A galerinha dos 30 anos realmente está sentindo um choque de nostalgia com alguns personagens da sua infância nos games este ano. O título da vez agora é Marsupilami: Hoobadventure, que nos coloca no controle do hiperativo marsupial fictício em uma clássica aventura de exploração em perspectiva 2D com modelos tridimensionais.
Legado Septuagenário
Mas o que raios é um Marsupilami? Pois bem, aqui no Brasil ele ficou conhecido por causa de uma animação transmitida na tv aberta entre 1998 e 2002, da Disney. Entretanto, esse estranho marsupial malhado (no padrão da pelagem, tá, ele não é um bicho bombadão) e com uma cauda tão grande que faria inveja ao laço da Mulher Maravilha foi criado em 1952 por André Franquin para a série franco-belga de quadrinhos Spirou. Ou seja, Marsupilami está beirando os seus 70 anos de idade e já tem mais tempo de vida que você, eu e possivelmente nossos pais.
Após essa breve elucidação, voltemos à narrativa de Hoobadventure: Punch, Twister e Hope são três marsupilamis que vivem na tranquila e calma Palombia. Porém, essa calmaria some com a chegada de um sarcófago à beira da praia em que eles vivem. Esse estranho objeto liberta um espírito antigo, que começa a manipular todas as criaturas da ilha com seu poder oculto, que curiosamente não funciona nos marsupilamis. Logo, cabe a esse trio libertar os seres indefesos do local e mandar essa entidade maligna de volta para onde ela veio.
A história é bem básica, só que muitíssimo mal-apresentada. Toda a informação explicada acima foi retirada dos press releases da Microids, publisher do jogo, e das animações de abertura e encerramento, que não possuem legendas ou vozes. Nem mesmo dá para saber qual nome pertence a qual bicho. Inclusive, vale ressaltar que esses três nomes vêm da versão britânica e nada têm a ver com os originais da animação francesa, que na verdade são Marsu, Pila e Mi (zero originalidade, mas deve-se respeito à fonte, não é mesmo?). Algumas cenas entre a troca de cenários, ou até um final diferente para cada personagem, viriam muito a calhar.
Quem tem apego a justificativas narrativas irá se decepcionar. Porém, ainda citando a produção que serviu como base, os modelos dos personagens e dos ambientes são colorido, alegres e bastante vibrantes. Inclusive, em alguns estágios bônus, chamados de Dojos, temos um visual diferenciado, com apenas as sombras das plataformas e do bichinho em questão, lembrando bastante Donkey Kong Country Returns (Wii/3DS). Quanto à trilha sonora, ela é animada e ajuda a criar uma atmosfera que torna cada fase um episódio de um desenho.
Bichinhos acelerados
Seguindo aquela boa e velha fórmula dos plataformas 2D, Hoobadventure não traz nada de surpreendente, mas consegue cumprir com competência o que propõe. No controle de qualquer um dos três marsupilamis, podemos pular, agarrar paredes e usar nossa caudas em situações diversas, como nos prender em ganchos, correr (ela se transforma em uma grande roda) e usá-la para quebrar caixas e nocautear bichinhos hipnotizados. Infelizmente, o trio se comporta igual, sem nenhum atributo ou habilidade diferente, o que acaba tornando irrelevante a escolha do personagem.
No mais, eles se movem de maneira rápida e dinâmica. Como a dificuldade até que é branda no geral, é bem comum progredir pelos estágios de forma intuitiva. Também existem diversos locais secretos, que escondem colecionáveis, baús de frutas e portais para desafios bônus. No terceiro e último conjunto de fases, transpor os obstáculos exige um pouco mais de precisão e atenção, o que é ótimo para que a curva de dificuldade não seja simples demais, ao ponto de se tornar monótona.
Por fim, no final de cada uma das três áreas, temos uma espécie de embate contra o espírito maligno do sarcófago. Devemos persegui-lo pelo cenário até encurralá-lo, e aí é só encher a cara dele de porrada, apertando os botões repetidamente até uma das pedras da sua coroa cair. E sim, esta é mais uma inspiração descarada de DKC Returns, o que nem de longe é ruim. Por falar em referências, outra fonte que é claramente notada na mecânica das fases é Yooka-Laylee and the Impossible Lair (Multi), principalmente na parte das áreas escondidas e portas que só abrem com uma batida de cauda.
Se o design geral é bastante convidativo, o mesmo não se pode dizer dos colecionáveis. Cada fase contém cinco penas coloridas, algumas em locais óbvios e outras mais fora de vista, que servem para abrir estágios bônus. Eles são mais desafiadores, só que não influenciam na conclusão da aventura e são poucos, apenas três. Além disso, os já citados Dojos nada mais são que os mesmos desafios que encontramos nos cantos secretos de cada fase, então eles são bem repetitivos e escassos, somando seis ao todo.
Agora, caso haja aquela necessidade de conseguir todas as conquistas, é possível completar cada um dos estágios (normais e extras), Dojos e lutas contra o chefe em uma corrida contra o tempo. A tarefa em si é tranquila, pois assim que se aprende as mecânicas do jogo como um todo, tudo vira um passeio bem leve. Entretanto, essas provas de velocidade guardam algumas peculiaridades.
Na aventura normal, podemos escolher entre três níveis de dificuldade, o que influencia no nosso número de corações: caso optemos pelo nível mais fácil, só perdemos uma vida se cairmos em um buraco, mas de resto, danos causados por espinhos e inimigos não são contabilizados; no médio, possuímos três corações e se os perdemos, uma vida vai embora; o mesmo vale para o difícil, só que com um coração a menos. Ganhamos uma vida a cada 100 frutas coletadas e independentemente do nível escolhido, é muito fácil acumular 99, então a dificuldade escolhida não chega a preocupar tanto.
Já nas provas de tempo, teremos três corações, seja qual for a dificuldade, e perdê-los nos leva de volta ao último checkpoint, ou até mesmo ao início da fase, e o relógio não para. Esse fator aumenta consideravelmente o desafio proposto, o que é ótimo, porém também revela um pequeno problema de desempenho quando muitos elementos estão ao mesmo tempo no cenário.
Quando recomeçamos muitas vezes um determinado estágio — no caso da nossa análise, o último estágio bônus — começam a ocorrer alguns slowdowns e os comandos já não respondem com a mesma prontidão do começo. Esse problema foi resolvido após retornarmos ao menu principal e selecionarmos a fase em questão de novo, mas ainda assim é algo que merece uma atenção melhor, pois atrapalha a experiência.
Caso as habilidades do jogador estejam afiadas, é possível obter os 100% em menos de quatro horas. E sim, isso inclui fechar todas as 28 fases duas vezes e ainda coletar tudo possível, o que é satisfatório para quem quer jogar tranquilamente, mas pouco para quem busca um desafio mais agudo.
Entre hoobas e oubas
Marsupilami: Hoobadventure é divertido, alegre, cativante e um ótimo título para quem quer uma experiência leve, que não exija tantos reflexos assim. Entretanto, não custava nada dar um pouco mais de personalidade às cutscenes e aos personagens, que vêm de um universo tão rico. Erros de desempenho e repetitividade existem, mas por acontecerem em momentos mais isolados, não conseguem atrapalhar tanto a qualidade da aventura.
Prós
- Fases muito bacanas e bem-estruturadas;
- Visuais coloridos e charmosos, lembrando um desenho animado;
- Jogabilidade precisa;
- Trilha sonora divertida.
Contras
- O jogo em si é bem curto;
- Não há diferença entre os personagens disponíveis;
- Alguns problemas de desempenho pontuais;
- A história é mal-apresentada e não aproveita o universo do personagem;
- Os Dojos são bem repetitivos.
Marsupilami: Hoobadventure — PC/PS4/Switch/XBO — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Microids