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Impressões: Alina of the Arena (PC) traz cartas e estratégia em um roguelike promissor

Entre na arena e tente sobreviver a combates brutais neste ótimo título indie.

em 24/08/2022

Alina of the Arena pega emprestado várias características de outros gêneros para criar um interessante roguelike de construção de baralhos. Além de ter que gerenciar as cartas, precisamos também levar em consideração o equipamento e o posicionamento da protagonista em batalhas altamente estratégicas. O jogo não traz ideias novas ou únicas, porém sua execução impecável das mecânicas torna as partidas viciantes. Disponível em Acesso Antecipado, o título já oferece uma experiência completa e só precisa de alguns ajustes para ficar ainda melhor.

Uma garota sozinha contra um mundo de perigos

Alina é uma garota meio demônio que é mantida cativa como escrava. A única chance de escapar é vencendo um torneio sangrento no qual gladiadores lutam contra monstros. A fuga não será fácil, pois as batalhas se passam em arenas apertadas e a quantidade de oponentes é alta. Sozinha e sem outra opção, Alina vai usar toda sua habilidade e coragem para conseguir avançar.

O foco do jogo está nos combates por turno, que acontecem em pequenas arenas divididas em hexágonos. Em cada embate, o objetivo é derrotar todos os inimigos e, para isso, utilizamos cartas para atacar, defender e se movimentar. A cada rodada recebemos um conjunto de cartões e alguns pontos de energia, sendo necessário pensar com cuidado para executar o máximo de ações com os recursos disponíveis. As ações dos inimigos são indicadas de forma explícita, o que nos permite tomar decisões conscientes.


Um dos diferenciais de Alina of the Arena é o posicionamento. Cada estágio lembra um pequeno tabuleiro dividido em vários espaços, de forma parecida a RPGs táticos. Além de conseguir escapar de perigos com alguns passos, a protagonista pode utilizar o ambiente a seu favor: inimigos podem ser manipulados para que seus ataques acertem uns aos outros ou então atraídos para armadilhas. Há boas opções e com um pouco de criatividade é possível montar algumas jogadas impressionantes.

Pelo caminho, Alina se fortalece com novas cartas e amuletos com efeitos passivos diversos. A garota também pode equipar diferentes armas que afetam suas habilidades. Uma espada longa, por exemplo, aumenta o poder e alcance dos ataques, mas gera um cartão inútil de fadiga a cada golpe. Um arco é ótimo para acertar inimigos distantes, porém demanda descartar uma carta para recarregar a munição. Há grande variedade de armas e podemos trocá-las livremente, inclusive durante as lutas, o que traz versatilidade às partidas.



Encurralada em embates intrincados

Em essência, Alina of the Arena é um roguelike de construção de baralhos bem tradicional, afinal utiliza os vários conceitos conhecidos do gênero, como pontos de defesa que só valem por um turno e mão de cartas que é descartada no fim da rodada. Porém, suas outras mecânicas trazem identidade e tornam as partidas empolgantes.

O aspecto que mais se destaca no jogo é a arena dividida em espaços. Essa configuração nos força a levar em conta o posicionamento da protagonista e dos inimigos na hora de planejar nossos movimentos, e me surpreendi com as possibilidades. Em uma batalha, lancei uma bola de fogo para deixar o chão em chamas, depois empurrei monstros com armadura para esses espaços — após alguns turnos, eles foram destruídos facilmente. Já em outra situação, consegui interromper um ataque poderoso ao lançar um inimigo em uma parede para atordoá-lo.


Os estágios são pequenos e usualmente Alina está em desvantagem numérica. Isso cria uma sensação constante de claustrofobia e tensão, afinal cada embate é complicado. Mas essa decisão é também um ponto positivo, sendo ótima a sensação de criar uma boa tática e vencer uma batalha complexa com poucos danos. Há, inclusive, incentivos para fazer sequências de ataques: a plateia se anima com os combos e joga na arena itens e equipamentos valiosos.

A presença de equipamentos oferece ainda mais possibilidades estratégicas. Além de aumentarem os atributos das cartas, as armas também alteram a maneira de atacar e contam com habilidades especiais poderosas. A protagonista é capaz de utilizar dois armamentos por vez, sendo possível trocá-los durante os embates de acordo com a situação, o que traz flexibilidade tática. Há também classes com baralhos e armas iniciais específicas — variedade de opções na hora de montar a personagem é o que não falta aqui.



Percalços na jornada

A mistura de cartas e posicionamento torna Alina of the Arena bem interessante, mas o jogo não é livre de algumas decisões estranhas que incomodam um pouco. Para começar, se mover pela arena é bem custoso: na maior parte dos turnos, só há um cartão para se movimentar por um único espaço, e ele desaparece caso não seja utilizado na primeira ação da rodada. Pelo caminho é possível encontrar outras cartas com características de mobilidade, mas elas são escassas.

Por causa disso, o aspecto tático da disposição de tabuleiro das arenas fica um pouco limitado. Para piorar, o alcance dos ataques de alguns inimigos é bem amplo e muitas vezes um único movimento não é suficiente para escapar deles — o jeito é levar dano ou tentar se defender. Isso se torna ainda mais problemático nos chefes, que têm vários golpes que afetam múltiplos espaços.


Com o tempo aprendi a lidar com essa decisão de design e consegui me antecipar melhor, percebi que a intenção é justamente nos forçar a sobreviver a essas situações complicadas. No entanto, acho uma oportunidade perdida não ter mais opções de locomoção e de habilidades para movimentar os inimigos, pois isso tornaria o jogo mais rico estrategicamente.

Alina of the Arena está em Acesso Antecipado desde janeiro de 2022 e, no momento, já está praticamente pronto. Seus sistemas são bem desenvolvidos e a variedade de conteúdo é razoável, com direito a várias classes e cartas a serem desbloqueadas. Por causa disso, pouco deve mudar até a versão final,  mas acredito que ele se beneficiaria de mais tempo de desenvolvimento, em especial no aspecto técnico: menus e outras características visuais carecem de variedade e melhor polimento. Apesar disso, o jogo é bastante competente e agrada os apreciadores do gênero.



Uma interpretação admirável

Alina of the Arena enriquece o gênero roguelike de construção de baralhos com a inclusão de aspectos de posicionamento. Além de usar cartas, precisamos nos mover pela arena, o que expande as opções táticas dos embates. As batalhas são intensas e complicadas, afinal estamos em desvantagem na maior parte das vezes, e é muito recompensador montar uma estratégia para sair vitorioso. Diferentes tipos de ataques, habilidades e equipamentos oferecem ainda mais possibilidades entre as partidas.

A experiência é única, mas há arestas a serem aparadas, como movimentação custosa demais, subutilização de certas ideias e algumas situações injustas. Contudo, os sistemas são bastante sólidos e é perfeitamente possível contornar os problemas com o passar do tempo. No mais, Alina of the Arena é uma ótima interpretação do estilo construtor de baralhos e tem qualidades de sobra para se destacar no gênero.

Revisão: Thais Santos
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela PINIX

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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