Existe um termo em inglês chamado “
guilty pleasures”, que significa algo que você goste, mas que, normalmente, é pouco apreciado e até constrangedor para a maioria. Em bom português, seria o famoso “é ruim, mas é bom”.
Bloodrayne Betrayal: Fresh Bites (Multi) se encaixa nessa categoria para mim, pois, apesar de divertido, tem certos pontos negativos que diminuem o seu apelo geral. Saia do caixão e limpe as presas, pois vamos conhecer esse jogo nesta sanguinolenta análise!
Bombeando sangue novo
Antes de qualquer coisa, é importante explicar que Bloodrayne: Betrayal surgiu lá em 2011 para os consoles PS3 e Xbox 360, com lançamento para PC três anos depois. O jogo é o primeiro em duas dimensões e o terceiro da franquia, que surgiu em 2002 como uma aventura em 3D. Em outras palavras, Fresh Bites é considerado uma remasterização do título de 10 anos atrás.
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Rayne recebe uma nova chance de mostrar seus talentos
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Isso porque, ao contrário de
remakes e
reboots, a experiência original foi mantida praticamente intacta. As novidades são pontuais e basicamente de ordem técnica, embora todas muito bem-vindas: a resolução foi aumentada, podendo chegar até 4K; um novo nível de dificuldade, mais balanceado que o original; nova dublagem, com destaque para os nomes de Laura Bailey e Troy Baker, famosos por seus trabalhos na série The Last of Us, entre tantos outros.
Lançado dia 9 de setembro, Bloodrayne Betrayal: Fresh Bites está disponível para PS4, Xbox One, Switch e PC, além da nova geração via retrocompatibilidade. O game segue a personagem Rayne, uma meia-vampira (também conhecida como
dhampir) que é recrutada pela Sociedade Brimstone para uma perigosa missão em um castelo subterrâneo. Ela precisa investigar o local, onde ocorre uma reunião de mortos-vivos liderada por Kagan, pai da protagonista.
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Prepare-se para um jogo radical e desafiador
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Mesmo tendo algum potencial, o enredo é modestamente explorado e apenas pontua alguns acontecimentos relevantes. Nesses momentos, a boa dublagem se destaca e dá mais vida ao que acontece na tela. Aliás, tudo que está lá é muito bonito, com visuais desenhados à mão de ótima qualidade e bom gosto, incluindo as fartas doses de sangue. Personagens, menus e cenários contam com um estilo gótico e medieval belo e original.
Beber, pular e cortar (não necessariamente nessa ordem)
Bloodrayne Betrayal: Fresh Bites mistura combates do tipo
hack 'n slash com elementos de plataforma. Logo, para completar as 15 fases disponíveis, é preciso avançar pelos cenários atacando inimigos e pulando por obstáculos. Alguns quebra-cabeças simples também aparecem eventualmente, sempre utilizando as mecânicas e habilidades gerais do jogo.
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As lutas são dinâmicas e intensas
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O game não conta com sistema de níveis para Rayne, que adquire alguns recursos pontuais durante a campanha. A meia-vampira pode atacar rapidamente com duas lâminas utilizando vários combos diferentes, embora todos com comandos simples. Ela também pode beber o sangue dos inimigos, recuperando sua própria vida, atirar com sua arma, entre outras habilidades.
Os monstros incluem outros tipos de vampiros, fantasmas, insetos e toda sorte de monstros. A variedade deles poderia ser maior, principalmente porque o jogo introduz os inimigos de forma lenta. Ainda assim, os combates são variados e oferecem desafios divertidos, sobretudo nos chefes do game. As seções de plataforma são igualmente difíceis, exigindo controle nos pulos,
dashes e saltos mortais.
Aliás, esse salto mortal utiliza uma famigerada mecânica popularmente conhecida como jogabilidade “escorregadia”. Embora mais tradicional em jogos antigos, ela eventualmente retorna em títulos novos, como em
Alex Kidd in Miracle World DX (Multi). Basicamente, ela faz com que Rayne derrape ao mudar de direção bruscamente. A questão é que, enquanto ela funciona nos saltos mortais, ela também pode atrapalhar em outros momentos como pulos comuns e combates.
Afiando as presas
O novo nível de dificuldade de Bloodrayne Betrayal: Fresh Bites caiu como uma luva. Com ele, a exigência é considerável; no modo clássico, a experiência é punitiva. Logo, sugiro aos jogadores que fiquem somente no primeiro para terem uma jogatina equilibrada. A campanha do game é relativamente curta, sendo que os únicos atrativos extras são buscar uma pontuação mais alta (terminando a fase rapidamente e detonando tudo pelo caminho) ou procurar por caveiras vermelhas.
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Os chefes são os desafios mais difíceis do game
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Ao encontrar cinco delas, de um total de 50, Rayne pode aumentar sua barra de vida ou obter um cartucho adicional para sua arma. Uma recompensa modesta vista a ausência de melhorias ou customizações, mas certamente bem útil durante as partidas. Alguns inimigos são bem apelões, o que torna os disparos a distância uma alternativa valiosa. Além disso, certas seções das fases exigem pulos precisos em meio a serras, espinhos, poços de ácido e abismos, fazendo valer todos os pedacinhos de vida da heroína.
Essa boa variedade de lutas e obstáculos, que são separadas por
checkpoints essenciais, faz com que Fresh Bites seja sempre atraente, mas não espere muitas novidades ao longo da campanha. As poucas relevantes incluem uma arma solar e uma transformação que, basicamente, são voltadas à exploração e resolução de quebra-cabeças leves. Uma opção interessante é usar o cenário como forma de ataque, lançando inimigos contra serras e poços.
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Algumas partes do game são boas para quebrar o ritmo
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Embora um pouco deficiente, a jogabilidade não compromete todas essas ações do jogador. A dificuldade exigente te leva (quase) sempre a perder por falta de cuidado, deixando aquela vontade de tentar “só mais uma vez”. A boa trilha sonora, que vai de música clássica até heavy metal, permeia de forma competente cada momento, seja nos mais tranquilos, seja em situações críticas.
Brilho sob o luar, sumiço sob o sol
Após terminar o jogo, fiquei com uma sensação de decepção. Não que o game seja ruim, pelo contrário: ele é divertido e desafiador na medida certa. A questão é que, sem conhecer o original, eu criei uma expectativa razoável por Fresh Bites graças aos seus visuais chamativos e jogabilidade dinâmica. Na prática, entretanto, ficou claro que uma mera remasterização de Bloodrayne: Betrayal não foi o suficiente para utilizar o seu potencial.
Obviamente, os produtores seguiram por um caminho seguro e barato, fazendo adições pontuais, sobretudo com a dificuldade balanceada. Essa política acabou minando um jogo que julgo ser muito interessante e que poderia melhorar significativamente com algumas poucas, embora profundas, alterações. As duas mais importantes seriam a presença de mais objetivos legais para continuar jogando e uma jogabilidade aprimorada.
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Pronto para mais uma?
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O “porém” é que essas alterações exigiriam mais que uma simples remasterização, talvez até um remake completo (semelhante a
Onee Chanbara Origin (PC/PS4), por exemplo). Até porque o jogo original nunca foi considerado ótimo, mas apenas divertido para os fãs mais ardorosos do seu gênero e/ou da sua franquia. Fresh Bites, portanto, mantém a mesma proposta, agora com visuais ainda mais afiados, dublagem de qualidade e dificuldade equilibrada.
Faltou mais sangue fresco
Pessoalmente, gostei de
Bloodrayne Betrayal: Fresh Bites: os visuais são ótimos, a mistura de combates
hack and slash com plataforma é divertida e o trabalho de som é competente. Infelizmente, a remasterização precisaria de uma transfusão maior de melhorias, pois no geral ela tem problemas significativos. Os maiores são a pouca quantidade de conteúdo e alguns elementos originais inadequados. No fim, fica a sugestão para quem é compatível com o tipo sanguíneo peculiar do título e consiga extrair dele somente o melhor que ele tem a oferecer.
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Limitado, mas bastante divertido
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Prós
- Mistura de hack and slash e plataforma é bem equilibrada e divertida;
- Visuais desenhados à mão estão ainda mais bonitos e afiados;
- Combate é intuitivo, usando comandos simples para obter combos diferentes;
- Fases são bem variadas e tem um nível de dificuldade adequado;
- Trilha sonora de boa qualidade.
Contras
- Pouco conteúdo e objetivos extras fora da campanha principal;
- Alguns elementos originais, como a jogabilidade “escorregadia”, precisariam ser retrabalhados;
- Variedade de inimigos poderia ser maior.
Bloodrayne Betrayal: Fresh Bites — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia cedida pela Ziggurat