Dando início a uma grande saga
Iniciado em 2002, Kingdom Hearts é um projeto que faz um curioso crossover entre mundos Disney e Final Fantasy. Encabeçada por Tetsuya Nomura, a série teve vários lançamentos ao longo dos anos, incluindo múltiplas plataformas, como PS2, GBA, DS, 3DS e mobile.
Com uma narrativa conectada entre todos eles, mesmo títulos que a princípio podem parecer menores são relevantes. Quando a Square Enix estava trabalhando em Kingdom Hearts III, ela decidiu criar pacotes com os jogos disponíveis anteriormente para que os jogadores pudessem conhecê-los ou revisitá-los antes de seu contato com a sequência.
Em 2013, a empresa lançou Kingdom Hearts HD 1.5 Remix no PS3. No ano seguinte foi lançado o HD 2.5 Remix. Cada um deles contava com dois jogos remasterizados e uma versão vídeo de um título de DS. Posteriormente, eles foram lançados para PS4 e Xbox One em um pacote duplo, que é o que chegou agora ao PC.
Para um jogador que quer mergulhar na série, trata-se de uma coletânea de entrada, que cobre boa parte da sua história. Incluídos no pacote estão Kingdom Hearts Final Mix, Re:Chain of Memories, Kingdom Hearts II Final Mix, Birth by Sleep e vídeos de 358/2 Days e Re:Coded.
Kingdom Hearts Final Mix
O primeiro jogo da coletânea e o ponto ideal para começar a história é Kingdom Hearts: Final Mix. Trata-se do primeiro jogo da série em sua versão com conteúdos extras que não haviam sido lançados no Ocidente para o PS2.
Ele narra a história de Sora, um jovem garoto que sonha em conhecer outros mundos com seus amigos, Riku e Kairi. Porém, um dia, o grupo acaba se separando e Sora vai parar em outro mundo, Traverse Town. De posse da Keyblade, uma arma em formato de chave que pode ser usada para proteger os mundos das trevas, o rapaz encontra Donald e Pateta, que procuram pelo Rei Mickey. O grupo parte em uma jornada para descobrir o paradeiro de seus amigos, viajando por múltiplos mundos Disney, lutando contra as criaturas chamadas de Heartless e resolvendo os problemas de cada área.
Como o jogo mais velho do pacote, é possível ver alguns problemas mais gritantes. Em particular, a câmera é muito próxima de Sora durante o combate e não é possível alterá-la. A adaptação manual serve apenas para ajustar vertical e horizontalmente, mas não para corrigir esse problema. E para piorar a situação, a câmera invariavelmente faz ajustes automáticos que atrapalham o controle do jogador.
Também passei por um problema em relação aos drops dos inimigos. Em algumas áreas, quando estava lutando próximo das paredes, os itens e orbes deixados pelos inimigos ficavam agarrados em uma quina. Não importa o quanto eu tentasse me aproximar, eles estavam inalcançáveis, como se estivessem além da parede, mesmo ainda visíveis.
De forma geral, é um jogo que envelheceu mal, pela câmera, mas ainda conta com um combate interessante. Há várias habilidades, keyblades, itens e magias para equipar em Sora, assim como summons clássicos da Disney, recompensas por exploração e, para quem quiser regular também a IA dos aliados, existem métodos de ajuste do uso de técnicas de Donald, Pateta e outros personagens que não são controlados diretamente.
Kingdom Hearts Re:Chain of Memories
A sequência direta do primeiro jogo, Re:Chain of Memories é um remake 3D de um jogo de GBA. O título é bastante detestado por muitos fãs da série por mudar o gameplay, incorporando um sistema de cartas ao combate e à exploração. Pessoalmente, ambos os títulos figuram no topo da minha lista justamente por esse elemento de experimentação.
O jogo conta com duas histórias, uma focada em Sora e a outra em Riku. Para o primeiro, é permitido ao jogador montar o seu próprio baralho, explorando múltiplas combinações. Já Riku tem um deck pré-determinado para a área em que está, sendo necessário que o jogador compreenda e se adapte ao formato mais restrito.
Durante o combate, o jogador pode usar cartas com efeitos diferentes, como ataques básicos, magias e itens. Elas contam com versões numeradas de 0 a 9, sendo necessário usar cartas de número maior para quebrar o ataque inimigo e barrar os seus movimentos.
A carta 0 funciona como um coringa que pode derrotar qualquer carta ou combinação, mas é quebrada facilmente, sendo ideal como contra-ataque. É possível usar uma mão de três cartas para criar combos com os quais os adversários terão mais dificuldade de lidar, assim como ativar habilidades especiais. Por fim, também é possível se esquivar dos ataques dos inimigos sem usar nenhuma carta.
Ao derrotar um grupo de inimigos, o jogador recebe cartas de mapa e pode usá-las para construir o seu próprio caminho. É possível também refazer áreas usando novas cartas para poder lutar mais, obtendo experiência e cartas extras.
Em sua versão de PC, o jogo é uma boa demonstração da baixa qualidade dos vídeos pré-gravados da coletânea. As cutscenes em Castle Oblivion são desfocadas, marcadas com aliasing e problemas de textura. Esse tipo de problema é menos comum nos outros jogos, mas ainda está presente.
Durante o gameplay em si já não há problemas, com gráficos remasterizados de boa qualidade, especialmente para os modelos dos personagens. Em termos do jogo em si, o combate é bastante interessante e experimental. Vale a pena conferir, mas é necessário ter em mente que se trata de um título bem diferente do resto do pacote.
Kingdom Hearts II Final Mix
A história continua a partir de Re:Chain of Memories, agora introduzindo Roxas, que também é o protagonista em 358/2 Days, lançado posteriormente. Após uma parte de gameplay com ele, o jogo continua a narrativa de Sora, que agora precisa lutar contra a Organização XIII. Assim como o primeiro jogo, uma versão com mais conteúdo foi lançada no Japão com o subtítulo Final Mix e esta foi utilizada nas coletâneas.
Em termos de gameplay, o jogo conta com uma câmera melhor posicionada e um combate marcado principalmente pelo uso até um pouco excessivo de QTEs. Em comparação com o primeiro, a novidade principal fica por conta das Drive Forms. Quando tem uma certa quantidade da sua barra de drive acumulada, Sora pode ativar essas transformações que mudam drasticamente a fluidez das batalhas, adicionando habilidades extras para o personagem.
Infelizmente a versão de PC conta com alguns problemas. Em particular, notei que o áudio reduz aleatoriamente durante o combate com certa frequência. Além disso, o jogo chegou a fechar completamente quando usei a Valor Form pela primeira vez.
Kingdom Hearts: Birth by Sleep Final Mix
Lançado originalmente para PSP, Birth by Sleep conta uma história que precede todos os outros jogos aqui presentes. Apesar de sua posição na cronologia, é ideal jogá-lo por último nesta coletânea tendo em vista a ordem de lançamento.
Birth by Sleep conta a história de três personagens: Ventus, Terra e Aqua. Os três estudam para se tornarem mestres da Keyblade e um dia recebem uma missão de seu mestre, Eraqus. Caberá a eles investigar misteriosas criaturas chamadas de Unversed, que ameaçam a paz em vários mundos, e encontrar o desaparecido mestre Xehanort.
Em termos de gameplay, o jogo adiciona um interessante sistema de comandos equipáveis. Em vez de usar MP, cada ataque especial e magia possui um cooldown. Além de cada habilidade ter níveis que podem ser melhorados com experiência, é possível combiná-los para criar comandos mais avançados e poderosos.
Em sua versão remasterizada no PC, é nítida a baixa qualidade das texturas dos backgrounds, que são desfocados e ocasionalmente destoam dos modelos melhorados dos personagens. Mesmo assim, de forma geral é uma edição sólida e não consegui notar nenhum problema que efetivamente atrapalhasse o gameplay.
Vídeos de Kingdom Hearts 358/2 Days e Re:Coded
Lançados originalmente para DS, 358/2 Days e Re:Coded infelizmente não são jogáveis na coletânea. Ambos os títulos só estão disponíveis na forma de cutscenes e textos, na tentativa de ainda oferecer as suas narrativas de alguma forma sem precisar refazê-los totalmente.
Essa está longe de ser a forma ideal de experimentar ambos, especialmente porque o gameplay é um elemento fundamental das obras. Para piorar a situação, os vídeos sofrem do mesmo problema que mencionei para Re:Chain of Memories, fazendo com que o aspecto visual seja desagradável e pouco convidativo.
Um menu extra de opções
A coletânea conta com um menu extra para definir uma variedade de aspectos, como gráficos, controles e som. Esse menu é válido para toda a coletânea, o que significa que todos os jogos e vídeos contam com as mesmas opções divididas em quatro categorias: display, som, gamepad e teclado.
Na categoria display é possível mudar a resolução e escolher entre fullscreen, fullscreen sem bordas e janela. Porém o mais relevante fica por conta da taxa de frames que pode ser configurada para 30, 60 ou 120 fps e que também conta com a opção de desbloqueio, retirando as limitações. Há também um outro limitador que é o refresh rate (taxa de atualização), ou seja, V-Sync, que pode ser desabilitado se o jogador preferir.
Ainda é possível ajustar o brilho e há uma opção de filtros para daltônicos, com ajustes para pessoas com protanopia, deuteranopia e tritanopia. Esse tipo de opção de acessibilidade é muito bem-vinda. No entanto, é uma pena que não seja possível realizar outros tipos de ajustes que poderiam reduzir os problemas que mencionei acima, em especial os borrões e o forte aliasing dos vídeos.
Em termos de som, há barras para definir o volume da música de fundo, dos efeitos sonoros e das vozes, além do master volume (que modifica todos os fatores em níveis iguais). É impossível retirar totalmente qualquer um dos sons e vale ressaltar que reduzir qualquer um deles não afeta os níveis de som dos vídeos de 358/2 Days e de Re:Coded, nem as cutscenes de Re:Chain of Memories. Além disso, apesar de a página da Epic Store destacar que o áudio japonês também está disponível, essa opção não está presente para nenhum dos jogos.
Por fim, o jogo conta com opções para teclado, mouse e controles. O remapeamento é simples e prático, além de ser possível ajustar a sensibilidade do mouse e alterar os botões que aparecem na tela entre padrões Xbox, PlayStation e genérico. Vale destacar que todas as configurações podem ser acessadas dentro dos jogos no menu.
Prós
- Quatro RPGs de ação de boa qualidade;
- Controle de resolução com opção de desbloquear o FPS;
- Remapeamento simples para teclado, mouse e controles.
Contras
- Câmera ruim e de difícil ajuste em Kingdom Hearts Final Mix;
- Baixa qualidade de texturas de ambientes em Birth by Sleep;
- Cenas desfocadas e marcadas por forte aliasing em 358/2 Days, Re:Coded e Re:Chain of Memories;
- Ajustes de resolução e som são apenas pontuais;
- Pequenos bugs e crash em Kingdom Hearts II Final Mix.
Kingdom Hearts HD 1.5 + 2.5 ReMIX – PC/PS4/XBO – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix