Quando montei a lista dos jogos que mais gostei em 2021, um dos primeiros títulos que me veio à cabeça foi Gnosia. Esse intrigante jogo de impostor conseguiu me surpreender ao fazer algo que parecia impossível: trazer toda a sensação de intriga do multiplayer para uma experiência single player, com personagens inesquecíveis e uma trama digna dos melhores filmes de ficção científica.
Ad astra per aspera
A primeira frase que nos saúda quando iniciamos Gnosia é uma expressão em latim, literalmente “aos astros pelos caminhos ásperos”, ou seja, é através das dificuldades que chegamos ao triunfo. Esse pensamento reflete bem o que o jogador encontrará nessa jornada.Gnosia é um jogo simples e brilhante, com um enredo inteligente e mecânicas que fazem um mix de gêneros muito diferentes, com elementos de visual novel, intriga social, loop temporal, puzzle lógico, RPG e investigação em uma mistura pouco ortodoxa que funciona surpreendentemente bem, resultando em uma experiência sem paralelos na indústria dos games.
O jogador inicia configurando o nome, símbolo representativo e o gênero do seu personagem, que pode ser homem, mulher ou não binário. O(a) protagonista, que atua em primeira pessoa, acorda desorientado(a) em uma nave durante uma viagem interestelar. Logo descobre que, entre a tripulação, alguns estão infectados com Gnosia, entidades não-humanas, indistinguíveis da tripulação normal, que tem o objetivo de exterminar a humanidade. Os Gnosia tem o poder de eliminar um membro da tripulação por dia, apagando-o da existência sem deixar rastros.
Para sobreviver, a tripulação decide colocar os suspeitos de infecção em hibernação induzida. Para decidir quem será “congelado”, os membros farão um debate, que decidirá quem deverá ser isolado. A tripulação vence se conseguir congelar todos os Gnosia, que por sua vez vencem ao se tornarem a maioria na tripulação a qualquer momento. Após cada partida, todo o cenário é resetado e volta para o estado inicial, em que não sabemos quem são os infectados.
Personagens complexos e muita diversidade
O jogo introduz aos poucos novos personagens, papéis e informações sobre a trama principal. Engineers podem identificar infectados, os Medics podem examinar os membros em hibernação para determinar se eles são Gnosia, AC Followers são humanos que apoiam a causa alienígena, Bugs causam a aniquilação do universo se não forem contidos até um dos lados vencer a disputa. Há também os Guardian Angels, que conseguem proteger uma pessoa contra os Gnosia e os Guard Duty, pessoas que nunca saíram da nave e, portanto, são garantidamente humanos, pois nunca tiveram exposição ao planeta que causou a infecção.Depois que o jogador conhecer as principais mecânicas poderá configurar a quantidade de pessoas, infectados e papéis que estarão disponíveis em cada partida. Poderá também selecionar a função que lhe será atribuída, podendo atuar inclusive como Gnosia ou Bug.
Você não pode, entretanto, definir exatamente quais personagens aparecerão e nem a distribuição das funções, que acontecem de forma aleatória. Algo muito interessante é que, apesar de os papéis mudarem o tempo todo, a personalidade geral de cada integrante da nave se mantém.
Raqio, por exemplo, é sempre inteligente e usa a lógica de maneira impecável; Comet e Otome são muito boas para perceber mentiras. Existem aqueles mais tímidos e inseguros, como Remnan e outros perigosamente influentes, como Yuriko. Com o tempo você conhece cada vez mais como cada um se comporta nos debates, o que torna cada discussão única e cheia de personalidade, ainda que os papéis sejam definidos randomicamente.
Outro ponto que chama a atenção é a diversidade de personagens, com representantes masculinos, femininos, não binários, e até pessoas que se identificam como animais e animais que se identificam como pessoas. Cada um tem uma personalidade única e marcante, e tudo é reforçado pela belíssima arte de Cotori, que soube retratar as expressões faciais de maneira fascinante, seja nas cenas de flerte romântico e amizade quanto nas de tensão e medo. As emoções estampadas nos rostos dos tripulantes durante os debates faz com que o jogador fique totalmente envolvido no clima da discussão.
Vencer debates e sobreviver é meramente o objetivo de curtíssimo prazo do jogo. À medida que você avança, aprende que há uma trama muito mais profunda envolvida, e que o objetivo final é entender por que esses loops acontecem e como se libertar dessa prisão temporal.
De todos os integrantes da tripulação, apenas o protagonista e Setsu retém conhecimentos entre os loops. Isso acontece graças à Silver Key, um dispositivo especial que armazena informações permanentes sobre os personagens. A Silver Key é, literalmente, a chave para desvendar o segredo do jogo, e chegar ao final dessa história.
Algumas destas cenas revelarão mais detalhes sobre cada um dos membros da tripulação, o que faz com que você construa aos poucos um grau de intimidade e empatia com eles. Acredito que esse envolvimento profundo com os personagens de Gnosia é a parte mais emocionante do jogo.
Talvez o único defeito de jogabilidade esteja na necessidade de repetição exaustiva de partidas até que você consiga disparar tais eventos, alguns deles necessários para prosseguir na história. Essa repetição talvez cause um incômodo em alguns jogadores, que poderão achar o jogo repetitivo ao ficarem empacados em algum ponto.
O final de Gnosia é um dos desfechos mais complexos e surpreendentes que já vivenciei em quatro décadas jogando videogame, amarrando diversas pontas soltas que são apresentadas desde o primeiro loop e surpreendendo pelas reviravoltas e surpresas chocantes. A trama não fica devendo nada aos roteiros dos melhores episódios de fenômenos da ficção como Rick & Morty e Doctor Who.
Ao concluir a história, o jogador é recompensado com a alteração permanente da tela de abertura e com a apresentação dos epílogos individuais dos quinze personagens da tripulação. Há ainda um “final verdadeiro secreto”, que só pode ser cumprido sob certas condições, premiando o jogador com a tela de abertura completa.
Após passar tanto tempo com eles, é impossível não sentir um imenso apego e querer saber o destino de cada um. A arte singular de Cotori aliada à exótica trilha sonora fazem com que Gnosia tenha ainda mais personalidade e seja um jogo artisticamente único e marcante.
Gnosia está disponível atualmente para PC e Switch, e praticamente não há diferença de jogabilidade entre as plataformas. No PC podemos escolher a resolução, que vai até 1920 x 1080 e execução em modo janela ou tela cheia. Como os gráficos são estáticos, o jogo roda mesmo em computadores com configurações muito modestas, sem placa de vídeo dedicada.
Mesmo sendo tão simples, estranhamente a versão do Steam pode demorar um pouco para carregar a tela inicial. Também não há suporte a cloud save, recurso padrão na plataforma, o que significa que se seu progresso não será compartilhado se você jogar em mais de uma máquina. Por fim, o jogo não possui localização para português brasileiro, o que pode dificultar o entendimento da trama para quem não conseguir entender textos em inglês.
Veja também a análise para a versão de Nintendo Switch e o guia de estratégias para se dar bem nos debates, elaborados pela minha amiga Juliana Zapparoli.
Outro ponto que chama a atenção é a diversidade de personagens, com representantes masculinos, femininos, não binários, e até pessoas que se identificam como animais e animais que se identificam como pessoas. Cada um tem uma personalidade única e marcante, e tudo é reforçado pela belíssima arte de Cotori, que soube retratar as expressões faciais de maneira fascinante, seja nas cenas de flerte romântico e amizade quanto nas de tensão e medo. As emoções estampadas nos rostos dos tripulantes durante os debates faz com que o jogador fique totalmente envolvido no clima da discussão.
A chave para o mistério
Conforme progride nos debates, o jogador ganha pontos de experiência que podem ser usados para aprimorar seus atributos, como em um RPG. Os atributos são Charisma (influência que você exerce nos outros), Intuition (capacidade de detectar mentiras), Logic (capacidade de demonstrar seu ponto de vista), Charm (faz com que os outros lhe vejam de forma mais amistosa), Performance (habilidade para mentir e encobrir seus verdadeiros pensamentos) e Stealth (faz com que você passe despercebido). Ao evoluir atributos, seu personagem desbloqueia comandos que podem ser usados para atacar, defender ou contra-atacar argumentos nas discussões.Vencer debates e sobreviver é meramente o objetivo de curtíssimo prazo do jogo. À medida que você avança, aprende que há uma trama muito mais profunda envolvida, e que o objetivo final é entender por que esses loops acontecem e como se libertar dessa prisão temporal.
De todos os integrantes da tripulação, apenas o protagonista e Setsu retém conhecimentos entre os loops. Isso acontece graças à Silver Key, um dispositivo especial que armazena informações permanentes sobre os personagens. A Silver Key é, literalmente, a chave para desvendar o segredo do jogo, e chegar ao final dessa história.
Quer se juntar a mim?
Gnosia é repleto de momentos inesquecíveis. Quando certas condições são satisfeitas, cutscenes especiais são liberadas, revelando momentos de humor, romance, cenas perturbadoras, tocantes ou até mesmo picantes com alguns personagens, dependendo da escolha de gênero que você fez no começo da aventura.Algumas destas cenas revelarão mais detalhes sobre cada um dos membros da tripulação, o que faz com que você construa aos poucos um grau de intimidade e empatia com eles. Acredito que esse envolvimento profundo com os personagens de Gnosia é a parte mais emocionante do jogo.
Talvez o único defeito de jogabilidade esteja na necessidade de repetição exaustiva de partidas até que você consiga disparar tais eventos, alguns deles necessários para prosseguir na história. Essa repetição talvez cause um incômodo em alguns jogadores, que poderão achar o jogo repetitivo ao ficarem empacados em algum ponto.
O final de Gnosia é um dos desfechos mais complexos e surpreendentes que já vivenciei em quatro décadas jogando videogame, amarrando diversas pontas soltas que são apresentadas desde o primeiro loop e surpreendendo pelas reviravoltas e surpresas chocantes. A trama não fica devendo nada aos roteiros dos melhores episódios de fenômenos da ficção como Rick & Morty e Doctor Who.
Ao concluir a história, o jogador é recompensado com a alteração permanente da tela de abertura e com a apresentação dos epílogos individuais dos quinze personagens da tripulação. Há ainda um “final verdadeiro secreto”, que só pode ser cumprido sob certas condições, premiando o jogador com a tela de abertura completa.
Após passar tanto tempo com eles, é impossível não sentir um imenso apego e querer saber o destino de cada um. A arte singular de Cotori aliada à exótica trilha sonora fazem com que Gnosia tenha ainda mais personalidade e seja um jogo artisticamente único e marcante.
Gnosia está disponível atualmente para PC e Switch, e praticamente não há diferença de jogabilidade entre as plataformas. No PC podemos escolher a resolução, que vai até 1920 x 1080 e execução em modo janela ou tela cheia. Como os gráficos são estáticos, o jogo roda mesmo em computadores com configurações muito modestas, sem placa de vídeo dedicada.
Mesmo sendo tão simples, estranhamente a versão do Steam pode demorar um pouco para carregar a tela inicial. Também não há suporte a cloud save, recurso padrão na plataforma, o que significa que se seu progresso não será compartilhado se você jogar em mais de uma máquina. Por fim, o jogo não possui localização para português brasileiro, o que pode dificultar o entendimento da trama para quem não conseguir entender textos em inglês.
Uma experiência inesquecível
Gnosia é uma obra única, com jogabilidade e estilo originais, sem paralelos. Uma verdadeira pérola, infelizmente desconhecida, que merece ser jogada por todos que apreciam um jogo simples, que valoriza a inteligência, com uma história sensacional e personagens inesquecíveis. Se você quer experimentar a adrenalina de um jogo de impostor, mas não gosta das inconveniências do multiplayer, esse jogo é feito para você.Veja também a análise para a versão de Nintendo Switch e o guia de estratégias para se dar bem nos debates, elaborados pela minha amiga Juliana Zapparoli.
Prós
- Consegue trazer a intriga do multiplayer para um jogo single player;
- História misteriosa, envolvente e intrigante;
- Personagens inesquecíveis;
- Estilo artístico belíssimo;
- Altíssimo fator de rejogabilidade.
Contras
- Não há suporte para cloud save;
- Não possui localização para português;
- Mecânica repetitiva.
Gnosia - PC/Switch/PSVita - Nota: 9.5Versões utilizadas para análise: PC e Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playism