Originalmente lançada pela Liar-soft em 2012 no Japão, a visual novel girls love Kindred Spirits on the Roof (Okujou no Yurirei-san em terras nipônicas) chegou ao Ocidente apenas em 2016. À época, seu anúncio causou burburinhos aqui e ali porque o jogo chegaria sem censuras ao Steam — afinal, todos nós sabemos que a plataforma da Valve é uma caixinha de surpresas quando o assunto é conteúdo adulto.
No entanto, a localização da MangaGamer conseguiu ultrapassar as barreiras impostas pelo Steam e fez com que Kindred Spirits on the Roof ganhasse fãs do lado de cá do globo. Conclusão: o sucesso foi tamanho, que todos os outros produtos acabaram vindo para o Ocidente também.
Era para ser apenas mais um almoço como qualquer outro, mas…
A história se passa na Academia de Comércio Feminina Kokonotsuboshi, mais conhecida como Shirojo. Como seu nome implica, apenas garotas estudam lá e Yuna Toomi, a protagonista da história, é uma das alunas dessa escola. Certo dia, Yuna, que sempre faz suas refeições no terraço da Academia, é interrompida por duas fantasmas que também foram alunas em Shirojo: Sachi Enoki e Megumi Nagatani.
Essas duas fantasminhas, mesmo que de épocas diferentes, acabaram se apaixonando em seu período pós-morte, mas precisam consumar esse amor para que possam finalmente seguir para o plano astral. Contudo, como Yuna é a única capaz de ver e conversar com Sachi e Megumi, ela é designada como cupido — de quem, exatamente?
Ao que tudo indica, Shirojo possui diversos casais de garotas que, por algum motivo ou outro, não conseguem se declarar umas às outras. Agora, cabe à protagonista, que nunca foi de fazer amizades, interagir com esses potenciais casais e satisfazer o desejo de Sachi e Megumi.
Diversos casais e clichês, mas romances fofos
Kindred Spirits on the Roof traz casais pré-definidos em uma história linear, sendo que as poucas opções de escolhas durante a leitura servem apenas para desbloquear alguns bônus in-game. Além disso, todos os pares de garotas se enquadram em diversos tropos comuns (não apenas) na cultura japonesa, como caloura x veterana, aluna x professora e por aí vai.
No entanto, apesar desses clichês, a visual novel consegue, acima de tudo, focar no desenrolar desses casais aparentemente não-convencionais — de acordo com a realidade em que vivemos, claro. Ao mesmo tempo, a narrativa aborda problemas existentes na nossa sociedade, sobretudo preconceito e homofobia.
Outro aspecto positivo de Kindred Spirits on the Roof, que contribuiu com a alta receptividade do público, é o fato de o conteúdo sexual não ser o carro-chefe do jogo. Diferentemente de outros títulos adultos (e várias outras visual novels girls love no Steam), não existe uma fetichização dos romances; até mesmo as CGs “picantes” focam mais em descrever do que em mostrar, sem precisar recorrer a vocábulos de baixo calão ou imagens espalhafatosamente gráficas. Curiosamente, apenas essas passagens eram dubladas no jogo base.
Edição deluxe, mangá, drama CDs e Full Chorus
Ainda em 2016, a MangaGamer conseguiu lançar uma Deluxe Edition de Kindred Spirits on the Roof. A caixa vinha com dois DVDs, um com o jogo e outro com a trilha sonora; um pequeno artbook com ilustrações e letras das músicas cantadas na visual novel; e também um cartão com um código para baixar o título pelo Steam.
Aos poucos, a plataforma da Valve recebeu ainda os quatro drama CDs da série, localizados em inglês pela MangaGamer. Apesar de serem apenas histórias curtas narradas pelas dubladoras do jogo, essas tramas complementares ajudaram a expandir o cenário pós-jogo de alguns casais apresentados na visual novel.
Já em 2017, a editora norte-americana publicou o mangá Kindred Spirits on the Roof: The Complete Collection, que, embora não seja uma adaptação do jogo para os quadrinhos, trouxe duas tramas inéditas que também se passam em Shirojo. Por fim, em 2019, a visual novel ganhou sua versão Full Chorus, com dublagem integral e novas CGs.
Vamos criar uma yuritopia!
Kindred Spirits on the Roof é uma visual novel girls love com foco no romance, mas que também consegue entregar uma excelente narrativa. Mesmo com seus inúmeros clichês, a trama ainda aborda alguns temas importantes, como homofobia, incertezas e diferenças entre ficção e realidade, tudo sem apelar para conteúdo explicitamente gráfico ou a constante fetichização de relações romantico-afetivas entre garotas que, infelizmente, ainda é comum em obras do gênero.
Revisão: Davi Sousa
