Streets of Rage (Mega Drive) — 30 anos combatendo o crime nas ruas da cidade

em 24/07/2021

A quarta geração de consoles era um lugar pacífico para a Sega até que a líder do mercado chega com a faca nos dentes, trazendo grandes excl... (por Maurício Katayama em 24/07/2021, via GameBlast)

A quarta geração de consoles era um lugar pacífico para a Sega até que a líder do mercado chega com a faca nos dentes, trazendo grandes exclusivos. Dentre eles, estava um dos maiores sucessos dos arcades da Capcom, Final Fight. No meio deste furacão, um trio de jovens ex-policiais decide defender o Mega Drive arriscando tudo, até suas vidas. Assim nasceu a franquia de beat ‘em ups Streets of Rage, que completa 30 anos agora em 2021.

A briga que nasceu de outra briga

No início dos anos 1990 o mundo dos videogames estava em guerra, mais precisamente a chamada Guerra dos Consoles. A Nintendo, que reinava soberana desde a queda da Atari, pela primeira vez via seu território disputado com outra empresa, a Sega, que havia lançado o fantástico Mega Drive em 1988 no Japão e no ano seguinte nos Estados Unidos. Em território nipônico, o Mega nunca chamou a atenção, mas no Ocidente ele ficou extremamente popular com seu visual arrojado e a proposta de levar os arcades para a casa dos jogadores.


A resposta da Nintendo veio no final de 1990 com o lançamento do Super Famicom no Japão. Tecnologicamente superior e com exclusivos de peso, a Nintendo mostrou a força de uma veterana na indústria de games e começou a retomar o mercado conquistado pela Sega.

Chegamos em 1991 e o Super Famicom, rebatizado como Super Nintendo, desembarcou no Ocidente. A Sega precisava contra-atacar a todo custo os avanços da rival e para isso tomou uma série de medidas. A primeira foi criar um mascote carismático e que pudesse fazer frente ao Mario em seu próprio território: os jogos de plataforma. Esse mascote também acaba de celebrar seu aniversário de 30 anos e você pode conferir sua história no excelente artigo sobre Sonic the Hedgehog aqui no Game Blast.


Não bastava, porém, fazer frente à rival apenas nos jogos de plataforma. O Super Nintendo tinha outros exclusivos de peso, entre eles uma conversão de Final Fight, o grande sucesso da Capcom nos arcades. Noriyoshi Ohba, designer da Sega que já havia trabalhado em Wonder Boy e The Revenge of Shinobi, percebeu que a empresa precisava de um beat ‘em up urbano que fizesse frente à Final Fight, tal qual Sonic era a contraparte de Mario.

Foi a partir dessa proposta que, no mesmo ano do nascimento de Sonic, surgiu uma das séries mais icônicas da Sega. Lançado como Bare Knuckle (“punhos nus”, termo do boxe para um lutador sem luvas) no Japão e Streets of Rage (Ruas de Fúria) no Ocidente, o beat ‘em up tornou-se uma referência no gênero.

Chama a polícia!

Streets of Rage conta a história de três jovens ex-policiais, Blaze Fielding, Axel Stone e Adam Hunter, que desistiram de combater o crime pelos meios convencionais e resolvem fazê-lo com os próprios punhos. Para isso, eles descem a pancada em marginais ao longo de oito fases até enfrentar Mr. X, o chefão do Sindicato do Crime, que está em sua cobertura de luxo.

Apesar de possuir uma aura similar, Streets of Rage não é um mero clone de Final Fight como tantos outros. É um jogo rico e com personalidade própria, mais ágil e sombrio que o rival da Capcom e contava com seus próprios trunfos. Todos os beat ‘em ups de consoles daquela época, como Double Dragon, Final Fight e até mesmo títulos da própria Sega como Golden Axe, eram ports simplificados de suas versões arcade. Streets of Rage, ao contrário, foi desenvolvido tendo em mente o jogador dos consoles domésticos.
 

Por não ser uma adaptação dos arcades, cujo objetivo é engolir moedinhas do jogador, Streets of Rage possui uma jogabilidade mais consistente, sem picos desproporcionais de dificuldade e também oferece uma experiência mais longa que o rival Final Fight. A ação é intensa e gratificante, sendo um jogo que pode perfeitamente ser apreciado até nos dias de hoje.

Streets of Rage inovou ao substituir a mecânica do desperation move (ataque que derruba os oponentes à sua volta sacrificando um pouco do seu HP) pelo ataque especial com carro de polícia. Esse movimento atinge todos os oponentes na tela e faz um dano muito maior, mas seu uso é limitadíssimo, o que faz com que tenha que ser usado com sabedoria. Este ataque é tão icônico que sempre é lembrado pelos jogadores da época e é referenciado até hoje em jogos, como Streets of Rage 4 (Multi) e The TakeOver (Multi).


Toda a ação ocorre no período de uma noite em localidades com um clima suburbano, sujo e sombrio. Existem sim estágios bastante “inspirados” em Final Fight, como a área industrial, as docas e o elevador. Porém, a fase do elevador de Streets of Rage é muito mais legal porque permite que os inimigos sejam arremessados para fora do cenário, adicionando um elemento tático e muito divertido ao gameplay. É no primeiro jogo da franquia que surgiram elementos originais clássicos da série, como a fase do navio e gangues de motoqueiros.

Tornando-se o vilão

Outra inovação é que história possui múltiplos finais, algo extremamente avançado para uma época em que os beat ‘em ups mal tinham roteiro e só possuíam um final. Quando os jogadores estão prestes a enfrentar Mr. X, o chefão do crime se diz admirado com a sua força e propõe que se juntem a ele como seu braço direito. Se ambos os jogadores concordarem, caem numa armadilha! O vilão abre um alçapão e os devolve para o início da sexta fase.

Se ambos recusarem a proposta, encaram Mr. X e conseguem o “final bom”, que seria a finalização padrão onde o bem vence o mal. Mas a possibilidade perturbadora é que se um jogador aceitar enquanto o outro recusa, os jogadores que eram parceiros enfrentam-se até a morte e o sobrevivente tem a chance tomar para si o Sindicato do Crime, conseguindo o “final mau” e tornando-se o novo chefão do crime na cidade, com direito a uma música sinistra e risada maligna de vilão.


No ritmo da noite

Além dos gráficos e cenários noturnos, a icônica trilha sonora composta por Yuzo Koshiro contribuiu para que o primeiro Streets of Rage se tornasse uma experiência memorável.

Inspirado pelos ritmos de dance music eletrônica, especialmente nos estilos house e techno, Yuzo foi um visionário ao prever que o jogo seria um sucesso no Ocidente, em especial na Europa. No início dos anos 1990 os ritmos dance eletrônicos faziam sucesso nas baladas européias e a trilha sonora de SOR foi intencionalmente direcionada para este público. Utilizando-se destes elementos, adicionados à ritmos de percussão forte e marcante com batidas eletrônicas, Yuzo extraiu do chip sonoro Yamaha do Mega Drive um resultado praticamente mágico. Até hoje essa trilha sonora é aclamada como uma das mais marcantes da história dos videogames.



Ruas de Fúria

Streets of Rage foi um estrondoso sucesso, vendendo mais de 2,6 milhões de cópias, ficando entre os títulos mais vendidos do Mega Drive e abrindo uma das franquias mais conhecidas e amadas da Sega, rendendo três continuações.

Também recebeu ports para o Game Gear, Master System, Wii, iOS, PC e 3DS. Atualmente pode ser jogado nas principais plataformas modernas (PS5, PS4, XBO, XSX, Switch e PC) através da coletânea Sega Genesis Classics.

Embora muitos jogadores considerem que Streets of Rage 2 seja o melhor beat ‘em up dos 16 bits, eu particularmente tenho um enorme carinho pelo primeiro jogo da série. Até hoje eu ligo meu Mega Drive para jogá-lo casualmente e, invariavelmente, deixo-me levar pela batida mágica da música de Yuzo Koshiro e os cabelos esvoaçantes de Blaze.

Revisão: Farley Santos

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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