Análise: The Legend of Tianding (PC/Switch) transforma uma lenda de Taiwan em uma eletrizante aventura de plataforma

Explore a cidade de Taipei e enfrente os opressores japoneses neste título indie ágil inspirado em fatos históricos.

em 05/11/2021

The Legend of Tianding usa como inspiração uma figura folclórica de Taiwan para criar uma ágil aventura. Na pele do vigilante fora da lei Liao Tianding, que é considerado uma espécie de Robin Hood no país, precisamos correr, pular e usar golpes de kung fu para enfrentar as autoridades, superar desafios e ajudar os necessitados. Além de boa mistura entre plataforma e combates, o jogo encanta com sua ambientação singular inspirada em mangás chineses. O título não ousa muito, contudo oferece uma experiência bem agradável.

Um justiceiro enfrentando injustiças com seus punhos

No início do século 20, o Japão conquistou Taiwan e usava uma força policial para manter a ordem. Os invasores, naturalmente, não tinham piedade dos nativos, recorrendo à violência sempre que possível. Além da opressão, a desigualdade se acentuou e muitos habitantes do país viviam na pobreza. No entanto, havia esperança na capital Taipei na forma de Liao Tianding, um galante ladrão que roubava dos ricos para dar aos necessitados. No jogo, o ladino enfrenta figurões locais e acaba se envolvendo em uma caça a um possível tesouro mítico.


No controle de Liao Tianding, enfrentamos inúmeros perigos em uma aventura de ação e plataforma. O ladino é bem ágil e consegue saltar novamente no ar, além de usar um gancho para alcançar locais de difícil acesso. No combate, o rapaz ataca com uma faca e com golpes de kung fu, que também são utilizados durante a exploração: muitas áreas só podem ser alcançadas ao utilizar chutes no ar para cima ou para os lados. Ademais, Tianding pode usar seu cachecol para tomar para si as armas dos inimigos, como bastões, machados, rifles e pistolas, que quebram depois de alguns usos.

A progressão é estruturada em capítulos com dois momentos distintos. Na primeira parte, exploramos a cidade de Taipei executando passos para fazer a história avançar. Há também algumas missões paralelas oferecidas por personagens espalhados pelas ruas. Logo em seguida, partimos para a ação em estágios lineares de ação e plataforma, com um chefe no final. Alguns segredos estão escondidos nas fases, que podem ser revisitadas livremente.



Versatilidade e esperteza em um mundo diversificado

The Legend of Tianding pode não ser muito criativo ou ousado, porém consegue executar muito bem todas as ideias propostas. Os estágios são lineares e me conquistaram com sua boa variedade de situações. Em um esgoto, o desafio é evitar a água venenosa que cai dos canos enquanto usamos o gancho para atravessar partes com saltos complicados. Já em uma missão em um trem, o herói precisa alternar entre o interior e o exterior do veículo para avançar.


Pelo caminho, o personagem ganha algumas habilidades que são utilizadas em novos desafios e que facilitam a jogatina ao visitar novamente estágios passados. Um ponto notável da exploração está nas áreas secretas: precisamos utilizar os movimentos com perícia para atravessar salas repletas de armadilhas. Apreciei esses momentos, pois eles lembram pequenos puzzles de navegação.

O combate frenético é, de longe, a minha característica preferida do jogo. Com os golpes de Tianding, é possível criar sequências de ataques interessantes com facilidade: no meu caso, gosto de lançar os inimigos no ar com um chute, acertá-los várias vezes em um combo aéreo e, por fim, finalizar com um golpe em direção ao solo. Os armamentos tomados dos oponentes trazem variedade com seus movimentos únicos, permitindo montar diferentes combinações. Há também armas de fogo, como rifles e lança-mísseis, que são ótimos para acabar rapidamente com oponentes.


Na maior parte do tempo, as batalhas são tranquilas de vencer. Há algumas lutas um pouco mais complicadas em que enfrentamos ondas de capangas, mas basta agir com cuidado para completá-las. A história muda quando falamos dos chefes: eles contam com ataques complexos e bastam alguns deslizes para ser derrotado. Apreciei os confrontos contra esses adversários poderosos, pois é essencial observação, técnica e domínio das habilidades do herói para sair vitorioso. Apanhei e morri bastante para a maioria deles, porém foi divertido e recompensador sobrepuja-los.

Um ponto que me incomodou no combate é a pequena variedade de inimigos normais: há uns dez tipos de oponentes que se repetem por toda a jornada. Por causa disso, fiquei com a sensação de mais do mesmo com frequência. Achei uma pena que a maioria deles é bem simples de vencer, e foram raras as vezes que precisei utilizar alguma técnica ou estratégia elaborada. Isso não chega a estragar a experiência, mas capangas mais interessantes com certeza deixariam o jogo melhor.



Explorando a beleza de Taiwan no início do século

Fora a ação, The Legend of Tianding cativa com sua intrincada ambientação inspirada em mangás chineses antigos. O colorido visual em cel shading tem um estilo visual único que simula quadrinhos, e belas ilustrações dão vida às cenas não interativas. Além disso, as localidades encantam com seus detalhes, como as ruas de Taipei repletas de pessoas e prédios imponentes. Dublagem em taiwanês e música com instrumentos tradicionais, em conjunto com o visual, fazem com que o universo seja rico e muito envolvente.


A temática, que aborda a época que Taiwan foi oprimido pelo Japão, é bastante interessante. Os invasores são retratados como frios e oportunistas, mas no decorrer da trama aparecem nuances curiosas dos dois lados. Esse foi um momento tenso e conturbado para Taiwan, mas o jogo usa uma abordagem leve, sem deixar de tentar ser fiel aos acontecimentos. Destaco o próprio Liao Tianding: o ladino é carismático e bem-humorado, protagonizando muitas cenas divertidas, o que torna a trama agradável.

Só é uma pena que o ritmo às vezes seja um pouco irregular. Na primeira parte dos capítulos há muitas conversas que nem sempre são interessantes. Não só isso, ao explorar Taipei, é frequente a necessidade de ficar andando pela cidade para falar com pessoas para fazer a trama avançar ou para coletar itens para os outros — Tianding é um ladrão notável, mas também um garoto de recados. Esses trechos são um pouco chatos e são uma maneira preguiçosa de estender o tempo de jogo, mas, felizmente, a frequência deles diminui no trecho final da trama.



Uma fábula envolvente

The Legend of Tianding é uma ótima aventura que celebra um carismático personagem do folclore de Taiwan. Andamento ágil e boa diversidade de desafios estão espalhados pelos estágios, e o combate empolga com sua versatilidade — é divertido lançar inimigos no ar e roubar suas armas para criar diferentes combos.

Fora isso, o colorido universo cativa com ótimos visuais inspirados em mangás chineses, personagens carismáticos e interpretação leve de um momento histórico importante do país. O jogo só peca um pouco com problemas de ritmo e diversidade limitada de oponentes, mas a ação acelerada ajuda a minimizar essas questões. No mais, recomendo bastante The Legend of Tianding.

Prós

  • Sessões de plataforma descomplicadas e variadas;
  • Combate flexível e com ritmo acelerado;
  • Ótimas lutas contra chefes;
  • Ambientação ímpar com visual inspirado em mangás chineses.

Contras

  • Pequena variedade de inimigos;
  • Alguns trechos de exploração têm vai e vem desnecessário.
The Legend of Tianding  — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Neon Doctrine

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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