Não é de hoje que jogos modernos bebem de fontes clássicas. Afinal, muitas vezes melhorar a roda pode ser tão interessante quanto reinventá-la, certo? Por outro lado, também é importante ser original e trazer novidades legais.
Trigger Witch é um exemplo perfeito dessa dualidade, com sua aventura que mistura bruxas com armas de fogo em um universo familiar e único. Pegue sua vassoura e não se esqueça do revólver, pois a análise vai começar!
Bem-vindo ao mundo de gatilhos e bruxarias!
Desenvolvido pela Rainbite e publicado pela eastasiasoft, o curioso jogo de RPG
shoot’em up foi lançado em 28 de julho de 2021 para PS4, PS5, XBO, XSX, e (um dia depois) para Nintendo Switch. Trigger Witch estrela a jovem bruxa Collete, que vive em um mundo repleto de elementos fantásticos, como criaturas mágicas e locais misteriosos. A única “discrepância” nesse universo são os equipamentos das feiticeiras: ao invés da tradicional varinha mágica, elas usam armas de fogo.
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Quem vê esses visuais nem espera o que vem pela frente...
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Admito que fiquei muito impressionado com a mistura de elementos e que ela superou minhas expectativas iniciais. Levando em conta essa proposta, a primeira referência que me veio à cabeça foi Bayonetta (Multi), estrelando a bruxa homônima sempre armada até os dentes. A diferença é que no título mais antigo temos um
hack and slash, enquanto aqui temos um jogo de tiro com estrutura de RPG.
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... lutas ferrenhas e repletas de emoção!
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Outra similaridade com o game da Umbra Witch é a violência, com inimigos explodindo ao serem derrotados. Para quem não curte visuais mais sanguinolentos, basta ligar o Piñata Mode e trocar o sangue por confetes coloridos. Um detalhe sutil, mas bem pensado para atender um público maior. O modo multijogador se vale bastante desse recurso, pois, além de divertido e funcional, ele permite jogar com qualquer criança numa boa.
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Jogar com um amigo é uma ótima opção
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Apesar das referências a Bayonetta, a maior inspiração de Trigger Witch certamente é The Legend of Zelda: A Link to the Past (Multi). O jogo bebe generosamente dessa fonte, como veremos a seguir, mas sem perder suas originalidades. Dentre elas, posso citar o bom humor nos diálogos, como nos constantes trocadilhos de termos mágicos e armamentários (ou armamentícios).
Collete de Hyrule
A brincadeira com o subtítulo é mais do que justificada quando olhamos para o estilo visual de Trigger Witch. O visual 2D foi fortemente inspirado em A Link to the Past, um verdadeiro clássico do saudoso SNES. Os primeiros cenários são alguns dos mais parecidos, lembrando a famosa Kakariko Village. Engana-se, entretanto, quem pensa que o jogo é apenas uma mera cópia.
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Mais uma referência: o jogo começa com a protagonista acordando
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O mundo de Evertonia é original e vibrante, com belas ambientações como montanhas geladas, praias e castelos. Não há um só lugar que não seja agradável e encantador, tal como os personagens do game. Sejam inimigos (que poderiam ser um pouquinho mais variados), amigos ou coadjuvantes, todos são interessantes e curiosos.
Assim como nos visuais, o som por trás de Trigger Witch é inspirado por Link to the Past, mas também com uma originalidade mais do que suficiente. Explorar bosques e templos no embalo das melodias divertidas é ótimo, sobretudo quando encontramos inimigos e elas ficam mais radicais e cheias de energia. Os efeitos sonoros também são muito bons e tornam a experiência ainda mais completa.
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Os combates são o ponto alto de Trigger Witch
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A presença de um grande mapa dividido em áreas, a forma com que Collete se desloca e alguns (poucos) segredos espalhados por ele são outras referências ao jogo da Nintendo. Mais uma vez o lançamento tem sucesso em se manter original e até mesmo superar sua inspiração em certos pontos, oferecendo, por exemplo, diálogos mais legais e um bom número de personagens interessantes, como as amigas Remi e Shelly.
História acerta no alvo (ou quase)
A protagonista Collete busca o seu lugar no The Clip, um grupo de feiticeiras adeptas ao Ballisticism (misticismo + balística). Apesar do mundo de Evertonia ser repleto de objetos e criaturas mágicas, as bruxas preferiram aderir ao uso de armas de fogo. A razão da chegada desses objetos, por meio do portal Ordnance Rift, e o porquê dessa mudança é um segredo do enredo, mas adianto que ele funciona bem e é explorado de forma competente.
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Conheça o belo mundo de Evertonia
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A história começa a se mover com a chegada de um misterioso homem em um casaco preto. Sua aparição é ligada aos Nuxvarr Goblins, um povo há muito tempo separado das Ozryn Witches, devido a rusgas relativas à aparição das armas. Depois de se juntar ao seu sonhado grupo, Collete começa a investigar o caso e novos acontecimentos se desenrolam, levando a bruxa a se envolver em uma grande aventura.
A única ressalva a ótima história é o vilão final. Como eu mesmo detesto spoilers, vamos dizer apenas que a opção utilizada ficou deslocada no mundo de Collete. Bastava escolher um personagem genérico e a trama funcionaria da mesma forma, provavelmente até de forma melhor e mais orgânica. Felizmente, isso não fere significativamente o resultado final, que é uma aventura bem fechada e apresentada.
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Os chefes oferecem desafios mais exigentes
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Claro que de nada adiantaria ter uma boa história se a jogabilidade não estivesse no mesmo nível. O título tem sucesso em ambos os quesitos, entregando um sistema de jogo competente e divertido. Collete é controlada por um analógico, enquanto o outro serve como mira para a arma equipada. A bruxa também conta com uma espécie de
dash que ajuda tanto no deslocamento, quanto nas lutas.
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Nada como uma arma nova para lutar e explorar
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Em mais uma referência a um jogo de qualidade, o
shoot’em up de Trigger Witch traz o dinamismo das lutas de Doom Eternal (Multi), com cenários limitados e com muitos inimigos. A precisão nos disparos e a alternância das armas, que incluem escopetas e uzis, precisam ser aliadas a movimentos bem executados e esquivas rápidas. O nível de dificuldade geral não é alto, mas é possível ajustá-lo de acordo com a preferência do jogador.
Atirando e Encantando
Conforme a campanha avança, em vários momentos o jogador pode escolher por qual caminho seguir. Os resultados finais são os mesmos, mas essa liberdade é bastante refrescante e torna a jogatina mais leve e divertida. Os objetivos são claros sem serem fáceis demais, exigindo raciocínio e exploração dos mapas e suas
dungeons. Cada uma delas, aliás, traz novidades em relação às outras, seja na forma de inimigos, seja na forma de quebra-cabeças.
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Mesmo sem serem muito cerebrais, os puzzles são bem interessantes
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Cada arma coletada pode ser melhorada com partes encontradas por todo o jogo. O revólver é a única arma que pode ser recarregada manualmente, com as demais exigindo um tempo de
cooldown. Collete também pode adquirir mapas extras para facilitar a procura de itens. Falando nisso, um dos recursos interessantes de Trigger Witch são as poções, que recuperam completamente a energia da bruxa e são recuperadas conforme os inimigos são derrotados.
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Nenhum game de bruxa estaria completo sem um voo de vassoura
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Cada monstro destruído rende gemas, que são a moeda do jogo. Ela é relativamente abundante, então não existe muita preocupação em decidir como gastar os recursos. Além de quebra-cabeças e lutas, algumas seções do game oferecem desafios no voo de uma vassoura. Esse é mais um exemplo de como o título é variado e divertido, embora tenha uma vida curta.
Faltou mais munição no caldeirão
Particularmente, curti muito a aventura de Trigger Witch e realmente fiquei chateado ao terminar a campanha principal em menos de oito horas. Alguns, possivelmente, devem preferir essas experiências mais enxutas; eu até concordo em certos casos, mas aqui temos uma daquelas ocasiões de potencial desperdiçado. O título não precisaria ter seu enredo ou suas
dungeons alongadas para oferecer mais ao jogador.
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Eu esperava mais dos itens secretos, que se resumem a melhorias para armas
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Embora a história até pudesse abarcar mais acontecimentos, creio que a melhor alternativa (que também é minha segunda e última crítica ao game) seria explorar mais elementos de RPG. O mundo apresentado é rico e bonito, com muitos cenários e personagens diferentes, mas com pouquíssimas missões e objetivos secundários. Os disponíveis até são interessantes, mas curtos e com apelo pequeno no contexto geral.
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Mais minigames, como o divertido pinball, seriam bem-vindos
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Talvez essa tenha sido a única parte de Link to the Past que Trigger Witch tenha errado ao deixar de lado: a quantidade de conteúdo extra fora das missões principais. Eu sei que a comparação direta do título indie é injusta; a ideia aqui é deixar claro que a qualidade de Collete e suas aventuras poderia ter sido ainda mais bem exploradas. Fico na torcida por uma sequência, que poderia elevar a bruxa a outro patamar.
Munição + magia = diversão
Utilizando referências de alto nível, mas sem esquecer de trazer suas próprias qualidades,
Trigger Witch é uma aventura incrível. Misturar bruxas e armas de fogo poderia ser uma aposta arriscada, mas a boa jogabilidade, história divertida e visuais encantadores tornam a experiência uma ótima pedida. Apesar do jogo desperdiçar a oportunidade de oferecer mais ao jogador, ele ainda é uma adição muito recomendada para a sua biblioteca.
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Detone tudo no fantástico mundo de Collete e companhia |
Prós
- Jogo de tiro divertido, que mescla elementos originais e clássicos com maestria;
- Visuais são bonitos e charmosos;
- Universo do game e sua história oferecem uma ótima aventura;
- Jogabilidade funciona bem, com mecânicas de jogo polidas e variadas;
- Trilha sonora é dinâmica e agradável;
- Modo cooperativo torna o jogo ainda melhor.
Contras
- Elementos de RPG relativos a missões secundárias deveriam ter sido mais explorados;
- Arco final do jogo traz um “vilão” desnecessário, que funcionaria melhor se substituído por um personagem genérico.
Trigger Witch — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia cedida pela eastasiasoft