Análise: Insurmountable (PC) retrata o deslumbre e os desafios de se escalar montanhas

Explore regiões geladas em expedições nas quais os erros podem ser fatais.

em 15/04/2022

Insurmountable transforma a perigosa atividade de escalar montanhas em uma curiosa mistura de puzzle, aventura e sobrevivência. Além de termos que gerenciar a temperatura e a energia do nosso personagem, precisamos também resolver inúmeros eventos. O conceito principal é bem único e elementos de roguelite ajudam a trazer diversidade, mas logo a aventura se torna cansativa por causa da estrutura e conteúdo limitados. Lançado originalmente em 2021, o jogo recebeu várias novidades significativas via atualização gratuita que ajudam a amenizar seus problemas.

Em escaladas complicadas

Na maior parte das missões de Insurmontable, somos desafiados a alcançar o cume de uma montanha (ou algum lugar alto) e, depois, descer a encosta até algum lugar seguro. Os cenários são compostos de hexágonos e bastam alguns cliques para definir a rota a ser percorrida. Cada espaço tem características e perigos únicos: caminhar na neve leva mais tempo; podemos ser acertados por pedras ao escalar estruturas rochosas; blocos de gelo podem desencadear acidentes; e assim por diante.

Fora isso, precisamos ficar de olho nas características do alpinista, como vida, energia, temperatura e oxigênio. As ações alteram os indicadores vitais: escalar longas paredes consome rapidamente o fôlego, o ar acaba rapidamente quando alcançamos altitudes elevadas, tempestades de neve derrubam a temperatura corporal. Há maneiras de recuperar os níveis vitais, como itens e equipamentos, mas os recursos são escassos. Sendo assim, é essencial pensar a rota com cuidado para sobreviver.


As cordilheiras estão repletas de pontos de interesse com eventos distintos. Normalmente eles apresentam uma situação e são oferecidas diferentes ações, que determinam o resultado da interação. Um espaço de itens, por exemplo, pode guardar equipamentos valiosos. As cavernas são boas opções para descansar com segurança, e às vezes contam com um pouco de exploração. Já os encontros com outras pessoas são imprevisíveis: dependendo das escolhas, podemos nos machucar ou perder objetos.

Quando foi lançado, Insurmontable tinha como objetivo principal escalar três grandes montanhas cujos eventos mudavam a cada tentativa e morrer significava recomeçar do zero. A atualização 2.0 introduziu várias mudanças e transformou o jogo em um roguelite. Agora a aventura é estruturada em missões, sendo muitas delas menores e opcionais. Além disso, há árvores de habilidades, características distintas para cada um dos três alpinistas, seleção de equipamento inicial, entre outras opções. Essas adições tornam a experiência mais robusta.



Tensão solitária imersiva

Insurmontable cria uma experiência interessante ao mesclar diferentes conceitos. Explorar as montanhas lembra um jogo de tabuleiro, pois as áreas são divididas em hexágonos com detalhes distintos. Além disso, a presença de vários perigos, diferentes tipos de terreno e características vitais do alpinista faz com que as partidas tenham um aspecto de puzzle — para sobreviver, precisei observar os cenários com cuidado para encontrar as melhores rotas.

Um ponto notável é a sua atmosfera: ao contrário de outros roguelites, a experiência aqui é mais solitária e contemplativa. Isso se dá pelo ritmo lento e muitos aspectos minimalistas, como cenários vastos e trilha sonora suave. Mas, mesmo assim, há também complicações, pois boa parte dos eventos retrata situações perigosas, como avalanches ou acidentes. Além disso, quando o alpinista está em estado crítico, a jornada fica ainda mais difícil com o aumento do número de imprevistos.


Particularmente, gostei das missões cujo objetivo é utilizar um radar para encontrar pontos de interesse importantes. Nesse tipo de estágio, o ritmo muda um pouco e traz um aspecto de exploração às partidas, afinal precisamos investigar as áreas próximas. Já os estágios tradicionais, que são focados em alcançar o cume das montanhas, têm uma vibe mais focada em sobrevivência e gerenciamento de recursos, resultando em escaladas repletas de tensão.

O mais curioso é que o jogo conta com uma trama. Uma aventureira, um cientista e um repórter descobrem que estão presos em um ciclo temporal que os impede de sair de uma região montanhosa. Para tentar sair dessa situação, o grupo desbrava as proximidades em busca de pistas. A narrativa não é elaborada ou excepcional, mas ajuda na ambientação.



Alternando entre o marasmo e a repetição

Insurmontable oferece uma experiência envolvente, mas há um problema grave: a variedade de situações é bastante limitada. Durante as partidas, os eventos se repetem constantemente e muitos deles não oferecem até mesmo opções para influenciá-los. Além disso, a estrutura das missões é idêntica e os cenários carecem de elementos distintos de topografia e visual, o que resulta em regiões extremamente similares. Sendo assim, basta completar algumas poucas missões para ver boa parte do que o título oferece — a sensação de deslumbre não dura por muito tempo.


Outra questão negativa está no ritmo. Tudo é lento demais, mesmo ativando a opção de acelerar a ação. Para piorar, muitas das missões são demasiadamente longas. Isso, em conjunto com a diversidade pequena de eventos e situações, deixa as partidas arrastadas. Claro, aqueles que apreciam andamentos mais contemplativos vão gostar do que o jogo propõe, mas chega um momento em que tudo simplesmente cansa.

A versão 2.0 de Insurmountable tenta justamente amenizar esses problemas com a inclusão de uma campanha com missões opcionais e novas mecânicas, como árvores de habilidades. A alteração mais notável é que agora os alpinistas têm habilidades e características exclusivas, o que ajuda a trazer variedade estratégica. No entanto, as adições não são suficientes para tornar as partidas mais únicas. No fim, faltou maior variedade de objetivos, cenários, estruturas e situações.



Uma subida para poucos

Insurmountable combina características diversas para criar uma experiência simultaneamente meditativa e tensa. Guiar um alpinista rumo ao cume de montanhas é uma atividade interessante, principalmente por causa das diferentes mecânicas, como gerenciamento de recursos vitais e montagem de rotas. Além disso, a escalada solitária é envolvente com a atmosfera contemplativa dos cenários.

No entanto, o jogo peca ao oferecer diversidade bastante limitada de conteúdo, o que torna as partidas parecidas demais entre si muito rápido. As novidades da atualização 2.0 ajudam a amenizar os problemas, mas não são suficientes para resolver as várias questões negativas. No fim, Insurmountable é uma aventura criativa, mas que demanda paciência.

Prós

  • Mecânicas de jogo interessantes que misturam tabuleiro, gerenciamento de recursos e roguelite;
  • Atmosfera serena e contemplativa;
  • Boa quantidade de conteúdo para desbloquear e explorar.

Contras

  • Regiões, missões e partidas parecidas demais, a despeito da presença de elementos procedurais;
  • Ritmo arrastado demais, mesmo que o foco seja em uma experiência mais contemplativa;
  • Visual e ambientação repetitivos e limitados.
Insurmountable  — PC — Nota: 6.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Daedalic Entertainment

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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