Análise: Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound (PC/Switch) traz poderes cósmicos fenomenais dentro de um pequeno livro

Título é um port sem atrativos adicionais, mas sua presença no Prinny Presents NIS Classics Volume 2 tem seu mérito.

em 21/05/2022


Em 2021, a Nippon Ichi Software lançou a coletânea Prinny Presents NIS Classics Volume 1, resgatando dois clássicos do passado da empresa para plataformas atuais: Phantom Brave: The Hermuda Triangle Remastered e Soul Nomad & the World Eaters. Agora, chegou a vez de Prinny Presents NIS Classics Vol. 2, que, ao lado do roguelite Z.H.P. Unlosing Ranger Vs. Darkdeath Evilman, relança no PC (e Switch) o RPG Makai Kingdom: Chronicles of the Sacred Tome em uma edição “definitiva” intitulada Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound.

Poderia ser mais um Disgaea, mas não é

Lançado originalmente em 2005 para o PlayStation 2 e em 2011 no PSP, Makai Kingdom conta uma história spin-off situada no mesmo universo de Disgaea, marca carro-chefe da Nippon Ichi Software. Nele, conhecemos a história de Lord Zetta, um Overlord poderosíssimo que escuta uma previsão a respeito da queda de seu Netherworld, uma espécie de dimensão compacta que corresponde ao seu domínio. Para evitar que o pior aconteça, ele parte em uma expedição atrás do Sacred Tome, um livro com todos os segredos do universo, que apenas corrobora com a profecia de que ele será o responsável por sua própria queda.

Irado com o que leu e motivado pela raiva, Zetta decide incendiar o tal Tomo Sagrado. Ironicamente, tal ação fez com que a profecia se autocumprisse, visto que o tal grimório era justamente o que sustentava a existência tanto de seu Netherworld quanto a sua condição como Overlord. Em um último esforço, ele decide imbuir sua própria Mana infinita no livro, essencialmente se fundindo a ele. Assim, nossa aventura começa.




Com um Netherworld zerado e Zetta sendo reduzido à reles forma de um livro, ele precisa controlar um exército de unidades possuídas por sua mana, a última coisa que restou de sua existência física. Assim, ao lado de outros Overlords, Zetta segue em sua jornada em busca de reconquistar seu poder com direito, inclusive, a múltiplos finais. A história é bem mais séria e escrachada do que a de seu colega de coletânea, Z.H.P., mas ainda tem seu espaço para humor típico dos títulos da NIS. 

Adicionalmente, é a primeira vez que essa edição Reclaimed and Rebound, de PSP, chega ao ocidente, antes restrita apenas ao mercado japonês. Com isso, ela traz consigo uma espécie de campanha extra chamada Petta Mode, que conta a história de uma suposta filha de Zetta e até então inédita no ocidente. Trata-se de um complemento charmoso à narrativa principal.



Quem não se movimenta não sente as células que o prendem

Embora não se atenha a um modelo de RPG tático tradicional, com mapas em células e turnos estritos, Makai Kingdom segue uma fórmula ainda muito parecida, assemelhando-se, inclusive, a Phantom Brave, também da NIS. Na prática, em vez de os personagens estarem restritos a um número específico de células, a movimentação das unidades se dá por uma área circular cujo limite é seu raio, assim como os próprios golpes, que podem inclusive acertar mais de um oponente ao mesmo tempo.

No caso, é necessário “invocar” as unidades no mapa e as ações se dão em turnos em que é possível se movimentar, atacar ou arremessar algum oponente. Os golpes possíveis são bem variados de acordo com os personagens utilizados, sendo possível acumular até oito unidades por mapa. A parte técnica está na capacidade do jogador em alternar as ações de forma estratégica e otimizar as ações possíveis em cada turno. 

Assim, a despeito da ausência das células de movimento, enquanto o formato de batalha se sustenta de uma forma muito parecida com o da série Disgaea, Makai Kingdom ainda oferece algumas peculiaridades, como o fato de ser possível desbloquear algumas seções ocultas ao arremessar os inimigos para fora dos mapas. Além disso, há a possibilidade de invocar construções e veículos no meio dos combates, o que na prática se traduz em buffs para as unidades.




A ausência de células de movimento, entretanto, traz consigo alguns problemas pontuais. Não é incomum que os personagens se sobreponham uns aos outros, ficando relativamente complicado de se selecionar alguns deles em específico. O que pode ter acontecido — isso lá no desenvolvimento do título original para PlayStation 2, antes de seu lançamento em 2005 — é que alguém chegou com a brilhante ideia de eliminar as células de movimento, mas se esqueceu de readequar todo o game design para se adequar a tal conceito, algo que se mostra evidente especialmente no design de fases. 

Nota-se que isso não é exatamente novidade: foi um problema em Phantom Brave, que tem jogabilidade similar e está presente no Prinny Presents NIS Classics Volume 1; foi um defeito em 2005, com o lançamento do Makai Kingdom original no PS2; foi um defeito no PSP com a edição Reclaimed and Rebound; e está sendo um defeito agora, no relançamento por meio de Prinny Presents NIS Classics Volume 2. É um revés que persiste e não pode ser ignorado. 

Um pacote consistente, mas que poderia ser melhor

Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound é menos inspirado do que as maluquices de Z.H.P.. A despeito de seus empecilhos, no entanto, ele consegue ser um pouco melhor trabalhado a nível técnico, visto que está muito mais próximo de Disgaea no que diz respeito às mecânicas, um modelo que a NIS está bem mais acostumada a tocar e, portanto, no que diz respeito à coletânea, se mostra também um produto mais redondo (e menos experimentalista) na sua composição.




Ainda assim, isso também não muda o fato de que Makai Kingdom também fica a desejar, apresentando problemas iguais aos de seu colega de coletânea. Visualmente, ele chega a ser decepcionante, pois se trata de um port simples que tenta compensar a resolução distorcida com um filtro cuja utilidade se resume a embaçar a tela e piorar o trabalho exemplar de sprite work do jogo. 

Do mesmo modo de Z.H.P., o feito foi a conversão de um título de baixa definição para uma tela de computador que, por via de regra, dificilmente tem uma resolução inferior a WXGA (1366x768). Assim, o jogador pode optar entre o filtro que desfoca a tela e a ausência completa dele, com sprites esticados. 

O pior é que nem precisava ir muito longe no processo de conversão para plataformas modernas. Um filtro de Scanlines, essas linhas que ajudam a simular o efeito de ecrã antigo, como o de um televisor velho de tubo, já fariam um trabalho absurdo para amenizar esses efeitos colaterais de port básico, mas parece que esse trabalho irrisório não compensa aí. 




Comparativamente, a impressão que temos ao ver Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound em um pacote tão simplório é a mesma de quando vemos todo o poder e imponência do próprio Zetta ser reduzida a um mero livro.

O que se tira de tudo isso, na verdade, é que a indústria de jogos precisa acertar um pouco mais a mão no que diz respeito a uma remasterização simples de clássicos do passado. Apenas disponibilizar jogos antigos em novas plataformas não é suficiente por uma questão tecnológica. Remasterizações complexas nem sempre são necessárias — especialmente para games nichados, como Makai Kingdom e Z.H.P. —, mas falta determinar um padrão mínimo de requinte técnico para que esses títulos não destoem tanto diante de outros mais modernos e que competem em pé de igualdade pela atenção do consumidor. 

Uma aventura tão tradicional quanto as da Nippon Ichi Software podem ser

Enquanto Z.H.P. Unlosing Ranger Vs. Darkdeath Evilman chega a ser convidativo e experimental para um roguelite, Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound (PC/Switch) é o mais puro suco da Nippon Ichi Software, destinando-se mais aos já habituados com as franquias da marca do que a jogadores mais novos, não servindo muito bem como uma porta de entrada, visto que muitos de seus defeitos se devem a decisões de design que podem ser consideradas datadas se aplicadas aos padrões modernos para o gênero em que se inserem.




Como coletânea, Prinny Presents NIS Classics Volume 2 chega a ser bastante interessante por trazer dois títulos distintos entre si, democratizando o acesso de ambos para os jogadores, sejam eles novos ou antigos, que gostariam de revisitar as duas aventuras. Ainda assim, o trabalho de conversão poderia ter sido melhor conduzido pela Nippon Ichi Software, mostrando maior zelo pelas próprias propriedades intelectuais. 

Considerando a agilidade com que já anunciaram o volume 3, talvez eles não estejam pensando em mudar de política a essa altura do campeonato. Paciência.

Prós

  • Humor característico dos produtos da Nippon Ichi Software;
  • Mais uma aventura consistente no mundo de Disgaea;
  • Existência de um port para o PC, uma plataforma quase atemporal.

Contras

  • Falta de adaptação de todo resto do jogo após a remoção do movimento por grid;
  • Pacote extremamente simples de port, nenhum extra para contar história;
  • A parte gráfica poderia ter sido melhor trabalhada, não dá nem para chamar de remasterização.
Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound — PC/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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