Análise: Capcom Arcade Stadium (Multi) é um fliperama (quase) completo da Capcom na sua casa

O simulador de fliperama conta com muitos jogos importantes, mas alguns ficaram faltando.

em 08/06/2021

A Capcom é uma das empresas mais importantes e tradicionais no mundo dos games, com um legado histórico importantíssimo nos arcades. Jogadores das antigas, como eu, têm um grande carinho nostálgico pelos fliperamas e, por consequência, pelas saudosas máquinas da empresa.

Capcom Arcade Stadium é uma coletânea com vários títulos importantes voltada ao público retrogamer, sejam pessoas mais velhas que sentem apelo nostálgico, sejam jogadores mais novos entusiastas de bons jogos do passado.

A coletânea

Eu adoraria começar a análise falando sobre a simulação de fliperama que Capcom Arcade Stadium oferece, mas sei que a parte mais importante de uma coletânea de jogos é, claro, saber quais jogos a compõem.

No momento estão disponíveis 32 jogos, sendo um deles gratuito (1943: The Battle of Midway). Acredito que exista a possibilidade de novos jogos serem acrescentados no futuro, mas ainda não há confirmação da desenvolvedora a esse respeito.

Os jogos são vendidos em pacotes com dez títulos cada um, separados por período:


Dawn of the Arcade (1984-1988)

  • Vulgus (1984)
  • Pirate Ship Higemaru (1984)
  • 1942 (1984)
  • Commando (1985)
  • Section Z (1985)
  • Tatakai no Banka (1986)
  • Legendary Wings (1986)
  • Bionic Commando (1987)
  • Forgotten Worlds (1988)
  • Ghouls ‘n Ghosts (1988)


Arcade Revolution (1989-1992)

  • Strider (1989)
  • Dynasty Wars (1989)
  • Final Fight (1989)
  • 1941: Counter Attack (1990)
  • Senjo no Okami II (1990)
  • Mega Twins (1990)
  • Carrier Air Wing (1990)
  • Street Fighter II: The World Warrior (1991)
  • Captain Commando (1991)
  • Varth: Operation Thunderstorm (1992)


Arcade Evolution (1992-2001)

  • Warriors of Fate (1992)
  • Street Fighter II Turbo: Hyper Fighting (1992)
  • Super Street Fighter II Turbo (1994)
  • Powered Gear (1994)
  • Cyberbots: Full Metal Madness (1995)
  • 19XX: The War Against Destiny (1995)
  • Battle Circuit (1997)
  • Giga Wing (1999)
  • 1944: The Loop Master (2000)
  • Progear (2001)

Avulsos

  • 1943: The Battle of Midway (1987) – gratuito, já incluso
  • Ghosts ‘n Goblins (1985)

Existe a possibilidade de comprar um “pacotão” contendo os três conjuntos. Esse pacotão às vezes é vendido com brindes promocionais por tempo limitado, como trilhas sonoras, papéis de parede extras e o jogo Ghosts ‘n Goblins.

Ratos de fliperama notarão que as coleções cobrem, em sua maior parte, máquinas com as placas CPS-1 e CPS-2, não havendo jogos do sistema CPS-3. A seleção é bem variada, cobrindo os gêneros de ação, navinha, beat ‘em up e luta.

Resenhar cada um dos jogos tornaria esta análise longuíssima, então comentarei sobre as categorias oferecidas.


Os jogos de navinha (ou melhor, de avião), na minha opinião, são a categoria melhor representada nesta coletânea. Os melhores jogos da Capcom nesse gênero estão presentes aqui: desde clássicos do tiro vertical como 1943, o excelente tiro horizontal Carrier Airwing (meu favorito) e os modernos 19XX: The War Against Destiny e Giga Wing. Se você gosta de jogo de tiro da Capcom, ficará mais que satisfeito.

Os jogos de luta, ironicamente um ponto fortíssimo da Capcom nos arcades, ficaram devendo. Não me entenda mal: temos aqui Street Fighter II e suas variantes, que na minha opinião é o jogo de luta mais importante de todos os tempos; porém, estão ausentes vários títulos essenciais, como Marvel Super Heroes, Marvel vs. Capcom e toda a série DarkStalkers. A maior parte da série Street Fighter, fora da linha SF2, também ficou de fora, mas para fãs dessa franquia existe uma coletânea dedicada, Street Fighter 30th Anniversary Collection (Multi).


Os beat ‘em ups estão representados por um dos jogos mais importantes desse gênero, Final Fight, um marco na história dos games. O divertidíssimo Captain Commando e os históricos Dynasty Wars e Warriors of Fate também marcaram presença. Houve um tempo em que a Capcom experimentou com beat ‘em ups robóticos, representados aqui pelos divertidos Powered Gear e Battle Circuit.

Apesar de mais bem recheada que os jogos de luta um contra um, nessa categoria senti falta dos importantes Cadillacs and Dinosaurs, Alien vs. Predator, jogos da Marvel como The Punisher e do clássico Knights of the Round. Os dois Dungeons and Dragons também estão ausentes, mas podem ser encontrados na coletânea Dungeons and Dragons: Chronicles of Mystara (Multi).

Os jogos de ação estão bem representados pelos clássicos Mega Twins, Strider e pelos dificílimos Ghosts ‘n Goblins e Ghouls ‘n Ghosts. Ainda bem que as fichas aqui são infinitas, porque olha… haja bolso. Nenhum desses jogos é exatamente fácil, mas Capcom Arcade possui facilidades para quem quer finalizá-los sem sofrer (veremos isso mais à frente).



O gênero puzzle está representado por um único jogo, Pirate Ship Higemaru, que é legal, mas seria melhor se contasse com o excelente Super Puzzle Fighter II.

Não há nenhum jogo de corrida, como F-1 Dream. Verdade seja dita, essa categoria nunca foi o forte da Capcom.

Talvez as ausências possam ser explicadas por complicações de licenciamento, especialmente aquelas que possuam propriedades intelectuais de terceiros.


Outra questão é que a venda em pacotes de dez jogos pode obrigar o jogador a adquirir alguns títulos que não tenha interesse junto com os jogos que ele realmente quer. Seria interessante poder comprar títulos individuais de forma avulsa.

Olhando pelo lado bom, você pode acabar experimentando ótimos jogos que não conhecia. Eu fiquei surpreso com títulos bons e pouco conhecidos como Senjo no Okami II, que provavelmente não experimentaria se não estivessem no pacote. Eis a vantagem de estar num fliperama em que você não se preocupa em gastar fichas.

A experiência do fliperama

Capcom Arcade Stadium não é meramente uma coleção de jogos. Nota-se que os desenvolvedores procuraram trazer uma legítima experiência de arcade. Como frequentador de fliperamas nas décadas de 80 e 90, posso afirmar que a Capcom fez um ótimo trabalho. Ainda que os arcades japoneses sejam muito diferentes dos brasileiros, o clima empolgante e barulhento de um fliperama é quase uma linguagem universal.

Quando você está olhando um jogo no “fliperama virtual”, pode ouvir os barulhos das máquinas próximas e vê-las com o canto dos olhos, exatamente como acontecia na vida real. A cacofonia de sons pode parecer caótica, mas é como música para os ouvidos de amantes desse ambiente. Para iniciar os jogos é necessário “inserir fichas” com o botão R3, e o barulhinho e a animação que esse simples ato faz é extremamente legal, faz a nostalgia bater no máximo.

Não há limite para o número de fichas (moedas) que você pode usar, o que seria um sonho para o jovem Katayama da década de 80, que via o dinheiro do lanche sumindo em 10 segundos no Ghosts ‘n Goblins.

As máquinas de arcade são customizáveis e vários modelos são oferecidos. Você pode montar seu ambiente com máquinas variadas ou uniformizá-lo com o mesmo tipo de gabinete, escolher cor da moldura e estilo de visualização.




O visual da interface de jogo também é personalizável: o modo 2D exibe a tela em formato plano, com uma moldura de sua preferência; já o modo 3D oferece uma visão semelhante à que você teria em um gabinete de fliperama. Também é possível jogar com a tela em tamanho normal, tamanho de fliperama simulado ou esticada para usar toda a área possível da sua TV ou monitor.

Para a exibição do jogo pode-se optar entre os modos normal (sem filtro nem moldura), retrô (com scanlines, sem moldura), super (moldura de fliperama e filtro de tela curva) ou personalizado. O uso de tela esticada ou scanlines (filtro que simula o efeito de monitores CRT) gera discussões bastante acaloradas entre os fãs, mas o importante é que todas essas opções estão disponíveis e cabe a você decidir seu uso.




É possível também configurar a tela para orientação rotacionada em 90° (conhecida pelos fãs de arcade como tate mode) que é o padrão original para shooters como 1943 e aproveita melhor a área do monitor. Essa configuração faz sentido para jogadores de Switch, onde é fácil jogar com a tela na vertical em modo portátil, ou para aqueles poucos que têm a possibilidade de girar seu monitor ou TV. Para a maioria dos jogadores, entretanto, essa função não terá utilidade. Também é possível jogar com a tela de ponta cabeça ou invertida, algo que só será aproveitado por quem joga com projetores ou pretende montar uma máquina de arcade com espelhamento.

Se você não se importa com a “experiência de fliperama” e quer apenas jogar os jogos da forma mais prática possível, é possível configurar toda a interface para exibir os jogos de uma forma limpa, sem firulas.




Capcom Arcade Stadium permite jogatinas de dois até quatro jogadores simultâneos, versus ou cooperativo, dependendo do jogo, mas apenas em modo local. Os jogos de três ou quatro jogadores, como Captain Commando, são especialmente legais para jogar com visitas. Infelizmente, no atual cenário de pandemia, não é possível receber convidados em casa, por isso faz tanta falta um modo multiplayer online, ausente neste produto.

Ferramentas extras

Além da customização visual, também é possível configurar individualmente certas características de gameplay, como quantidade de vidas, nível de dificuldade, velocidade de incremento de dificuldade, quantidade de pontos para ganhar uma vida extra, quantidade de bombas, entre outras. Também é possível escolher entre as versões japonesa ou ocidental, o que possibilita ao jogador conferir diferenças entre essas versões.



Existem também diversas ferramentas de auxílio, como a possibilidade de alterar a velocidade de gameplay durante a partida, salvar e restaurar os jogos em qualquer ponto e uma ferramenta de rebobinar para corrigir erros. Agora sim dá pra ver o final daqueles jogos infernalmente difíceis. Em alguns jogos é possível liberar o Modo Infinito, que permite continuar jogando mesmo após concluir a última fase.

E caso essas ferramentas ou a quantidade infinita de fichas ainda não seja o bastante, a Capcom vende uma opção de invencibilidade como DLC avulso. Eu particularmente acho que esse modo tira a graça dos jogos.






Se você é daqueles que gosta de competir com os amigos, ou com o mundo, a Capcom incluiu o sistema CASPO (Capcom Arcade Stadium Points), que é uma espécie de placar que registra sua performance global nos jogos. A pontuação CASPO gera um rankeamento que, além de poder ser usado para comparar seu “currículo arcade gamer” com outros jogadores mundialmente, pode ser utilizado para obter recompensas, como planos de fundo e molduras.

Vale colocar as fichas?

Capcom Arcade Stadium é bastante competente em recriar o clima empolgante e barulhento de um fliperama, trazendo boas recordações aos jogadores mais velhos e muito contexto histórico para os mais novos. Sua coletânea variada conta com dezenas de jogos da empresa, alguns muito marcantes, outros nem tanto, cobrindo os principais estilos que consagraram a Capcom nos arcades.


Apesar da ausência de alguns jogos importantes e do multiplayer online, é um título praticamente obrigatório para entusiastas de arcade e retrogaming, com muitos recursos extras e opções de personalização.

Prós

  • Reproduz a atmosfera empolgante de um fliperama, com muitas opções de customização;
  • Boa quantidade de jogos, no momento com 32 títulos;
  • Possibilidade de escolha entre as versões japonesa ou ocidental;
  • Ferramentas de auxílio, como save states, rebobinar, controle de velocidade e alterações em itens específicos da jogabilidade.

Contras

  • Faltam várias franquias clássicas importantes;
  • Ausência de multiplayer online;
  • Não é possível comprar títulos individuais.
Capcom Arcade Stadium – PS4/XBO/PC/Switch – Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: XBO
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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