De fã para fã
Antes de prosseguir, devo dizer que o anúncio original de Marvel’s Spider-Man (PS4) foi o motivo pelo qual adquiri um PlayStation 4 há alguns anos. Como um fã de carteirinha da Marvel, a ideia de um jogo AAA do Homem-Aranha que tivesse o nível de qualidade das produções first-party da Sony me parecia boa demais para não ser vivenciada, ou melhor, jogada.
Lembro também que, à época, o anúncio de que a Insomniac estaria à frente do projeto soou como música para os meus ouvidos. Afinal, não havia muito tempo que eu havia finalizado Sunset Overdrive (PC/XBO), exclusivo da empresa para o console da Microsoft e, pra mim, o melhor jogo do Xbox One junto com Forza Horizon 2 (XBO).
O tempo passou e Marvel’s Spider-Man foi lançado e aclamado por crítica e público, fazendo jus às expectativas criadas. De lá para cá, algumas coisas mudaram: em pouco menos de quatro anos tivemos um spin-off estrelado por Miles Morales, uma versão remasterizada e a confirmação da aguardada sequência, ainda sem data até o momento.
Agora, mais um capítulo é criado nessa história de sucesso com a versão de PC. Após um tempo considerável com o jogo, já posso dizer que o resultado é bem satisfatório, embora ainda existam algumas arestas a serem aparadas.
Diretamente do túnel do tempo...
Abordando primeiramente o conteúdo do título, como o seu nome indica, Marvel’s Spider-Man Remastered é uma remasterização do jogo original. Lançada em 2020 para PlayStation 5, esta releitura possui algumas diferenças em relação à estreia do game, como um novo ator para Peter Parker, três novos trajes e, claro, o suporte à tecnologia do momento: Ray Tracing.
A versão de PC é a mesma do PS5, o que significa que em um único pacote estão todos os bônus originais, os trajes adicionados posteriormente — como a roupa preta vista no longa-metragem Homem-Aranha Sem Volta Pra Casa (2021) — e todos os DLCs pagos, como O Assalto. Na prática, temos aqui bastante conteúdo de qualidade para nenhum fã do herói botar defeito.
Como redator, acredito que um dos maiores desafios de analisar a remasterização de um jogo extremamente popular no passado passa por averiguar se a obra se mantém atual mesmo com as mudanças no mercado. Até por não ser tão antigo assim, Marvel’s Spider-Man Remastered conserva todos os méritos que lhe renderam uma série de elogios e indicações a premiações de GOTY, mas a verdade é que a sua visão de mundo aberto, apesar de divertida, já não impressiona tanto quanto em 2018.
A rigidez de movimento e as texturas rasas dos NPCs mais simples, como pedestres e policiais, por exemplo, contrastam frequentemente com os modelos super detalhados e animados de personagens como Mary Jane, Yuriko Watanabe e o próprio Spider. Isso é especialmente visível após combater um crime, onde você verá uma multidão tão expressiva quanto uma torcida de FIFA fingindo surpresa com os feitos do Homem-Aranha.
São pequenos detalhes que acabam por prejudicar a imersão. Além disso, a quantidade desbalanceada de itens colecionáveis e a reciclagem de atividades secundárias (prepare-se para ver um monte de ícones coloridos no mapa mesmo com pouco tempo de jogo) acaba trazendo uma incômoda sensação de mesmice um pouco cedo demais. Uma pena.
Spider Arkham City
Porém, é fácil relevar pontos como esses quando a obra da Insomniac acerta em tantos outros cruciais, como a movimentação. Transitar por Nova York usando as teias é muito divertido, de modo que é possível passar horas procurando os melhores prédios virtuais para usar de balanço entre uma missão e outra.
Outro ponto forte do jogo é o seu sistema de combate, claramente inspirado na série Batman Arkham, da Rocksteady. A presença de uma mecânica de combos preenchida com generosas janelas de contra-ataque significa que o Aranha pode lidar com diversos inimigos ao mesmo tempo, e eu estaria mentindo se não dissesse que há uma felicidade quase infantil (em um bom sentido) nesses momentos, especialmente quando eles terminam com finalizações cinematográficas.
A implementação de um sistema de experiência, completo com níveis e upgrades em forma de bugigangas para o herói também é acertada, fornecendo a tão necessária sensação de progressão nos intervalos entre um crime e outro. Além de melhorias como drones e teias elétricas, com o tempo é possível desbloquear uma série de trajes importados dos mais diversos arcos e sagas do Spider, o que certamente arrancará um sorriso dos fãs do cabeça de teia.
Aliás, esse é de longe o maior mérito de Marvel’s Spider-Man Remastered: por mais que o jogo possua algumas falhas que o afastam do panteão dos melhores games da história, ele consegue ser uma homenagem competente a um dos maiores ícones da cultura contemporânea.
Em seus mais de 60 anos de existência, Peter Parker e o Aranha inspiraram inúmeras gerações de jovens e adultos. Graças ao investimento da Sony e ao trabalho da Insomniac, o herói finalmente ganhou um jogo à sua altura, com todas as características que merecem a definição de AAA. No fundo, não importa quanto tempo passe, isso não pode ser menosprezado.
A versão definitiva?
No que tange ao port de PC, há um misto de recursos e novidades consideráveis que fazem desta a versão definitiva do jogo. Inspecionar o menu de gráficos do game, por exemplo, mostra mais de 20 (!) parâmetros individuais que podem ser configurados de acordo com o desejo e o hardware do jogador.
Algumas dessas opções possuem inclusive diversos níveis, como no caso do campo de visão (FOV) e do desfoque de movimento (Motion Blur). Como em Grand Theft Auto V (Multi), também é possível alterar outros elementos significativos, como a densidade populacional e o nível do tráfego nas ruas, reduzindo ou aumentando a carga tanto para o processador quanto para a placa de vídeo.
Acompanhando a tecnologia Ray Tracing, há três modos distintos de upscaling — DLSS, FSR 2.0 e uma solução própria do jogo. Particularmente, aprecio muito a inclusão destes recursos, pois são grandes aliados na manutenção de altas taxas de quadros mesmo em resoluções mais altas ou com o uso do RT.
Falando em taxa de quadros, jogando a 1080p nativo no preset alto com um setup provido de um Ryzen 5 3600XT e uma GTX 1080 Ti com 16GB de RAM, presenciei uma flutuação entre 53 e 110 fps, a depender do que estava acontecendo na tela. Apesar da jogabilidade fluida e dos bons gráficos, todos os cenários apontaram para um uso ainda pouco otimizado da CPU, o que outros benchmarks independentes também confirmaram.
Sendo sincero, é o único deslize em um port outrora excelente, que em máquinas mais capacitadas já supera com folga os visuais apresentados pelo PlayStation 5. Um grande destaque é o suporte a resoluções ultrawide e super ultrawide, bem como a vários monitores. Caso você disponha dos recursos necessários, é possível experimentar a aventura de uma forma que favorece muito a imersão nesta Nova York fictícia.
Jogar com o mouse e teclado também funciona muito bem, sendo que é possível mapear as teclas caso você não goste da predefinição do jogo (por padrão, as teias ficam no shift esquerdo). No meu caso, optei por usar um DualShock 4 plugado via USB, que o jogo reconheceu instantaneamente e passou a mostrar os símbolos na tela. Porém, o suporte aos recursos do DualSense já me fez planejar a aquisição do controle para o New Game Plus e a busca por todas as conquistas no Steam.
Sem volta para o console
Graças a um port competente, Marvel’s Spider-Man Remastered é a melhor versão de um dos melhores jogos de super-herói já feitos. Não importa se você é um fã inveterado do cabeça de teia ou se está somente buscando uma aventura divertida sem muito compromisso, saiba que a obra da Insomniac estabeleceu um novo padrão de qualidade para as produções da Marvel nos games, e, graças às melhorias, esta é a ocasião perfeita para salvar o mundo de novo ou pela primeira vez.
Prós
- Port competente com diversas configurações ajustáveis e opções gráficas superiores às do PlayStation 5;
- Suporte a vários monitores e resoluções ultrawide;
- Possui todos os DLCs e trajes adicionados posteriormente;
- New Game Plus estende a vida útil do jogo;
- O melhor dos dois mundos: funciona bem com mouse e teclado e suporta os recursos do DualSense;
- Suporte completo a português brasileiro;
- Ainda se mantém divertido, mesmo anos após o primeiro lançamento.
Contras
- Ausência de cross-save com a versão de PlayStation;
- Habitantes de Nova York são tão expressivos quanto a torcida do FIFA;
- Carece de mais otimizações voltadas ao uso de CPUs.
Marvel's Spider-Man Remastered — PC — Nota: 9.0
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela PlayStation PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela PlayStation PC