Análise: Axiom Verge 2 (Multi) mescla solidão e diversão em um excelente metroidvania

Sequência do aclamado jogo indie de 2015 é uma das melhores surpresas de 2021 e um título indispensável para fãs do gênero.

em 02/09/2021
O tempo realmente voa, não é? Parece que foi ontem que eu li a notícia do lançamento de Axiom Verge (Multi). Lançada originalmente para PlayStation 4 e posteriormente adaptada para outras plataformas, a obra do desenvolvedor Thomas Happ foi merecidamente reconhecida por crítica e público como um dos mais interessantes jogos independentes da geração, bem como uma bela e sucinta carta de amor às raízes da franquia Metroid.


Agora, pouco mais de seis anos depois, finalmente temos a oportunidade de jogar a sua sequência Axiom Verge 2, que apresenta um novo universo, novas ameaças e uma nova protagonista. Mas será que essa longa espera valeu a pena, afinal? Prepare o seu instinto de exploração e confira conosco em nossa análise!

Conglomerados internacionais

Em Axiom Verge 2, assumimos o controle de Indra Chaudhari, fundadora e CEO do conglomerado de tecnologia Globe. A principal concorrente de Chaudhari era a brilhante cientista Elizabeth Hammond, que em 2007 revolucionou o mundo como o conhecemos ao inventar o primeiro “Ansible”, um comunicador superliminal. Com os Ansible, a computação de latência zero se tornou um padrão, e a Hammond Corp. uma referência mundial.

Porém, em 2053, uma tragédia sem explicação ocorrida na Estação Jones na Antártida resultou no desaparecimento de uma equipe de pesquisa inteira liderada pela Hammond Corp. Elizabeth estava entre eles, e assim como os outros pesquisadores sitiados no local, nunca mais foi vista novamente. 

Sem sua CEO e visionária, a empresa entrou em processo de falência, o que levou à sua aquisição majoritária por Indra Chaudhari. Livre de sua principal concorrente no mercado, nossa protagonista acaba por angariar o protótipo do Ansible original de Hammond durante as negociações. Ao ligá-lo, porém, ela depara-se com a seguinte mensagem enigmática: “Venha para a Antártida se quiser ver sua filha novamente”.

Como a Estação Jones passara a ser propriedade do conglomerado Globe durante as negociações de aquisição, Chaudhari decide ir pessoalmente até o local onde no passado ocorreram os desaparecimentos para investigar quem enviou tal mensagem. E, assim, começa a nossa jornada…

Explorar e explorar

Caso você não tenha jogado o primeiro Axiom Verge, não se preocupe: apesar do “2” em seu título, a história de Indra não é uma sequência direta, de modo que pode ser vivenciada tanto antes quanto depois da primeira aventura sem problemas. Jogadores veteranos logicamente conseguirão estabelecer conexões entre as obras com mais facilidade, mas novatos na franquia não se sentirão perdidos em nenhum momento.

Assim como o primeiro jogo, Axiom Verge 2 é um metroidvania. Isso significa que caberá ao jogador — assim como nos jogos clássicos das franquias que deram origem ao termo — explorar um grande mapa bidimensional com áreas interconectadas. Como de praxe, algumas dessas áreas não são acessíveis inicialmente, mas isso é facilmente resolvido quando se obtém novos itens ou recursos, o que ajuda a fornecer a sensação de constante progressão.

Uma crítica relativamente comum aos jogos desse subgênero é que é fácil se sentir “perdido” quando não há pistas indicando o caminho correto a seguir. Aqui, isso não acontecerá — logo nos primeiros minutos, Indra consegue uma bússola, que indica de modo bem sutil pontos de interesse no mapa.

Mas, longe de ser algo que mine o desafio do título, a presença da bússola é um singelo recurso indicativo do incentivo de Axiom Verge 2 à exploração. Lembro-me de ter lido uma entrevista na qual Thomas Happ declarava The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Wii U/Switch) como uma das inspirações para este título, e é possível de fato sentir uma certa influência nesse quesito. O mapa deste jogo é consideravelmente mais “aberto” que o de outros metroidvanias, de modo que decidir por explorar outros caminhos acaba trazendo, de modo bem interessante, recompensas e surpresas para o jogador.

Ainda nesse assunto, algo que chamou a minha atenção particularmente foi a “velocidade” com que Indra “monta” seu arsenal. Com poucas horas de jogo, já é possível ter acesso a itens úteis e bem distintos entre si. Na prática, isso significa que, ao apresentar diversos recursos constantemente, Axiom Verge 2 não dá espaço à monotonia e marasmo que, por vezes, prejudicam outros jogos de seu estilo. Ponto muito positivo.

Neve e melancolia

Já ao desembarcar na Antártida virtual do jogo, fica clara a atmosfera de melancolia e solidão do título. Pra mim, esse é um dos pontos mais fortes de Axiom Verge 2, e é muito legal observar como os belos cenários em pixel art e a impressionante trilha sonora com suas sonoridades pentatônicas e gregorianas contribuem para criar o clima inóspito da aventura de Indra.

Assim como a protagonista, sabemos que há algo errado. Algo estranho aconteceu nessa ilha há muito tempo, e a cada novo passo fica claro que aquela mensagem inicial não chegou no Ansible por acaso. Sem entrar no campo dos spoilers, confesso que senti até alívio quando encontrei outro ser virtual no mundo do jogo, o que é um claro indício da imersão proporcionada pela obra.

A narrativa é contada através de diálogos, acontecimentos e pequenos excertos de diários e notícias encontrados aqui e ali. Há sempre a sensação de que algo grandioso vai acontecer a qualquer momento, e isso se torna um fator motivante para a constante exploração e investigação. 

Voltando a falar de spoilers, o melhor aqui na minha opinião é que você evite ao máximo obter informações reveladoras de Axiom Verge 2 antes de jogar. Assim, tanto as mecânicas aprendidas como o segredo por trás do desaparecimento de Elizabeth terão um impacto maior. Porém, preciso falar daquele que é, na minha opinião, o grande ponto fraco do jogo.

Combate robotizado

Ao contrário de muitos outros metroidvanias, nos quais chefes e outros inimigos funcionam quase como ritos de passagem, em Axiom Verge 2, é possível “pular” a maior parte dos confrontos. Infelizmente, porém, essa escolha criativa acaba funcionando como um indicativo de que esse sistema do jogo não funciona como deveria.

Como não há um sistema de níveis e a progressão é feita por meio de itens que são obtidos em sua maioria via exploração, grande parte dos embates se resume a apertar os botões das ferramentas o mais rápido possível, até que os inimigos caiam.

Até aí, tudo bem, correto? Não muito, porque há aqui um problema de design que julgo considerável. Diferentemente do primeiro título, a maior parte das suas armas efetivas terá curto alcance, como o machado de quebrar gelo que é obtido no início do jogo. Porém, grande parte dos inimigos pode voar ou flutuar. Isso leva a diversas situações não lá muito divertidas, nas quais você estará se esforçando para pular e alcançar uma plataforma só para poder acertar os adversários. 

Por experiência própria, na maior parte do tempo, não vale o esforço. Confesso que acabei evitando entrar no radar dos robôs muitas vezes para evitar essas situações, e até os confrontos mais épicos perderam um pouco seu encanto natural. Como dito, teríamos um panorama diferente se houvesse aqui uma progressão baseada em combate, mas não é o caso.

Então, fica o aviso aos jogadores que prefiram jogos com mais ação. A boa notícia é que mesmo essa falha não é o suficiente para ofuscar o brilho gerado pelas outras qualidades de Axiom Verge 2. No fim das contas, a impressão que perdura — até pelo recurso da bússola e pelo foco na exploração — é que o desenvolvedor optou por criar uma experiência mais acessível, mesmo para aqueles jogadores que não tenham muito apreço por metroidvanias.

Essa percepção é reforçada pelo fato de que é possível, na guia acessibilidade, alterar livremente o multiplicador de dano dos inimigos e do jogador, bem como a velocidade geral do jogo. Particularmente, faço questão de elogiar a implementação desses recursos, porque, por diversos motivos, nem todo mundo pode ou gosta de jogar os jogos da mesma forma, e incluir a possibilidade de ajustar certos parâmetros pode tornar uma grande experiência — como é o caso deste jogo — uma experiência ainda melhor nesses casos.

Por fim, é sempre bom relatar que não foram percebidos bugs ou crashes durante as sessões jogadas para análise. Com os requerimentos de hardware relativamente baixos no caso da versão de PC, esta também é, em tese, uma obra que pode ser apreciada por uma grande parte dos jogadores, e não só por aqueles que detenham máquinas superpoderosas.

A constante busca pela verdade

Axiom Verge 2 é um daqueles casos felizes onde a espera valeu a pena. Temos aqui uma sequência distinta do primeiro jogo, na qual as mecânicas de exploração e recompensa são capazes de proporcionar momentos ímpares. Seu sistema de combate poderia ter sido melhor trabalhado, mas eventuais percalços nesse quesito não são o suficiente para manchar uma obra que deve ser experimentada por todo jogador que se diga fã de metroidvanias. Aqui está um título que mescla o clássico e o moderno com maestria, e somente a sua ambientação já valeria o ingresso de admissão. Recomendado.

Prós

  • Belíssima estética em pixel art;
  • Trilha sonora em chiptune impecável;
  • Consegue transmitir perfeitamente as sensações pretendidas de melancolia e solidão;
  • Liberdade de exploração;
  • Sistemas de acessibilidade garantem que jogadores menos experientes não encontrarão impeditivos para diversão;
  • Baixos requerimentos de hardware;
  • Modo Speedrun irá agradar jogadores mais hardcore;
  • Suporte a português brasileiro.

Contras

  • Pouca ênfase nos sistemas de combate pode não agradar jogadores que gostem de títulos com mais ação;
  • Poderia contar com níveis fixos de dificuldade para jogadores mais hardcore.
Axiom Verge 2 — PC/PS4/Switch — Nota: 9.0 
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thomas Happ Games

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