Lançado em 2020 para PC e consoles, Ghostrunner é um título de ação em primeira pessoa focado na velocidade e na agilidade em um ambiente futurístico com temática cyberpunk. Na trama principal, assumimos o controle de um ciborgue, um ghostrunner em uma missão para assassinar a administradora da Torre Dharma, uma megalópole vertical, que atua como uma verdadeira ditadora da cidade. Batizado como Jack pelo grupo rebelde chamado de Escaladores, o GR — sigla usada para denominar os ghostrunners — “volta à vida” para terminar sua missão no topo da torre e devolver aos cidadãos de Dharma o equilíbrio no poder.
No decorrer de 2021 o game recebeu diversas atualizações com melhorias no desempenho e a adição de novos modos de jogo, sendo um modo de desafio contra o relógio e um com características de roguelike. Uma sequência também já foi anunciada e, recentemente, versões para os consoles da nova geração foram lançadas. Neste mês de março, inclusive, Ghostrunner é um dos títulos gratuitos para assinantes do serviço PlayStation Plus no PlayStation 5.
No início de março deste ano, Ghostrunner recebeu seu primeiro DLC de história chamado Project_Hel. A expansão nos coloca no papel de um dos chefes do jogo original em uma missão sangrenta e brutal de descoberta e fúria em um capítulo que funciona como uma espécie de prólogo da aventura principal. É hora de pegar novamente uma espada em uma frenética e alucinante caçada no futuro.
Caçando rebeldes e a verdade
Em Project_Hel assumimos o controle de Hel, um projeto customizado de Mara baseado nos ghostrunners que foram originalmente projetados para defender a Torre Dharma. A personagem faz parte da história principal como o segundo grande chefe da campanha e antagoniza com Jack em uma das batalhas mais emocionantes do jogo.Nesta expansão, vemos Hel sendo ativada por sua própria criadora, que a designa para uma missão, inicialmente, para lidar com um grupo de Chaves — como são chamados os subordinados de Mara, a Senhora das Chaves — que desertaram e começaram a colaborar com os Escaladores. No decorrer de sua missão, o último resquício de humanidade no corpo mutilado e modificado de Hel a faz perceber quem é o verdadeiro vilão de Dharma, levando-a para um princípio de rebelar-se contra sua criadora. A letal Hel passa a aniquilar todos em seu caminho, independente de que lado estão, com o objetivo de encontrar Mara pessoalmente e obter vingança.
Assim como no jogo principal, a principal dinâmica de Project_Hel ainda é a de que qualquer inimigo pode ser derrotado com apenas um golpe. Seja ele de sua espada, refletindo um tiro ou fazendo o inimigo cair em alguma armadilha. O mesmo vale para a ciborgue, que também é derrotada ao sofrer qualquer tipo de dano.
A movimentação pelos corredores e galpões de Dharma se dá da mesma forma, com movimentos inspirados no parkour e em habilidades que permitem à personagem se mover em altíssima velocidade, proporcionando alterar sua trajetória quando está no ar ou alcançar um ponto distante. O objetivo principal é atravessar diversas áreas divididas em segmentos focados em habilidade ou combate.
Quando precisa encarar hordas de inimigos, um indicador na parte central superior da tela é ativado, indicando quantos adversários Hel precisa aniquilar para poder seguir sua jornada. Já suas habilidades ofensivas são bem menos variadas que as de Jack, limitando-se a um medidor de fúria, que é preenchido ao derrotar inimigos no campo.
Quando disponível, o medidor permite que Hel dispare os projéteis devastadores que podem ser observados no jogo principal, quando a enfrentamos. Quando o medidor de fúria ultrapassa a marca de 50%, um escudo protetor é gerado, que pode proteger a assassina de um único golpe. Entretanto, o medidor de fúria acumula, mas não armazena energia; ou seja, mesmo que consigamos enchê-lo, independente do uso ou não das habilidades, ele se esvazia. Essa dinâmica exige que nossa postura seja ofensiva na maior parte do tempo para tirarmos o máximo de proveito das habilidades de Hel.
Mais brutal do que já é
O desafio em Project_Hel é tão intenso quanto o da aventura principal, com momentos até mais caóticos e impiedosos do que a ação que presenciamos com Jack. Ao longo de sete fases, os obstáculos, inimigos e chefes conseguem ser mais brutais, mais rapidamente, do que os do modo principal. Por isso, a recomendação é de que o DLC seja jogado apenas por quem já tiver, pelo menos, finalizado o jogo base. Desse modo, os fundamentos e as dinâmicas de Ghostrunner já ficam impregnados na memória muscular do jogador.Memória essa que precisei “recalibrar” por conta de uma adição que considerei equivocada em relação à movimentação de Hel. Todos os movimentos são iguais aos do GR, com exceção dos pulos. Ao saltar para frente — ou qualquer outra direção, pra falar a verdade — Hel avança muito na direção apontada, o que me fez errar muitos pulos e morrer, literalmente, por pouca coisa. E se você, assim como eu, ficou um bom tempo no ciclo de mortes de Ghostrunner, prepare-se pois aqui tem mais.
Até voltei rapidamente para o jogo base, para me certificar de que eu realmente estava achando isso bem estranho, e constatei que a mecânica de salto, fundamental na jogabilidade de Ghostrunner, ia mesmo me dar um trabalho extra. O jeito foi me acostumar, de novo. De qualquer modo, foi por já estar habituado com a intensidade do jogo original que eu consegui lidar com os grandes desafios proporcionados pela expansão. Alguns deles chegam a ser tão engenhosos quanto impiedosos com o jogador, fazendo os perrengues que Jack passou serem, em parte, mamão com açúcar.
Alguns segmentos apresentaram uma quantidade de inimigos praticamente duas vezes maior do que a que eu estava habituado a enfrentar antes. Isso sem falar em alguns novos inimigos que deram uma dor de cabeça extra na hora de enfrentá-los, como o soldado voador e um que cria uma onda de choque no chão.
Os embates contra os novos chefes foram os que deram mais trabalho, com lutas extremamente intensas e rápidas, que renderam aquele “estresse básico”, mas que proporcionaram satisfação ao eliminá-los com minha lâmina. A intenção da One More Level e da 3D Realms, as desenvolvedoras, foi fazer a jogatina render mais por meio do desafio e não da adição de novas mecânicas, que mesmo sendo poucas, são satisfatórias e não fogem à proposta original de Ghostrunner.
Não me peçam para fazer isso de novo! |
Vale a pena passar mais raiva?
Project_Hel é uma sutil, mas competente, expansão do universo de Ghostrunner para prender um pouco mais o jogador nesta eletrizante experiência de jogo. Apesar de não inovar muito nas mecânicas, os novos níveis elevam o grau de desafio que já parecia ter chegado ao limite no jogo original para um patamar formidável, e estressante.Porém, mesmo sendo um bom conteúdo adicional, pontuo ainda que, proporcionalmente, poderia custar um pouco menos, pois está sendo vendido por metade do valor do jogo original. Pessoalmente, acho que os modos adicionados no ano passado valem tanto ou mais, para agregar valor ao jogo, e são gratuitos.
Prós
- Ritmo de jogo continua intenso, com desafio crescente o tempo inteiro;
- As novas habilidades, mesmo que poucas, refinam o gameplay;
- As novas faixas de Daniel Deluxe são ótimas.
Contras
- Apenas sete fases, sendo duas delas apenas batalhas contra chefes;
- A mecânica de pulo necessita de ajustes, pois induz ao erro;
- Custa metade do preço do jogo original.
Ghostrunner: Project_Hel — PC/PS5/PS4/XSX/XBO — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Ives Boitano