Jogamos

Análise: La Pucelle: Ragnarok (PC) chega ao Ocidente após 12 anos de espera

Edição mais completa do RPG tático da NIS faz parte do volume 3 de relançamentos clássicos da desenvolvedora.

Após relançar Phantom Brave, Soul Nomad, Makai Kingdom e ZHP no Switch e no PC, a Nippon Ichi Software continua fazendo o trabalho de remasterização de seus títulos clássicos com o Prinny Presents NIS Classics Vol. 3. Desta vez, os títulos selecionados foram La Pucelle: Ragnarok e Rhapsody: A Musical Adventure. Como os títulos foram lançados em edições individuais no PC, este texto será focado no primeiro, enquanto a análise de Rhapsody será lançada posteriormente.

La Pucelle: Ragnarok é a edição mais recente de um dos primeiros RPGs estratégicos da Nippon Ichi Software, La Pucelle: Tactics (PS2). Adicionando mais trechos de história e personagens de outros jogos da empresa, o título foi lançado para PSP no Japão em 2009. Na época, vários fãs sonhavam com uma versão ocidental, mas ela só veio a se concretizar neste novo relançamento.

A serviço da igreja

La Pucelle conta a história de uma garota chamada Prier, que foi criada em um orfanato junto com o seu irmão Culotte. Ainda adolescentes, os dois se tornaram membros da La Pucelle, uma organização que caça demônios a serviço da Church of the Holy Maiden. O esquadrão inicialmente conta com Prier, Culotte e uma veterana chamada Alouette, mas conforme a história avança, mais aliados se juntam à equipe.

Além de personagens humanos bastante carismáticos, que incluem convidados de jogos como Disgaea 2 e Rhapsody previamente lançados como DLC no PSP, é possível recrutar monstros como aliados. Junto com os sistemas de equipamentos e magias, o resultado é uma equipe bastante maleável para o jogador adaptar ao que desejar.

Em termos da história, cada capítulo funciona como uma espécie de mini arco. O jogo lembra uma série de anime com narrativa episódica (como, por exemplo, Cowboy Bebop), em que há uma história principal por baixo dos panos, mas cada capítulo traz apenas os personagens lidando com uma consequência superficial daquela situação até chegar nos momentos de grande revelação da trama.

Um detalhe que chama atenção nessa estrutura é a presença de múltiplos finais para cada episódio. Apesar de isso não interferir de forma pesada na condução da trama, a ideia é que as ações do jogador afetam a forma como esses arcos são fechados, podendo haver uma conclusão adequada (final bom) ou uma resolução insatisfatória que não explica todo o caso (finais normal e ruim). Conseguir o melhor final também recompensa o jogador com mais dinheiro.

Purificando um mundo de ondas sombrias

La Pucelle é um RPG tático com grid quadriculado. Cabe ao jogador coordenar a movimentação e as ações de todos os personagens de seu esquadrão para encarar as várias áreas do jogo. O título divide os trechos de combate em dungeons, que possuem uma estrutura não-linear, sendo possível escolher qual a próxima direção que o jogador deseja explorar.

Continuar diretamente para o próximo mapa implica em manter toda a equipe nas mesmas condições de HP e MP, o que faz com que sair da dungeon várias vezes ao invés de avançar sempre seja indicado. Ao retornar para uma área já terminada, não é necessário lutar novamente, o que torna esse movimento de sair e voltar para a dungeon mais ágil.

Os mapas de La Pucelle contam com portais para o Dark World que carregam energias negativas. Essas ondas de poder das trevas podem ser direcionadas pelo mapa, seguindo o posicionamento dos personagens em campo. O seu efeito inicial enfraquece aliados e fortalece inimigos, mas a verdade é que a presença desses portais é algo muito útil para o jogador.

Graças à mecânica de purificação, é possível eliminar esses portais e usar a sua energia como uma forma de magia cujos efeitos dependem do elemento associado àquela onda. Porém, além do efeito imediato de poder atacar vários inimigos ou curar vários aliados, há uma utilidade ainda maior com o sistema de Re-Act. Todos os membros da equipe que estão no caminho da onda poderão agir novamente após a purificação do portal, fazendo com que um único turno permita muita maleabilidade estratégica.

Vale destacar também a forma como personagens adjacentes podem participar juntos do combate sem gastar a ação daquele turno. Porém, isso também vale para os inimigos, então isolá-los é uma estratégia bastante útil. Ao contrário de outros jogos do gênero, um ataque comum à distância implica em represália mesmo que o personagem do jogador esteja fora da área de alcance do inimigo, o que também precisa ser levado em consideração. Para evitar isso, é importante usar técnicas e magias, já que elas não recebem counters.

Para além dos elementos estratégicos a serem pensados estritamente durante o combate, temos um sistema de equipamentos bastante livre. Sem definições fechadas de “arma”, “armadura” e afins, o jogador fica livre para equipar várias versões de um mesmo item caso queira. Além disso, todos os equipamentos contam com um sistema de bônus para atributos variados, que pode ser fortalecido com o uso, liberando novas habilidades. Com isso, é possível adaptar um personagem para ser mais focado em magia com bônus em inteligência ou em ataque físico com bônus em força, por exemplo.

Uma remasterização simples

La Pucelle é um excelente jogo tático que mostra muito bem a competência da Nippon Ichi Software para projetar sistemas divertidos de explorar. Mesmo sendo um jogo antes de Disgaea e não contando com vários elementos que se tornaram marca registrada da empresa, como o sistema de Lift e Throw, é nítido o esforço para fazer um jogo que vai além do básico que um RPG tático pode oferecer.

A edição Ragnarok, em particular, expande a narrativa com finais alternativos e traz ainda mais conteúdo, agradando os fãs com personagens como o protagonista da série de plataformas de ação Prinny, Rozalin de Disgaea 2, entre outros. Porém o relançamento acaba deixando a desejar em alguns aspectos.

Assim como os jogos das coletâneas anteriores, o que vemos em La Pucelle é uma remasterização competente, mas sem grandes adições. O jogo não conta nem mesmo com opções de filtro, algo presente em alguns dos outros títulos como Rhapsody. Não há nenhum extra comemorativo nem nenhum elemento que valorize o esforço da remasterização consideravelmente além do fato de que a edição Ragnarok não havia sido lançada oficialmente em inglês até o presente momento.

Além disso, para os jogadores de PC, é notável a ausência de configurações detalhadas para o jogo. A única opção gráfica disponível é o ajuste de resolução e dos modos janela/full screen. Em termos de controles, é possível adaptar o uso do teclado e de controles. Não tive nenhum problema com o título, mas esse tipo de calibragem detalhada faz diferença para jogos de PC.

De volta a um SRPG clássico

La Pucelle: Ragnarok é um excelente SRPG da Nippon Ichi Software, digno do título de clássico. Com um gameplay estratégico muito rico e uma narrativa bem conduzida, a obra vale a pena para fãs do gênero. Porém, assim como os outros relançamentos, fica a sensação de que a remasterização do jogo merecia um pouco mais de investimento e de possibilidade de ajuste no PC.

Prós

  • Gameplay estratégico que permite explorar várias ações em um mesmo turno;
  • Sistema de equipamentos permite moldar a evolução dos papéis dos personagens de forma bastante detalhada;
  • Narrativa “episódica” bem conduzida com múltiplos finais para cada capítulo.

Contras

  • Não possui opções significativas de configuração no PC além da resolução e dos controles;
  • Não conta com opções de filtro, extras comemorativos ou algum conteúdo novo que adicione valor à edição remasterizada.

La Pucelle: Ragnarok — PC — Nota: 7.5

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google