A arte do bumerangue
Definido pelos seus criadores como sendo um First Person Boomeranguer, Boomerang X traz desafios comuns ao gênero de jogos de tiro em primeira pessoa. Mas, como grande peculiaridade, aqui a principal (e única) arma do jogador será um bumerangue especial, herdado de um povo antigo.
Embora essa seja logicamente uma escolha não-convencional, conforme se joga, fica progressivamente mais claro que a escolha dos desenvolvedores por tal ferramenta abre diversas possibilidades in-game que não seriam possíveis com armas, digamos, mais tradicionais, como uma escopeta ou uma pistola. Além de sempre retornar a seu dono, por exemplo, nosso bumerangue mágico pode ser “carregado” para alcançar um lugar mais distante ou acertar mais de um oponente em um único arremesso.
Paralelamente, conforme se avança pelo jogo, são liberadas mais algumas habilidades, como a capacidade de se teleportar instantaneamente para onde o bumerangue está ou de desacelerar o tempo brevemente enquanto se planeja um tiro com a ferramenta em mãos. Do mesmo modo, a realização de proezas, como derrotar inimigos em sequência sem tocar o chão, é recompensada através de bônus temporários, como uma aura de fogo, ampliando ainda mais o leque de opções ofensivas do jogador.
A boa notícia aqui é que, na prática, todas essas ideias funcionam. Após um rápido período de adaptação, é possível se movimentar pelos belos cenários do jogo com muita fluidez, e a variedade de recursos disponíveis permite múltiplas abordagens para diversas situações. Sem dúvidas, o ponto mais forte de Boomerang X é a jogabilidade, e em estágios mais avançados, onde é preciso lidar com vários inimigos ao mesmo tempo e não há muito tempo para pensar, a qualidade e a diversão proporcionada por ela ficam bem aparentes — créditos merecidos aos desenvolvedores.
Arenas e mais arenas
Na prática, Boomerang X é um legítimo representante dos arena shooters, jogos nos quais o objetivo é eliminar todos os inimigos de um determinado espaço fechado para que então o jogador possa prosseguir em sua jornada. Aqui, os confrontos são iniciados ao acertar o grande cristal localizado no centro de cada arena, mas há uma particularidade importante: para triunfar, basta que, dentre todos os adversários, se derrote os destacados no mapa.
Derrotar tais oponentes iniciará automaticamente uma nova onda com mais inimigos marcados, e assim sucessivamente até que se chegue à onda final (normalmente, são sete para cada arena), e se torne possível seguir em frente. Com novos tipos de criaturas sendo introduzidos regularmente, há uma progressão natural em termos de dificuldade, de modo que o jogador precisa se manter constantemente atento para sair bem-sucedido dos embates.
Embora agradável, esse estilo de jogo acaba evidenciando logo cedo algumas das fraquezas de Boomerang X: apesar da belíssima atmosfera e dos interessantes visuais que podem ser vistos nas capturas de tela nesta matéria, não há espaço para praticamente nenhuma exploração entre as arenas do título, de modo que a experiência em geral é extremamente linear.
Embora haja louvável variação dos espaços, que se tornam progressivamente mais verticais, favorecendo sequências espetaculares nas quais você provavelmente acertará arremessos dignos de um ninja sem tocar o chão, basicamente o que se fará aqui é migrar de um coliseu virtual a outro enfrentando cenários e ondas de inimigos cada vez maiores e mais difíceis. Mesmo com os novos recursos sendo concedidos de tempos em tempos por meio de um raso puzzle — o qual também não apresenta modificação em suas aparições, diga-se de passagem —, confesso que não demorou muito para que a sensação de repetição começasse a me incomodar.
Algo que poderia minimizar essa impressão seria o emprego de uma narrativa que amarrasse bem os confrontos e fornecesse a necessária motivação ao jogador, mas sinto informar que, aqui, ela praticamente inexiste. Basicamente, ao sobreviver de um naufrágio e acordar em uma ilha misteriosa, nosso silencioso personagem descobre o bumerangue de uma civilização antiga, os Yoran, e decide usá-lo para extirpar a localidade das criaturas sombrias que lá residem atualmente.
Há algumas pistas do que aconteceu com a ilha e com o povo antigo a serem obtidas com a carismática centopéia Tepan, mas estas nunca se desenvolvem o suficiente, deixando toda a experiência aberta à interpretação do jogador. De certo, sendo a artrópode a única interação real do jogo, seria até desonesto esperar que ela solucionasse todos os questionamentos, mas fica o aviso para o público que busca um jogo mais conciso no que tange à narrativa.
Tem-se aqui então algo mais próximo de uma experiência arcade, uma característica que também se reflete na duração de Boomerang X. Com menos de seis horas de jogo, eu já havia chegado no confronto final, mas cabe mencionar que jogadores mais habilidosos provavelmente farão isso na metade do tempo — confesso que “travei” por um tempo em duas arenas específicas.
Certo, há até recursos como um New Game Plus, com versões meio que remixadas dos estágios; e a possibilidade de fazer speedruns; mas devo ressaltar que a questão da duração está diretamente ligada à já citada linearidade. Se por um lado eu entendo que os desenvolvedores tenham optado por criar um jogo que pode ser concluído em um dia do final de semana, por outro confesso que por vezes tive a impressão de estar jogando uma tech demo avançada na qual a jogabilidade — a prova de conceito — é fenomenal e extremamente divertida, mas parte do entorno, o adorno, ainda não está totalmente pronto.
Uma pena, pois há um potencial inegável em praticamente todo canto aqui: e se houvessem chefes ou mini chefes entre as arenas ou no final delas? Exploração e recompensas? Outros modelos de bumerangue? Uma (outra) companhia para Tepan? Ficam registradas as sugestões para os desenvolvedores.
Beleza secular
Dois pontos pelos quais Boomerang X merece elogios são a sua apresentação visual e a sua otimização. Um dos grandes destaques do título da DANG! são as paisagens virtuais, e tanto os inimigos como os cenários são variados e bem desenhados, provendo um espetáculo à parte.
Porém, logicamente, de nada adiantaria tais composições se a otimização do título não correspondesse, e é com felicidade que também teço aqui elogios a esse aspecto do jogo. Em meu PC principal, não tive problemas para rodar o jogo em suas configurações mais altas, e em nenhum momento sequer presenciei quedas na taxa de quadros ou na fluidez geral da experiência. Sendo este um jogo onde reflexos rápidos são necessários, este é um aspecto deveras bem-vindo.
No que tange à versão de PC do título, é possível escolher a resolução manualmente e aumentar o campo de visão — particularmente, como em outros jogos em primeira pessoa, prefiro usar essa configuração específica no máximo suportado (neste caso, 120). Também há o sempre bem-vindo suporte a resoluções ultrawide e até ao recurso de gyro controls, desde que você use um controle com essa última função, como um DualShock 4. É até possível controlar o personagem mesclando sensores de giroscópio e alavancas analógicas de um controle, mas ainda acredito que o ideal para esse tipo de jogo ainda seja o icônico combo de mouse e teclado.
Por fim, em relação à trilha sonora, há ênfase em criar uma sensação de tensão que auxilie na ambientação dos confrontos cada vez mais difíceis. Embora o design de som seja elogiável, as dissonâncias e ritmos empregados nas faixas musicais não são nada memoráveis, sendo estas últimas facilmente esquecidas tão logo se fecha o jogo. Em uma observação mais positiva, convém mencionar que não foram encontrados bugs ou crashes de nenhuma espécie durante as sessões de jogo para análise.
O fim da jornada
Boomerang X é certamente um jogo singular. Fãs de FPS e arena shooters que busquem algo diferente certamente se sentirão em casa, e a pegada arcade do título o torna uma boa opção para momentos de diversão despretensiosos. A jogabilidade aqui é o ponto alto, e com um pouco de prática é possível desferir arremessos e protagonizar movimentos quase que cinematográficos.
Porém, mesmo com toda a qualidade da proposta, não há como fechar os olhos para a quantidade de conteúdo aqui presente, bem como para o fato de que há um potencial intocado e não realizado em praticamente cada canto desta criação. Recursos como New Game Plus e a possibilidade de realizar speedruns devem, ao meu ver, ser percebidos como um bônus, a cereja do bolo de uma proposta já rica — nunca como uma espécie de consolação para experiências que poderiam entregar muito mais do que conseguiram. Fica a torcida para que uma eventual sequência expanda as ideias aqui apresentadas: todos nós só temos a ganhar.
Prós
- Jogabilidade fenomenal;
- Direção de arte providencia um espetáculo à parte;
- Bem otimizado;
- Suporte a gyro controls e ultrawide tornam a versão de PC a experiência definitiva do jogo;
- Suporte a português brasileiro.
Contras
- Pode ser completado em três horas ou até menos de jogo;
- Extremamente linear;
- Trilha sonora nada memorável;
- Parece inacabado em certos aspectos.
Boomerang X — PC/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital