Análise: MultiVersus (Multi) é promissor, mas ainda precisa fazer alguns ajustes para ficar no ponto

Considerando o suporte que a Warner vem concedendo ao game, vale a pena apostar nele desde cedo devido ao potencial apresentado.

em 13/08/2022


Que o Super Smash Bros., da Nintendo, é um sucesso absoluto, hoje ninguém questiona. Após conseguir unir diferentes franquias em um único título de briga e criar um sistema que não fosse tão técnico ou complexo quanto os de jogos de luta tradicionais, outras marcas chegaram a observar esse formato como uma oportunidade e decidiram produzir seus próprios clones de Smash.

Agora, chegou a vez da Warner com seu MultiVersus (Multi), que reúne no mesmo jogo personagens icônicos da cultura popular, do Superman ao Salsicha, de Scooby-Doo. A pergunta que fica é: MultiVersus cairá no mesmo limbo de outros clones de Smash ou conseguirá brilhar por conta própria?



Sempre à sombra do Smash

Para entender um pouco do MultiVersus, talvez seja interessante olhar primeiro para o retrospecto da própria Warner em relação à sua divisão específica de games. Fundada originalmente em 2004, a Warner Bros. Interactive Entertainment conseguiu se expandir e adquirir sob seu guarda-chuva várias desenvolvedoras bem competentes, como é o caso da NetherRealm (sucessora espiritual da Midway), Monolith Productions, TT Games e a Rocksteady, além dos estúdios in-house. 

Por consequência, vários de seus produtos conseguiram um lugar ao sol para além dos jogos meramente licenciados, oferecendo experiências suficientemente memoráveis, como Batman: Arkham Asylum (Multi) e suas sequências, Mad Max (Multi), Middle Earth Shadows of Mordor (Multi) e Shadows of War (Multi), além de dar continuidade ao Mortal Kombat como propriedade intelectual. 

Com tal solidez no catálogo entregue e uma variedade considerável de marcas sob seu domínio, não seria de se estranhar que projetos mais criativos começassem a surgir na mesa. MultiVersus, então, surge ao unir em um só jogo as principais marcas da casa. Nota-se inclusive que, com uma espécie de renascença dos jogos de luta e com uma comunidade forte de Smash dentro do ponto de vista da cena de eSports, o que mais se esperava era um título que fizesse jus aos aspectos competitivos e se mostrasse uma espécie de herdeiro do que fazia Super Smash Bros. Melee.

Assim, vários games fracassaram em tentar seguir essa herança. Nickelodeon All-Star Brawl, por exemplo, começou com certa expectativa devido a algumas mecânicas prometidas que seriam remanescentes às do título de GameCube, bem como o fato do histórico da Ludosity, responsável pelo elogiado Slap City, ter sido positivo. Entretanto, toda a expectativa não andava de mãos dadas com o escopo do projeto, que fracassou em se sustentar por carecer de elementos básicos para um título do gênero, como dublagem, diversidade de modos de jogo e de personagens, etc. 

A Warner já havia tentado, mesmo que indiretamente, investir nesse filão de Smash Clones quando deu a concessão da licença para a produção de Cartoon Network Punch Time Explosion (Wii/3DS), mas o título em questão não chegou nem perto de ser um sucesso — a desenvolvedora responsável faliu, inclusive. Até a Sony teve lá sua iniciativa capenga quando produziu o desagregado PlayStation All Star Battle Royale (PS3). 

Outro nome do estilo é Brawlhalla, da Ubisoft, que chegou a esboçar alguma comunidade própria e dedicada, mas, embora tenha feito seu sucesso relativo, ainda não foi o arrasa-quarteirão que se esperava para fazer frente ao representante da Nintendo — principalmente porque mesmo os personagens presentes mais conhecidos (e que não são originais do próprio produto) não são lá muito interessantes. No caso, Brawlhalla é facilmente o que há de mais próximo do MultiVersus, considerando a estratégia free to play de game as a service de ambas, mas o da Warner preenche essa lacuna de força da marca que o platform fighter da Ubisoft carece. 



Monetização, jogabilidade e carisma — não necessariamente nessa ordem

Embora esteja sempre à sombra do party brawler da Nintendo, MultiVersus faz um excelente trabalho na hora de criar sua própria luz. No caso, trata-se de uma jogabilidade cujo padrão de jogo é necessariamente cooperativo, estimulando, inclusive, a interação entre colegas de time, já que há algumas situações conjuntas. A Mulher Maravilha, por exemplo, tem um golpe capaz de tirar todos os debuffs do parceiro, sendo possível combar e observar várias possibilidades de jogadas combinadas e ensaiadas.

Nota-se que cada lutador também tem seu próprio arquétipo geral no intuito de fazer com que jogadores consigam entender com mais facilidade a forma com que eles podem ser manejados. Ainda assim, cada personagem foi eximiamente trabalhado a ponto de cada um ter suas próprias individualidades. Nota-se que, com o elenco crescendo, logo será comum que as adições comecem a se parecer um pouco, mas é algo extremamente natural. O que conta é a diversidade pontual que essa primeira versão, por assim dizer, oferece de imediato.

Como constatado, o elenco inicial é muito interessante — isso se não levarmos em conta os personagens que já foram vazados, mas ainda não implementados no título. Isso é um atestado de que jogos de luta se sustentam principalmente na força do elenco e na qualidade dos personagens envolvidos.

Mais do que simplesmente estudar a mitologia de cada um, vários memes da internet conseguiram ser implementados de uma forma que parecessem naturais, como é o caso do Salsicha Ultra-Instinto. A direção de arte também fez um trabalho suficientemente bacana ao conseguir unir certos personagens tão distintos sob um mesmo estilo visual e fazer com que eles não parecessem estranhos um ao outro. 

Adicionalmente, a versão brasileira do game é dublada com as vozes que já somos bem acostumados a ouvir. Belo serviço aí da Warner Bros. Interactive Entertainment, visto que eles poderiam ter deixado essa parte do áudio em inglês e ficado por isso mesmo. Fizeram bem ao nadar no fluxo do mercado e fazer o serviço de localização completo. 




Em termos de gameplay prático, nota-se que ainda há algum espaço para melhora, mas o fluxo de cada batalha é satisfatoriamente fluido — a despeito de uma física meio esquisita às vezes, fazendo com que as batalhas pareçam na lua por parecerem muito leves — e o jogador nem percebe quando uma batalha acaba eventualmente chegando ao fim, estando ele em vantagem ou desvantagem. Dá para curtir o momento independentemente do resultado parcial no placar. 

Além disso, um diferencial é a possibilidade de utilizar perks. Enquanto o jogo não conta com itens disponíveis pelo cenário, o jogador pode configurar alguns bônus antes mesmos da porradaria pular, trazendo ainda mais personalização no que diz respeito ao próprio estilo de gameplay. 

Sobre o modo online, ele é bastante funcional. Com um matchmaking decente, o netcode funciona na maior parte das vezes, sendo que nas poucas vezes em que decide falhar, ele simplesmente é impraticável, mas isso é algo que depende de alguns ajustes. MultiVersus também oferece crossplay e cross-progression, o que certamente é essencial no que diz respeito à manutenção da vida útil do jogo. Inclusive, fiquei bastante surpreso com a facilidade que foi para criar uma conta no game — sim, é uma indireta à Square Enix e seu Babylon's Fall (Multi).




O maior revés do jogo está fora da jogabilidade prática. No caso, trata-se do visual intimidador e poluído dos menus. Isso é algo intimamente ligado a seu formato de jogo como serviço, que estimula o retorno contínuo do jogador, poluindo a tela com vários desafios em específico que podem ir sendo completados, avisos de conquistas individuais que vão sendo alcançadas e segue. Além disso, navegar por eles também é bem confuso antes de se pegar o costume — algo proposital, porque a finalidade do game, dentro de seu formato, estimula que o jogador gaste dinheiro dentro dele. 

Isso não é nenhuma novidade para o veterano que já se aventurou por gachas e outros games do estilo, indo de Gensin Impact a Pokémon Unite, mas um jogador novato que se sentiu atraído pelo game em si (a força da marca falando alto de novo) e que não tem essa experiência prévia pode acabar se perdendo e, em última instância, acabar abandonando por não conseguir se adaptar facilmente à caótica experiência de usuário. 

Ainda dá para aproveitar MultiVersus sem pagar um tostão por ele. Ele é um free to play legítimo, mas não muda o fato de que esses avisos constantes em relação ao lado pago do jogo são extremamente chatos. 



MultiVersus é bacana, mas ainda vai percorrer seu caminho

MultiVersus é bom e vale a pena investir um tempo nele nem que seja para conhecer. Entretanto, o que se observa é o seu potencial, que vislumbra o futuro promissor no horizonte ao acertar alguns problemas de balanceamento e de lançamento. Com o tempo, tais empecilhos provavelmente serão sanados e certamente farão MultiVersus se tornar protagonista dentro de seu gênero por conseguir unir a força dos personagens da Warner com uma produção minimamente competente, algo que outros jogos de luta em plataforma não chegaram nem perto. 

Prós

  • Personagens carismáticos e planejados minuciosamente, respeitando suas mitologias (e memes);
  • Sistema de netcode funciona na maioria das vezes, além de contar com cross-play e cross-progression entre as plataformas;
  • Acerta onde a maioria dos Smash Clones erram;
  • O fato de ser free to play é um verdadeiro atrativo e certamente ajuda a pavimentar o futuro de sucesso do game.

Contras

  • Menus extremamente caóticos e intimidadores;
  • Aspecto freemium previsivelmente irritante;
  • Lutas injogáveis nas poucas situações em que o netcode decide falhar;
  • Problemas pontuais de balanceamento.
MultiVersus — PlayStation 4/Xbox One/PlayStation 5/Xbox Series/PC — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC/PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital da edição free to play


É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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