Análise: Asteroids: Recharged (Multi) é uma aula de como se revitalizar um clássico

Mais um grande nome da virada dos anos 1970 para 1980 passa por uma modernização estilosa, ficando de cara nova, mas mantendo sua essência.

em 13/12/2021
Há mais de 40 anos atrás, Asteroids foi lançado para o Atari e sua premissa, embora simples, veio a influenciar uma legião de jogos que nasceriam em gerações posteriores. Eu particularmente tenho ótimas memórias com o título, pois passei boas horas explodindo borrões coloridos pela tela no Atari (da CCE) que meu pai tinha. Era um dos meus favoritos, sendo H.E.R.O. o outro.

Avançando essas quatro décadas para os dias de hoje, chega aos consoles uma versão reimaginada do clássico, a exemplo do que aconteceu com Mission Command, Centipede e Black Widow. Asteroids: Recharged é uma maneira bastante acertada de trazer de volta um ícone dos games, a ponto de mexer com os veteranos e chamar a atenção dos novatos.

Uma galáxia neon

A premissa de Recharged é a mesma de qualquer outro jogo já inspirado no Asteroids original: temos nossa modesta nave, que parece uma setinha de mouse, no centro da tela e precisamos disparar na enxurrada de asteroides à nossa volta. Quanto maior o objeto, mais pontos ele concede, porém ele também se divide em dois menores, permanecendo na tela. Logo, todo o nosso caminho estará repleto de rochas galácticas, e temos que nos desvencilhar delas antes de sermos transformados em poeira cósmica. 

Claro que temos ao nosso favor o poder do teleporte, mas, ainda assim, não há controle sobre ele. A escapatória é incerta e pode também nos colocar em uma enrascada. No meio disso tudo, aparecerão alguns óvnis que tentarão nos acertar com disparos bastante precisos e acertá-los é essencial para se manter vivo, além de conceder uns pontinhos extras para a conta. 

Vale lembrar que uma das características mais clássicas de Asteroids é não ter paredes, então algo que sumiu por um lado pode reaparecer do outro, te pegando completamente desprevenido. Só que nossos tiros também atravessam a tela, podendo explodir meteoros e inimigos que podem estar distantes. O jogador além de estar atento, precisará usar a criatividade para lidar com todas essas ameaças.

O ritmo de jogo é bastante divertido, não sendo lento ou acelerado demais, criando uma curva de compreensão bem justa, até porque é tudo bastante simples: atire no que se mexer e não seja esmagado. Agora, para dar uma apimentada nas coisas, foram adicionados diversos power-ups, que duram um curto espaço de tempo, mas que são uma mão na roda. Podemos coletar tiros triplos, espelhados ou multidirecionais, rajadas de disparos curtos, lasers que exterminam tudo, cinturões de bombas e escudos defletores.

Se a jogabilidade é direta ao ponto, o mesmo podemos dizer dos visuais. A mistura de estilos minimalista e futurista, com apenas as formas da nave, os asteroides e os óvnis em contornos neon, cria uma composição bastante bonita e que combina bastante com a proposta de tudo. Até mesmo o menu segue esse padrão. Com tantas cores e luzes, também foram pensadas opções para daltônicos que têm à disposição três acertos distintos: protanopia, deuteranomalia e tritanopia.

Para fechar com chave de ouro, a trilha sonora da jogatina é um sensacional synthwave criado pela compositora Megan McDuffee. Ela já foi responsável pelas músicas de diversas outras produções, como a série River City Girls, um single para Aeon Drive e diversos projetos para televisão. Logo, já fica bem na cara que o clima futurístico, além de bonito, ganhou um charme sonoro bem adequado.

O espaço é seu jardim

Asteroids: Recharged possui apenas dois modos de jogo: Arcade e Desafio. O primeiro é bem básico e conhecido de quem já jogou qualquer versão. Só precisamos nos manter vivos e atirando até onde der, com apenas uma vida. Como todo bom Arcade, podemos aproveitar com outra pessoa de maneira local, relembrando os bons tempos de Atari. Assim que encontramos nosso irremediável fim por conta de um pedregulho planando no espaço, nossa pontuação é colocada em um ranking online, o que é uma ótima pedida.

Quanto ao Desafio, este modo traz 30 fases com diferentes metas específicas que variam entre atingir uma determinada pontuação, eliminar um número específico de asteroides (seja só com o tiro comum ou apenas com uma arma específica), exterminar uma certa quantidade de óvnis ou sobreviver por um determinado tempo. Um aspecto interessante é que, mesmo com objetivos tão próximos, cada desafio proposto exige uma estratégia diferente, que envolve desde a velocidade dos elementos da tela até os power-ups disponibilizados. Além disso, cada fase tem seu padrão de cores específico, ajudando a dar uma quebra na mesmice.

Também há um modo de desafio para dois jogadores, que traz outras 30 fases para que os pilotos se ajudem na hora de completar as missões. Entretanto, elas são simplesmente iguais às do jogo solo, com uma ou outra levíssima variação na meta a ser atingida. Isso pode acabar gerando a ilusão de que Recharged oferece 60 desafios únicos, o que não é bem verdade. Sem contar que isso acaba criando o incômodo sentimento de repetição, já que não há mais nada para se fazer depois de concluir todos.

Outro ponto contra envolvendo o modo Desafio é a demora em alguns casos para se conseguir um power-up. Sempre que (re)começamos uma missão, há o mesmo padrão inicial, que se molda de acordo com o comportamento do jogador e assim o andamento se desenrola. Só que ocorreram casos de uma mesma missão ser reiniciada mais de uma vez e, por isso, a demora para se conseguir um poder especial variou entre 15 segundos e quase 3 minutos. 

Não há uma explicação para os tais óvnis especiais demorarem a aparecer. Eles simplesmente decidiram parar no meio do caminho para o café e o jogador que espere. Pode parecer uma reclamação à toa, mas as pontuações do modo Desafio também entram em um ranking global. Logo, isso incide diretamente no desempenho de quem está no controle, que, além de ser habilidoso, precisa contar com um momento de sorte; e isso é um tanto quanto frustrante.

Uma ideia genial

Asteroids: Recharged é uma excelente maneira de reintroduzir um clássico quarentão para um público mais novo. A atualização nos visuais e na parte sonora, junto com a preservação da sua estrutura-base, é uma receita muito bem-sucedida de como fazer esse retorno. É uma pena que o pouco conteúdo reduza a vida útil de um jogo tão divertido.

Além disso, devemos ressaltar que Centipede: Recharged e Black Widow: Recharged possuem o mesmíssimo padrão de apresentação, visual e proposta. Até os menus são iguais em tudo. A Atari bem que podia juntar todas essas pérolas reimaginadas em uma coletânea, e ainda incluir o Missile Command: Recharged, que só foi lançado para PC e Switch. Eu, como um fã apaixonado dessa época, tenho certeza de que seria muito bem aceito pelo público e serviria de motivação para mais alguns clássicos receberem sua versão Recharged.

Prós

  • Excelente proposta visual;
  • Trilha sonora combina perfeitamente;
  • Multiplayer local para dois jogadores;
  • Rankings globais online;
  • O modo Desafio é bastante divertido.

Contras

  • Os desafios para dois jogadores são os mesmos para o jogo solo;
  • Pode se tornar repetitivo após algumas partidas;
  • A aleatoriedade de aparição dos power-ups nos desafios pode ser irritante.
Asteroids: Recharged — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Atari

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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