Um mundo psicodélico
Após uma breve cutscene sem muito contexto, controlamos Lila em um mundo colorido e vibrante. Após reiniciar o computador Doutor-Pai-Senhor, ela partirá em uma aventura para salvar esse lugar onírico com tons psicodélicos das forças de uma Condutora que pretende roubar todo o seu ritmo e magia.
Vale destacar que a obra possui um forte tom abstrato, fazendo com que a história demande bastante interpretação. Porém, não considero que isso por si só seja um problema. Trata-se de uma narrativa curiosa e surpreendentemente intimista. Conforme explora a arca no céu, que parece exótica e surreal, o jogador encontra pistas de como interpretar a realidade.
Porém, senti que a progressão do jogo é um tanto forçada. A sensação é de que as missões são artificiais demais e as coisas não se ligam de fato de maneira profunda para uma narrativa sólida. Essa desconexão acaba fazendo com que a obra seja muito mais rasa do que tenta parecer com a perspectiva abstrata.
Visualmente falando, a obra usa uma pixel art bem agradável. Em especial, chama a atenção o uso de cores vibrantes em ambientes cujo design é constantemente exótico. Junto com uma trilha sonora que se adapta a cada área, o resultado é um mundo psicodélico vívido.Exploração e combate inusitados
Em termos de gameplay, trata-se de um jogo de ação e aventura com progressão em estilo metroidvania. Conforme o jogador explora mais a arca, irá enfrentar criaturas, resolver puzzles e conseguir novos poderes. Para poder melhor visualizar as áreas, é possível adquirir pedaços de mapa explorando e em uma loja.
O que mais chama a atenção é que o aspecto não-ortodoxo do mundo e da narrativa também se aplica ao gameplay. Os puzzles que precisam ser resolvidos envolvem coisas como levar abelhas gigantes até colmeias para fazer com que outras abelhas fiquem invisíveis e liberem a passagem. São coisas bem exóticas que acabam contribuindo para essa sensação de que o lugar não faz muito sentido.
O combate também se diferencia do esperado. Em particular, Lila não possui uma arma padrão de ataque básico, apenas consumíveis. Ela até consegue um poder físico em um trecho próximo do final do jogo, mas até mesmo ele tem uma limitação, precisando ser recarregado com o tempo ou itens.
O resultado é que o jogador fica bastante dependente de itens como pedras e caixas que pode atirar nos inimigos. Essa necessidade, entretanto, torna-se um forte inconveniente em alguns momentos, forçando o jogador a ser cauteloso no gerenciamento do seu inventário. Porém, durante a luta contra chefes, há uma constante aparição de novos itens, permitindo que o jogador foque apenas em aproveitar o ritmo dos combates.
Gostaria de destacar que esses inimigos são um ponto que considero bem trabalhado no jogo. Nenhum deles é particularmente difícil, mas aprender os seus padrões e o timing de ataques e movimentações é prazeroso.
Uma aventura charmosa, porém artificial
Lila’s Sky Ark é um jogo que chama a atenção com seu estilo mais psicodélico de construção de mundo. Trata-se de um jogo bem curioso em sua proposta de narrativa e gameplay, mas infelizmente sua artificialidade nítida enfraquece a experiência consideravelmente. Recomendo o título para quem quer uma aventura abstrata charmosa e relativamente curta que foge um pouco do que é mais típico e ortodoxo.
Prós
- Mundo psicodélico curioso e bem construído;
- Puzzles exóticos;
- Ritmo dos combates contra os chefes bem trabalhado;
- Visual colorido e trilha sonora ajudam na ambientação.
Contras
- Reta final passa a sensação de uma extensão desnecessária;
- Dependência de projéteis consumíveis para o combate pode incomodar alguns jogadores;
- Progressão narrativa artificial e tom abstrato podem dificultar o entendimento sem que a obra de fato seja tão complexa e profunda quanto tenta parecer.
Lila’s Sky Ark — PC/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Graffiti Games