Análise: Cotton Fantasy (Multi) é a maneira correta de colocar uma franquia de volta ao mapa

Primeiro título inédito da franquia em duas décadas, ele revitaliza o gênero de forma competente e muito acima da média.

em 20/05/2022
Finalmente chegou a hora de assoprar as velinhas do trigésimo aniversário de Cotton. As celebrações começaram no ano passado com o remake Cotton Reboot!, que trouxe a primeira aventura bruxinha repaginada. Após este lançamento, que foi seguido pelos ports de Panorama Cotton, Cotton 100% , COTTOn 2 e COTTOn Boomerang, só faltava um título original para coroar o festejo, e finalmente ele chegou — depois de um pequeno adiamento.

Cotton Fantasy, ou Cotton Rock ‘n’ Roll no Japão, chegou para marcar o nome da teimosa comedora de doces entre os mascotes trintões dos games, com uma aventura divertida, muito bem feita e que consegue ser moderna, mas sem perder sua essência.

Devolva os docinhos!

Mais uma vez, a fada Silk vem recorrer à ajuda um pouco atrapalhada de Cotton para salvar o planeta. Os Willows, doces favoritos da bruxinha, estão sumindo graças à maga das trevas Tacoot. Agora, cabe a essa dupla nem tão dinâmica recuperar as delícias açucaradas antes que o mundo sucumba às trevas.

Se a história é bastante tradicional, o mesmo pode se dizer da jogabilidade, e isso é um ponto bem positivo. Controlamos Cotton durante seu voo por cenários repletos de inimigos, que aparecem loucamente por todos os lados. A confusão na tela, que também é algo bem característico da série, ainda está presente, mas percebe-se uma boa evolução nesse quesito, já que, mesmo com a poluição visual, dá para ter um entendimento do que está acontecendo.

Assim como no primeiro jogo da série, os cristais que aparecem na tela ditam os nossos poderes (azuis, verdes e vermelhos) e a experiência que ganhamos ao abatermos levas de inimigos (amarelos). Entretanto, para quem quer algo diferente, Cotton Fantasy tem sete personagens serem escolhidas, cada uma com seu estilo de jogo particular:
  • Cotton: A heroína da história conta com seus tradicionais tiros modificados, poderes elementais e bombas de energia para exterminar grupos largos de monstros de uma vez. Também pode salvar fadinhas pelo caminho para que elas ajudem com disparos auxiliares.
  • Appli: Tem mecânica de tiros e bombas iguais às de Cotton, mas pode capturar inimigos e lançá-los contra formações que estão à sua frente para fazer combos longos.
  • Kawase: consegue disparar peixes diferenciados de acordo com a cor do cristal que pega. Também pesca oponentes vindos de qualquer direção e os transforma em munição para sua bazuca.
  • Luffee: Dispara lasers que podem ser carregados em até três níveis de poder.
  • Fine: Possui apenas um tipo de tiro, que pode ter três tipos de foco diferentes, e seu medidor de vida é um cronômetro. Quando acertada, o tempo diminui mais rápido, mas abater monstros faz o contador aumentar.
  • Ria: Consegue absorver projéteis próximos para aumentar seu poder por um curto período de tempo. Tem apenas um tipo de projétil, mas duas modalidades de disparo: uma mais abrangente para a tela toda e outra concentrada em um ponto específico.
  • Tacoot: Tem um sistema similar ao de Cotton, sendo influenciada por cristais coloridos. Entretanto, ela usa um bastão mágico que altera a direção dos disparos e controla a distância da rajada.
A diferença de estilo entre elas é tão significativa que até mesmo passar uma mesma fase exige uma estratégia diferente. E já que estamos falando de variedade, a escolha de estágios também dá um show à parte.

Começamos com 8 áreas, de A à H, as quais podemos entrar na ordem que quisermos. Após passar por esse octógono, somos levados à batalha final contra Tacoot e, assim que concluímos a jornada, liberamos uma área nova. Ao desbloquearmos todas, temos um acervo de 14 áreas distintas, que misturam elementos e inimigos inéditos com alguns monstros clássicos, que foram repaginados para se adequar ao estilo geral. Todos esses elementos se fundem perfeitamente a ambientes tridimensionais inspirados em florestas, castelos medievais, cavernas, pirâmides e até um espaço cibernético habitado por máquinas de combate.

As opções de caminho são inúmeras e aliadas a dificuldade tranquila proposta, Cotton Fantasy se torna uma espécie de shoot ‘em up ideal para iniciantes. Até mesmo o nível difícil é bastante convidativo. Caso o jogador deseje se habituar tanto com um território quanto com uma personagem, é possível treinar separadamente em cada uma.

Por fim, outra pitada muito bem sacada são os estágios bônus. Nossa única meta neles é coletar os copos Yunomi de chá, mas a graça está na perspetiva, que foge da progressão lateral tradicional e embarca no aspecto visual trazido por Panorama Cotton, com evolução para o fundo da tela.

Todos os aspectos citados acima mostram o quanto os produtores se preocuparam em unir a nostalgia que tornou Cotton famosa, e até um tanto quanto cult, e elementos para deixar a experiência mais próxima das gerações atuais. 

Roupinha nova para a festa

Além do rico fator replay, a composição visual combina perfeitamente com tudo o que este novo título da franquia propõe. A fusão entre os sprites 2D das personagens e dos inimigos, principalmente dos chefes, com os fundos dinâmicos tridimensionais, cria uma identidade que combina demais com a franquia. A trilha sonora vem com novas canções e remix dos temas clássicos, o que também ajuda fortemente na imersão e é inevitável cantarolar em alguns momentos.

Entre cada estágio, somos brindados com cenas, no estilo anime, que mostram as peripécias da protagonista em sua jornada, com direito a dublagem em japonês e legendas em oito línguas diferentes  — infelizmente o português não está entre elas. A única coisa que se torna um pouco cansativa é que, como tudo gira em torno da missão de Cotton, não há variação de animações com as outras personagens. São sempre as mesmas cutscenes.

Mesmo se escolhermos Talcoot, a vilã do jogo, ainda teremos a mesma sequência de capítulos e a mesma batalha final também, o que de certo modo não faz sentido. Não seria uma má ideia pelo menos dar uma outra perspectiva para caso a maga das trevas triunfasse em sua missão.

A única escolha que realmente é 100% questionável, em meio a tantos acertos, é a da legenda de título que aparece no início de cada fase. Além de não combinar em nada com o restante da identidade visual de Cotton Fantasy, a fonte é praticamente horrorosa e ilegível. Ainda bem que ela dura poucos segundos na tela.

Um chá caprichado

Cotton Fantasy é uma lição de como apresentar uma franquia para uma nova geração ao mesmo tempo que resgata tudo de melhor que já foi apresentado pelos diversos títulos da série. A ideia de adicionar convidadas também foi uma ótima sacada para criar dinâmicas diferentes para quebrar a repetitividade que um shoot ‘em up geralmente traz.

Prós

  • Os visuais tridimensionais com sprites em 2D dão uma cara única para o jogo;
  • Trilha sonora remixada excelente;
  • Grande variedade de fases que podem ser jogadas em qualquer ordem; 
  • Cada personagem tem sua maneira única de controle;
  • Rankings de pontuação online separados por personagem.

Contras

  • O título de cada fase tem uma tipografia horrorosa e ilegível;
  • Não há mudança nas animações ao escolhermos qualquer outra personagem que não seja Cotton.
Cotton Fantasy — PC/PS4/Switch — Nota: 10
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Thais Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela ININ Games


é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.