Of Bird and Cage é um álbum musical apresentado como jogo, que reimagina o conto de A Bela e a Fera em uma ambientação contemporânea sombria. Nossa protagonista é a jovem Gitta Barbot, cujo sobrenome presta uma homenagem à autora original da fábula, publicada em 1740 pela romancista Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve.
Começamos a aventura acompanhando cenas da infância de Gitta, uma garota franzina e bastante apegada à mãe. No capítulo de introdução também conhecemos seu pai, um homem violento, alcoólatra e abusivo.
Aos 25 anos Gitta é uma viciada em drogas, tem um namorado traficante e trabalha como garçonete para um chefe bizarro. A garota precisa se drogar periodicamente; caso contrário, começa a alucinar com chamas à sua volta e um sinistro rosto barbado que a persegue.
O sonho da garota é tocar sua música, mas há apenas um bar na cidade que permite que os frequentadores cantem e toquem. Nesse local Gitta encontrará alguém que mudará o rumo da sua vida para sempre, o brutamontes Bres Lupus. Terá ela força suficiente para escapar de sua prisão física e mental? Cabe ao jogador decidir se Gitta trilhará o caminho do perdão ou se revidará contra o mundo que a oprime.
Um jogo-concerto
Of Bird and Cage propõe um formato interessante de entretenimento, apresentando-se como um álbum musical de heavy metal na forma de um jogo. Todo o gameplay é sincronizado com a trilha sonora, e a narrativa é contada através da ação na tela e das letras das canções, que podem ser exibidas em legendas no idioma original ou traduzidas para o português. Eu optei por jogar com as letras exibidas no idioma original, mas textos do jogo localizados para português brasileiro, por isso algumas das imagens que ilustram essa análise apresentam legendas em inglês, pois estão referindo-se à música que está tocando ao fundo.A maior virtude de Of Bird and Cage é, sem dúvida, sua trilha sonora exclusiva, contando com artistas de peso como Vidi Dolev (Gunned Down Horses), Ron Bumblefoot Thal (ex-Guns N’ Roses), Kobra Paige (Kobra and the Lotus), Rob Van der Loo (Epica), Ruud Jolie (Within Temptation), Casey Grillo (ex-Kamelot), Snowy Shaw (ex-King Diamond e ex-Therion), Rocky Gray (ex-Evanescence), Mike Lepond (Symphony X), Danny Worsnop (Asking Alexandria) e Tina Guo (famosa violoncelista sino-americana).
O gameplay consiste em explorar ambientes, tomar decisões e realizar tarefas dentro de um limite de tempo, determinado pela duração da música de fundo. Quanto mais tarefas você executar com êxito, melhores serão os resultados, embora o jogo prossiga para a cena seguinte mesmo que você falhe em cumprir as missões. As decisões do jogador e seus resultados conduzirão a história para um dos quatro finais disponíveis.
Todas as cenas têm duração fixa, pois são determinadas pelas músicas que as acompanham. Isso faz com que o jogo tenha uma campanha com uma extensão determinada em pouco mais de duas horas. Não é possível pular cutscenes, mesmo aquelas já vistas em partidas anteriores.
Como o jogo é curto, é bastante interessante refazê-lo para cumprir tarefas ainda não concluídas e experimentar escolhas diferentes para visualizar suas consequências. Isso confere um elevado fator de rejogabilidade.
Boa música, má execução
Apesar da premissa bastante original e do capricho dedicado à parte musical do jogo-concerto, a execução deixa a desejar, com um roteiro fraco e mal conduzido, jogabilidade ruim e falta de polimento nos gráficos.O roteiro é inconsistente e o fluxo de ações não parece natural ou verossímil. Eu entendo que a situação de Gitta e Bres não seja das melhores, mas os personagens frequentemente tomam decisões que não fazem sentido algum dentro daquele contexto.
A física do ambiente é estranha e muitos objetos não se comportam como deveriam. Tarefas banais como pegar uma caixa embaixo de uma cama com o auxílio de uma vassoura ou abrir portas, que na vida real seriam atividades triviais, são um sofrimento com a engine do jogo.
Frequentemente Gitta entra em lutas corporais e em trocas de tiros, só que o gameplay desses combates é sofrível e malfeito, com movimentos pouco naturais e um sistema de mira ruim, resultando em uma experiência mais frustrante do que divertida.
Mas o maior ponto negativo está nos gráficos feios e pouco polidos, praticamente inaceitáveis para um jogo lançado em 2022. Os cenários, modelagem dos objetos e das pessoas chegam a tirar a imersão do jogador na história.
Mais Fera do que Bela
Of Bird and Cage apresenta uma premissa muito interessante que mistura um filme, um concerto de metal e um jogo. Infelizmente falha na execução dessa ideia, com gráficos e jogabilidade pouco polidos e história fraca. A trilha sonora é caprichada e nota-se um grande esforço da desenvolvedora nesse aspecto, mas não é suficiente para sustentar o título. Vale como uma experiência conceitual, mas, como entretenimento, deixa a desejar.Prós
- Premissa interessante, apresentando-se como um álbum musical jogável;
- Trilha completamente integrada ao andamento da história;
- Alto fator de rejogabilidade;
- Textos localizados em português brasileiro, incluindo opção de traduções para as letras das músicas.
Contras
- Falta de polimento nos gráficos e animações;
- Gameplay terrível, com física quebrada e mecânicas confusas;
- Sistemas de combate corporal e tiro muito ruins;
- Roteiro fraco e muitas vezes inconsistente;
- Não permite pular cutscenes, mesmo aquelas já visualizadas.
Of Bird and Cage — PS4/XBO/PC — Nota: 3.5Versão utilizada para análise: Xbox One
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela All in! Games