Revisitando suas origens
Where the Heart Leads apresenta a história de Whit Anderson, um homem que vive uma vida simples com sua esposa e filhos em uma fazenda. Durante uma noite de tempestade, um enorme buraco se abre no terreno da fazenda, onde Casey, a cadela da família, infelizmente cai. Na tentativa de resgatá-la, Whit acaba ficando na gigante cratera, onde faz uma viagem no tempo e revisita alguns dos mais importantes momentos de sua vida.
A partir deste ponto, podemos conhecer mais da história de nosso protagonista, desde sua infância, passando pela construção de um romance na adolescência, até as responsabilidades da vida adulta, virando um homem de família que enfrenta diversas dificuldades do dia a dia enquanto tenta proporcionar as melhores memórias para aqueles que ama.
Durante a "viagem", conhecemos diversos personagens que podem ter grande impacto na vida de Whit, ajudando a moldar a história do jovem. Esta é a jornada de um simples homem que tenta compreender como suas escolhas definiram o percurso de sua vida.
O enredo até que é bastante interessante de início, mas perde força com o tempo devido a diversos diálogos desnecessários e entediantes. Há momentos um pouco mais marcantes, mas que não carregam uma carga emocional que prenda a atenção do jogador ou causem grande impacto.
As 10 horas de duração mostraram-se exageradas para um título com proposta e enredo tão simples e que peca nas conversas que só estão lá para preencher tempo. Outros jogos, como Rainswept (Multi), conseguiram executar a mesma premissa de forma muito mais efetiva, trazendo um enredo impactante com uma duração curta, porém certeira.
Um dos principais problemas do jogo é justamente Whit, o protagonista. Diferentemente dos demais personagens, ele demonstra pouquíssima personalidade e suas escolhas dificilmente geram ou são baseadas em emoções mais fortes. São raros os momentos de exaltação do personagem, que na maior parte do tempo paga de bom moço ou só concorda com a outra parte para que as coisas sigam bem. Até as escolhas mais baseadas na “revolta”, como dedurar o irmão ou não querer que a esposa trabalhe com um antigo namorado dela, são sem graça e até anticlímax.
Já os personagens ao seu redor possuem personalidades melhor definidas e mais divertidas. Devemos lidar com um irmão que tem problemas com os pais e só quer saber de viver de sua arte, sem pensar como sobreviver dela. A esposa e os filhos possuem arcos até que bem interessantes e é muito legal ver seu desenvolvimento ao longo da campanha. Estes e os demais moradores da pequena cidade carregam um pouco da responsabilidade de manter o interesse no enredo, já que Whit consegue ser bastante entediante na maior parte do tempo.
A campanha é repleta de escolhas que devemos tomar, que definem não apenas o destino de Whit, mas também o daqueles ao seu redor. A forma como você lida com o irmão ajuda a definir seu relacionamento, assim como com seus pais e a carreira do artista. Já o apoio que você dá, ou não, aos sonhos de seus filhos, determina sucesso deles no futuro. Tudo isso é construído de forma até que impressionante e melhor que alguns jogos do gênero.
Apesar deste fator de escolhas que influenciam a história ser muito bem trabalhado, a premissa "você mudaria seu passado?" está mais para definirmos a história de vida de Whit, já que não temos nenhuma base da sua vida pregressa para saber se ela sequer está sendo alterada, e o que está mudando. Além disso, senti uma enorme desconexão do início do jogo com a viagem ao passado e com o final, que gera dúvidas e não é nem um pouco satisfatório.
A exploração de um mundo belamente desenhado
Where the Heart Leads possui uma jogabilidade bastante simples. Podemos nos locomover pelo mundo e interagir com diversos objetos e demais moradores da pacata cidade. A câmera tem uma movimentação bem limitada e, por vezes, atrapalha na visibilidade do cenário, colocando grandes árvores ou prédios na frente. Há diversos textos e memórias que podemos coletar para conhecer melhor a história e os relacionamentos de alguns personagens.
Os gráficos são muito bonitos e bem desenhados para a proposta do jogo. Os cenários parecem até pinturas em aquarela e não são raros os momentos em que você se vê mais interessado no visual do que nas conversas. Algo que incomoda um pouco é o fato de apenas Whit ter a fisionomia definida. Os demais personagens são apenas sombras sem expressões, cujas emoções são perceptíveis apenas pelas falas em balões, já que eles não possuem vozes.
O jogo está completamente em inglês e, por não conter dublagem, é preciso ter bastante paciência com a grande quantidade de textos e falas que se deve ler, algo difícil quando nos deparamos com diálogos tão entediantes.
Vale a pena jogar?
Where the Heart Leads tem uma premissa muito interessante, mas que não foi executada tão bem. Apesar de as escolhas terem real impacto no decorrer da trama, há uma desconexão entre início, meio e fim que gera um final pouco satisfatório. Os demorados diálogos, a longa (e desnecessária) duração e a falta de personalidade do protagonista tornam o jogo uma experiência lenta e desinteressante após um certo tempo.
Prós
- As escolhas têm real impacto no decorrer da trama;
- Jogabilidade simples;
- Belos gráficos para a proposta do jogo.
Contras
- Enredo sem momentos de grande impacto emocional;
- Diálogos demorados e desinteressantes;
- Protagonista sem personalidade;
- Duração muito longa para a proposta do jogo, tornando a experiência arrastada;
- Movimento de câmera limitado, atrapalhando em certos momentos.
Where The Heart Leads - PS4 - Nota: 5.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Armature Studio