Bem-vindos a Rigbarth
Tudo começa como tradicionalmente na série: nosso personagem (que pode ser um rapaz ou uma moça) perdeu a memória. Ainda confuso, ele acaba protegendo uma garota que estava na floresta. Depois disso, os dois vão para a cidadezinha próxima, Rigbarth, o local que será a nova morada do protagonista.
Para se tornar um cidadão dessa região, o jogador é convidado a participar do SEED, um grupo de defensores da paz. Cabe aos membros dessa organização fazer o possível para ajudar a população com missões variadas, como levar um item para alguém ou derrotar inimigos específicos. Essas tarefas ajudam a entender como os vários sistemas de gameplay funcionam, assim como detalhes mais específicos.
Não vou entrar em muitos detalhes quanto à história, mas vale destacar que a obra conta com o que considero um dos melhores roteiros da série. A narrativa principal começa com a apresentação de Rigbarth, os seus moradores e as grandes belezas naturais e ruínas ao seu redor. Em relativamente pouco tempo de foco na história, a obra logo mostra reviravoltas envolvendo a mitologia da franquia, que instigam o jogador a querer ir a fundo no que está acontecendo.
Além disso, jogando com a protagonista feminina, senti que a sua personalidade era bem marcante e que as suas interações com os outros personagens eram bem agradáveis e ocasionalmente engraçadas. Todos os cidadãos de Rigbarth têm personalidades curiosas e carismáticas e é possível tê-los como aliados nas atividades. Conforme o jogador se torna mais próximo desses personagens, são abertas oportunidades de matrimônio, e Rune Factory 5 é o primeiro da franquia a ter opção de relacionamentos homoafetivos.
Um mundo para explorar no seu ritmo
Em pouco tempo, o jogador já é liberado para fazer as coisas no seu ritmo. Apesar de a história ter um desenvolvimento linear abrindo novas dungeons aos poucos, a obra possui muitos sistemas para explorar. Devido a seu lado simulação de fazenda, o jogador pode fazer atividades como plantar e colher vegetais, cuidar de animais que na verdade são monstros fantásticos, cortar lenha, quebrar pedras para obter minérios, pescar, etc.
Cada uma dessas atividades têm seu próprio nível e realizá-las aumenta a proficiência do avatar. Esse ganho de habilidade é um elemento fundamental da experiência, trazendo várias vantagens para o jogador: as ações passam a custar menos energia, é possível criar novos itens mais complexos e os parâmetros como HP e RP (“energia”) são aprimorados. O mesmo ocorre com o combate, sendo possível utilizar várias armas e se tornar perito no seu uso.
De forma geral, existe uma sinergia evidente entre os elementos, fazendo com que o jogador sempre se sinta recompensado por fazer qualquer tipo de atividade. Até mesmo dormir, comer e andar possuem níveis próprios e é viciante gerenciar o tempo limitado, a energia do personagem e todos os seus recursos em busca de um constante aprimoramento. Como alguém que nunca gostou muito de Harvest Moon, lembro a minha surpresa com o Rune Factory original e o jogo mais novo mantém essa experiência mágica.
Além dos aspectos de gerenciamento, para avançar na história, é necessário explorar áreas no entorno de Rigbarth. Além das tradicionais dungeons, há áreas abertas similares ao overworld de Rune Factory 4 Special, que aqui ganham uma sensação mais clara de expansividade tanto por seu tamanho quanto pelo fato de ser um jogo totalmente em 3D. Infelizmente, essa grande abertura também fez com que alguns trechos do jogo parecessem vazios.
A viagem a essas áreas envolve encontrar itens e inimigos variados, sendo possível ver os tradicionais portais que geram criaturas em certos pontos do mapa. Os monstros incluem vacas, ovelhas e galinhas grandes, assim como goblins, orcs e outras criaturas fantásticas. Lutar contra eles é fundamental para a aventura, sendo fonte de materiais variados, assim como uma forma de conseguir novos aliados para cuidar das fazendas e batalhar.
O combate depende da escolha de armas, que podem ser espadas, machados, martelos, munhequeiras e até mesmo as ferramentas da fazenda. Na minha experiência com o jogo, senti que o uso de bons equipamentos e a especialização em uma arma podem ser até mais importantes do que o nível geral do protagonista, sendo possível passar por alguns desafios mais altos explorando bem os sistemas do jogo. Com mais proficiência, é possível fazer combos mais longos, sendo bastante valioso manter os inimigos ocupados por mais tempo.
Uma segunda chance que merecia mais polimento
Quando foi lançado no Switch, Rune Factory 5 foi bastante criticado por seus problemas técnicos, sendo esperado que a versão de PC fosse uma versão ideal do jogo. A verdade é que não foi bem assim e a versão de computador ainda acaba deixando um pouco a desejar nesse aspecto. Com configurações só um pouco superiores aos requerimentos mínimos revelados pela desenvolvedora, acabei sofrendo com pequenos defeitos de performance.
Isso ocorreu especialmente no aspecto de carregamento de objetos, personagens e outros elementos visuais. Abrir o jogo demorou um pouco na tela de loading e até mesmo a interação com personagens tinha um “engasgo”, sendo perceptível que a fala demorava mais do que o ideal para abrir. Cheguei até mesmo a explorar as opções gráficas do jogo para ver se conseguia evitar o problema, mas os inconvenientes persistiram. Felizmente, eles eram apenas bem ocasionais e mais ligados ao início do jogo, sendo fácil passar momentos longos sem defeitos após esse período inicial de carregamento.
Em termos gráficos, o jogo conta com opções simples, sendo possível definir a resolução, nível de anti-aliasing, qualidade de sombras, entre outras configurações. Caso o jogador queira testar, é possível alterá-las para uma versão customizada, mas as definições padrões pré-definidas de “low”, “standard”, “high” e "max" já oferecem o necessário para jogadores mais casuais.
Porém, Rune Factory 5 conta com vários pequenos defeitos e esses elementos mereciam correção. Um bom exemplo disso é a falta de opções textuais como log (registro de diálogos) e auto. Enquanto o segundo não incomoda tanto, a ausência de log é muito pesada, já que há muito texto e algumas informações importantes não são repetidas, ou seja, passar para a próxima fala significa não poder reler esse detalhe. Também vale destacar que, como em outros jogos da franquia, a dublagem é bastante diminuta, tendo vários trechos em que não há áudio para as falas.
Um agradável passeio pelo mundo das runas
A transição para o mundo totalmente 3D e o contexto atual de expectativas de qualidade de vida deixou em evidência alguns problemas que precisam ser corrigidos para que a série mantenha a sua relevância. Porém, Rune Factory 5 é mais uma boa adição para a franquia que mistura simulador de vida na fazenda com RPG e vale bastante a pena especialmente para os fãs da série. Fica a expectativa de que os próximos jogos consigam ir além do que foi apresentado aqui em todos os aspectos.
Prós
- Sistemas de gameplay viciantes em uma mistura bem aberta de simulação e RPG;
- História bem conduzida com reviravoltas curiosas que chamam atenção;
- Protagonista com personalidade bem escrita e boa variedade de personagens para conhecer a fundo como amigos ou opções de romance.
Contras
- Problemas de performance para PCs mais próximos do mínimo, especialmente no carregamento dos objetos, personagens e falas;
- Determinados elementos da gameplay precisavam ser melhor explicados para além das missões tutoriais e pequenos comentários textuais;
- Alguns dos menus poderiam trazer informações mais completas;
- A transição para o 3D levou à sensação de que alguns ambientes são um pouco vazios;
- Dublagem é bem reduzida;
- Ausência de opções textuais como log.
Rune Factory 5 — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games