Vivo ou morto, você vem comigo!
Um bar como outro qualquer em um mísero planeta que parece ter sido esquecido pelo progresso. Em meio à diversidade de seres extraterrestres, uma mesa solitária e um copo de cerveja são tudo que você precisa após uma busca cansativa. No entanto, a sua fama (ou má fama) pesa mais que as suas espadas e ela é suficiente para atrair os olhares de um grupo de malfeitores. “Harry, the Rat, mandou lembranças”, e a pancadaria tem início. Você é Aiden, um mutante da raça popularmente conhecida como “três-braços”, que atua como um letal caçador de recompensas por toda a galáxia.
Por trás de todo o maneirismo e sagacidade de bancar o caçador perigoso, existe a necessidade de Aiden em acertar as contas com seu passado. Uma tragédia envolvendo um perigoso criminoso conhecido como Black Marshall quase custou a vida de nosso protagonista. Recuperado, é hora de usar o elemento surpresa a seu favor, porém sem as pistas sobre o paradeiro de seu antigo algoz. A melhor maneira então é fazer barulho e atrair a atenção de toda a casta de elementos perigosos espalhados pelo universo. Por sorte, ao longo de nossa jornada contaremos com o apoio de Jonathan, uma inteligência artificial que atua como suporte, nos passando informações importantes e ajudando em momentos que precisamos lidar com sistemas tecnológicos. Em determinado momento, conheceremos figuras carismáticas que levarão Aiden a engolir seu orgulho de lobo solitário e formar uma breve aliança.
Infelizmente o preconceito é algo que atravessa os tempos |
A história em They Always Run possui um ritmo muito leve e ao mesmo tempo prazeroso de se acompanhar. É como assistir um clássico de ação dos anos 80 ou aqueles antigos western em que o pistoleiro destemido chega em cidades pacatas e troca socos e tiros com toda sorte de mal-encarados. Conduzir Aiden na busca por esses vilões é algo que não fica cansativo, pois há uma boa variedade entre eles, o que nos obriga a visitar diferentes planetas, com diferentes ecossistemas.
Paralelo a isso, temos a vendetta de Aiden contra o Black Marshall e seu grupo. Conforme avançamos, descobrimos mais sobre o acontecimento que quase lhe custou a vida, enquanto encontramos novas pistas sobre o corrupto vilão. É um processo de desconstrução interessante, pois temos a famosa saga do anti-herói enrijecido por perdas passadas e que se vê obrigado a mostrar mais do seu lado vulnerável ao mergulhar de cabeça em seus traumas. É um processo que não só auxilia na imersão, como também cria um laço entre protagonista e jogador. E garanto que o final da campanha trará reviravoltas impressionantes e um desfecho emocionante.
O único ponto que achei desnecessário foi a opção de tomadas de decisões em alguns diálogos. Ela é bem-vinda quando reflete em mudanças no desfecho, criando até um fator replay na campanha, mas, quando servem apenas para alterar o texto da conversa, elas se tornam irrelevantes.
O que seria de um caçador intergaláctico sem a sua nave? |
O caçador mais perigoso da galáxia
Para fazer jus a sua fama, Aiden conta com uma série de habilidades e movimentos de combate letais. O fato de contar com três braços incorpora uma beleza impressionante aos combates. Dispondo de três espadas, ele consegue encarar qualquer perigo em combate próximo, realizando movimentos extremamente plásticos contra vários inimigos de uma vez, o que faz cada confronto, por mais simples que seja o alvo, parecer uma sequência detalhadamente coreografada de um filme de ação. Por mais que na prática estejamos falando do ato de apertar um único botão, é um processo tão fluido que passa longe de causar uma sensação de cansaço ou repetição.
Sabemos que uma boa defesa é fundamental e, pensando nisso, Aiden é capaz de efetuar rolamentos para escapar de situações perigosas. Ainda assim, predomina-se aqui a ideia de que a melhor defesa é um bom ataque, pois o nosso mutante é capaz de bloquear múltiplos agressores e contra-atacá-los, desde que se respeite o tempo certo de execução do comando. Caso seja bem-sucedido, o adversário é punido com execuções brutais que empolgam ainda mais a ação. E para aqueles oponentes que só pensam em defender, podemos usar o nosso terceiro braço para executar um poderoso soco capaz de quebrar a defesa e, caso tenha o medidor carregado, lançar os inimigos para longe com uma pancada devastadora.
Para complementar o pacote, eventualmente liberamos novos acessórios que incrementam o combate e a movimentação do nosso caçador. Um belo exemplo são as três pistolas que nos permitem disparar contra vários alvos ao mesmo tempo. A ideia de utilizar um sistema de automira foi acertada, pois combina com a sagacidade do personagem. Mesmo que o inimigo esteja em suas costas, Aiden é capaz de alvejá-lo com o braço extra. Ele ainda consegue escalar grades, deslizar por pequenos espaços e descer por tirolesas.
Nosso terceiro braço também conta com um sonar que emite uma onda capaz de detectar mecanismos escondidos que liberam a entrada em locais importantes. Utilizá-lo também é importante para identificar vilões procurados pela justiça. Ao eliminá-los, podemos utilizar um dispositivo de teletransporte para enviá-los diretamente para a cadeia em troca de dinheiro. Já os alvos principais costumam variar dependendo do contratante. Em alguns casos teremos a opção de eliminá-los ou trazê-los com vida. Vilões mais perigosos renderão recompensas melhores se os entregamos pessoalmente.
Todos esses elementos devem ser combinados em diferentes situações que precisamos lidar. Cada planeta que visitamos conta com biomas e civilizações diferentes, podendo variar de imensos lixões desérticos nos moldes de Tatooine até centros urbanos tecnológicos repletos de néon, esbanjando o bom e velho clima cyberpunk. Em algumas situações, nossa fama fará com que nossas presas corram de medo, nos levando a intensas perseguições que incorporam um forte elemento de aventura e plataforma. É como Aiden resmunga: “Eles sempre correm…”
Por falar nos vilões, enquanto os chefões possuem uma boa diversidade, os inimigos regulares não contam com tantas variações. No geral temos três tipos: soldados armados com lâminas ou bastões, atiradores de elite ou escudeiros que possuem uma defesa impenetrável para boa parte dos nossos ataques. Por sorte, o jogo consegue maquiar bem essa deficiência ao misturá-los em boa parte das contendas. Em alguns casos encontramos um deles patrulhando uma área sozinho. Nessas situações a melhor opção fica pelo ataque furtivo, porém a maior frequência será por setores repletos de adversários, exigindo uma boa adaptação e leitura por parte do jogador.
Caso a situação aperte, alguns dos nossos abates irão render cápsulas de vida ou munições. Baús também estarão espalhados pela fase, permitindo acumular dinheiro ou mais munições. O recurso de Aiden é utilizado de acordo com suas prioridades duvidosas: quando ele não está no bar tomando seus drinques, ele os utiliza nos mercadores para compra de melhorias em suas armas e seu traje.
O único ponto que pode deixar a desejar é que tamanha letalidade e variedade no arsenal de Aiden acaba tornando-o muito roubado em relação aos inimigos que enfrentamos. Tanto a esquiva quanto o contra-ataque são simples de serem acertados, o que pode tornar o processo fácil demais para jogadores mais experientes. Mesmo que o ritmo da ação seja competente e empolgante, os mais exigentes podem sentir falta de desafios maiores.
Tubarões com problemas de temperamento? Temos! |
Explorando os confins do universo
Conforme mencionamos, a todo momento estaremos viajando entre os planetas. Cada um deles carrega suas peculiaridades, principalmente na estrutura das fases, podendo seguir por instalações militares, trens em movimentos ou até mesmo a subida de grandes arranha-céus. Essa alternância ajuda a conduzir a trama de forma interessante, criando diversas situações para o jogador. Um dos momentos que mais me divertiram foi quando invadi uma instalação militar e descobri que uma misteriosa mercenária também estava atrás do mesmo alvo, começando então uma intensa corrida para ver quem conseguiria abater a presa primeiro.
A direção artística do jogo é extremamente competente ao ilustrar essas situações. Os cenários no fundo contam com um estilo que lembra uma pintura e que acaba saltando aos olhos. Em determinados momentos, a câmera afasta ou se aproxima para alterar a dinâmica da cena e com ela entram estilos diferentes de sombreamento e foco que transformam um print de tela em um belo papel de parede. A trilha sonora é bem mesclada durante a ação, incutindo o ritmo de cada ocasião. Vale destacar os momentos finais do jogo que contam com uma bela canção que já ingressou na minha playlist na primeira escutada.
Eles sempre correm!
They Always Run opta por se manter na segurança dos elementos já consagrados dos jogos de ação, aventura e plataforma. Isso fica longe de ser algo ruim, pois os desenvolvedores executam essas combinações com maestria. O resultado é uma trama épica, repleta de combates, acontecimentos empolgantes e reviravoltas que culminam em um belo plot twist que nos deixam um forte desejo pela continuação da jornada de Aiden.
Aiden merece ter sua aventura contada nos consoles |
O fato de o nosso mercenário ser muito habilidoso pode desbalancear o desafio para jogadores mais exigentes, porém é um detalhe que acaba sendo compensado com a plasticidade das lutas e perseguições dos vilões. Espero que em breve o título seja levado para os consoles e que uma futura sequência receba o capricho digno do nosso estiloso caçador de recompensas.
Prós
- Perseguições e combates dignos de um grande filme de ação;
- Personagens carismáticos;
- Trama com boa evolução e reviravoltas;
- Cenários com efeito de pintura que saltam aos olhos;
- Boa diversidade no arsenal e habilidades do protagonista.
Contras
- Opções de diálogo que não alteram o desfecho do enredo;
- As habilidades do protagonista podem causar desbalanceamento com os inimigos;
- Pouca variedade de adversários.
They Always Run — PC — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Alawar Premium