Em 2021, a Nippon Ichi Software lançou a coletânea Prinny Presents NIS
Classics Volume 1, resgatando dois clássicos do passado da empresa para
plataformas atuais: Phantom Brave: The Hermuda Triangle Remastered e Soul
Nomad & the World Eaters. Agora, chegou a vez de Prinny Presents NIS
Classics Vol. 2, que, ao lado do roguelite Z.H.P. Unlosing Ranger Vs. Darkdeath Evilman, relança no PC (e Switch) o RPG Makai Kingdom: Chronicles of
the Sacred Tome em uma edição “definitiva” intitulada Makai Kingdom: Reclaimed
and Rebound.
Poderia ser mais um Disgaea, mas não é
Lançado originalmente em 2005 para o PlayStation 2 e em 2011 no PSP, Makai
Kingdom conta uma história spin-off situada no mesmo universo de Disgaea,
marca carro-chefe da Nippon Ichi Software. Nele, conhecemos a história de Lord
Zetta, um Overlord poderosíssimo que escuta uma previsão a respeito da queda
de seu Netherworld, uma espécie de dimensão compacta que corresponde ao seu
domínio. Para evitar que o pior aconteça, ele parte em uma expedição atrás do
Sacred Tome, um livro com todos os segredos do universo, que apenas corrobora
com a profecia de que ele será o responsável por sua própria queda.
Irado com o que leu e motivado pela raiva, Zetta decide incendiar o tal Tomo
Sagrado. Ironicamente, tal ação fez com que a profecia se autocumprisse, visto
que o tal grimório era justamente o que sustentava a existência tanto de seu
Netherworld quanto a sua condição como Overlord. Em um último esforço, ele
decide imbuir sua própria Mana infinita no livro, essencialmente se fundindo a
ele. Assim, nossa aventura começa.
Com um Netherworld zerado e Zetta sendo reduzido à reles forma de um livro,
ele precisa controlar um exército de unidades possuídas por sua mana, a última
coisa que restou de sua existência física. Assim, ao lado de outros Overlords,
Zetta segue em sua jornada em busca de reconquistar seu poder com direito,
inclusive, a múltiplos finais. A história é bem mais séria e escrachada do que
a de seu colega de coletânea, Z.H.P., mas ainda tem seu espaço para humor
típico dos títulos da NIS.
Adicionalmente, é a primeira vez que essa edição Reclaimed and Rebound, de
PSP, chega ao ocidente, antes restrita apenas ao mercado japonês. Com isso,
ela traz consigo uma espécie de campanha extra chamada Petta Mode, que conta a
história de uma suposta filha de Zetta e até então inédita no ocidente.
Trata-se de um complemento charmoso à narrativa principal.
Quem não se movimenta não sente as células que o prendem
Embora não se atenha a um modelo de RPG tático tradicional, com mapas em
células e turnos estritos, Makai Kingdom segue uma fórmula ainda muito
parecida, assemelhando-se, inclusive, a Phantom Brave, também da NIS. Na
prática, em vez de os personagens estarem restritos a um número específico de
células, a movimentação das unidades se dá por uma área circular cujo limite é
seu raio, assim como os próprios golpes, que podem inclusive acertar mais de
um oponente ao mesmo tempo.
No caso, é necessário “invocar” as unidades no mapa e as ações se dão em
turnos em que é possível se movimentar, atacar ou arremessar algum oponente.
Os golpes possíveis são bem variados de acordo com os personagens utilizados,
sendo possível acumular até oito unidades por mapa. A parte técnica está na
capacidade do jogador em alternar as ações de forma estratégica e otimizar as
ações possíveis em cada turno.
Assim, a despeito da ausência das células de movimento, enquanto o formato de
batalha se sustenta de uma forma muito parecida com o da série Disgaea, Makai
Kingdom ainda oferece algumas peculiaridades, como o fato de ser possível
desbloquear algumas seções ocultas ao arremessar os inimigos para fora dos
mapas. Além disso, há a possibilidade de invocar construções e veículos no
meio dos combates, o que na prática se traduz em buffs para as unidades.
A ausência de células de movimento, entretanto, traz consigo alguns problemas
pontuais. Não é incomum que os personagens se sobreponham uns aos outros,
ficando relativamente complicado de se selecionar alguns deles em específico.
O que pode ter acontecido — isso lá no desenvolvimento do título original para
PlayStation 2, antes de seu lançamento em 2005 — é que alguém chegou com a
brilhante ideia de eliminar as células de movimento, mas se esqueceu de
readequar todo o game design para se adequar a tal conceito, algo que se
mostra evidente especialmente no design de fases.
Nota-se que isso não é exatamente novidade: foi um problema em Phantom Brave,
que tem jogabilidade similar e está presente no Prinny Presents NIS Classics
Volume 1; foi um defeito em 2005, com o lançamento do Makai Kingdom original
no PS2; foi um defeito no PSP com a edição Reclaimed and Rebound; e está sendo
um defeito agora, no relançamento por meio de Prinny Presents NIS Classics
Volume 2. É um revés que persiste e não pode ser ignorado.
Um pacote consistente, mas que poderia ser melhor
Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound é menos inspirado do que as maluquices de
Z.H.P.. A despeito de seus empecilhos, no entanto, ele consegue ser um pouco
melhor trabalhado a nível técnico, visto que está muito mais próximo de
Disgaea no que diz respeito às mecânicas, um modelo que a NIS está bem mais
acostumada a tocar e, portanto, no que diz respeito à coletânea, se mostra
também um produto mais redondo (e menos experimentalista) na sua composição.
Ainda assim, isso também não muda o fato de que Makai Kingdom também fica a
desejar, apresentando problemas iguais aos de seu colega de coletânea.
Visualmente, ele chega a ser decepcionante, pois se trata de um port simples
que tenta compensar a resolução distorcida com um filtro cuja utilidade se
resume a embaçar a tela e piorar o trabalho exemplar de sprite work do
jogo.
Do mesmo modo de Z.H.P., o feito foi a conversão de um título de baixa
definição para uma tela de computador que, por via de regra, dificilmente tem
uma resolução inferior a WXGA (1366x768). Assim, o jogador pode optar entre o
filtro que desfoca a tela e a ausência completa dele, com sprites
esticados.
O pior é que nem precisava ir muito longe no processo de conversão para
plataformas modernas. Um filtro de Scanlines, essas linhas que ajudam a
simular o efeito de ecrã antigo, como o de um televisor velho de tubo, já
fariam um trabalho absurdo para amenizar esses efeitos colaterais de port
básico, mas parece que esse trabalho irrisório não compensa aí.
Comparativamente, a impressão que temos ao ver Makai Kingdom: Reclaimed and
Rebound em um pacote tão simplório é a mesma de quando vemos todo o poder e
imponência do próprio Zetta ser reduzida a um mero livro.
O que se tira de tudo isso, na verdade, é que a indústria de jogos precisa
acertar um pouco mais a mão no que diz respeito a uma remasterização simples
de clássicos do passado. Apenas disponibilizar jogos antigos em novas
plataformas não é suficiente por uma questão tecnológica. Remasterizações
complexas nem sempre são necessárias — especialmente para games nichados, como
Makai Kingdom e Z.H.P. —, mas falta determinar um padrão mínimo de requinte
técnico para que esses títulos não destoem tanto diante de outros mais
modernos e que competem em pé de igualdade pela atenção do consumidor.
Uma aventura tão tradicional quanto as da Nippon Ichi Software podem ser
Enquanto Z.H.P. Unlosing Ranger Vs. Darkdeath Evilman chega a ser convidativo
e experimental para um roguelite, Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound
(PC/Switch) é o mais puro suco da Nippon Ichi Software, destinando-se mais aos
já habituados com as franquias da marca do que a jogadores mais novos, não
servindo muito bem como uma porta de entrada, visto que muitos de seus
defeitos se devem a decisões de design que podem ser consideradas datadas se
aplicadas aos padrões modernos para o gênero em que se inserem.
Como coletânea, Prinny Presents NIS Classics Volume 2 chega a ser bastante
interessante por trazer dois títulos distintos entre si, democratizando o
acesso de ambos para os jogadores, sejam eles novos ou antigos, que gostariam
de revisitar as duas aventuras. Ainda assim, o trabalho de conversão poderia
ter sido melhor conduzido pela Nippon Ichi Software, mostrando maior zelo
pelas próprias propriedades intelectuais.
Considerando a agilidade com que já anunciaram o volume 3, talvez eles não
estejam pensando em mudar de política a essa altura do campeonato. Paciência.
Prós
- Humor característico dos produtos da Nippon Ichi Software;
- Mais uma aventura consistente no mundo de Disgaea;
- Existência de um port para o PC, uma plataforma quase atemporal.
Contras
- Falta de adaptação de todo resto do jogo após a remoção do movimento por grid;
- Pacote extremamente simples de port, nenhum extra para contar história;
- A parte gráfica poderia ter sido melhor trabalhada, não dá nem para chamar de remasterização.
Makai Kingdom: Reclaimed and Rebound — PC/Switch — Nota: 6.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America