Análise: NeoGeo Pocket Color Selection Vol. 1 Steam Edition traz os clássicos do portátil da SNK para seu PC

Uma coletânea sólida com dez jogos divertidos e variados.

em 20/10/2021

O NeoGeo Pocket Color é um excelente portátil, comercializado entre 1999 e 2001, com especificações técnicas de ponta e concebido para concorrer com o Game Boy Color. Como sabemos, o console da Nintendo levou a melhor e, infelizmente, o pequeno aparelho da SNK ficou muito pouco conhecido, sobretudo no Brasil.

Apesar de relativamente desconhecido, o NGPC possui uma excelente biblioteca, fruto das maravilhosas franquias da SNK. Essas pérolas ficaram fora do alcance do público geral, pelo menos até recentemente. NeoGeo Pocket Color Selection Vol. 1 Steam Edition (PC) vem resgatar esses jogos incríveis para PC gamers e mostrar a inventividade dos desenvolvedores da SNK daquele período, em que conseguiram traduzir a essência de jogos complexos do sistema MVS/AES para um hardware pequeno e compacto.
Hora de detonar!

A escalação da seleção

A coletânea reúne dez bons títulos de diferentes categorias, mostrando que a biblioteca do console não é composta unicamente por jogos de luta. Temos representantes de esportes (Big Tournament Golf), labirinto (Crush Roller), ação com elementos de RPG (Dark Arms: Beast Buster 1999) e dois shooters (Metal Slug 1st Mission e Metal Slug 2nd Mission).

No gênero luta temos: Fatal Fury: First Contact, SNK Gals’ Fighters, King of Fighters R-2, Samurai Shodown! 2 e The Last Blade: Beyond the Destiny. Nessa categoria, está faltando um representante importante na versão para Steam, mas falarei sobre isso mais detalhadamente na seção onde abordo as diferenças entre PC e Switch.

Big Tournament Golf

É o único representante do gênero esporte nessa coleção, que por algum motivo aparece com o título da versão japonesa, independente da opção de idioma escolhida pelo jogador. Essa é a versão pocket de Neo Turf Masters (o nome ocidental) para consoles e arcades NeoGeo, embora sua jogabilidade seja muito mais parecida com Major Title, provavelmente porque foi desenvolvido por uma equipe de ex-funcionários da Irem. É possível selecionar entre golfistas de diversos países, inclusive um brasileiro, Fernando Almeida, o mais forte e difícil de dominar. A jogabilidade é super básica, mas bastante divertida, lembrando muito os joguinhos de golfe que acompanhavam celulares antigos dos anos 2000.
Big Tournament Golf: interface super simples, mas divertido!
Crush Roller

Nesse jogo de labirinto, você é um pincel que deve cobrir todas as ruas de um mapa com tinta enquanto é perseguido implacavelmente por fantasmas. Existem rolos de tinta no cenário que podem ser usados para atropelar seus algozes, derrotando-os temporariamente. Embora a jogabilidade pareça bastante com Pac-Man (Multi), a principal diferença é que os rolos de power-up são reutilizáveis, gerando estratégias muito dinâmicas para driblar e contra-atacar seus inimigos.

Alguns animais aparecem para atrapalhar seu trabalho, pisando na tinta fresca e deixando pegadas, que precisam ser apagadas para que o estágio possa ser concluído. Por outro lado, se você conseguir pintar os intrusos, receberá um grande bônus na pontuação. É um jogo extremamente viciante.
Crush Roller, super viciante
Dark Arms: Beast Buster 1999

Dark Arms: Beast Buster é um curioso spin-off de um arcade de terror com pistolas de luz, lançado dez anos antes. No portátil, o formato foi alterado para ação com elementos de RPG em que devemos explorar dungeons e destruir monstros para coletar suas almas. A energia espiritual coletada serve como matéria prima para criar e evoluir novas armas.

O uso do equipamento é limitado por uma barra de energia, portanto não dá pra sair atacando indiscriminadamente. O arsenal é bastante variado e uma das partes essenciais da estratégia é saber que tipo de arma devemos utilizar contra cada inimigo, o que nos leva à experimentação. O sistema de aprimoramento das armas confere um senso de progressão bastante marcante.
Dark Arms: Beast Buster 1999: ambientação sinistra
Fatal Fury: First Contact

Versão portátil de Real Bout Fatal Fury 2 (Arcade/NeoGeo), que traz os mesmos comandos e golpes especiais do irmão maior, mas com metade dos personagens. Para compensar, possui dois lutadores desbloqueáveis, Alfred e Lao. O pequeno elenco talvez seja o maior defeito desse título.

A jogabilidade é ágil, com combos de fácil execução, movimentação fluida e que trouxe as mecânicas aéreas e o sistema de Break Shots (contra-ataque com especial durante um bloqueio) característicos de Real Bout. Faltou, porém, o sistema de movimentação em dois planos, um dos diferenciais da série Fatal Fury.
Fatal Fury: First Contact: Poucos personagens, mas muita ação
SNK Gals’ Fighters

Dentre os títulos de luta presentes nessa coleção, SNK Gals’ Fighters é o mais original, pois não é uma versão de uma série já existente nos arcades. Sua premissa é curiosa: lutadoras de diferentes realidades do universo SNK se enfrentam no torneio Queen of Fighters, organizado pela misteriosa “Miss X”, que na verdade é o Iori disfarçado de mulher. O prêmio para a vencedora é o K’ Talisman, um objeto mágico que pode realizar qualquer desejo. Outra diferença é o clima de humor descontraído e os especiais com visuais extravagantes e divertidos.

O grande barato de Gal’s Fighters, além do seu inegável carisma, está no encontro de diferentes mecânicas das séries KOF, Samurai Shodown, Fatal Fury e The Last Blade. Também é muito legal chegar ao final com todas as personagens para conferir qual é o desejo que elas querem realizar com o K’ Talisman - alguns desfechos são hilários. É um jogo divertidíssimo e indispensável do NGPC.
SNK Gal's Fighters: realizando desejos... ou não!
King of Fighters R-2

Essa é a versão pocket do aclamado The King of Fighters 98 (Multi), conseguindo traduzir de forma impressionante a jogabilidade, arte e trilha sonora de um jogo tão complexo para o limitado hardware do NGPC. É também uma evolução do antecessor King of Fighters R-1 (NGP), que não possuía cores e tinha a jogabilidade um pouco menos refinada.

O diferencial da série King of Fighters é seu sistema de combate em trios, que garante boa variação na jogabilidade em uma única partida. As mecânicas são idênticas às de KOF98, incluindo os modos Extra e Advanced, Super Moves e Desperation Moves. Para os novatos, há um modo simplificado que torna os comandos especiais muito mais acessíveis: basta segurar o D-Pad em uma direção e apertar o botão de soco ou chute.

O Making Mode, sistema no qual você podia criar e customizar um personagem com diferentes ataques e acessórios, infelizmente, não está presente nessa coletânea. É uma pena, pois na versão avulsa do jogo (disponível para Switch) essa mecânica é funcional.

O vasto elenco de 23 personagens, com jogabilidade apurada e todas as nuances estratégicas de KOF98, além de artisticamente caprichado, fazem de King of Fighters R-2 um dos melhores jogos do NGPC e o meu jogo favorito dessa coletânea.
King of Fighters R-2: lutas em trios
Metal Slug 1st Mission

O run and gun de ação horizontal da SNK também marcou sua presença no portátil, trazendo elementos tradicionais da série, mas com uma personalidade própria. O número de missões é muito maior (dezessete, enquanto o padrão da franquia costuma ser de cinco ou seis) e temos uma barra de vida para registrar a quantidade de tiros que podemos tomar.

Começamos o jogo a pé, e mais adiante temos acesso ao tradicional tanque SV-001 e ao caça Slug Flyer, cada um com controles e jogabilidade próprios. No portátil não existe a possibilidade de sair do tanque para atacar a pé.

Dos jogos dessa coleção, foi o que mais apresentou problemas técnicos, com pequenas quedas de fps em alguns momentos, o que é estranho considerando-se que o hardware de um PC moderno é imensamente mais poderoso que o NeoGeo Pocket.
Metal Slug 1st Mission: A essência de Metal Slug, incluindo quedas de fps
Metal Slug 2nd Mission

A sequência de Metal Slug 1st Mission trouxe diversas melhorias em relação ao seu antecessor. Os gráficos são mais coloridos, temos vozes digitalizadas, os controles são mais responsivos e a animação é mais fluida. Surpreendentemente, esse jogo não apresenta tantos problemas de quedas de fps quanto seu antecessor, ainda que seja mais complexo.

Podemos escolher entre dois personagens no início, cada um deles com sua própria campanha e armas exclusivas, além de um terceiro personagem secreto desbloqueável. Se a quantidade de estágios já impressionava em 1st Mission, aqui temos mais que o dobro: são trinta e oito fases mais oito time-attacks.

A forma de arremessar granadas também mudou: como o NGPC tem somente dois botões de ação, no primeiro jogo era necessário alterar o tipo de arma com o botão de Opções e depois arremessar com o botão de tiro. Agora o botão de Opções arremessa a granada diretamente, o que faz muito mais sentido. É um jogo excelente, com ótimo fator replay.
Metal Slug 2nd Mission: melhor jogabilidade, mais missões.
Samurai Shodown! 2

Sequência do primeiro Samurai Shodown! (NGP), agora com cores e jogabilidade muito mais fluida, já que seu antecessor era bastante travadão. Baseado em Samurai Shodown 64: Warriors Rage (Arcade), traduziu surpreendentemente bem as mecânicas do irmão maior para o sistema 2D e, de quebra, trouxe dois personagens a mais: Jubei e Charlotte.

Estão presentes os tradicionais sistemas Slash e Bust do arcade, mas com uma mecânica original: cartas colecionáveis que podem ser “equipadas” no personagem para aumentar atributos ou acrescentar movimentos especiais, que tem animações próprias e são muito bonitos visualmente, além de super fortes. Colecionar as cartas especiais acrescenta um imenso fator de rejogabilidade.
Samurai Shodown! 2: aprimorando o antecessor.

The Last Blade: Beyond the Destiny

Esse jogo é uma amálgama dos dois The Last Blade existentes para arcades e consoles NeoGeo. Por envolver lutas com espadas e o período histórico do Bakumatsu japonês, pode parecer com o universo de Samurai Shodown, mas é muito mais “realista”, embora também possua elementos fantásticos.

Suas lutas são bastante técnicas, baseadas em estudar o oponente e realizar bloqueios e contra-ataques precisos, sendo relativamente difícil de dominar, para os padrões dos jogos de luta do NGPC. A jogabilidade mais exigente de The Last Blade: Beyond the Destiny é, sem dúvida, o seu maior diferencial, além de que a arte e a trilha sonora são espetaculares e impressionantes, considerando o hardware de origem.

Foi o último jogo de luta produzido para o NeoGeo Pocket Color e pouquíssimos cartuchos da versão ocidental foram produzidos, pois o console já estava encerrando seu ciclo de vida. Quando encontram uma unidade à venda, os colecionadores a disputam aos tapas. Poder apreciar essa raridade de forma oficial chega a parecer um privilégio.
The Last Blade: Beyond the Destiny - uma raridade ao seu alcance.

Cesta básica

NeoGeo Pocket Color Selection Vol.1 Steam Edition tem uma interface extremamente simples, talvez até demais. Sequer possui uma animação de apresentação, entrando direto na tela de seleção de jogos. Cada título vem acompanhado de manuais completos, nas versões japonesa e ocidental. Os manuais podem ser consultados e ampliados para melhor visualização e leitura.

Ao destacar um jogo, são exibidas informações sobre nome, gênero e data de lançamento. Ao selecioná-lo ficam disponíveis opções, como idioma japonês ou inglês, que além de alterar a versão do jogo, também muda as artes da etiqueta do cartucho, da caixa e o conteúdo do manual. É possível apreciar as caixas dos jogos e seus cartuchos em modelos 3D que podem ser manipulados, rotacionados livremente e aproximados para conferir detalhes.
É possível admirar as caixas e cartuchos em modelos 3D.
Também podemos selecionar o tipo de aparelho que rodará o cartucho. Temos a opção do NeoGeo Pocket original, que rodará os jogos em preto e branco, NeoGeo Pocket Color e New Color. Vale notar que alguns jogos, como The Last Blade e SNK Gal’s Fighters não são compatíveis com o console mais antigo.

Para a visualização podemos escolher filtros que simulam o pixelado do hardware original. Também podemos usar uma moldura com a aparência de qualquer versão e cor dos diversos modelos existentes do portátil. É possível ajustar o zoom livremente, mas não existe a opção de preencher toda a tela com o formato “esticado”, algo que eu particularmente acho que ficaria horrível num monitor de computador.

Há também um recurso que permite rebobinar para qualquer ponto nos últimos dez segundos de gameplay, algo que confesso ser bastante conveniente para sobreviver às dezenas de missões de Metal Slug.

Ainda assim, considero este produto um tanto pobre em recursos. Já que boa parte de seu apelo é funcionar como uma “coleção virtual”, desperdiçou a oportunidade de trazer funções interessantes como modelos 3D rotacionáveis dos consoles, tal qual fizeram com os cartuchos e caixinhas.
Manuais completos dos jogos, nas versões japonesa e ocidental.
Poderia conter também um pouco mais de informação a respeito do desenvolvimento de cada jogo, uma galeria de artes conceituais ou notas dos desenvolvedores e não apenas o nome e a data de lançamento. Faltam também recursos simples, como savestates e avanço rápido, bastante comuns em emuladores.

O emulador apresenta os jogos exatamente como eram no console original, sem nenhuma alteração, atualização ou melhoria. Outras coletâneas retrô costumam trazer mais recursos, como a Sega Genesis Collection (Multi), que conta com retroachievements, Modo Espelho (que inverte a tela, acrescentando um desafio maior para jogos que você já dominou) e savestate com quatro posições para cada título.

Capcom Arcade Stadium (Multi) é outra coletânea que traz recursos extras, como configurar a velocidade do gameplay, salvar e restaurar jogos em qualquer ponto, comparar seus scores com placares mundiais e alterar opções específicas de jogabilidade como quantidade de vidas, bombas ou invencibilidade, recursos que não estavam disponíveis nos arcades originais.

Para mim, esses exemplos fazem a coletânea da SNK parecer um trabalho um pouco simples demais, mostrando que é possível oferecer novos recursos para incrementar a experiência do usuário sem comprometer a fidelidade à jogabilidade original dos títulos.

Diferenças entre a versão de PC e Switch - um Crush no lugar do Match

Curiosamente, as versões para Steam e Switch de NeoGeo Pocket Color Selection Vol. 1 não trazem a mesma biblioteca de jogos. SNK Vs. Capcom: The Match of Millenium, que está presente na versão para Switch, foi substituído por Crush Roller na versão para PC.

Crush Roller é um jogo divertido, sem dúvida, porém a troca me parece desvantajosa para o consumidor, já que Match of the Millenium é um dos melhores jogos do NGPC. Os jogadores de PC que queiram esse título terão que comprá-lo de forma avulsa. Também é ruim para jogadores de Switch que queiram Crush Roller, pois ele ainda não é oferecido para compra individual em nenhuma plataforma.

A biblioteca da Steam Edition.
NGPC Selection é compatível com o recurso Steam Remote Play, que permite que dois amigos possam jogar remotamente como se estivessem sentados no mesmo computador. No Switch não há essa possibilidade, portanto o multiplayer online só é possível no PC. Por outro lado, o híbrido da Nintendo permite multiplayer local em sistema cocktail, em que os jogadores ficam de frente um para o outro, com o console reproduzindo telas espelhadas. 

No Switch você pode desfrutar da coleção em um hardware com formato semelhante ao console de origem, oferecendo uma experiência muito próxima daquela planejada pelos desenvolvedores da SNK. Na versão PC isso só é possível usando o Steam Deck ou através do aplicativo Steam Link e um celular com controle, mas configurar isso é mais trabalhoso do que no Switch, que já vem com tudo pronto.

Essa questão do form factor traz uma diferença estética na usabilidade entre as plataformas: no Switch essa coletânea parece ter uma aparência melhor porque a tela do híbrido da Nintendo é pequena, mais adequada para a resolução de 160 x 152 (ou 256 x 256 virtuais) do NGPC. Já no PC, a baixa resolução pode causar estranheza em monitores grandes. É um pouco menos feio se jogado em modo janela, mas aí você fica com uma tela grande na sua frente e usando apenas uma pequena parte, “desperdiçando” o resto do monitor.
A tela útil em si é bem pequena, a maior parte do monitor é desperdiçada.

Dez em Um

NeoGeo Pocket Color Selection Vol. 1 é uma coleção interessante e variada com ótimos jogos do portátil da SNK. É um produto que certamente agradará entusiastas retrô e apreciadores de portáteis, com potencial para agradar um público mais amplo, especialmente jogadores casuais, dada a natureza simples e “direta ao ponto” dos jogos presentes. Embora seja um tanto pobre em recursos e pese a ausência de SNK Vs. Capcom: The Match of Millenium, a qualidade da coletânea garantirá muita diversão. Fico curioso para saber como seria a sensação de jogar esse título em um Steam Deck.

Prós

  • Seleção variada com boa curadoria de títulos;
  • Jogabilidade excelente na maioria dos jogos;
  • Recursos voltados a colecionadores retrô, como visualização de manuais, caixas e cartuchos;
  • Grande fator replay.

Contras

  • Oferece poucos recursos extras;
  • Jogos em baixa resolução não ficam tão bem em monitores grandes;
  • SNK Vs. Capcom: The Match of the Millenium ficou de fora do pacote para PC.
NeoGeo Pocket Color Selection Vol. 1 Steam Edition - PC - Nota: 8.0
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela SNK

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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