Análise: The Gunk (Multi) é um agradável e inofensivo passeio por um exótico mundo

Este título indie tem ótima ambientação, mas a execução morna de suas ideias compromete a jornada.

em 17/05/2022

Um planeta tomado por uma estranha gosma é o cenário de The Gunk. No controle de uma garota equipada com uma manopla mecânica, exploramos localidades deslumbrantes em uma aventura de ação e plataforma bem tradicional. O primeiro trabalho 3D do estúdio sueco Image & Form, que é conhecido pela série SteamWorld, tem ambientação e visuais notáveis, mas decepciona pela sua interpretação rasa de conceitos consagrados.

Desbravando uma terra corrompida

A dupla de mercadoras espaciais Rani e Becks, em sua busca por fontes de renda, acaba em um planeta que não aparece em nenhum mapa interestelar. O local parece promissor: leituras indicam que há alguma energia valiosa ali. Explorando a superfície intocada e desabitada, Rani se depara uma estranha gosma tóxica que corrompe e absorve a força vital da flora e da fauna. Mesmo diante desse perigo, a dupla decide avançar em uma jornada que pode definir o destino do planeta.


The Gunk é estruturado na forma de uma aventura de ação e plataforma 3D. A principal ferramenta de Rani é sua luva mecânica, que a permite agarrar, sugar e lançar objetos. Os desafios, em sua maioria, consistem em utilizar essas ações para liberar rotas ou criar plataformas.  Muitas das áreas estão tomadas pela gosma negra e para avançar precisamos aspirá-la por meio da manopla. Depois de limpar completamente a corrupção de uma área, a flora reaparece e libera novos caminhos.

Fora isso, Rani pode escanear e catalogar diferentes elementos, como plantas, ruínas e dispositivos. Além de prover um contexto do passado do local, preencher o catálogo é útil para liberar melhorias para a protagonista, como aumentar o alcance da sucção da luva, habilitar um movimento de corrida ou permitir lançar esferas de energia para ativar dispositivos distantes. Para construir os aprimoramentos é necessário utilizar recursos, que muitas vezes estão escondidos fora da rota principal.



Purificação que nunca muda

O planeta desabitado está sendo destruído pela gosma parasita em The Gunk, mas o tom da jornada é justamente o contrário com sua progressão relaxante e jogabilidade descompromissada. O jogo tem um pouco de cada estilo, com boa distribuição de momentos de ação, plataforma, puzzle e exploração. A estrutura é bastante linear, porém há incentivos para sair da rota principal em caminhos com itens e elementos da história do mundo.

Das atividades, a minha favorita foi limpar os cenários. É muito satisfatório usar a manopla como se fosse um aspirador de pó para sugar a gosma e depois observar o cenário se restaurar ao terminar de remover a corrupção. Fora esses momentos, há também combates simples com pequenos monstros que podem ser derrotados quando lançados pela luva. As batalhas ajudam a trazer um pouco de tensão, mas é uma pena que existam só três tipos de inimigos por toda a jornada.


O maior problema de The Gunk é que as mecânicas são rasas demais a ponto de deixar as coisas banais. Uma atividade recorrente, por exemplo, é coletar uma fruta e lançá-la em uma poça de energia para criar plantas que servem como plataformas. Acontece que a solução dessas situações é extremamente trivial e óbvia na maioria das vezes, o que torna a aventura um pouco enfadonha. O mesmo se aplica à limpeza da corrupção: aspirar a gosma nunca muda e não há tensão alguma nesses momentos. Para piorar, os saltos da protagonista são meio imprecisos, fazendo com que alguns trechos de plataforma sejam desnecessariamente irritantes.

O resultado é um jogo completamente homogêneo e com ideias que praticamente não evoluem no decorrer das cinco horas de duração. Até existem alguns trechos mais complexos e interessantes na parte final da jornada, mas, fora isso, repetimos eternamente as mesmas ações banais com leves variações. É fácil perceber que houve uma tentativa de introduzir profundidade com o sistema de melhorias e os combates, mas eles são de impacto limitado.



Em um mundo fascinante

A jogabilidade de The Gunk pode não ser grande coisa, mas ao menos a ambientação é bem acertada. O planeta alienígena é deslumbrante, apresentando cenários com flora bela e elaborada, por mais que falte um pouco de variedade temática. Uma trilha sonora suave repleta de instrumentos de corda reforça a atmosfera contemplativa e relaxante.

É notável também o contraste entre as áreas verdes e os trechos completamente cinza tomados pela gosma, e a animação de purificação, que mostra as plantas ressurgindo e mudando os cenários, é sempre ótima de se ver. Destaco o modo de fotografia, pois ele tem inúmeros ajustes que permitem montar cenas interessantes para fotos.


Já a dúvida que sustenta a trama, em um primeiro momento, parece bem instigante: qual é a origem da gosma parasita? No entanto, ela se revela previsível e básica. Mesmo assim, há uma boa dinâmica entre a protagonista Rani e sua amiga Becks, que passam toda a aventura conversando por meio do rádio. A ótima dublagem dá vida às personagens, o que compensa o desenvolvimento superficial da relação delas. O texto está localizado para o português, em uma adaptação competente.



Uma jornada pouco memorável

The Gunk é belo e ambicioso, mas infelizmente não consegue aproveitar o seu potencial. É agradável limpar a gosma, resolver puzzles básicos e explorar cenários visualmente interessantes, porém muitas das mecânicas são subutilizadas e as ideias não evoluem além de seu estado inicial. Ao menos a atmosfera relaxante, os cenários deslumbrantes e a ótima dublagem tornam a experiência envolvente até certo ponto. No mais, The Gunk é razoável, no entanto não consegue se destacar.

Prós

  • Mecânicas simples que oferecem uma jornada relaxante;
  • Ambientação notável com visual elaborado e boa música;
  • Dupla de protagonistas interessante.

Contras

  • Puzzles e combates triviais demais;
  • Muitas ideias subutilizadas e recicladas tornam a aventura um pouco tediosa;
  • Trama previsível;
  • Os saltos imprecisos dificultam desnecessariamente os momentos de plataforma.
The Gunk — PC/XBO/XSX — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thunderful Publishing

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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