Conforme vimos na
primeira parte da matéria, existem muitas formas de trazer games antigos para os consoles atuais. Nesse contexto, três técnicas são sistematicamente abordadas na atualidade:
remake, remaster e
reboot. Agora que já temos uma ideia básica de como elas funcionam (ou deveriam funcionar), nesta segunda parte vamos discutir com mais propriedade qual delas seria a melhor.
A ideia não é trazer uma abordagem extremamente técnica utilizando dados estatísticos para definir as melhores opções. Por outro lado, tampouco ela será baseada apenas nas minhas ideias, afinal cada leitor tem as suas. Logo, farei um misto dos dois: de acordo com exemplos importantes do mercado, discutirei sobre as opções de remaster, remake e reboot, assim como se existe alguma superior (ou não). Vamos começar mais uma viagem no mundo dos games!
Afinal, deve existir “certo” e “errado”?
Em um primeiro momento, poderia ser tentador definir qual a técnica mais ou menos “correta”. Entretanto, na prática, é possível apontar bons e maus exemplos da utilização dessas opções. Por exemplo, alguns podem dizer que a escolha de um remake para Resident Evil 2 (Multi) foi natural, pois se o antigo já era legal, adicionar produção e jogabilidade modernas seria o ideal para obter um novo sucesso.
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Um grande sucesso ao revisitar a aventura original de Leon e Claire
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Porém, logo depois tivemos Resident Evil 3 (Multi), um remake que não alcançou as mesmas glórias do predecessor. Já o reboot DmC: Devil May Cry (Multi), embora um bom jogo em si mesmo, não obteve sucesso suficiente e foi criticado por fãs. Depois de algum tempo, tivemos o lançamento de Devil May Cry 5 (Multi), que simplesmente ignorou o título anterior e seguiu a franquia clássica.
Bayonetta (Multi) foi recentemente remasterizada, mas sua proposta trouxe muito pouco aos jogadores, ao contrário de
Ninja Gaiden: Master Collection (Multi). Portanto, dado que temos exemplos positivos e negativos para quaisquer das opções, fica claro que a questão é a escolha da abordagem de acordo com o game original e, sobretudo, a forma da sua execução. Essa última normalmente é limitada por recursos financeiros e tempo de produção, elementos cruciais para qualquer projeto ter sucesso.
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Além de três jogos, a coletânea de Ryu Hayabusa trouxe DLCs e extras
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Em outras palavras, é mais produtivo refletir sobre as implicações das possíveis formas de relançar jogos do que qual delas é melhor ou pior. Cada uma tem suas particularidades e, de acordo com o que já vimos até hoje em lançamentos passados, maiores ou menores chances de dar certo de acordo com as condições do game em questão. Vamos conferir cada um deles na sequência e discutir suas características.
Remasterização: originalidade e simplicidade
Dados os maiores sucessos (e fracassos) que essa categoria de relançamentos trouxe, duas características são vitais para optar por um remaster. Primeiro, o game tem que ser muito querido e ter obtido um sucesso considerável originalmente. Afinal, como discutimos na primeira parte da matéria, aqui temos apenas melhorias gerais na produção e a adição pontual de recursos e extras.
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Juntamente com Vanquish (Multi), Bayonetta recebeu uma remasterização (básica) de aniversário
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Portanto, a boa recepção do novo jogo dependerá basicamente da fama e/ou qualidade do original. O fator nostalgia certamente pode ser bastante forte aqui, embora também seja importante “atualizar” a produção adequadamente para as novas tecnologias (tempos de carregamento, texturas, resolução, taxa de quadros, etc). Sempre sem ir fundo demais, senão caímos no campo dos remakes.
Muitos dos remasters lançados recentemente, como
Crysis Remastered Trilogy (Multi) sofreram com críticas como quantidade de conteúdo e produção técnica limitadas. Enquanto a primeira poderia facilmente ser resolvida com a adição de extras como vídeos, artes e outros bônus, a segunda é resultado direto da escolha da proposta. Afinal, nem sempre uma melhoria na resolução e taxa de quadros é suficiente frente a texturas limitadas e modelos datados.
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Grandes clássicos sempre são os preferidos
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Logo, cuidado ao seguir por um remaster. Por outro lado, um ponto forte dessa opção é que ela, em um primeiro momento, exige um projeto mais simples que as demais. Afinal, existem poucas modificações a serem feitas e com foco somente em quesitos mais técnicos. Aliás, a maior simplicidade da remasterização também acarreta em uma menor necessidade de verba e tempo de produção, duas coisas bastante interessantes para as produtoras.
Remake: raízes e suporte
Caso a apresentação geral e algumas mecânicas sejam velhas/ultrapassadas em excesso, uma alternativa interessante é apelar para um remake. Obviamente, não basta ser antigo: é preciso que o game tenha seu grupo de fãs ou então potencial suficiente para merecer uma nova chance com algumas novidades e/ou melhorias. Vale lembrar que, se as coisas mudarem demais, aí teríamos um reboot.
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O sucesso foi tamanho que o game recebeu uma nova versão chamada Intergrade
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De todas as três principais abordagens, o remake é provavelmente a mais popular na atualidade e que teve os melhores resultados recentes. Afinal, combinar elementos consagrados com produção e funcionalidades modernas é uma receita com bom potencial para dar certo.
Final Fantasy VII Remake (Multi) e
Tony Hawk Pro Skater 1+2 (Multi) são dois exemplos recentes de grande sucesso na indústria dos games.
Aqui ainda temos o elemento nostalgia, mas de uma forma um pouco mais complexa. Mudar demais pode ser perigoso, enquanto pouca inovação pode acabar minando o propósito do remake. Embora comparações existam como em um remaster, aqui elas são mais fortes, pois refazer um jogo é como admitir que ele não é (mais) tão bom ou relevante. Logo, é preciso fazer mais do que algo “diferente”: é preciso fazer melhor.
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Crash recebeu remakes de grande sucesso nos últimos anos
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Com tudo isso, o suporte técnico necessário em um remake precisa ser considerável, incluindo recursos financeiros e tempo de produção (
Prince of Persia: The Sands of Time Remake que o diga). Manter o projeto próximo do original tende a reduzir riscos (ao contrário dos reboots, como vamos ver em seguida), mas o equilíbrio é delicado. Em geral, ele tende a ficar mais para o lado da nostalgia, focando principalmente em modificações na produção visual, no desempenho e em funcionalidades modernas.
Reboot: renovação e dedicação
Reiniciar um jogo ou, como na maioria das vezes, uma franquia inteira é uma tarefa bastante complexa. Ao menos a justificativa é clara no projeto de um reboot: tornar o game significativo novamente, corrigindo erros graves e agregando ideias novas e populares.
Saints Row (Multi), que deve ser lançado ainda em 2022, é um exemplo recente que mudará a proposta original exagerada para uma mais “real”. A recepção inicial não foi muito positiva, mas se ele seguir os passos de, por exemplo, Mortal Kombat (Multi), poderá ir muito longe.
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Se hoje temos esse excelente game, tudo (re)começou em 2011
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Essa renovação certamente exige mais recursos que as demais, pois o projeto deve ser feito quase do zero na maioria dos quesitos. Afinal, reaproveitar muitas coisas de produtos “desgastados” ao longo dos anos seria estranho, principalmente se a necessidade do reboot é realmente considerável e a separação será clara entre os títulos. Se o remake exige mais recursos que uma remasterização, aqui as coisas vão mais além.
Um projeto desse gabarito exige um grande planejamento conceitual e técnico, pois personagens, mecânica de jogo, enredo – entre outros pontos – precisam ser renovados antes de serem produzidos novamente. Portanto, ter tempo e dinheiro para construir o novo game, talvez até o começo de uma nova franquia, como em Tomb Raider (Multi) de 2013, é fundamental. As novas abordagens podem focar mais em alguns pontos que outros, sobretudo de acordo com o potencial do original.
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Seja você fã do atual ou original, Kratos é garantia de grandes emoções
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A proximidade com o original deve ser devidamente avaliada, pois um reboot verdadeiro deve modernizar e modificar o jogo de forma a justificar suas novidades. Por outro lado, fazer de forma errada pode ser muito grave, pois a comparação com o original é inevitável. Pelo menos ela é menos severa que as demais práticas, já que a renovação garante uma certa independência saudável do original. A nostalgia pode até ser praticamente eliminada, embora manter alguma ligação seja interessante a longo prazo.
Ports: qualidade e nostalgia
Para terminar, vale lembrar que alguns títulos simplesmente ignoram qualquer uma dessas três opções anteriores, sendo diretamente portados para as novas gerações. Em outras palavras, uma retrocompatibilidade permite aos dispositivos modernos rodar os jogos antigos de forma inalterada. Obviamente, o maior propósito dessa prática é preservar ao máximo a experiência original.
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O lançamento de coleções é uma constante no mundo dos games
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Embora não seja uma regra absoluta, somente jogos muito clássicos e/ou populares recebem ports. Afinal, o trabalho de trazer o game para a atualidade sem nenhuma novidade só será recompensado se ele tiver um público interessado. Eventualmente, eles chegam via coletâneas que apelam para a nostalgia e reúnem títulos de destaque com outros menos significativos. Extras como artes conceituais também são boas atrações, como vimos na competente
Coleção Arcade da Blizzard (Multi).
As únicas demandas por parte desses relançamentos, além de extras, são o desempenho e os recursos de emulação: o game deve rodar sempre de forma suave e deve oferecer opções como salvamentos instantâneos e “rebobinar”, para poder repetir as jogadas anteriores com facilidade. O Nintendo Switch Online é um dos melhores exemplos atuais, contando com uma biblioteca recheada e com boas ferramentas para jogar.
Um lugar para cada coisa, cada coisa no seu lugar
Remakes, remasters e reboots se tornaram formas comuns de lançamento de novos títulos. Somando com os ports, temos uma grande quantidade de games “antigos” que chegam ao mercado atual, sempre com resultados variados. Na prática, isso demonstra que a maneira de trazer o jogo do passado é menos crítica do que a escolha para o jogo escolhido e como ela é executada.
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Mudar o foco de uma franquia pode garantir uma vida longa
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Fatores como nostalgia e tempo de produção são determinantes para um relançamento de sucesso. Inovar em uma marca clássica pode exigir muita atenção, enquanto reformar uma franquia pouco famosa pode não ser um bom negócio. Sejam apenas aprimoramentos ou reformulações completas, queremos que estes games entreguem experiências ao menos no mesmo nível das originais.
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No fundo, o que os jogadores querem é o mesmo: diversão
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Afinal, o que vale mesmo não são somente quesitos como apelo nostálgico, melhorias gráficas ou adição de conteúdo: o mais importante é oferecer jogos divertidos por si só, sendo interessantes para ambos os jogadores novatos e veteranos. Os produtores devem focar em desenvolver games atraentes e envolventes, não importando se forem remasters, remakes ou reboots. No pior dos casos, os originais estarão sempre lá nos esperando, não é mesmo?
E você, leitor? Gostou da matéria em duas partes sobre relançamentos? Existe algum game que você gostaria de ver numa nova roupagem? Ou então alguma lançada que ficou devendo? Deixe a sua opinião.
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut