Análise: Research and Destroy (Multi) coloca cientistas na caça a criaturas sobrenaturais

Com uma premissa atípica e bastante humor, o jogo de estratégia é simples, porém divertido.

em 17/05/2022
A publicadora Spike Chunsoft é mais conhecida por títulos claramente japoneses como as franquias Danganronpa e Zero Escape ou jogos de anime. Devido a isso, foi uma grande surpresa ver a empresa anunciar Research and Destroy, um título de estratégia com um apelo bem mais ocidental desenvolvido pela Implausible Industries.

Vale destacar que curiosamente a desenvolvedora está instalada em Tóquio, mas sua equipe é ocidental com alguns membros que já trabalham por lá há anos. Com visuais cartunescos que remetem a obras como Scooby Doo, Research and Destroy é o primeiro grande título desenvolvido pela empresa.

Supercientistas vs. Assombrações

Research and Destroy se passa em um mundo pós-apocalíptico no qual criaturas sobrenaturais agora são a figura dominante porque as pessoas estão desacreditadas na ciência. Porém, ainda há esperança de lidar com esses seres: um grupo de supercientistas se uniu para pesquisá-los e encontrar um método de reconquistar o mundo.

Toda essa situação é apresentada com forte tom de humor. Os cientistas são grandes estereótipos da figura do pesquisador e todo inimigo é introduzido com pequenos trechos de diálogo marcados por piadas bobas. Até mesmo o veículo que carrega os personagens está sempre falando algo estúpido que mostra sua falta de compromisso com o grupo e a situação. Vale destacar que o jogo está em português e esse humor é bem conduzido na nossa língua também.

Esse humor também é refletido no estilo visual, que é mais cartunesco. A obra opta por um traço de personagens bem colorido, pop e vibrante. Os ambientes já são menos expressivos, mas seguem o mesmo padrão com suas texturas e o uso de tonalidades monocromáticas, que também servem para diferenciar cenários de personagens e objetos mais relevantes. Há ainda mudanças na coloração e iluminação das áreas simulando os períodos de dia e noite.

Durante o combate, elementos de física mais exagerados estão presentes. Tiros que arremessam as criaturas para o ar como um foguete e corpos com movimentações não tão rígidas são elementos comuns. Há também algumas armas e equipamentos focados em usos absurdos, como uma caixa de som voltada a fazer os inimigos dançarem.

As camadas estratégicas da ciência

Vale destacar também as várias camadas de como o jogo busca representar a ciência. É tudo bastante exagerado, mas há de fato referências a elementos da vida real. Muitas das armas são baseadas em conceitos científicos que não teriam aplicações tão práticas na realidade.

Porém, o que mais chama atenção nesse aspecto é o conceito de pesquisa. Um elemento fundamental da ciência é a busca constante por novos conhecimentos e os esforços sistemáticos para compreender melhor os elementos do mundo ao nosso redor. Por conta disso, o desenvolvimento de pesquisas são um aspecto estratégico valioso que permite ao jogador descobrir mais sobre os inimigos, assim como desbloquear novas armas e itens.

Enquanto está no mapa-múndi, o jogador conta com um território próprio cercado por áreas inimigas. Para poder avançar, será necessário invadir as regiões dominadas pelas criaturas sobrenaturais, mas o tempo também pode e deve ser dedicado à criação de universidades e à realização de pesquisas. Após certa quantidade de dias, o inimigo ganha um turno, tendo a possibilidade de atacar o território dos cientistas, forçando-os a defender a sua base, que pode ser equipada com aparatos no melhor estilo tower defense.

Porém, não é só o tempo que é necessário para essas tarefas, há também um custo de dinheiro. Com isso, o jogador precisa saber priorizar seus investimentos dentro do possível. Afinal, obter mais dinheiro demandará novas incursões no território inimigo.

Táticas desleais

Em termos do combate, vale destacar que Research and Destroy é um jogo tático, mas não se trata de um RPG. As estatísticas de combate se resumem totalmente às armas escolhidas, sendo impossível que dois aliados de uma mesma equipe usem o mesmo equipamento. Há, porém, a possibilidade de contar com o auxílio de outra equipe através de multiplayer local ou online.

O combate é baseado em turnos, sendo possível alternar entre os três personagens aliados a qualquer momento enquanto eles ainda possuem tempo. Esse “tempo” nada mais é do que uma barra de ação, que vai se esgotando conforme o jogador realiza ações. Isso inclui não apenas andar, pular e atirar, mas até mesmo mirar ou virar levemente o cientista.

O resultado é um sistema em que o jogador precisa planejar muito bem a sua movimentação para evitar desperdícios. Em particular, colocar a mira para consumir tempo no jogo foi uma escolha bem desagradável. Dependendo da arma utilizada, especialmente quando é alguma de grande distância, pode ser necessário gastar muito tempo ajustando a posição para poder usar aquele equipamento bem. Aliados, e até o próprio personagem, podem ser atingidos por ataques mal posicionados, sendo fundamental fazer um bom ajuste.

Vale destacar que as áreas são interessantes, com designs variados que vão desde mapas mais abertos a localidades mais estreitas. São explorados tanto elementos horizontais quanto verticais de design, cuja utilidade varia de acordo com o equipamento escolhido. As missões também não são focadas apenas na eliminação de inimigos, sendo necessário ir a certos pontos do mapa, investigar alguns objetos e enfrentar tanto hordas quanto geradores de mais criaturas.

Infelizmente, essa variedade acaba não valendo de muita coisa devido a uma escolha bastante negativa do jogo e que é seu principal calcanhar de Aquiles: as hordas constantes. Todo turno são adicionados mais inimigos ao redor dos aliados em uma quantidade que muitas vezes exige grande esforço durante o turno. Por conta disso, em vez da estratégia ou de um pensamento tático mais arrojado, lidar com as hordas em uma primeira tentativa é mais um trabalho de reação e adaptabilidade. Trata-se de um jogo desnecessariamente punitivo em que o combate pode rapidamente escalar para a pior possibilidade.

Um jogo tático focado em adaptabilidade

Research and Destroy é um jogo bem interessante de estratégia que mistura elementos de gerenciamento (para as pesquisas) com um modelo bem único de combate tático. Infelizmente, fica a sensação de que o jogo optou por focar na reação do jogador em vez de valorizar mais possibilidades estratégicas, o que acaba dando a sensação de um design ruim e punitivo. Porém, fãs de jogos de estratégia interessados em outras possibilidades do gênero podem se divertir com a proposta inusitada.

Prós

  • Sistemas de pesquisa e invasão ajudam a dar um pouco mais de opções estratégicas ao jogador fora do combate;
  • Combate construído em torno do conceito de tempo do turno;
  • Estilo visual cartunesco combina com a proposta mais bem humorada;
  • Áreas possuem boa variação de designs.

Contras

  • Modelo de spawn de inimigos todo turno é muito punitivo, dando ao jogador pouco tempo de reação;
  • A escolha de colocar a mira para consumir tempo é péssima, especialmente pois o seu posicionamento para armas de grande distância é muito imprecisa.

Research and Destroy — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Spike Chunsoft


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.