Análise: Aluna: Sentinel of the Shards (Multi) explora de maneira divertida a mitologia mesoamericana

Explore diversos territórios, colete novos equipamentos e fortaleça sua heroína neste RPG de ação nos moldes da série Diablo.

em 01/06/2021


O mundo das mitologias sempre foi fonte contínua de inspiração para diversos meios de entretenimento. Mesmo com tamanha diversidade, o mais comum é vermos a mitologia grega recebendo maior destaque. Aluna: Sentinel of the Shards busca se distanciar dessa constância ao nos apresentar uma história voltada para a cultura mesoamericana e suas respectivas divindades. 

No controle de uma semideusa, iremos enfrentar criaturas das trevas em busca de fragmentos poderosos de uma antiga divindade. A variedade de cenários, os combates contra hordas de inimigos e o enredo voltado para uma cultura pouco explorada nos jogos são o grande destaque, mesmo sofrendo com alguns detalhes técnicos mal refinados.

Redescobrindo o Antigo Mundo

Aluna carrega uma forte inspiração em seu enredo. Além da já mencionada influência da cultura e da mitologia dos povos indígenas que viveram no que hoje seria a América Central, ele também é baseado na série de revistas The World of Aluna, dos mesmos roteiristas de Assassin’s Creed III e Batman: Arkham Origins. Não é para menos, pois boa parte da narrativa é contada por meio de quadrinhos, como se estivéssemos lendo a página de uma revista animada.



Aqui nos é apresentada Aluna, uma jovem que carrega o fardo de ser filha do renomado capitão espanhol Francisco Cortes e de Pachamama, a deidade máxima para grande parte dos povos indígenas dos Andes Centrais, algo equivalente à Gaia da mitologia grega. A abertura nos conta como tribos malignas tentaram invocar a divindade na tentativa de roubar seu poder, sendo impedidas por conquistadores espanhóis comandados por Francisco, levando-os a uma intensa guerra que culminou na vitória da deusa e no afloramento de seu amor com Francisco na forma do nascimento da filha do casal. Porém, a chegada de Aluna desperta a ira das divindades das trevas, que invocam um meteoro na tentativa de aniquilar a recém-nascida.

Diante da ameaça, Pachamama intervém, fundindo-se com a imensa rocha flamejante e explodindo-a em diversos fragmentos carregados com o que sobrou de seu poder. Anos depois, cabe à semideusa, agora adulta e em posse do maior dos fragmentos, impedir que a tribo dos Jivaro recupere o que sobrou do poder de sua mãe e espalhe o caos e a destruição pela Terra.

Apesar do imenso potencial, devido a tantas referências, o jogo opta por manter um roteiro linear e sem grandes reviravoltas. Muito do passado da protagonista fica ausente e reservado a quem leu as revistas ou pesquisou mais a fundo sobre a obra. Da mesma forma, a participação dos espanhóis fica um tanto quanto ausente, colocando a tribo dos Jivaro como os principais vilões.

Durante o trajeto, até encontramos personagens secundários que nos acompanham por determinado tempo, mas esses momentos costumam ser breves e não aprofundam tanto a relação com a protagonista. Pelos diálogos, até percebemos que muitos deles possuem um histórico com a personagem, mas, sem as devidas introduções, tudo acaba ficando à mercê da dedução do jogador.

A utilização de missões secundárias seria uma boa alternativa para aprofundar melhor o jogador no universo apresentado ou até mesmo expandi-lo com histórias originais. Ainda assim, a despeito dessas lacunas, a jornada de Aluna consegue se destacar no cenário dos jogos por abordar um contexto tão pouco representado como uma cultura indígena, sua mitologia e, até certo ponto, sua trajetória histórica.

A possibilidade de rejogar a campanha mantendo os níveis e equipamentos adquiridos está presente, mas não adiciona novidades aos desfechos da trama, atendo-se ao objetivo de coletar equipamentos ainda melhores, maximizar as árvores de habilidades e enfrentar criaturas mais fortes.




Uma semideusa poderosa

Basta alguns minutos jogando Aluna para rapidamente notar as semelhanças com RPGs de visão isométrica, sendo impossível não realizar comparações com Diablo, uma das franquias mais famosas do gênero. Por se tratar de uma personagem já pré-estabelecida, Aluna não conta com sistema de criação de personagens e as customizações se atêm aos equipamentos colocados que alteram seu visual, contando com uma variedade de roupas e armamentos do Velho e do Novo Mundo.

Eles se distribuem em vestimentas, armas e acessórios da semideusa, apresentando-se em níveis de raridades de acordo com a cor:
  • Branco: itens comuns e usualmente descartáveis;
  • Amarelo: itens com propriedades extras, geralmente relacionadas a aumento dos atributos básicos;
  • Laranja: itens raros que, além de poder contar com os benefícios das outras raridades, podem fornecer modificadores para as habilidades, como alteração nos efeitos e redução no tempo de recarga. 
Outro detalhe que o distancia dos demais jogos do tipo é que aqui não precisamos, necessariamente, nos ater a um tipo de “classe”. À medida que subimos de nível, os atributos aumentam automaticamente e um ponto de habilidade é liberado para ser utilizado em três árvores distintas: corpo a corpo, ataques à distância e magias. O jogador fica livre para escolher em qual delas gastar seus pontos, podendo alternar ou focar em uma única linha. Mesmo que o resultado não seja satisfatório, é possível resetar o processo a qualquer momento, ao preço de algumas moedas de ouro.




Isso é um ponto positivo e que permite uma série de ensaios com as mais diversas composições. Como já mencionado em análises anteriores, meu estilo preferido é sempre o do guerreiro que não deixa de ter um “pezinho” na mágica, portanto, tratei de criar minha combatente com poderosos golpes e gritos, além da habilidade de manipular vespas que atordoam os inimigos. E por falar neles, aqui eles aparecem de diversas formas, influenciados pelas forças malignas. Animais selvagens como ursos, macacos e até mesmo plantas ambulantes são alguns dos exemplos que nos esperam, além dos integrantes dos Jivaro.

Eles geralmente se dispõem em grupos espalhados pelo mapa e, em alguns casos, estarão acompanhados de minichefes que elevam ainda mais o desafio. Dar cabo das hordas pode ser uma tarefa difícil, principalmente se você faz questão de jogar nas dificuldades mais elevadas. Para auxiliar na situação, contamos com uma poção de vida que pode ser utilizada após um breve período de espera e um sistema de esquivas em forma de cambalhotas.




Os duelos contra os chefões seguem a mesma linha, com a diferença de acontecerem em arenas fechadas, impossibilitando uma fuga para recuperar a energia. Alguns chefes são criaturas gigantescas, o que aumenta ainda mais a emoção no combate. Alcançar a vitória aqui exige o uso de habilidades que tenham sinergia e que possam também protegê-lo.

Em alguns casos, você terá a ajuda temporária de acompanhantes por um período em determinada missão. Algo semelhante aos mercenários de Diablo II, com a diferença de não alterarmos seus equipamentos e inventário. A utilidade deles não é tão grande, pois na maioria dos casos as lutas se iniciam quando o inimigo te vê ou quando se desfere um ataque à distância. Em ambos os casos eles irão focar os golpes em você.




No geral, a jogabilidade em Aluna é sólida, aplicando bons aspectos de franquias de sucesso, ao passo que também não introduz nenhuma novidade. As esquivas tentam trazer um ar mais dinâmico para o combate, mas não vi muita usabilidade na maioria dos confrontos, a menos que você opte por uma abordagem mais distante e recorra a elas para ganhar espaço entre os alvos. 

A dificuldade pode ser um atrativo para jogadores mais hardcore. Eu costumo buscar sempre a dificuldade mais elevada em um jogo, mas aqui me vi obrigado a diminuí-la em algumas situações para não comprometer o término desta análise.

A variedade nos equipamentos foi algo impressionante, mesmo para um iniciante. Seguindo a ambientação do local onde a aventura se passa, encontramos majoritariamente tacapes, lanças, adagas e alguns modelos de espadas de origem espanhola, enquanto para ataques à distância temos os clássicos arcos, estilingues, bestas e armamentos de fogo como pistolas, mosquetes e bacamartes. Essa mistura entre itens dos povos locais e os trazidos pelos conquistadores espanhóis ajuda não só na variedade, mas também na imersão do jogador.




Paisagens exóticas

A variedade nos cenários de Aluna merece ser destacada, pois consegue passar a dimensão de uma aventura que se desdobra por muitos lugares. Prepare-se para visitar florestas de vegetação densa, aldeias, acampamentos de espanhóis, cavernas, entre muitos outros. 

As cidades costumam ser grandes, mas a falta de interação e de objetivos secundários tira um pouco da vida e da necessidade por explorá-las, a não ser que você faça questão de encontrar baús e tesouros escondidos. No final das contas, isso pode resumir a visita a elas a simples idas ao mercador para compras, vendas, confecções e modificações de equipamentos.
É possível aproximar a câmera para pegar todos os detalhes

Os visuais não contam com o que há de melhor em termos de gráfico, mas, levando em conta o recurso empregado, algumas paisagens trazem o seu charme, com belas quedas d’água, cavernas e templos antigos.

Um ponto que me incomodou durante a minha experiência foi a sonoplastia e o efeito da colisão dos golpes. O barulho que a sua arma faz quando acerta nada ou acerta o alvo é basicamente o mesmo e, somado a isso, o inimigo não esboça o impacto dos golpes em seu corpo. Se não fosse o contador do dano aparecendo na tela, eu não saberia dizer se estava acertando o adversário ou o “vento”.




Um mundo com potencial pela frente

Aluna: Sentinel of the Shards consegue trazer uma experiência majoritariamente positiva, muito pela grande bagagem narrativa herdada das revistas em quadrinhos e pela riqueza cultural da mesoamérica no período das colonizações. A sensação de um enredo com potencial de apresentar melhores resultados é notória, devido à falta de missões paralelas para ampliar e detalhar o universo aqui apresentado ao jogador. Para um jogo inicial que busca atingir um público que não está necessariamente integrado com o universo dos quadrinhos, ele merecia um pouco mais de capricho nesse aspecto. Ainda assim, o título é capaz de agradar, principalmente, os aficionados por jogos no estilo Diablo.




Prós

  • Enredo baseado em uma cultura rica e pouco explorada nos jogos;
  • Diversidade de cenários;
  • Variedade de equipamentos que se encaixam bem no contexto da trama;
  • Alto grau de desafio, podendo ser ajustado de acordo com o nível do jogador.

Contras

  • Ausência de objetivos secundários que aprofundem a história;
  • Pouca exploração do relacionamento com personagens secundários;
  • Falta de interatividade com os NPCs nas cidades;
  • Impacto e sonoplastia das armas corpo a corpo mal elaboradas.
Aluna: Sentinel of the Shards – PC/PS4/XBO/Switch – Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Digitart Interactive

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.