Dentre as várias franquias disponíveis no mercado, poucas transitam tão bem entre diversas mídias diferentes como a que vamos ver nesta análise.
Yu-Gi-Oh! Master Duel é o mais novo game da marca que começou como um mangá de mistérios e jogos lá em 1996 (alguém lembra de
Forbidden Memories?). Mas será que ele tem o famoso “coração das cartas”? Pegue o disco de duelo e seu baralho mais poderoso, pois a partida, digo, a análise vai começar!
Um deck bem completo
O game foi lançado oficialmente em 20 de janeiro de 2022 para PC, PS4, PS5, XBO, XSX e Switch. Além disso, dispositivos móveis com sistema Android e iOS receberam suas versões uma semana depois. Mais do que estar disponível em todas as plataformas gratuitamente, Master Duel conta com cross-play e cross-save completos. Ou seja, os jogadores podem acessar suas contas e duelar em qualquer dispositivo.
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Prepare-se para invocar e enfrentar criaturas incríveis e poderosas
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São mais de 10.000 cartas diferentes para colecionar, sem contar as variações como brilhantes e prismáticas. Para adquiri-las, é preciso comprar pacotes ou baralhos utilizando gemas, que por sua vez são obtidas através de missões, vitórias em partidas, entre outras opções. Cartas avulsas e outros recursos também podem ser conseguidos por meio de tarefas diversas.
Como uma explicação mais detalhada do jogo em si levaria muitas matérias, vamos ficar com uma bem simplificada: divididas entre os tipos monstro, mágica e armadilha, o jogador precisa montar um baralho com pelo menos 40 cartas para travar duelos divididos em turnos. Para vencer, existem muitas estratégias e abordagens diferentes, a maioria focada em reduzir os pontos de vida do oponente, cada uma contribuindo com mecânicas e visuais próprios (confira algumas dicas
aqui).
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Montar um baralho adequado é vital para ter sucesso nas partidas
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Os modos de Master Duel incluem: Solo, que contém diversos tutoriais e disputas temáticas baseadas no universo Yu-Gi-Oh; Duel, que reserva as partidas por classe ranqueadas, casuais e de eventos; Shop, com várias opções para comprar novas cartas; e Deck, em que podemos construir e gerenciar os baralhos. Vale destacar que o game conta com dois passes de temporada, um gratuito e outro pago com as já citadas gemas.
Aventuras no mundo de Yu-Gi-Oh!
Considerando que o foco de Master Duel é o multijogador competitivo, o modo Solo me surpreendeu positivamente. As opções disponíveis, chamadas de “Portões”, incluem tutoriais divertidos e instrutivos, proporcionando lições e recompensas interessantes. Os maiores destaques, entretanto, ficam por conta dos portões temáticos, como os iniciais O Monarca Absoluto e Os Guerreiros dos Seis Senhores Elementais.
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A versão em português brasileiro é ótima para mais jogadores poderem curtir o game
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Mesclando duelos, cenários e lições práticas, essas opções permitem aprender mais sobre o game e seu extenso universo. Para quem não sabe, muitas cartas, baralhos temáticos e arquétipos possuem histórias de fundo bem legais. Não sei até que ponto o jogo disponibilizará novas aventuras nas próximas atualizações, mas já temos um bom número disponível de desafios interessantes para liberar e jogar.
Falando em interessante, a produção técnica de Master Duel merece o devido destaque. Visivelmente inspirado em títulos como Magic: The Gathering Arena (Mobile/PC) e Hearthstone (Mobile/PC), os visuais durante a partida são bonitos e organizados, contando com animações agradáveis tanto para as cartas quanto para criaturas, invocações, magias e armadilhas em geral. O único problema é a velocidade de execução, que pode levar um simples turno a durar muitos e tediosos minutos.
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O controle de velocidade disponível nos replays é um recurso bem útil pra tornar as partidas mais dinâmicas
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A solução seria ter uma opção de eliminar essas animações ou reduzi-las significativamente. A trilha sonora é igualmente competente, com canções bem dinâmicas e interessantes. Os menus são organizados e permitem uma rápida interação com os recursos do game, principalmente quando estamos analisando o nosso inventário de cartas para montar ou alterar um baralho.
Jogabilidade bem pensada
Apesar de ser um jogo de cartas, ter um sistema claro e organizado de controle é essencial. Mais uma vez, o game acerta ao oferecer uma jogabilidade intuitiva e simples. Obviamente, isso também depende muito dos conhecimentos em Yu-Gi-Oh de quem está jogando: se você parou de jogar faz alguns anos ou só acompanhou mangás e/ou animes, então prepare-se para uma enxurrada de novidades.
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A Invocação-Sincro é um dos inúmeros recursos dos monstros de duelo
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Os jogadores mais experientes, por outro lado, vão aproveitar bem a jogabilidade de Master Duel. Seja durante partidas, organização de decks e compras, tudo funciona bem. Aqui encontramos outra ressalva negativa, agora quanto à velocidade desse trânsito entre as várias partes do game: ele faz verificações/conexões com frequência, travando o que deveria ser uma experiência fluida de acesso.
É possível notar que alguns pontos do game ficam melhores no PC, mas ainda assim a jogatina nos consoles e mobiles é competente. Aliás, deixo o elogio ao sistema multiplataforma: disputar contra outros jogadores é simples, assim como acessar seu salvamento em outras plataformas. Digo por experiência própria, pois acessei a conta criada no PS5 pelo computador e smartphone de forma descomplicada e rápida.
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A emoção de abrir um pacote é viciante
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Outro ponto que espero ver é a manutenção dos recursos disponíveis para montar os baralhos. A quantidade de gemas ofertadas a novos jogadores é generosa, com muitas missões relativamente simples e rápidas. O game tem um sistema de compra de pacotes interessante, com opções “secretas” que surgem conforme itens e missões de arquétipos são obtidas. Além disso, é possível criar cartas específicas utilizando um sistema de materiais bem completo.
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Os Pacotes Secretos ajudam no processo de montar aquele baralho dos sonhos
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Portanto, mesmo sem investir dinheiro real, é possível construir um deck competitivo com alguma dedicação (e um pouco de sorte). Ainda é incerto, entretanto, até que ponto Master Duel será tão benevolente com a comunidade, pois sendo gratuito, ele contará com as compras pontuais para obter lucro. A famigerada lista de banimentos e as tendências da comunidade podem rapidamente mudar o metagame, exigindo mais e mais investimentos.
Só o poder da amizade salva (ou não)
É inegável que o ponto forte de Master Duel são as partidas entre jogadores. Afinal, esse sempre foi o cerne da série Yu-Gi-Oh, e a popularização da internet veio tornar esse aspecto ainda mais interessante. As partidas ocorrem de maneira satisfatória, sejam elas cross-platform ou não, excluindo as já citadas animações legais, mas também lentas e por vezes maçantes.
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Nada como comprar a carta certa para virar o jogo
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Dado esse comentário, é vital deixar uma coisa bem clara: atualmente, as disputas ranqueadas são voltadas a jogadores experientes. Com a enorme abrangência do game, ele conta com decks, estratégias e mecânicas bastante avançadas, inclusive muitas delas do tipo OTK (do inglês, One Turn KO ou vitória em um turno). Quem não teve contato com Yu-Gi-Oh faz alguns anos ou é apenas apreciador geral da franquia certamente terá grandes dificuldades.
Tudo isso se deve ao sistema de matchmaking fraco, que parece não ver a diferença entre jogadores experientes com baralhos muito poderosos e novatos em jogos de cartas. Alguns dirão que os servidores foram recém-abertos e ainda é preciso esperar um tempo para que as coisas se equilibrem; ainda assim, utilizar apenas o ranque atual do jogador pode gerar disputas completamente desequilibradas e precisa ser repensado.
Seria necessário levar em conta pontos como tipo de baralhos e histórico geral de partidas, ou então as coisas continuarão injustas. Logicamente, Master Duel pode focar somente no competitivo de alto nível, mas então ele precisaria deixar isso claro aos jogadores. Modos de jogo com limitações específicas para baralhos mais apelões ou desafios temáticos seriam opções interessantes para contemplar toda a comunidade.
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As customizações disponíveis incluem campos de duelo e "mascotes"
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Nesse contexto, as partidas casuais se tornam uma opção bastante interessante. Chamar os amigos para duelar é uma ótima pedida, ou então combinar restrições específicas para enfrentar algum jogador disponível online. Desta forma, as coisas ficam mais equilibradas e as partidas mais interessantes para todos os lados.
Hora do duelo!
No final das contas,
Yu-Gi-Oh! Master Duel pode sim ser considerado um bom jogo de cartas. Belos visuais, jogabilidade intuitiva, boa quantidade de conteúdo e recursos para começar. Infelizmente, existem dois pontos negativos sérios. Primeiro, o game é relativamente lento, sobretudo durante as partidas online; segundo, o sistema de matchmaking é bastante ruim e torna o modo competitivo um sofrimento, sobretudo para jogadores com menos experiência.
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Uma mão inicial interessante para o que pode ser o maior jogo da história da franquia
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O lançamento recente pode explicar parte desses problemas, que poderão ser otimizados no curto/médio prazo. Até lá, sugiro aos fãs da obra e jogadores menos experientes ficarem longe das partidas ranqueadas, focando nos bons modos solo e nas disputas casuais com os amigos. Resta acreditar no coração das cartas e torcer para que cartas novas e úteis sejam adicionadas ao sólido baralho base que temos em mãos.
Prós
- Versão eletrônica da famosa franquia de jogos de cartas é bastante completa e gratuita;
- Os visuais e efeitos bonitos combinam bem com a ótima trilha sonora;
- Boa quantidade de modos de jogo, incluindo opções casuais e competitivas;
- Apesar de gratuito, o jogo traz uma boa quantidade inicial de recursos para construir os primeiros baralhos;
- Cross-play e cross-save completos entre todas as plataformas modernas, incluindo uma versão para dispositivos móveis.
Contras
- O sistema de matchmaking muito ruim pode tornar o modo competitivo frustrante;
- Animações lentas e reconexões frequentes tornam as partidas, entre outras atividades, bastante lentas.
Yu-Gi-Oh! Master Duel — PC/PS5/XSX/PS4/XBO/Android/iOS — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Davi Sousa