Lançado em 2011, o
PlayStation Vita, ou simplesmente
PS Vita, foi o último videogame portátil produzido pela Sony. Embora
certamente existam outros fatores, é inegável que o desempenho do equipamento seja muito responsável por essa mudança por parte da empresa. Apesar de tudo, o console guarda muitas qualidades e merece ser devidamente lembrado. Portanto, nada melhor que uma matéria especial para comemorar essa data tão significativa para o mundo dos jogos eletrônicos, não é mesmo?
Senta que lá vem história
Antes que o leitor corra para os comentários e faça uma crítica sobre o redator não saber fazer contas, reforço que o lançamento em 2011 está correto, pelo menos do ponto de vista global. O PS Vita estreou primeiro no Japão em dezembro desse ano, chegando no ocidente somente em 2012. Portanto, os dez anos de aniversário fazem sentido de forma geral.
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Como tudo começou
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Depois de obter um
sucesso considerável com o PlayStation Portable, o famoso PSP, o propósito do PS Vita era claro: manter a Sony no segmento portátil incrementando o poder de fogo do seu console. Afinal, bater de frente com a Nintendo, até então a maior concorrente e num mercado dominado por ela desde o GameBoy, nunca foi uma tarefa fácil e manter a competitividade seria ainda mais difícil.
O primeiro portátil da Sony se saiu bem o suficiente frente ao Nintendo DS, competidor e líder disparado, mas era preciso ir além para manter a fatia ganha no mercado. Enquanto a Nintendo contava com franquias tradicionais e jogos bem planejados para os consoles de mão, o PSP contou com títulos de maior produção, rivalizando (de forma relativa) com o poder do PS2.
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Os dois consoles da Sony disponíveis em 2012
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Portanto, o PS Vita, que chegou durante os anos finais do PS3, tinha que chegar minimamente perto da capacidade do console de mesa. O PS4 já estava a caminho nessa época, outro fator que deveria ser levado em conta. A questão era como lidar com todos esses fatores juntos, o que vamos conferir a partir de agora.
Poder e custo demais...
A proposta da Sony para o seu novo portátil foi focar principalmente em alto desempenho e tecnologia de ponta. Para isso, o PS Vita contou com 512 MB de memória dinâmica (RAM) e 128 MB de memória para processamento de vídeo (VRAM), chegando ao nível do PS3. Outras características foram a sua tela OLED sensível ao toque, GPS, conexão Bluetooth, câmeras frontal e traseira, e duas palancas analógicas, semelhantes ao tradicional DualShock.
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Versão original (acima) e a versão revisada (abaixo)
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A primeira versão mais completa contava com conexão 3G, mas ela foi desabilitada em 2013. O armazenamento ficou por conta de um cartão de memória exclusivo para o console, com capacidade de 4 até 64GB. Uma segunda versão do PS Vita chegou em 2014 e trouxe um console com armazenamento interno próprio de 1GB, construção mais leve, bateria mais longa e tela LCD.
Aliás, por que a troca para um tipo de tela, em teoria, de qualidade inferior? A resposta é simples e está por trás de um dos problemas do PS Vita: custo. O hardware poderoso custava caro, levando a revisão do portátil a utilizar artifícios para reduzir o preço final. O cartão de memória exclusivo, assim como demais acessórios, também tinha um preço alto e afastou compradores (mais detalhes na sequência).
O videogame chegou a receber uma última versão chamada PlayStation TV em 2013, que abria mão da portabilidade e funcionava como um videogame de mesa. Infelizmente, ela foi descontinuada no ocidente no final de 2015. Vale frisar que o PS Vita também contou com diversas aplicações como Facebook. Netflix, Google Maps, Youtube e Skype.
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PlayStation TV teve uma recepção ainda mais modesta
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Retrocompatível com jogos do PSP, com o lançamento do PS4 o PS Vita recebeu mais uma funcionalidade, chamada Remote Play. Com ela, é possível reproduzir jogos rodando no console de mesa (semelhante à proposta do Nintendo WiiU). Mesmo com todas essas qualidades, o fator custo se mostrou determinante, sobretudo somado àquilo que mais importa em um videogame: os jogos.
... para games e jogadores de menos
Próximo do lançamento, o PS Vita teve boas vendas e anúncios de jogos bastante interessantes como Gravity Rush, Sonic & All-Stars Racing Transformed, Persona 4 Golden, Assassin's Creed III: Liberation, Call of Duty: Black Ops: Declassified e LittleBigPlanet PS Vita. Com o passar dos meses, entretanto, os números não avançaram e pouco a pouco ele começou a perder espaço e, portanto, suporte.
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Várias franquias famosas fizeram parte do começo de vida do PS Vita
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Com um hardware considerável, mas suficientemente distinto dos consoles de mesa, o custo de produção dos jogos era substancial. Grandes produtoras começaram a “desconfiar” do console e optar por não produzir jogos dedicados a ele ou mesmo versões dos games de mesa. Embora menos poderoso, o Nintendo 3DS amealhou títulos como Monster Hunter para a sua biblioteca devido à base instalada e maior facilidade na produção.
O suporte com lançamentos consideráveis durou mais algum tempo, com nomes como FIFA 13, Rayman: Origins e Legends e Killzone: Mercenary. A já comentada versão revisada do hardware tentou mudar o rumo das vendas, mas não foi suficiente. O portátil também tomou um baque com a chegada do PS4 em 2014. As vendas do console de mesa foram muito boas, levando-o a receber mais recursos e destaque, deixando o portátil ainda mais prejudicado no cenário geral.
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Com o passar dos anos, o leque de games do portátil se tornou mais reduzido
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O console ainda viu algum sucesso no lançamento de jogos indie, visual novels e JRPGs, como as séries Atelier, Ys, Final Fantasy e The Legend of Heroes. Esses dois últimos gêneros foram determinantes no Japão, onde o PS Vita teve uma vida um pouco mais vibrante. Ainda assim, o crescimento vertiginoso do mercado mobile, somado aos fatores já listados, contribuíram para que, no final de 2015, a Sony anunciasse que não produziria mais títulos para o console.
Coincidências e complicações
Além de todas essas questões, o ambiente ao redor do PS Vita parece nunca tê-lo favorecido. O já citado Nintendo 3DS foi lançado no começo de 2011 e, apesar de um começo claudicante, alcançou um grande sucesso pelas razões também já citadas. Mesmo com os cortes de preço (realizados em ambos os portáteis, aliás), o PS Vita sempre esteve em desvantagem em basicamente todos os pontos financeiros e de conteúdo.
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Os acessórios para o PS Vita eram igualmente caros
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O fator pirataria também foi importante: o PSP teve um grande número de vendas em parte devido a ela, pois a utilização de jogos piratas era relativamente simples e acessível. Isso pode ser comprovado de várias formas, inclusive na venda dos games originais, que não acompanhou a de consoles. O PS Vita, por sua vez, dificultou o processo ao utilizar um sistema mais seguro e um cartão de memória exclusivo.
Falando em exclusividade, é importante lembrar que o Nintendo Switch, contando com franquias arrasa-quarteirão de Mario e companhia, foi lançado em 2017, dificultando ainda mais a vida do PS Vita. Para completar, desde o lançamento do console da Sony tivemos um aumento exponencial na venda de smartphones, que cada vez mais contam com jogos de qualidade (muitas das vezes gratuitos), câmeras potentes e outras funções. Sem exclusivos de peso e alto custo, era impossível sobreviver nesse ambiente competitivo.
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O console híbrido da Nintendo foi um dos golpes finais no PS Vita
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Com o interesse cada vez menor, assim como o número de lançamentos e jogadores, o último portátil da Sony foi oficialmente
descontinuado em 2019. Com a venda estimada em 16 milhões de unidades, hoje ele ainda sobrevive “por aparelhos”, contando ainda com a sua loja online, cujo
fechamento foi anunciado e depois adiado indefinidamente, mas
sem permitir a criação de novos perfis na PSN.
Um bom console, mas fora de tempo
Dez anos após o seu lançamento, o
PS Vita ficou bem aquém dos demais consoles da Sony. A proposta era ousada com hardware poderoso, funções adicionais interessantes e a promessa de grandes jogos. Infelizmente, na prática, o portátil ficou aquém dos demais PlayStations,
sobretudo do PSP. Apesar de algumas falhas da empresa, certamente o cenário nunca favoreceu o console.
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Talvez se lançado em circunstâncias diferentes...
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O crescimento dos smartphones, incluindo bons jogos, e a concorrência ferrenha com a Nintendo foram determinantes. Somando isso aos preços consideráveis do PS Vita e a ausência de exclusivos de alto nível, o término da vida do console pode ser entendido, ainda que de forma triste, como natural. Fica a lembrança das suas boas qualidades e poucos, mas valiosos jogos e uma ponderação: será que um dia ele terá algum sucessor por parte da Sony?
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut