Treasures of the Aegean é um curioso título que entrou no meu radar, novamente, pelos motivos menos óbvios. Fisgado pela curiosa direção de arte que remete bastante às histórias em quadrinhos e uma jogabilidade rápida e ágil. Contudo, o que mais me intrigou durante minhas sessões de jogatina com este game foi sua apresentação e roteiro, que inicialmente me pareceu algo bem confuso, mas depois se mostrou interessante e, de certa forma, singular. Mas chega de enrolação, vamos ao que interessa: a análise.
A civilização minoica e uma antiga profecia
Nossa história é protagonizada por Marie Taylor, uma habilidosa ladra praticante de parkour, e o historiador e caçador de tesouros, James Andrew. A dupla está visitando a região de Santorini, na Grécia, em busca de mais detalhes sobre uma antiga profecia envolvendo a extinta civilização minoica, que se estabeleceu na região da ilha de Creta entre os séculos XX e XV a.C.
A profecia fala sobre o retorno da ilha de Thera naquela região em um determinado momento, revelando o que restou do antigo reinado de Minos. O local é abrigo de diversos segredos sobre a antiga civilização e de relíquias com imenso valor comercial. O objetivo de Marie e James é explorar o local em busca do máximo que puderem aprender e carregar, já que a Thera não ficará exposta por muito tempo.
Os dois não são os únicos em busca de riquezas na misteriosa ilha. Um grupo mercenário liderado por uma antiga aliada de Marie também está no local, mas em busca apenas do que realmente vale alguns dólares. No controle da jovem, nossa missão é explorar e aprender sobre a história dos minoicos enquanto enche os bolsos com inestimáveis objetos de valor. E tudo isso contra nosso maior inimigo: o relógio.
Quanto tempo o tempo tem?
Treasures of the Aegean é uma aventura em plataforma que flerta com os gêneros metroidvania e roguelite em alguns detalhes. No controle de Marie, devemos explorar Thera em busca de relíquias valiosas e desvendar os mistérios e segredos da antiga civilização que viveu naquele lugar. A jornada nos leva a ruínas, destroços, cavernas e templos dos antigos minoicos durante toda nossa estada na ilha.
Marie não dispõe de armamentos ou itens para atacar ou se defender. Suas habilidades se resumem a se mover de forma ágil podendo correr, pular, impulsionar-se nas paredes, balançar em cordas, deslizar por frestas e mover objetos. É um elemento que deixa a jogatina bem gostosa rapidamente, já que a movimentação ágil da mulher é um dos principais pontos positivos na jogabilidade.
Durante suas andanças, Marie coleta relíquias e objetos antigos que rendem, a princípio, ganhos monetários consideráveis para sua expedição. Entretanto, a coleta destes objetos tem uma importância muito maior, que revelarei logo mais.
Como dito anteriormente, Marie não está sozinha. Eventualmente, ela cruzará o caminho de membros do grupo mercenário que também está em busca de objetos de valor na ilha. Marie tem como opções evitar ou “driblar” os inimigos. Não se preocupe se ela for pega, pois ela continuará viva e livre, mas haverá uma punição: tempo perdido.
Depois da primeira rodada, por assim dizer, Thera colapsa e um verdadeiro apocalipse ocorre, destruindo o mundo. É então revelada a principal mecânica do jogo: o loop temporal. A antiga profecia é uma maldição que causou um eterno ciclo temporal na ilha que abrigou os minoicos, nos levando de volta até a noite anterior em que James e Marie estão hospedados em Santorini. A partir daí, o jogo “recomeça”, mantendo como progresso apenas os locais que Marie visitou na corrida anterior, mais informações sobre a história e a tal profecia no diário de James.
Sim, é meio confuso, mas, conforme avançamos no jogo, isso começa a fazer sentido. Cada vez que um ciclo acaba, novos segmentos de história são apresentados por meio de flashbacks, mostrando um pouco do passado de Marie e James.
As relíquias obtidas servem para aumentar o tempo do loop, que inicialmente é de 15 minutos. Quantos mais objetos coletamos durante as rodadas, mais tempo estará disponível na corrida seguinte e assim por diante.
De novo, de novo e mais uma vez...
O gameplay de Treasures of the Aegean acaba por se tornar algo bastante repetitivo, mas isso é proposital. Cada vez que iniciamos uma nova rodada de exploração em Thera, Marie começa em um local diferente, estimulando que possamos explorar a ilha o máximo possível.
Uma variedade de marcadores está disponível para ajudar em nossa navegação, apontando itens e pontos de interesse conforme exploramos. Isso é muito importante, pois quando um novo loop começa, objetos relacionados a puzzles ou portas voltam a seu estado original, e é importante tomar nota de onde algumas coisas importantes estão para não perdermos tempo procurando tudo de novo. Num mapa imenso como o que temos aqui, isso se torna essencial.
O problema é que o jogo não nos ensina essas coisas por meio de menus ou tutoriais. Então, ao jogar pela primeira vez, é bem comum ficarmos perdidos sobre o que temos que fazer ou a real importância do mapeamento do jogo. É frustrante nas primeiras vezes que resolvemos um puzzle e então um novo loop começa, pois nós simplesmente não sabemos onde o puzzle está para que possamos resolvê-lo novamente. Sim, os quebra-cabeças que resolvemos também são resetados.
Boas horas serão gastas simplesmente correndo a esmo pela gigantesca ilha com o intuito de registrar os locais no mapa e marcar os itens de interesse, e então encontrar o sentido de alguns deles para saber onde usá-los ou que rota é mais rápida para determinado objetivo. Paciência e disciplina são dois pontos cruciais para obter sucesso em Treasures of the Aegean.
Apesar de ser propositalmente repetitivo por conta de sua natureza, o game peca nesse mesmo aspecto na jogabilidade. Depois de um tempo, mesmo sendo até gostoso dar uns pulos e deslizes em alguns segmentos, chega uma hora que até a gente cansa de ficar correndo por aí. Quem tem sede de curiosidade vai ficar tentado a explorar cada canto do mapa e pegar tudo. Colecionistas têm um prato cheio aqui; já quem prefere jogar pela narrativa, se prepare para investir um tempo considerável, pois o progresso pode ser um pouco arrastado.
É o tipo de jogo em que você facilmente pode cair no marasmo de jogar uma ou duas rodadas e, se não achar nada de interessante nesse tempo, acaba indo jogar outra coisa. Além disso, a animação de Marie é meio desengonçada, parecendo um pouco o cowboy Woody, de Toy Story, quando está correndo.
Diferente e pouco envolvente
No fim das contas, minha experiência com Treasures of the Aegean foi bem mista. No início, foi um pouco estranho, ficando ligeiramente interessante após os primeiros loops e, por fim, ainda um pouco confuso por me fazer descobrir junto com a heroína o que eu deveria fazer para progredir no game. Envolve quem gosta de exploração e puzzles, demandando uma boa dose de dedicação para quem deseja desvendar os mistérios de Thera.
Prós
- Direção de arte interessante, remetendo a uma história em quadrinhos;
- Gameplay simples, ágil e viciante;
- Aspectos de exploração e colecionismo bem aproveitados e contextualizados.
Contras
- A falta de um tutorial ou menu explicando alguns elementos de gameplay pode prejudicar jogadores menos atentos ao enredo;
- Apesar de ser parte da proposta, a repetitividade pode causar desinteresse rapidamente.
Treasures of the Aegean — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise feita com cópia digital cedida pela Numskull Games