Impressões: The Last Spell (PC) — tentando sobreviver ao apocalipse em um RPG tático brutal

Enfrente hordas de monstros e faça decisões difíceis neste tenso título de estratégia.

em 07/06/2021

Em The Last Spell, o mundo foi tomado por criaturas violentas e agora os poucos humanos restantes lutam para sobreviver. O jogo utiliza esse conceito em um RPG tático em que um pequeno grupo de guerreiros enfrenta dezenas de criaturas em batalhas estratégicas complicadas. Além dos combates, precisamos administrar os escassos recursos em uma experiência repleta de tensão e com elementos de roguelite. Lançado em Acesso Antecipado, o título impressiona com sua base sólida, mas ainda precisa de ajustes e variedade de conteúdo para se tornar imperdível.

Em uma luta desesperadora

Para acabar com uma guerra que durou anos, um grupo de magos se reuniu para conjurar um feitiço neutralizador poderoso. No entanto, algo deu errado e a energia, descontrolada, destruiu quase tudo, em um evento que ficou conhecido como Cataclisma. Junto com isso, surgiu também uma estranha névoa roxa que transforma em monstros violentos aqueles que ela toca.

Rapidamente o mundo foi tomado por essas criaturas terríveis e os sobreviventes se juntaram em algumas poucas cidades, lutando incessantemente para proteger o que restou. O cenário é desesperador, mas há esperança: um grupo de magos pretende conjurar “O Último Feitiço”, que é capaz de acabar com toda a magia do mundo e, consequentemente, as criaturas sombrias. Sendo assim, em cada uma das partidas, o objetivo é proteger o ritual dos feiticeiros, que leva vários dias para ser concluído.


O ciclo de The Last Spell é dividido entre combate e planejamento. Durante a noite, os monstros atacam a vila e os guerreiros precisam derrotá-los em combates estratégicos por turnos. Em cada rodada, controlamos individualmente os heróis, que têm à disposição diferentes habilidades de acordo com a arma equipada. O campo de batalha é formado por uma grade de espaços, e cada personagem conta com um número limitado de pontos de movimento. Para vencer, precisamos usar com eficiência as ações, pois mais monstros aparecem a cada turno.

Depois de sobreviver ao combate noturno, é hora de se planejar para a próxima batalha reconstruindo a vila e montando defesas. Nesse momento, podemos melhorar as características dos personagens que subiram de nível, comprar novos equipamentos e liberar habilidades passivas. Também é possível construir e melhorar estruturas pela vila (como templos capazes de curar vida e magia ou oficinas que criam itens sob certas condições), assim como montar barreiras e armadilhas para atrapalhar as investidas dos monstros.


A dificuldade é brutal e a situação só piora conforme os dias avançam, e eventualmente os monstros aniquilam o grupo de magos ou os heróis, resultando no fim da partida. Ser derrotado significa perder todo o progresso e recomeçar a campanha desde o início, porém The Last Spell conta com elementos de roguelite para incentivar novas tentativas. Heróis, estrutura inicial da vila e combinações de inimigos são gerados proceduralmente, o que oferece jornadas distintas. Além disso, novos recursos, melhorias e equipamentos podem ser desbloqueados constantemente, fazendo com que o jogo se torne mais elaborado aos poucos.

Tentando superar desafios extremamente complicados

As batalhas de The Last Spell têm uma atmosfera opressiva e senti que poderia ser sobrepujado e derrotado a qualquer momento do jogo. Pode parecer estranho, mas essa tensão constante é a minha característica favorita no jogo. Em cada rodada precisamos fazer escolhas difíceis: sacrifico uma construção que está sendo atacada para conseguir derrotar vários monstros simultaneamente ou será melhor me concentrar em inimigos que conseguiram se aproximar do círculo de magos? Sempre estamos em desvantagem numérica e a graça é justamente conseguir derrotar o maior número de inimigos em um único turno — além de ser recompensador fazer sequências de ataques certeiros, é também a única maneira de sobreviver.


Para dar conta dos oponentes, há boa variedade de armas: espadas com habilidades de atravessar vários inimigos; varinhas mágicas com poderosos feitiços em área; bestas que lançam múltiplos projéteis; raios que, ao acertarem o alvo, se propagam causando danos a monstros próximos; e mais. Cada herói pode carregar dois conjuntos de equipamentos, o que oferece muitas opções estratégicas. Além disso, há opções de customização, como equipamentos com diferentes habilidades passivas e possibilidades distintas de melhorias ao aumentar o nível dos personagens.

A sensação de desolação continua mesmo depois das batalhas, pois os danos costumam ser altos, com construções fortemente comprometidas e heróis bastante feridos. Mais uma vez, precisamos nos virar com os poucos recursos para equipar os guerreiros e construir novas defesas. Sendo assim, é importante avaliar as necessidades do momento para conseguir sobreviver mais um dia, afinal as coisas só vão se complicando, com hordas maiores e atacando de direções diferentes simultaneamente.


No começo achei tudo brutal demais: meus personagens foram mortos com facilidade e minha vila foi arrasada em questão de dias. Porém, conforme fui jogando novas partidas, minha sobrevivência melhorou, pois aprendi as nuances dos sistemas, passei a gastar o dinheiro e os materiais somente em coisas que faziam sentido no momento e entendi melhor como fazer o máximo em cada turno do combate. Claro, mesmo assim, as campanhas continuam bastante complicadas e não há nada de errado nisso, afinal o título se propõe a ser difícil. Mesmo assim, para aqueles que desejam um desafio mais brando, há um modo fácil.
 


Em uma campanha brutal até demais

Como lançamento em Acesso Antecipado, The Last Spell é bastante competente e apresenta mecânicas e ciclo de jogo sólidos. Porém, como é de praxe, há vários pontos que ainda precisam melhorar. Para começar, temos os tradicionais problemas de balanceamento. Já não basta o jogo ser bem difícil e punitivo, ainda temos inimigos com alta taxa de esquiva — é muito frustrante perder uma ação por causa disso. Eu entendo que a imprevisibilidade ajuda a trazer variedade, mas nesse caso só irrita e compromete o aspecto estratégico.

Além disso, as partidas são parecidas demais entre si, mesmo com os elementos procedurais. Em todas as minhas campanhas, sempre comecei com um mago, um espadachim e um arqueiro com alguns atributos levemente diferentes. As hordas de monstros também são bastante similares: massas de inimigos que simplesmente golpeiam o que está próximo. Mesmo com diferentes armas e ataques, chega um ponto em que não há necessidade de variar a estratégia, sendo normalmente a melhor opção destruir o máximo de inimigos possível. Esses aspectos, em conjunto com um mapa que praticamente não muda entre as partidas, traz uma forte sensação de repetição.


Por fim, o andamento geral é um pouco estranho. The Last Spell é um roguelite, o que significa que é necessário recomeçar a jornada desde o início ao morrer, mas há progressão permanente entre as partidas. Entre as tentativas, são liberados recursos como personagens iniciais mais resistentes, armas mais poderosas, diferentes construções e armadilhas. Acontece que a sobrevivência depende de desbloquear esses elementos, pois chega um momento na campanha em que a quantidade de inimigos é tão imensa que é impossível derrotá-los somente com estratégia. Para piorar, muitos dos recursos são desbloqueados somente depois de várias partidas, que demoram várias horas cada.

É natural um lançamento em Acesso Antecipado apresentar esses tipos de problemas, afinal a intenção é fazer ajustes durante o desenvolvimento. Particularmente, espero um melhor balanceamento da dificuldade e dos aspectos de roguelite, assim como maior variedade de situações e de conteúdo. Os desenvolvedores já afirmaram que ao menos novos mapas estão nos planos, o que deve deixar a experiência mais variada com o decorrer do tempo.
 


Uma estreia promissora

Sobreviver em The Last Spell é uma tarefa complicada, mas a tensão constante é justamente o melhor aspecto do jogo. O combate estratégico por turnos nos desafia a enfrentar grandes hordas de monstros, sendo essencial fazer bom uso das ferramentas disponíveis. Há muitas opções, como diferentes equipamentos e armadilhas, e novos recursos são liberados constantemente. A parte de administrar a vila também é difícil, afinal os recursos são escassos e qualquer erro pode significar derrota.

O conceito principal e o ciclo de jogo funcionam bem, mas ainda há várias arestas para aparar, como desbalanceamento de certos aspectos, variedade limitada de situações e problemas no ritmo de desbloqueio de conteúdo. Isso é justificável e até mesmo esperado, afinal o título está no formato Acesso Antecipado e deve mudar no decorrer do desenvolvimento. Mesmo assim, em seu estado atual, The Last Spell já oferece uma experiência brutal e interessante que tem tudo para ser imperdível em sua versão final.

Revisão: Ives Boitano
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela The Arcade Crew


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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