A jornada do explorador
A jovem arquivista Rosalind é uma dedicada estudante, ávida por aprender cada vez mais sobre o mundo e as criaturas que nele vivem. Após atingir certa maturidade, sua professora a convida para finalmente sair na primeira expedição fora da instituição de ensino.
Aqui encontramos as primeiras espécies silvestres e aprendemos a importância de registrar cada aspecto desses seres; quanto mais dados coletados, maiores serão as informações sobre determinada espécie, revelando curiosidades interessantes e que se relacionam com outros seres daquele ecossistema.
É nesse momento que somos apresentados a uma das aplicações do sistema de digitação: ao se aproximar de figuras no mapa ressaltadas por uma aura, podemos apertar o botão de espaço para criar uma área em volta de Rosalind, fazendo surgir uma palavra acima do ser recém-encontrado — geralmente são adjetivos relacionados às suas características, como “fragrância” para uma flor com odor agradável. Conforme encontramos espécies repetidas em diferentes locais, um marcador vai sendo preenchido e, quando completado, Rosalind faz desenhos e uma breve descrição em seu caderno.
A expedição guiada acaba sendo interrompida quando a também curiosa professora encontra uma nova caverna. É quando ela decide explorar o lugar sozinha e nos autoriza a seguir por conta própria, desde que não deixemos os limites da escola.
Repentinamente nos deparamos com uma raposa à beira da morte, prestes a ser atacada por criaturas hostis.Munida apenas de sua magia ainda em fase inicial, nossa heroína parte em defesa do animal ferido. Contudo, a situação começa a fugir do controle e antes que tudo esteja perdido, a raposa se transforma em espírito e nos carrega em segurança para longe.
Ao lado de nossa nova companheira, inicia-se a verdadeira jornada de Rosalind, onde ela encontrará novos povos e localidades, cada um com suas peculiaridades e problemas a serem resolvidos. Conforme avançamos no enredo, percebemos que um grande distúrbio parece ser comum em muitas mazelas que assolam aquele mundo. O que seria essa energia ou agente responsável por ameaçar o equilíbrio e afogar tudo na escuridão? Seria Rosalind a responsável por trazer a luz? Caberá ao jogador se aprofundar na história.
No geral, o enredo de Nanotale aborda a clássica jornada do herói, aparentemente despretensiosa, mas que vai ganhando cada vez mais profundidade. Alguns podem até considerá-la clichê, mas eu enxergo mais como algo clássico. Ela não me trouxe grandes surpresas, mas foi longe de ser desinteressante. O exercício de catalogar os seres vivos adiciona detalhes curiosos que muitas vezes casam com o momento da trama que estamos vivenciando.
Um ponto que deixou a desejar foi a falta de organização das missões principais e secundárias. Esse segundo tipo, por exemplo, aparece em grande quantidade durante a campanha e é fácil se perder em relação ao que devemos fazer, principalmente quando elas se acumulam. Isso poderia ser resolvido com um campo dedicado aos objetivos no menu de opções, ou com a opção de realizar marcações no mapa do jogo.
As missões costumam ficar espalhadas pelo mapa, o que pode causar confusão |
Palavras literalmente tem poder
A jogabilidade de Nanotale é o seu maior atrativo. Apesar de ser uma mecânica conhecida de outros jogos da franquia, além de ser meu primeiro contato com a franquia, eu nunca havia experimentado nada antes em outros gêneros do tipo.
Durante a exploração, temos o já citado esquema para catalogar as espécies encontradas. Na prática, ele não só enriquece a experiência ao fornecer mais detalhes sobre o cenário, como também se porta como a principal fonte de experiência na evolução de Rosalind. Missões principais e secundárias também nos premiam, mas acabam se equiparando devido à vasta quantidade de seres para catalogar.
Subir de nível aumenta uma das duas barras principais da personagem: vida ou mana, que na prática acaba funcionando como o vigor de jogos souls-like, pois ela regenera automaticamente. Além disso, podemos optar por melhorias permanentes que ajudam a aumentar nossa chance de sobrevivência, como mais dano em determinados tipos de inimigo, maior velocidade da nossa raposa, entre outras opções.
Os combates se intercalam entre duas situações: durante a exploração, quando nos deparamos com as criaturas ao longo do mapa; e quando entramos em uma espécie de arena fechada onde enfrentamos hordas de inimigos até cumprir objetivos específicos, seja sobreviver por determinado tempo, eliminar um chefe ou matar uma quantidade limitada de oponentes. Em ambos os casos, o que irá ditar suas chances de sucesso será o seu bom posicionamento e, é claro, sua velocidade de digitação.
O esquema de ataque funciona da mesma forma que o de registro no diário: ao apertarmos o botão de espaço, ficamos imóveis e palavras aleatórias aparecem em cima de cada monstro que enfrentamos. É preciso digitar a frase em questão antes que seu algoz se aproxime para um ataque. Em alguns casos, a melhor solução será cancelar a postura ofensiva e optar por um reposicionamento até um local mais afastado. Inicialmente pode parecer simples, mas conforme a coisa avança e novos oponentes surgem, manter o ataque padrão deixa de ser sempre a melhor saída.
Em resposta a isso, conforme progredimos na história, novos elementos são adquiridos e novas formas de lançar a magia também. Ao invés de digitar as palavras de forma individual, uma boa estratégia é aglomerar os monstros e lançar um grande turbilhão de vento em área ou então enfileira-los para um raio de fogo. São muitas opções que, por um lado, podem causar mais confusão, já que além do nome na criatura, será preciso digitar o elemento e a forma como ele será invocado; por outro, isso aumenta as opções na jogabilidade, agregando mais diversão e desafio.
É normal se atrapalhar com a quantidade de palavras |
A variedade de criaturas é razoável, recebendo poucas adições conforme mudamos de uma região para a outra. Contudo, a combinação delas é que torna a situação perigosa, principalmente nos momentos de arena, onde o nosso espaço é limitado, já que sua movimentação e estilo de ataque são diferentes, o que nos obriga a sair da zona de conforto e bolar diferentes planos de ação.
No geral, a experiência me agradou além do esperado. O jogo traz o benefício de estar traduzido para o português, mas esse bônus acompanha a desvantagem de lidarmos com a língua portuguesa e todas as suas complexidades. Se já não bastasse a briga contra o tempo para digitar muitas palavras antes de ser atacado, tudo fica ainda mais difícil com os acentos gráficos. Contudo, é questão de tempo até pegar o jeito, e logo logo me vi surpreso com o quanto isso melhorou minha velocidade na digitação — Só lembrem de alongar os músculos em meio a longas jogatinas.
A exploração também é um momento divertido, pois ela brinca com a manipulação de nossos poderes a fim de desbloquear novas áreas e resolver quebra-cabeças. O poder do vento pode ser usado para dispersar nevoeiros que encobrem algum segredo; já o fogo destrói barreiras vegetais pelo caminho. A forma como a magia vai ser aplicada também será a chave para continuar avançando na história. É um exercício que me exigiu certa análise, mas não chegou a ser nada dificilmente exaustivo a ponto de travar meu progresso.
Que tal criar uma ponte de gelo para atravessar um rio? |
Um mundo vibrante para desvendar
O visual de Nanotale não traz os gráficos mais avançados da geração; contudo, eles contam com uma direção de arte muito competente. Como o jogo brinca com a utilização dos elementos da natureza, tudo é muito cheio de cor para destacar cada particularidade dos diferentes ecossistemas que encontramos. O tamanho do mapa é considerável e, inicialmente, é fácil de se sentir perdido até liberar mais áreas, muitas delas se intercalando em forma de atalhos.
Em contrapartida, o jogo sofre rotineiramente com pequenos problemas durante a movimentação nos ambientes. Foram muitos os casos em que Rosalind ficou invisível, me levando a recorrer à estranha opção “ressurgir” colocada pelos desenvolvedores. Ao invés do habitual “recarregar checkpoint”, aqui Rosalind morre repentinamente. Sei que é algo banal, mas me desagradou o fato de matar minha personagem muitas vezes por erro de desenvolvimento. Felizmente, eu descobri que ativar a corrida da raposa faz a arquivista reaparecer em cima do animal espiritual (de nada, Fishing Cactus).
Outro ponto relevante que ajuda na imersão do jogador, junto com as questões gráficas, é a trilha sonora. Aqui ela acaba jogando contra a experiência, pois é muitas das vezes imperceptível e, em alguns casos, chega a sumir por um tempo. Durante as batalhas ela é mais notável, porém muito repetitiva, perdendo a oportunidade de empolgar e contribuir com o clímax do momento.
Digitar nunca foi tão divertido
Nanotale –Typing Chronicles consegue transformar o simples ato de digitar em algo desafiador e ao mesmo tempo divertido. É impressionante a quantidade de palavras que aparecem, o que sem dúvidas pode ajudar até a aumentar nosso vocabulário. A aventura de Rosalind se atém à velha receita do herói predestinado a resolver os problemas do mundo, mas ela é executada de forma satisfatória, sem deixar que o marasmo tome conta.
Levando-se em conta os pequenos bugs de desaparecimento durante a exploração, aqueles que curtem aventura e RPG em tempo real encontrarão nesse título um gameplay com enredo razoável, mas que surpreende pela jogabilidade totalmente fora da curva do que estamos habituados a ver no mercado.
Prós
- Mundo visualmente agradável e colorido;
- Mecânica de digitação criativa e divertida;
- A tradução em português ajuda na expansão do vocabulário.
Contra
- Recorrentes bugs de desaparecimento da protagonista no cenário;
- Trilha sonora repetitiva e pouco presente;
- Falta de um menu para visualização e organização de missões principais e secundárias.
Nanotale –Typing Chronicles — PC — Nota: 7.5Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fishing Cactus