Análise: ENDER LILIES: Quietus of the Knights (Multi) oferece uma aventura metroidvania inesquecível

Atmosfera imersiva, personagens cativantes e um sistema de melhoria bem elaborado são o grande destaque do título.

em 18/06/2021


Quando o distante País do Fim é assolado pela praga conhecida como Corrupção, cabe a uma jovem garotinha especial lidar com o fardo de salvar sua nação. Para sobreviver à ameaça de criaturas perigosas em ENDER LILIES: Quietus of the Knights, contamos com a ajuda de espectros de guerreiros tombados em combate. Eles são a principal forma de ataque durante os muitos combates em áreas repletas de perigos, exigindo agilidade e uma boa leitura dos movimentos adversários.

O título passou por um período de acesso antecipado no PC e, após os devidos ajustes, retorna agora em sua versão final. Seu principal diferencial dos demais jogos do gênero é o fato de controlarmos a pequena Lily, enquanto o ataque é feito pelos fantasmas que a protegem. O estúdio Binary Haze Interactive opta por realizar uma mescla de elementos já conhecidos do gênero metroidvania. O resultado é uma experiência que usa muito bem a inspiração de aspectos consagrados em outros jogos de forma equilibrada enquanto nos entrega um enredo comovente e com boa dose de reviravoltas.

Salvando uma nação corrompida

O País do Fim é um local assolado por uma terrível maldição conhecida como Corrupção. Trata-se de uma espécie de doença que deixou a população local impotente através de um fenômeno conhecido como a Chuva da Morte. Aqueles atingidos por ela são beneficiados com a imortalidade, mas com o passar do tempo perdem a consciência e assumem uma forma mórbida e repleta de animosidade.




Em meio a esse caos, encontramos uma garotinha pálida chamada Lily. Ela é despertada no subsolo de uma igreja pelo espectro do Cavaleiro Negro, um importante guardião responsável por proteger a jovem, que desperta sem memórias do passado. O antigo guerreiro explica que ela é a Sacerdotisa Branca, uma figura considerada sacra por muitos por ter a capacidade de não só resistir aos males da Corrupção, como também purificar aqueles afetados por ela. 

Cabe ao jogador se aventurar pelo País do Fim, solucionando os mistérios por trás da Corrupção e sua relação com a história do lugar. Pelo caminho, encontramos pessoas que foram capazes de manter a consciência, ou ao menos parte dela, entrando em um estado de profundo sofrimento por ver seu corpo perecer e ceder ao controle da maldição sem poder fazer nada a respeito. Munida do poder da Sacerdotisa Branca, Lily é capaz de purificar essas pessoas, libertando e concedendo o devido descanso às almas atormentadas.




O enredo de Ender Lilies é, sem dúvidas, o seu ponto mais alto. O jogo conta com muitos arquivos de texto que enriquecem e ampliam a trama sem tirar o foco principal, que é a Corrupção. Os seres atormentados que encontramos pelo caminho carregam uma carga dramática forte, pois o título consegue desenvolver o histórico de cada um, mesmo que de forma breve, a fim de contextualizar tudo o que determinado personagem sofreu até ali. Em alguns casos, a imersão é tamanha que é impossível não criar uma afinidade com a vítima.

Particularmente, me vi impactado pela história do lendário guerreiro Gerrald, que cedeu à Corrupção por livre e espontânea vontade no intuito de usar a imortalidade para proteger a população de sua cidade o quanto sua consciência fosse capaz de resistir, ao passo que se isolava para que a degradação de sua humanidade não colocasse inocentes em risco. Um fim honrado e solitário para alguém que foi obrigado a se tornar herói e ameaça daqueles que amava.




O pesar e o sentimento de desolação são uma constância no País do Fim e o único final feliz cabível em cada situação é utilizar os dons da sacerdotisa para conceder alívio e descanso aos atormentados pela Chuva da Morte. É curioso e penoso testemunhar Lily realizando a purificação em cada necessitado, pois a cada ação é notável que a jovem não está eliminando a Corrupção, mas absorvendo-a e, junto com ela, todo o sofrimento do ser purificado. 

A expressão de tristeza e dor é notável na feição da criança e logo aprendemos que o fardo da Sacerdotisa Branca é na realidade um dom herdado. Essa descoberta atiça ainda mais a curiosidade em descobrir sobre o passado através de suas antecessoras, em especial a Sacerdotisa Branca da Fonte, a mais poderosa e querida por todos do País do Fim.

Construindo um exército de espectros

Lily é uma jovem garotinha indefesa e, para garantir sua segurança, cabe ao Cavaleiro Negro, seu primeiro e principal espectro, enfrentar todas as ameaças. Conforme avançamos pela trama, enfrentamos corrompidos que no ato da purificação optam por nos acompanhar durante a jornada, ingressando na lista de espectros disponíveis. 

É possível levar até 6 espectros, divididos em dois grupos separados que podem ser alternados ao apertar um botão. Cada um deles possui um tipo de ataque diferenciado e que pode ser acionado simultaneamente com outros espectros, o que permite uma variação enorme de composições. Podemos focar naqueles de combate próximo, ataques distantes ou fazer uma mistura de ambos.

Tudo irá depender da situação e dos tipos de inimigos que iremos enfrentar em determinado mapa. Os adversários pelo caminho são numerosos e bem diversificados em sua aparência, estilo de ataque e nível de poder. Além dos convencionais cavaleiros corrompidos, teremos inimigos voadores e até mesmo aquáticos, o que exige versatilidade de nossa parte em adaptar os companheiros de Lily a diferentes composições.

Os combates com os chefes elevam o desafio a outro nível. Eles combinam ataques poderosos, movimentos velozes e uma vasta barra de energia, resultando em lutas dinâmicas e cheias de ação. Muitos deles possuem transformações diferentes, assumindo novos padrões de ataque e causando ainda mais estrago, o que torna o confronto ainda mais perigoso.

Por se tratar de uma criança, nossa protagonista é frágil e desajeitada. Por conta disso, você deve evitar receber danos a todo custo, pois eles causam um grande estrago na vida da menina. Para contornar a situação, contamos com uma esquiva desajeitada da personagem e a Prece, que na prática funciona como a Alma de Hollow Knight (Multi), podendo restabelecer nossos pontos de vida. A diferença é que ela é limitada a três usos, podendo ser recuperada nos pontos de descanso.

Em muitas situações, o ataque será a melhor defesa e para isso será necessário manter Lily e seus companheiros fortalecidos. A jovem pode ser equipada com artefatos que concedem bônus especiais, como aumento do poder ofensivo, redução no dano sofrido e aumento na quantidade de experiência recebida. O jogo traz um esquema de progressão de níveis conforme absorvemos Corrupção (equivalente ao XP dos jogos de RPG) ao matar inimigos. Cada nível progredido traz um singelo aumento no poder de ataque, vida e capacidade de usar os espectros.

Do lado dos nossos companheiros espectrais, podemos aumentar o nível de cada um deles até seis vezes. Cada melhoria traz benefícios como aumento do dano, maior quantidade de ataques e/ou diminuição do tempo de recarga. A “moeda” utilizada aqui são os pontos de Dor, Sofrimento e Alma, absorvidos de criaturas decompostas ou que conseguiram manter sanidade o suficiente para não ceder ao instinto bestial da Corrupção. Tanto o ato de equipar artefatos quanto o fortalecimento dos Espectros são realizados nos pontos de descanso, que funcionam como pontos de salvamento, semelhante às fogueiras de Dark Souls.




Os combates são outro aspecto positivo de Ender Lilies, por contar com situações dinâmicas que exigem capacidade de adaptação da parte de quem está no comando de Lily. Inevitavelmente, acabei me afeiçoando mais a determinados espectros, como Gerrald ou a guardiã Siegred. Ainda assim, fiz questão de adaptar minha equipe não só para ter a melhor eficiência em determinada parte, mas também pela curiosidade de ver como cada um se comporta em seus ataques e sua sintonia com os demais. Todos apresentam suas particularidades e explorar sua usabilidade foi uma experiência divertida.

Explorando o País do Fim


Enquanto no Acesso Antecipado os mapas do País do Fim sofriam de excessiva linearidade, na versão final isso foi devidamente resolvido. Os cenários são repletos de bifurcações e locais secretos. Muitos deles se mostram inacessíveis inicialmente, exigindo que você conquiste habilidades novas ao derrotar determinados aspectos, como Sigred, que nos presenteia com o famoso pulo duplo, um artifício muito comum nesses tipos de jogos plataforma.

Fora esse impedimento, Ender Lilies não te obriga a seguir uma ordem de locais. Em minha campanha, cheguei a visitar cenários e enfrentar chefes que teriam me dado menos trabalho se eu já tivesse adquirido determinado espectro ou habilidade de outra localidade.




Não foi algo impossível de lidar e nem de longe me soou como negativo na experiência, apenas me obrigou a revisitar o local para explorá-lo 100%. E digo isso não como algo mandatório, mas como uma espécie de obsessão da minha parte por destrinchar os mapas em sua totalidade.

Diferentemente de jogos como Ori and The Will of The Wisps (Multi) e Hollow Knight, aqui não existem itens ou indicadores que mostram a localização dos itens pendentes. O único artifício fica por conta da coloração de determinada parte do mapa; enquanto existem segredos no local, ela permanece com a cor azul, e quando está totalmente explorada, ela assume uma cor amarelada.

Até mesmo aqueles que não se sentem atraídos por desbravar ao máximo esses mapas extensos podem sentir o desejo de buscar mais, já que durante a minha campanha eu me deparei com dois finais diferentes, afetados pela minha progressão na exploração e, consequentemente, no aprofundamento da história. Restou ainda a sensação de que não alcancei todos os desfechos possíveis da campanha.

A transição entre alguns pontos do mapa traz um tempo de espera excessivamente maior no carregamento; porém, eles são específicos e há de se levar em consideração que não instalo meus jogos em um SSD, o que deve resolver o problema em arquiteturas mais modernas.




Arte e sinfonia em meio à destruição

Outro aspecto digno de menção em Ender Lilies é o seu visual, que consegue usufruir do potencial dos gráficos 2D e de uma paleta de cores muito rica. Temos uma mistura de ambientes mais remotos, como a Floresta Inundada, trazendo tons mais fortes e coloridos, enquanto que em localidades com maior ação humana, como o castelo Real Solene, há uma predominância de tons mais acinzentados e que contribuem muito bem com a tarefa de criar uma atmosfera melancólica e imersiva. Isso casa perfeitamente com a ambientação, pois o País do Fim é mencionado como um local predominantemente frio, além da presença contínua da Chuva da Morte.




A trilha sonora adiciona uma carga dramática ainda mais profunda, com belíssimas melodias instrumentais e líricas compostas pelo grupo Mili, uma banda internacional indie com forte atuação no Japão em jogos e animações.

O mais interessante é que as músicas sofrem uma mudança sutil de acordo com o cenário que estamos percorrendo, e nos embates contra chefes assumem um tom ainda mais orquestrado. O som agradável da chuva é outra constância que muda de intensidade dependendo de onde estamos, soando como um aviso constante da ameaça da Corrupção.




Uma bela fantasia sombria

ENDER LILIES: Quietus of the Knights chega como uma bela surpresa em 2021. Ele une diversos elementos que despertam meu interesse em jogos metroidvania: mapa vasto e repleto de locais secretos, personagens bem-desenvolvidos, um enredo marcante e, de quebra, um visual caprichado e uma trilha sonora agradável que, juntos, contribuem para uma ambientação formidável. 

Embora o título não acrescente grande originalidade ao estilo, ele sabe utilizar muito bem a inspiração de franquias consagradas sem soar como algo clichê ou excessivo, tornando-o facilmente uma das melhores recomendações para aqueles que buscam uma experiência digna dos melhores jogos do gênero.




Prós

  • Atmosfera rica e envolvente;
  • Enredo com boa dose de drama e reviravoltas;
  • Personagens principais e secundários bem-desenvolvidos;
  • Combates dinâmicos e desafiadores;
  • Mapa vasto sem se tornar cansativo de explorar;
  • Visual e trilhas sonoras impressionantes.

Contras

  • Alguns locais do mapa possuem loadings demorados.
ENDER LILIES: Quietus of the Knights  – PC/PS4/Switch/XBO/XSX – Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Binary Haze Interactive

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