Análise: Xuan Yuan Sword 7 (Multi) é um RPG de ação chinês com uma história e atmosfera muito envolventes

O mais novo jogo da clássica série de RPGs chineses marca o primeiro lançamento ocidental da franquia nos consoles.

em 30/09/2021
Apesar dos RPGs japoneses serem bastante conhecidos, as obras do gênero advindas de outros países orientais não costumam receber a mesma atenção em termos de experiências single player offline. Xuan Yuan Sword, também conhecida como Xuan-Yuan Jian, é uma franquia de RPGs chineses da DOMO Studio cujos jogos são desenvolvidos desde 1990.

Baseada em elementos da história, cultura e mitologia chinesas, a série é considerada um clássico no Oriente. No Ocidente, porém, a história é outra. Xuan Yuan Sword 7 é o primeiro título a chegar aos consoles em inglês, e seu lançamento é precedido apenas pelo spin-off Xuan Yuan Sword: The Gate of Firmament (PC).

Entre humanos e mitos

Xuan Yuan Sword 7 conta a história do jovem Taishi Zhao. Quando ainda era muito novo, o menino acaba sendo forçado a fugir às pressas da mansão com sua irmã mais nova. Após ver a morte de seus pais e a casa em que moravam pegando fogo, ele acaba sendo forçado a sustentar a si mesmo e a única integrante que resta da sua família.

Vários anos após o incidente, a história mostra como Zhao se tornou um modesto caçador. Humilde, o rapaz realiza uma variedade de pequenos trabalhos com o intuito de apenas obter dinheiro suficiente para adquirir remédios para tratar a doença de sua irmã. No entanto, essa vida pacata acaba quando a garota é atingida em um confronto.

Presa entre a vida e a morte, Taishi Xiang agora tem um destino incerto. Salvá-la é a motivação para a jornada de Zhao. Sem entrar em muitos detalhes, gostaria de destacar que é bem interessante como a história se desenvolve. Trata-se de um jogo que sabe explorar o contexto social da época, assim como elementos de mitologia e cultura locais, para proporcionar uma experiência narrativa com momentos bem impactantes.

Em particular, as relações entre os personagens são muito bem desenvolvidas. A história trabalha muito bem esse contexto de microcosmo, com personagens carismáticos cujas reações costumam ser bem críveis. Em particular, os membros da equipe principal (composta por Zhao, Xiang e uma terceira personagem) possuem uma relação bem forte.

E isso não vale apenas para a história principal, mas também para momentos mais mundanos. Ao interagir com fogueiras, o jogador pode escolher descansar, abrindo cenas de diálogo que poderiam ser consideradas banais. Porém, elas ajudam a dar vida aos personagens, demonstrando o relacionamento entre eles de forma mais detalhada, assim como suas histórias pessoais e algumas lendas regionais.

As side quests também são bem interessantes. Elas não passam a impressão de serem apenas missões para cumprir tabela de coisas opcionais. Pelo contrário, são atividades que agregam ainda mais valor ao mundo do jogo, especialmente para compreender melhor a vida de outras pessoas na época e os impactos que os eventos da história trazem para elas.

Infelizmente, é importante destacar que alguns trechos da história acabam sofrendo cortes abruptos ou ficando mal explicados devido a saltos lógicos. Não é o suficiente para quebrar a experiência, mas enfraquece momentos que poderiam ser melhores se a apresentação deles fosse um pouco mais cuidadosa. Nesse sentido também, o jogo é relativamente curto para o gênero, sendo possível terminar a história principal em menos de 10 horas e caberia pelo menos um detalhamento maior em algumas cenas.

Após terminar a história, o jogador também tem um pós-game focado em refazer a jornada de uma personagem importante da história. Além de ser uma sequência de backtracking tediosa, essa parte do jogo é desnecessária, tendo em vista que esses eventos já haviam sido apresentados de forma adequada durante a narrativa.

Alternando entre posturas de combate

Curiosamente, enquanto a série Xuan Yuan Sword é composta prioritariamente por RPGs baseados em turno, o sétimo título da franquia utiliza um gameplay em estilo ação. Apesar de ter uma equipe e ser possível requisitar um ataque especial das suas duas aliadas, o jogador controla diretamente apenas Taishi Zhao.

Um aspecto fundamental do combate são as posturas de combate. Conforme a história avança, Zhao desbloqueia novas opções que alteram o seu estilo de ataque. Por exemplo, a postura do urso pode usar terremotos para atingir inimigos à distância. Já a postura do tigre envolve sequências de chutes.

Além da postura, o personagem possui um golpe básico ágil com a espada que pode ser utilizado para fazer combos. Em alguns momentos, os inimigos atingidos ficam incapacitados de atacar, mas é importante ficar de olho em hordas e ataques especiais. Mantendo o ritmo de ataques, é possível preencher uma barra que mantém o inimigo paralizado durante um curto período de tempo, sendo possível executar um golpe finalizador. Até mesmo chefes possuem essa barra, mas esse ataque especial acarreta menos dano.

Defender-se dos ataques e desviar também são elementos importantes do combate. Em particular, o jogo conta com uma mecânica de parry que permite causar um counter poderoso. Outros poderes que todas as posturas têm acesso incluem o Elysium Rift, que faz com que tudo fique em câmera lenta durante um curto período de tempo, e a capacidade de aprisionar inimigos em outra dimensão.

Ao utilizar essa segunda habilidade, o jogador pode obter as almas dos monstros derrotados, junto com outros materiais como tecidos e pedras. Esses itens podem ser utilizados no sistema de crafting do jogo para construir novos itens e fortalecer equipamentos, que incluem armas, acessórios e almas equipáveis com poderes variados, como absorver vida derrotando inimigos ou aumentar defesa. Para poder usufruir melhor desse sistema, o jogador precisa gastar alguns dos materiais obtidos para a construção de prédios em Elysium através do menu do jogo.

O gameplay é sólido de forma geral, mas existem alguns pequenos detalhes que incomodam. Em particular, em alguns trechos há buracos nos quais o jogador pode cair. Caso isso aconteça, o game over é instantâneo e o jogador retorna ao último ponto salvo, perdendo todo o progresso até ali. Isso não adiciona nada além de frustração desnecessária ao jogo, tendo em vista que existem outros momentos em que não é possível cair e até mesmo as lutas contra chefes permitem recomeçar sem perda de progresso. A impressão que fica é de uma implementação preguiçosa apenas.

Além disso, há alguns problemas de performance no PS4 base. Durante minha jogatina, pude notar alguns defeitos de animação em determinadas cenas, além de alguns travamentos logo no início do combate. O loading também pode ser longo, mas não é muito comum. De forma geral, não é nada que pese excessivamente contra a experiência.

Um clássico chega ao Ocidente

Xuan Yuan Sword 7 é um RPG com uma história bastante envolvente. Baseado em lendas chinesas, ele oferece uma experiência sólida que consegue provar muito bem porque a série é considerada um clássico no Oriente. Apesar de alguns pequenos defeitos, é um título que qualquer fã do gênero deveria ter a oportunidade de experimentar. Fica a expectativa de que um dia seja possível jogar os outros títulos da franquia em inglês e, quem sabe, em português.

Prós

  • História envolvente;
  • Personagens cujos relacionamentos humanos chamam a atenção;
  • Side quests e diálogos opcionais desenvolvem bem a história e os personagens;
  • Combate sólido com múltiplas posturas.

Contras

  • Cortes abruptos e saltos de lógica enfraquecem alguns momentos da história;
  • Pequenos problemas de performance no PS4 base;
  • Pós-game tedioso focado em refazer a jornada de uma personagem.
Xuan Yuan Sword 7 - PC/PS4/XBO - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela eastasiasoft


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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