Ultimamente, tudo que envolve Sonic vem cercado de dúvidas e sobrancelhas levantadas. Ao ser anunciada, a coletânea Sonic Origins foi recebida com um certo ceticismo, advindo principalmente da equivalência do seu preço alto com o pouco conteúdo oferecido. Agora, realmente podemos ter certeza de que o ouriço mais veloz dos games merecia uma celebração mais caprichada.
Festa para poucos
Vamos começar pelas coisas boas, que obviamente são os jogos. Sonic Origins traz os quatro primeiros títulos da franquia — ou cinco, dependendo de como você fizer a conta. Cada um deles ganhou uma introdução e um final animados, muito bem produzidos. São os seguintes:
Sonic the Hedgehog (1991) — O primogênito da série, lançado para o Mega Drive/Sega Genesis. Foi aqui que conhecemos Green Hill Zone e outras localidades clássicas durante a batalha entre Sonic e o Dr. Robotnik.
Sonic the Hedgehog 2 (1992) — A sequência melhora praticamente tudo que o seu predecessor apresentou: melhores fases, trilha sonora vibrante e a introdução de Miles “Tails” Prower, o parceiro inseparável do ouriço. Para esta coletânea, foi incluída a área inédita Hidden Palace Zone.
Sonic the Hedgehog CD (1993) — Lançado para o obscuro Sega CD, Sonic CD volta a trazer apenas Sonic, e as fases agora têm um mecanismo de viagem no tempo. O que alteramos no passado afeta o futuro de uma mesma área. Foi aqui a primeira aparição do vilão Metal Sonic.
Sonic the Hedgehog 3 (1994) — Sonic e Tails agora podem utilizar escudos elementais, que conferem alguns movimentos novos e proteção não só contra os inimigos, mas também nas temidas áreas submersas.
Sonic & Knuckles (1994) — Este jogo não chega a ser uma sequência e sim uma espécie de expansão, com novas fases e a possibilidade de jogar com Knuckles. Na época, era possível acoplar o cartucho do Sonic 3 no topo deste, para que o novo personagem estivesse disponível na terceira aventura. Apesar de lançados originalmente separados, na coletânea ambos são apresentados juntos como “Sonic 3 & Knuckles”. Também é possível jogar o game bônus Blue Sphere de forma independente.
À época, era comum que cada um tivesse o seu favorito pessoal, mas não deixasse de gostar dos outros, por isso essa reunião de títulos é bastante agradável. É possível jogar cada um dos quatro jogos da maneira tradicional, com contagem de vidas, disposição de tela 4:3 e número limitado de continues. Para quem se acha expert nos jogos da série, o modo Desafio vai te colocar à prova. Nele, o jogador terá que passar por todos os títulos em sequência, de uma vez só.
O diferencial deste compilado está no Modo Aniversário, disponível para cada jogo. Ele torna a experiência um pouco mais dinâmica e aprimorada para os dias de hoje. As vidas são infinitas e nos preocupamos mais em coletar moedas, para desbloquear itens na Galeria.
O grande deleite, entretanto, está na possibilidade de jogar na disposição 16:9 (widescreen) sem que a imagem fique esticada. Tudo foi retrabalhado para se enquadrar perfeitamente nessa perspectiva e isso definitivamente é um dos pontos mais altos da coletânea.
Por fim, esta opção também possibilita que possamos variar os personagens com que queremos jogar e manter um progresso para cada um. Podemos jogar Sonic 1 com Tails ou o 2 com Knuckles como se eles já estivessem lá originalmente. Além disso, cada título também conta com um desafio de chefes, no qual temos que derrotar todas as aparições do inconveniente do Robotnik em sequência.
Todo esse carinho com os títulos originais é muito bacana, pois é uma maneira moderna de reintroduzir um personagem clássico ao público atual. Entretanto, conhecendo outras diversas coletâneas que a Sega já licenciou, é inevitável sentir que daria para incluir pelo menos o dobro de jogos, como Sonic 3D Blast ou alguns títulos de Master System e Game Gear, caso de Sonic Chaos, Sonic Labyrinth e até Sonic Spinball. Não existe nem a opção de jogar Sonic 3 ou Sonic & Knuckles de maneira separada.
Outra coisa que pode fazer falta para alguns é a opção de save slots. Ela seria ideal para os jogadores que ainda estão conhecendo a série e querem seguir a experiência na proposta original, sem contar com as facilidades do Modo Aniversário.
Entre moedas virtuais e moedas reais
Infelizmente, é impossível não colocar na balança o quanto o preço de Sonic Origins é abusivo. Tudo bem que jogos no geral são um luxo e algumas coletâneas já estão vindo com preços bem elevados, mas aqui o caso é um pouco mais pesado. O preço em todas as plataformas é quase o mesmo, tanto da edição comum quanto da Deluxe, com um leve acréscimo para o Xbox.
A situação piora ao avaliarmos o que vem na edição Deluxe, que inclui dois pacotes extras. Eles trazem nada mais, nada menos que planos de fundo para preenchermos as lacunas pretas nas laterais, músicas para a Galeria, novas animações para os personagens na jukebox e alguns objetivos mais difíceis no modo Missão.
Eu deixei para falar do modo Missão somente agora justamente por causa dessa mancada envolvendo o preço. Nesta opção, cada jogo tem um conjunto de missões que envolve cumprir um objetivo em um espaço de tempo, como cruzar um trecho com apenas um anel ou abater um número determinado de inimigos com apenas um movimento. Quanto melhor nossa marca, melhor a nota entre S e E, e maior a quantidade de moedinhas recebidas. Concluir metas mais fáceis, de uma estrela, vão liberando as seguintes até chegar na dificuldade máxima, de cinco estrelas.
Se juntarmos tudo que rende moedas em Sonic Origins, dá para comprar 100% dos itens da Galeria e sobra, o que torna ainda mais absurdo estes extras citados acima serem vendidos como DLC. O que dá para fazer com as moedas que sobram? Absolutamente nada. Isso diminui bastante o interesse em querer fazer tudo que o jogo dispõe e até atrapalha a experiência com o modo Missão, que de fato é bem bacana.
Um último ponto contra está na trilha sonora de Sonic 3. Sempre houve rumores da colaboração de Michael Jackson para as músicas do jogo, inclusive o produtor Yuji Naka chegou a confirmar essa informação recentemente. Verdade ou lenda, as canções originais não foram usadas em Sonic Origins por questões de direitos autorais, o que tornou necessária a composição de novas melodias, que infelizmente ficaram muito aquém do material-fonte.
Um convite insólito
Sonic Origins não deixa em momento algum de ser uma boa coletânea, com um trabalho muito bem implementado de mudar a disposição dos jogos para algo atual sem deixá-los esticados. Ainda assim, essa mania de sempre focar nos mesmos jogos do Sonic em diversas coletâneas, sendo que ele tem um vasto rol de títulos interessantes, começa a ficar cada vez mais desgastada. Além disso, os pacotes extras da versão Deluxe são pífios e realmente não adicionam nada que não pudesse estar incluso no pacote regular.
Prós
- A possibilidade de jogar na disposição 16:9 e com qualquer personagem é simplesmente perfeita;
- A Galeria tem peças bacanas da história do ouriço;
- Os jogos clássicos ainda divertem bastante;
- O modo Missão é bem-elaborado;
- As novas animações são lindas;
- Inclusão da Hidden Palace Zone em Sonic 2.
Contras
- Os DLCs poderiam perfeitamente ter sido colocados dentro do jogo;
- Pouco títulos à disposição;
- A Galeria poderia ser bem mais rica;
- Alguns save slots iriam bem, pelo menos no modo Clássico;
- Não é possível jogar Sonic & Knuckles separado do Sonic 3;
- A “nova” trilha sonora de Sonic 3 é fraquíssima.
Sonic Origins — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Sega