Do bolso para os computadores e dos computadores para o bolso
A versão que cobriremos nesta análise é o port para dispositivos móveis de Magic: The Gathering Arena lançado para computadores em setembro de 2018. O trading card game já fez diversas aparições nos desktops, mas nos celulares a oferta de jogos digitais não foi tão generosa. Houveram as versões Duels of Planeswalkers de 2013, 2014 e 2015, que eram divertidas mas não permitiam liberdade na criação dos baralhos (decks). Além disso, esses aplicativos foram descontinuados, não sendo mais possível comprá-los ou baixá-los nas lojas oficiais.
Começou como um jogo de cartas físico e agora está nas telinhas |
Com MTG Arena finalmente realizamos o sonho de poder montar livremente os decks que quisermos, podendo usar as cartas mais atuais do jogo, e disputar partidas online – inclusive contra jogadores do PC, já que as versões mobile e desktop são completamente integradas com cross-play e cross-save.
Como é o jogo?
A versão digital traz as mesmas mecânicas da versão com cartas. Trata-se de um jogo de estratégia em turnos com cartas colecionáveis, no qual dois jogadores se enfrentam em um duelo simulado de magia.Cada jogador monta um baralho composto por cartas da sua coleção – é daí que vem o termo “cartas colecionáveis”. Obviamente, quanto mais cartas o jogador possuir, mais opções ele terá. Ao ganhar partidas ou cumprir tarefas, o jogador ganha uma espécie de moeda local que pode ser usada para comprar pacotes de cartas (boosters), que tem conteúdo aleatório.
Boosters podem ser comprados com a moeda ganha no próprio jogo, ou com dinheiro real |
É daí também que vem a monetização do aplicativo, pois é possível comprar boosters com dinheiro real. Mas é perfeitamente possível jogar e se divertir sem colocar dinheiro algum – eu mesmo jogo desta forma. Obviamente seu crescimento será mais lento do que aqueles que investem dinheiro, mas o ponto é que esta é uma boa forma para você experimentar Magic sem ter que gastar ou se preocupar em encontrar oponentes – algo especialmente complicado nestes tempos de pandemia.
O duelo ocorre em turnos e o objetivo é derrotar o oponente, exaurindo seus pontos de vida, as cartas do seu baralho ou envenenando-o. As cartas dividem-se em diferentes categorias, que possuem efeitos diversos, simulando magias.
Mão inicial: a primeira grande decisão do duelo |
Variedade estratégica é o grande diferencial de Magic, já que cada jogador tem seu próprio estilo de jogo e técnica para montar o baralho, sem falar que a coleção de cada jogador é única. A sorte tem uma boa dose de importância também, mas habilidade e estratégia são fundamentais.
A Wizards of the Coast mantém atualizações constantes no card game, trazendo regularmente novas coleções de cartas. Isso se reflete em MTG Arena, que recebe as novidades praticamente em simultâneo com a versão física, contrastando com a série Duels of Planeswalkers, onde para cada nova coleção era necessário adquirir e baixar um aplicativo completamente novo e incompatível com o anterior.
A versão para celulares
MTG Arena para celulares é praticamente idêntico à versão para PC, possuindo todos os seus recursos e até a mesma interface. Porém, a transposição do jogo de PC para o celular tem seus custos. No computador, você tem um monitor com espaço generoso e um mouse com controle preciso. Agora imagine jogar numa telinha de sete polegadas (se não menos) e selecionar cartinhas minúsculas com o dedo.
A interface é praticamente a mesma da versão para computadores |
Toda a beleza da versão de desktop está presente nas plataformas mobile. A arte das cartas, os efeitos visuais e sonoros das magias, as animações das cartas especiais, é tudo belíssimo e muito bem feito.
Por sua complexidade, o aplicativo é razoavelmente exigente quanto ao hardware. Os requisitos mínimos são sistema operacional Android 6.0, 4GB de RAM, e processador gráfico compatível com OpenGL ES 3.0. No caso dos dispositivos Apple, é necessário um equipamento com o sistema operacional iOS13 ou superior.
Na prática, aparelhos das duas últimas gerações deverão rodar sem problemas, enquanto nos modelos mais antigos dependem de instalar e testar, o que não é um grande problema, já que o aplicativo é gratuito. Na publicação desta análise, a versão para Android ocupa um espaço de 3,2 GB de memória.
O aplicativo exige aparelhos com um certo poder de fogo |
Nos meus testes com MTG Arena usei meu celular, um Galaxy Note 10+, e meu tablet, um Galaxy Tab S6. Ambos são aparelhos de 2019 e rodaram o jogo razoavelmente bem. Durante as partidas eu senti alguns travamentos e o programa fechou sozinho algumas vezes no meio dos duelos, algo raro de acontecer na versão de desktop, que é bem estável. Como a versão mobile ainda é recente, provavelmente a desenvolvedora poderá fazer melhorias de estabilidade.
A jogabilidade no celular
Tenha em mente que MTG Arena para dispositivos móveis é uma adaptação de um jogo feito para PC, que por sua vez também é uma adaptação digital de um jogo de cartas físico. Isso significa que ele é complexo, com muitos textos e regras, contrastando com concorrentes como Hearthstone, da Blizzard, que é inteiramente digital e pensado desde o começo para ser simples e adaptável para celulares.
A jogabilidade de MTG Arena mobile depende profundamente da sua experiência com Magic em si: se você é daqueles que só de olhar a arte da carta já sabe o que ela faz, e se já joga a versão para desktop, a experiência será bem fluida e agradável. Mas, se você não está familiarizado com o jogo e precisa interromper a partida a todo momento para ler o texto das cartas, é provável que se sinta perdido sobre o que está acontecendo no meio da pirotecnia e dos efeitos especiais.
A tela pequena faz com que seja difícil acompanhar o andamento da partida e, por motivos de espaço útil, as cartas na área de jogo só exibem sua arte e seu nome; para ler os textos é necessário segurar a carta por alguns segundos com o dedo, o que habilita um zoom para ler os detalhes.
Sobre a jogabilidade, do ponto de vista físico (selecionar os itens usando o dedo), confesso que não gostei muito. Muitas vezes a interface não é responsiva e seleciona o item errado, ou os comandos de toque demoram um pouco para responder. Pequenas “engasgadinhas” durante a partida são bastante comuns.
No geral, eu achei a usabilidade da interface no celular mediana – a tela parece pequena demais para o jogo. Já no tablet, que possui o triplo da área útil de um celular, a jogabilidade foi muito mais agradável, e, mesmo com as travadinhas, chega a ser mais intuitivo que a interface para o PC.
É possível segurar o dedo sobre uma carta para ler mais detalhes |
Outro ponto que me incomodou bastante é que o aplicativo exige que você digite seu login e senha a cada acesso. Ao contrário da versão para desktop, e até mesmo da maioria dos jogos para celular, não é possível salvar seu login e senha para entrar automaticamente. É um incômodo ter que digitar seu endereço de email (que é seu login) e a senha no tecladinho virtual todas as vezes, especialmente se você usa senhas longas.
Eu vejo a versão mobile de MTG Arena como um complemento, e não um substituto, para a versão de computadores. Ela é boa para aquela partidinha casual no intervalo da aula ou para completar as tarefas diárias na cama, mas eu não a recomendaria para jogatinas longas.
Varinha mágica
Um adendo para quem possui aparelhos com stylus (canetinha): este método de entrada melhora consideravelmente a jogabilidade. Ao aproximar, sem tocar, a ponta da stylus na tela, você pode exibir detalhes das cartas sem selecioná-las, algo similar a segurar o dedo sobre elas, só que muito mais prático e preciso.
Outro método é conectar um mouse ao seu celular via Bluetooth ou cabo, caso ele tenha estas funcionalidades. A questão aqui é que isso exige uma mesa (e obviamente um mouse) para se jogar, o que elimina o fator portabilidade da versão mobile.
Caso você possua um modo de conectar seu celular a uma TV ou monitor, como a ferramenta Dex, para celulares Samsung, ou a Ready For, da Motorola, e puder conectar um mouse Bluetooth, a experiência de jogo será bastante parecida com aquela da versão para PC.
It’s a kind of Magic
Se você já conhece Magic e está procurando uma forma de jogar a versão digital online do jogo em qualquer lugar, ou quer uma plataforma complementar para jogar casualmente quando está longe do computador, esta versão mobile é mais que recomendada.
Aquele friozinho na barriga na hora de abrir o pacote de cartas é o mesmo, não importa a versão |
Se você não conhece nada de Magic e gostaria de começar neste universo, eu diria que esta não é a versão mais indicada. Você terá dificuldade em ler a enorme quantidade de textos e regras para compreender o jogo, que já é bastante complexo. Isso não é exatamente culpa da versão mobile, mas da própria natureza do card game, que foi concebido assim. Se você quer aprender a jogar, sem dúvida nenhuma eu lhe recomendo a versão para computadores, se possível.
Se você não tem um PC gamer ou um Mac e gostaria de jogar, e o celular é a única plataforma viável, eu recomendo que você teste – afinal o jogo é grátis e jogar com alguns problemas é melhor do que não poder jogar de forma alguma. O aplicativo está disponível gratuitamente para iOS na App Store e Android através da Play Store.
Comece com os decks pré montados, depois crie seus próprios |
Magic: The Gathering Arena (Mobile) realiza o antigo sonho de jogar aonde quiser, com decks projetados por você mesmo, a qualquer hora e lugar. Com alguns problemas de jogabilidade e estabilidade, está longe de ser perfeito, mas cumpre bem sua tarefa em trazer toda a riqueza e complexidade das telas grandes para as telas pequenas. É uma opção muito válida para curtir Magic, especialmente considerando que é um aplicativo gratuito e conta com integração total com sua versão desktop.
Prós
- Gratuito;
- Possibilita jogar Magic em qualquer lugar;
- Totalmente integrado com PCs, com cross-save e cross-play;
- Interface e funcionalidades praticamente idênticas à versão para computadores;
- Atualizações frequentes mantém o jogo sempre em dia com os lançamentos do card game físico;
- Totalmente em português.
Contras
- É difícil visualizar as cartas e acompanhar o jogo em um tela pequena;
- Interface pouco responsiva e travamentos frequentes;
- Exige login e senha toda vez que você entra.
Magic: The Gathering Arena - Android/iOS - Nota 7.0
Versão utilizada na análise: Android
Análise realizada com versão gratuita do jogo, disponível na Play Store