Análise: Neptunia Virtual Stars (PS4/PC) leva Neptune e sua turma à curiosa Virtualand

Após seu lançamento original no ano passado no Japão, este título chega ao ocidente prometendo uma aventura um tanto quanto diferente aos fãs da saga.

em 03/04/2021
Neptunia Virtual Stars
(PS4/PC) é o mais novo spin-off da série Hyperdimension Neptunia, que este ano completa dez anos desde o seu primeiro lançamento no Ocidente. Enquanto não recebemos uma sequência de fato para a saga de Neptune e companhia, temos a oportunidade de encarar uma nova aventura das heroínas de Gamindustri, dessa vez ao lado de VTubers japonesas. Mas será que a proposta vale a pena, afinal? Confira conosco, caro leitor, em nossa análise a seguir.

Múltiplas dimensões

Caso você tenha caído de paraquedas nesta matéria e não possua familiaridade com a franquia, aqui vai uma breve contextualização: de modo geral, as aventuras da saga Hyperdimension Neptunia giram em torno de quatro carismáticas jovens — Neptune, Noire, Blanc e Vert —, que são as protetoras do mundo fictício chamado de Gamindustri.

Na verdade, cada uma das donzelas é uma unidade computacional com poderes especiais, ligada a uma das quatro nações de seu planeta — Planeptune, Lastation, Lowee e Leanbox, respectivamente. Como pode ser percebido pelos nomes anteriores, a grande sacada da série são as múltiplas referências ao mundo dos games e à cultura pop, de modo que, mesmo em meio a momentos superficiais de diálogo e fan service, há espaço para piadas inteligentes e surpreendentes quebras da quarta parede.

Sendo sincero, essas são características que tornam a franquia muito mais interessante do que um olhar desatento poderia prever. Embora a saga principal siga o manual dos JRPGs de turno, a trama altamente influenciada pelo mundo dos games também significa que há espaço para o flerte com outros gêneros, especialmente no caso de spin-offs. É o caso da estrela desta análise, que em seus momentos de gameplay pode se tornar tanto um hack ‘n’ slash quanto um jogo de tiro em terceira pessoa.

Meu novo mundo

Neptunia Virtual Stars se passa no planeta Emote, que está situado em Virtualand — um mundo separado tanto de Gamindustri, onde nossas heroínas vivem, quanto da realidade (o nosso mundo atual). Kado, a deusa de Obsoletia, está marchando com suas tropas e exterminando todo o conteúdo que há em Emote, fazendo com que Faira, a responsável pela guarda do planeta, envie um chamado interdimensional de ajuda.

Assim, Neptune, Noire, Blanc e Vert, que estavam tranquilamente curtindo um evento de jogos eletrônicos chamado de GGS (pegou a referência?), despertam no Planeta Emote ao lado da dupla de VTubers Mewtral, composta por Me e You. Após as devidas apresentações e explicações de Faira, as meninas concordam em ajudar a salvar o planeta da invasão do exército de Antis.

Sendo esta uma realidade paralela, os poderes habituais de Neptune e sua trupe não possuem efeito e, sendo somente VTubers, Me e You também não podem fazer muita coisa. A solução de Faira, porém, é conceder a todas as protagonistas armas especiais, que funcionam tanto como câmeras quanto como ferramentas para combater os adversários.

Ao contrário de servir para tirar fotos in-game ou algo do tipo, a parte das câmeras é uma referência ao grande crossover de Hyperdimension Neptunia com o universo das VTubers. Ao filmar suas batalhas e flertar com a carreira de idols, as meninas dão aos habitantes de Emote esperança de que dias melhores virão, endossando a mensagem de que vale a pena lutar contra os Antis, inimigos que não compreendem seu verdadeiro valor e espalham mensagens falsas e de ódio a respeito das celebridades.

Assim, temos aqui uma narrativa leve e bem amarrada, apesar de descompromissada. Fãs da série encontrarão entretenimento e as já habituais reviravoltas da saga, mas é uma pena que a jogabilidade em si não acompanhe a obra, sendo de longe o grande ponto fraco do título.

Shoot'em up!

Em jogo, Neptunia Virtual Stars segue o padrão da série principal, com áreas fechadas para exploração em terceira pessoa nas quais hordas de inimigos aparecem entre os eventos da história. Porém, a grande peculiaridade aqui é o fato de que a qualquer momento é possível alternar entre o controle das cyberdeusas e das VTubers, e as duas equipes (é possível recrutar mais duas VTubers posteriormente, igualando os números) possuem suas próprias características de jogabilidade.

Por exemplo, Neptune e sua turma tornam o jogo basicamente um shoot’em up em terceira pessoa, podendo inclusive deslizar com velocidade para facilitar sua esquiva. Já a dupla Mewtral precisa estar mais próxima dos inimigos para atacar, mesmo com You sendo portadora de um arco. 

É uma separação amplificada pelo fato de que as equipes possuem níveis de personagem e até mesmo barras de vida diferentes, fazendo com que não necessariamente um item de recuperação de vida, por exemplo, seja utilizável em todas as personagens. Porém, se narrativamente essa diferenciação faz sentido — afinal, estamos falando de VTubers de um lado e deusas virtuais do outro —, na prática ela torna o jogo desnecessariamente confuso e desnivelado.

Por exemplo, é muito mais fácil cuidar dos Antis atacando de longe do que tendo que se aproximar deles. Assim, a não ser que você seja fã das VTubers jogáveis, praticamente não há motivos para usá-las ao invés de Neptune e Noire, que são de longe as duas personagens mais fortes do jogo.

Não que a dificuldade geral do título seja lá essas coisas também; na maioria dos casos, as situações de combate se resumem a travar a mira e segurar o botão de tiro em um inimigo até que ele caia. Confesso que em certos casos eu até parei de usar a esquiva, pois, exceção feita a algumas batalhas de chefe, ele não foi tão necessária.

Algo interessante é que, em certos momentos, é possível ficar com a impressão de que até mesmo os desenvolvedores notaram que as partes jogáveis não eram tão legais assim. Afinal, este é um título no qual você vai passar mais tempo em telas de diálogo do que “jogando” de fato. A abundância de conversas não é algo estranho à série — Megadimension Neptunia VII (Multi) está aí para comprovar —, mas ainda assim é impossível não notar a desproporção ainda maior entre os dois elementos neste caso.

Beleza computadorizada

Todos esses problemas são realmente uma pena, porque Virtual Stars tem algumas qualidades. Houve um refinamento natural da engine gráfica da série, e aqui já temos na maioria dos diálogos personagens 3D ao invés de artes estáticas. Como dito anteriormente, o carisma das protagonistas também se sobressai ao longo da aventura, que deve levar em torno de dezoito horas para ser finalizada.

Porém, para cada passo à frente, parece haver outro no sentido contrário. A integração com as VTubers, que deveria em tese ser o grande chamariz do título e um possível atrativo para novos jogadores, acaba ficando rasa quando você nota que a maioria das estrelas só aparece em telas de loading e em formato de cubos equipáveis, que fornecem um pequeno incremento nos stats das meninas. Tais cubos também são o maior desafio para os jogadores que desejam fazer 100% no título, mas aqueles que desejarem fazer isso devem estar preparados para uma grande repetição dos cenários do jogo.

Esses aspectos, juntamente com a reciclagem de artes e músicas de outros títulos da franquia (as quais não são exatamente icônicas), trazem a sensação que os desenvolvedores poderiam ter ido além com este jogo. Apesar da mudança de gameplay, a verdade é que ainda não há nada aqui que possa mudar a opinião de quem não gosta da série, e o resultado disso é um título em sua maioria previsível — e o quanto isso irá te afetar é sinceramente algo pessoal.

No que tange ao aspecto técnico da adaptação para PC, felizmente temos a opção de 60 fps (no PS4 há o limite de 30 quadros por segundo em seções de jogo), o que é uma grande ajuda, mas novamente não há suporte a taxas de quadro mais altas. Também não há suporte ao ultrawide ou possibilidade de aumentar o campo de visão. Em uma nota mais positiva, não foram notados bugs ou crashes durante o período de análise.

Passeio virtual

Sendo honesto, Neptunia Virtual Stars não é um jogo ruim. Graças à narrativa leve, os fãs da série encontrarão aqui uma oportunidade de matar a saudade de Neptune e sua turma, que continuam carismáticas como sempre. Porém, a diferença de jogabilidade entre as protagonistas acaba causando um desbalanceamento que não deve ser ignorado, e a própria inclusão das VTubers parece rasa quando se olha o produto como um todo.

Assim, temos aqui um título que dificilmente mudará a sua opinião a respeito da série. Olhando as capturas de tela, já é praticamente possível perceber se Neptunia Virtual Stars é para você ou não. Caso seja, saiba que é preciso manter as expectativas em cheque; desse modo, o passeio pelo planeta Emote e o flerte com a carreira de idol provavelmente serão bem mais agradáveis.

Prós

  • Narrativa leve e bem-amarrada;
  • As referências à cultura pop e à indústria de games, bem como as ocasionais piadas e quebras de quarta parede são divertidas como sempre;
  • O carisma de Neptune e sua turma permanece intacto;
  • Os gráficos passaram por leve melhoria.

Contras

  • Jogabilidade desbalanceada entre as personagens;
  • Dificuldade irrisória;
  • O crossover com o universo das VTubers poderia ter sido melhor explorado;
  • Ausência de legendas e localização em português;
  • Não traz absolutamente nada de novo ou relevante para quem não é fã da série.
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 Neptunia Virtual Stars — PC/PS4 — Nota: 7.0 
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International

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