmos a campanha pela primeira vez e adicionam um valioso fator replay, principalmente para quem busca um desafio crescente sempre que quiser se aventurar pelo game.
São modificadores visuais, tanto na imagem quanto nas skins dos personagens principais, modos de jogo desafiantes como o de morte permanente e de mundo espelhado, além de trapaças como munição e material de fabricação infinitos e outras para deixar o jogo diferente, com uma pegada mais divertida e descompromissada, por assim dizer. Até mesmo um modo speedrun é habilitado, adicionando uma verdadeira corrida contra o relógio para saber se você realmente domina o game.
Até mesmo os troféus estão mais acessíveis. O fato de não precisar mais terminar a campanha na dificuldade mais alta para obter um dos troféus deixou a tarefa de platinar o game bem mais agradável e menos cansativa.
Assim como na Parte II, os colecionáveis se tornaram a principal atividade a ser concluída para quem quer o cobiçado troféu de platina, e com o uso da função de ajuda do jogo do PS5 e a seleção de capítulos, essa atividade ficou mais fácil de ser concluída, diferentemente do jogo original, que obrigava a conclusão nas dificuldades mais altas para se obter essa conquista.
Entretanto, por mais inovações que The Last of Us Part I tenha trazido — e reforço que não são poucas —, no fundo, principalmente para quem já jogou ao menos uma vez cada uma das duas versões anteriores, o jogo ainda é o mesmo e não traz nenhuma novidade avassaladora, como algum trecho extra da história ou algum gancho para a já conhecida segunda parte.
Nem mesmo a dublagem, principalmente na versão brasileira, traz algo de inédito. Todos os áudios usados nesta versão são os mesmos gravados nas duas primeiras. A atuação de alguns personagens, mesmo que menores, poderiam ter sido substituídas ou refeitas por atuações um pouco melhores que as de 2013, dando um sutil ar de novidade e motivando pessoas que, como eu, valorizam o trabalho de localização dos games e fazem questão de jogar com o áudio em português quando ele traz um resultado legal.
Outro ponto que gera controvérsia é o preço sugerido de US$ 70/R$ 349 cobrado pelo game no lançamento. O anúncio do valor pegou muitos jogadores desprevenidos e pode ser um limitador para quem quer jogá-lo no período de lançamento. Discutir o preço é um ponto que não costumamos abordar aqui no GameBlast, mas nesse caso é válido lembrar que outros games com uma proposta semelhante à de The Last of Us Part I, ou seja, remakes e/ou remasterizações, costumavam ser lançados a um preço mais convidativo justamente por não serem jogos totalmente novos.
Como exemplos mais recentes, temos o remake de Shadow of the Colossus, lançado para o PS4 em 2018 pelo preço sugerido de US$ 40/R$ 179, e MediEvil, de 2019, que chegou custando US$ 30/R$ 119. Os preços mais acessíveis foram determinantes para atrair ainda mais a atenção de jogadores no período do lançamento e popularizar esses títulos principalmente para as gerações mais jovens que não tiveram contato com suas contrapartes originais.
Com The Last of Us Part I, presenciamos a “quebra da regra” pela primeira vez, com um remake sendo vendido pelo mesmo preço de um jogo totalmente novo. Pessoalmente, eu preferia esperar para comprá-lo para pegar por um preço bem mais amigável, visto que também sou fã da série e obviamente ia querer esse game na minha coleção.
Com um novo PlayStation Plus chegando na praça, a Sony bem que poderia fazer do game, já que é tão importante, um chamariz para novos assinantes ao oferecê-lo no catálogo da categoria Deluxe. Seria uma prática semelhante à da sua concorrente direta, Microsoft, e que já se mostrou eficiente e vantajosa para ambos os lados.
De qualquer modo, não sou dono de seu dinheiro e recomendo que você jogue-o quando puder, pois continua sendo prazeroso ver um jogo tão importante como The Last of Us de forma tão polida e caprichada, como realmente deveria ser há nove anos.
Não tão necessário, mas muito bem-vindo
The Last of Us Part I traz tudo o que o game merecia ser em 2013 com visuais, mecânicas e funcionalidades que proporcionam uma ótima experiência tanto para veteranos quanto novatos neste universo de histórias intensas e personagens marcantes. Totalmente padronizado com a Parte II, este é um remake do qual não precisávamos, pelo menos por agora, mas que é muito bem-vindo para manter vivo um dos mais importantes produtos da indústria mundial de games.Prós
- Graficamente impecável;
- A implementação das funcionalidades do DualSense e do áudio 3D do PS5 enriquecem a experiência pessoal do jogador;
- As mecânicas de gameplay e o comportamento da IA estão mais refinadas;
- Experiência de usuário alinhada com The Last of Us Part II;
- Os extras obtidos após finalizar o game pela primeira vez adicionam um grande fator de replay;
- O troféu de platina está mais fácil de obter do que nas versões anteriores.
Contras
- Nenhuma novidade, mesmo que sutil, foi adicionada à história;
- A dublagem em português é a mesma de nove anos atrás, desperdiçando a chance de ter refeito ou trocado algumas atuações;
- O preço de lançamento é pouco convidativo, se comparado a outros games com a mesma proposta lançados para o PlayStation.
The Last of Us Part I — PS5 — Nota: 9.5
Revisão: Davi Sousa