Análise: Eiyuden Chronicle: Rising (Multi) é um agradável e conservador RPG de ação

A prequela de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes tem boas ideias, mas não consegue aproveitá-las em sua totalidade.

em 10/05/2022

Exploradores de todo canto desbravam ruínas em Eiyuden Chronicle: Rising. O RPG de ação envolve com seu belo visual que mistura cenários 3D e personagens 2D e algumas ideias notáveis. Além disso, há foco na velocidade em combates ágeis em que é possível alternar entre os heróis com o toque de um botão. Contudo, mesmo com tantas qualidades, a execução simplificada e subdesenvolvida de várias mecânicas atrapalha a experiência.


O jogo se passa antes dos eventos de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes, JRPG que está sendo produzido por membros que trabalharam em títulos da série Suikoden. Ao contrário de Hundread Heroes, que tem a intenção de ser mais tradicional, Rising oferece uma experiência de ação ao mesmo tempo que introduz personagens, conceitos e localidades da nova série de RPG. Talvez o fato de ser um projeto paralelo justifique a sua austeridade.

Explorando ruínas e reconstruindo uma cidade

A cidade de Nova Nevaeh tornou-se o destino de aventureiros de todo o mundo após um terremoto ter revelado os Montículos, um conjunto de ruínas repleto de artefatos antigos valiosos. Uma dessas pessoas atraídas para este local é a caçadora de tesouros CJ, que tem como objetivo encontrar uma relíquia mágica para cumprir um rito de passagem de sua família. Em sua jornada, ela é acompanhada pelo canguru espadachim Garoo e por Isha, uma feiticeira que é também a prefeita interina da cidade.


O jogo é estruturado na forma de um RPG de ação 2D. Além de atacar e saltar, cada um dos personagens tem características distintas. A ágil CJ é capaz de pular novamente no ar e evitar perigos com uma investida; Garoo desfere golpes poderosos e anula dano com sua defesa; já Isha acerta monstros de longe com seus feitiços e pode flutuar curtas distâncias. O rol de habilidades do trio se expande no decorrer da aventura, o que abre novas possibilidades de combate e exploração.

Um detalhe importante é que controlamos um único herói por vez, mas podemos trocar instantaneamente para outro com o toque de um botão, o que traz flexibilidade na hora dos combates. Além disso, é possível montar sequências de ataques especiais que envolvem todo o grupo ao alternar os personagens no momento certo. Além de serem visualmente apelativos, esses combos são poderosos.


O foco de CJ é encontrar uma relíquia rara, mas a garota decide ajudar na reconstrução de Nova Nevaeh, cuja estrutura foi severamente afetada pelo terremoto. Para isso, ela e seus aliados auxiliam comerciantes locais em diferentes missões, como coleta de materiais, busca de objetos ou caça a monstros específicos. Renovar as instalações é essencial para progredir na aventura, pois é por meio delas que liberamos novas habilidades, melhoramos equipamentos e adquirimos itens diversos.

Alternando entre heróis para vencer no combate

Eiyuden Chronicle: Rising é bem direto e ágil. O foco da aventura é a exploração dos calabouços, que têm várias rotas e segredos. Muitos trechos, inclusive, só podem ser acessados após adquirir habilidades e equipamentos específicos, o que traz um leve toque de metroidvania à progressão e nos incentiva a revisitar algumas áreas. Os mapas têm design simples, consistindo basicamente de corredores interligados, mas há também alguns poucos trechos de plataforma.


O combate é um dos pontos altos com sua ação frenética e descomplicada. Particularmente, gostei de alternar entre os personagens de acordo com a situação, constantemente utilizando a mecânica de combos — é ótimo começar uma sequência atacando com CJ, depois lançando o inimigo para o ar com Garoo e finalizando com esferas de energia de Isha. Os heróis aprendem novas técnicas e certos equipamentos permitem alterar os elementos dos ataques, o que é mais efetivo contra certos oponentes.

O problema é que as batalhas são extremamente fáceis a ponto de se tornarem banais. A maioria dos monstros não exige estratégia alguma, bastando atacar repetidamente para derrotá-los. Alguns inimigos, como os chefes, têm barreiras que precisam ser quebradas antes de conseguirmos feri-los, mas isso só atrasa um pouco o inevitável. Por volta da metade da aventura aparecem variações de monstros que são mais fortes e com padrões de movimento um pouco mais complicados, porém não são suficientes para oferecer desafio considerável.


No mais, a ação do jogo é agradável e descomplicada, mas, infelizmente, o baixo desafio deixa os combates pouco interessantes, subutilizando os vários sistemas de RPG. É uma pena, pois a mecânica de trocar de heróis para criar sequências de ataque é interessante e divertida de usar.

Inúmeras tarefas em uma progressão conservadora

Além dos combates, Eiyuden Chronicle: Rising apresenta estrutura bem tradicional de RPGs. No decorrer da aventura, CJ e seus amigos completam inúmeras missões com progressão bastante linear. Fora a trama principal, há inúmeras tarefas opcionais para fazer, muitas delas envolvendo ajudar a reconstruir a cidade de Nova Nevaeh. As missões, ao serem completadas, conferem carimbos, que podem ser trocados por itens valiosos. O jogo conta também com algumas áreas opcionais e até mesmo um minigame de pescaria.


O jogo abusa do formato tradicional e linear, e não há problema algum nisso — é melhor ser direto do que inventar complicações desnecessárias. Porém, faltou um pouco de criatividade nas missões do jogo. Elas se dividem em três gêneros, basicamente: revisitar áreas para coletar materiais, derrotar algum monstro ou conversar com alguém. Não há variações na fórmula, o que deixa as coisas um pouco repetitivas com o tempo.

Curiosamente, na sinopse os desenvolvedores destacam a mecânica de construção de cidade, no entanto não é bem isso: os estabelecimentos são melhorados conforme completamos missões para os seus donos e só, não há aspectos de administração ou coisa parecida.


Confesso que, em um primeiro momento, eu até gostei dessa abordagem mais simples e direta. Porém, com o passar do tempo, me cansei de fazer pequenas variações da mesma tarefa — mesmo estando pra lá da metade da aventura, os comerciantes ainda ficaram pedindo que eu fosse até a floresta coletar lenha. Também achei enfadonhas as primeiras horas que, na prática, não passam de um tutorial bastante longo. Relevar esses detalhes é essencial para aproveitar o jogo, cuja trama principal dura por volta de dez horas.

Desbravando um belo mundo

Uma das características mais notáveis de Eiyuden Chronicle: Rising é a sua ambientação. A cidade de Nova Nevaeh e suas proximidades são representados por visuais 3D elaborados, enquanto os personagens são sprites 2D. A equalização é ótima e o resultado final é natural e belo. Os cenários, em especial, impressionam com a riqueza de detalhes e efeitos de iluminação bem-acabados.


Um ponto negativo é a movimentação dos personagens. Em vez de contarem com diferentes quadros para ações distintas, humanos e monstros são animados por meio da movimentação de suas pernas e braços, em um resultado que lembra uma marionete. Nos momentos mais tranquilos isso não chega a ser estranho, mas nas cenas de ação, principalmente no combate, as animações meio rígidas incomodam e destoam do esmero desprendido no visual dos cenários.

A trama usa a clássica premissa de um aventureiro procurando tesouros e não há muitas surpresas notáveis pelo caminho. No entanto, os personagens cativam com suas personalidades variadas: CJ é a típica protagonista empolgada que está disposta a ajudar todos; Garoo é o mercenário bruto, mas prático e justo; Isha é simpática, porém esconde uma personalidade manipuladora. A ótima sinergia do grupo é explorada em inúmeras cenas divertidas. O jogo está completamente localizado para o português e o resultado é competente, por mais que eu tenha visto alguns deslizes e erros.



Uma jornada aceitável

Eiyuden Chronicle: Rising é um RPG de ação belo e agradável, mas que não ousa muito. O combate, que tem como conceito principal alternar instantaneamente entre heróis, é rápido e ágil, além de possibilitar a montagem de sequências de ataques interessantes. Além disso, o mundo cativa com um visual impecável, personagens carismáticos e muito para explorar.

Nota-se que o foco está em explorar conceitos consagrados do gênero de forma simplificada, tornando a aventura bastante acessível. Porém, essa abordagem se torna o maior problema do jogo com desafio baixo, missões repetitivas e mecânicas subutilizadas, o que atrapalha a experiência. No fim, Eiyuden Chronicle: Rising é satisfatório e ideal para os pouco exigentes.

Prós

  • Combate ágil e com mecânica de combo única;
  • Boa quantidade de conteúdo espalhada em muitas missões opcionais;
  • Ambientação notável e com ótimos visuais;
  • Personagens carismáticos.

Contras

  • Desafio baixo demais;
  • As várias mecânicas são subutilizadas e quase irrelevantes;
  • Muitas tarefas repetitivas;
  • Movimentação estranha dos personagens destoa do visual elaborado.
Eiyuden Chronicle: Rising — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela 505 Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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