Análise: Crash On the Run! (Mobile) é um jogo muito bom, mas que ficou devendo a franquia Bandicoot

Gratuito para jogar, o game do tipo endless run tem potencial para ser ainda melhor.

em 10/04/2021

Jogos de celular se tornaram cada vez mais populares nos últimos anos, contando com títulos de diversos gêneros. Um dos mais comuns é o chamado endless run, que, inclusive, possui vários nomes de peso. O mais novo deles é Crash On the Run! (Mobile), que traz a estreia do universo Bandicoot no mundo dos smartphones. Mas será que ele fez jus à famosa franquia? Pegue o Aku Aku e não se esqueça das frutas Wumpa, pois vamos começar!

Uma série clássica num gênero popular

O gênero endless run (também conhecido como infinite run) se tornou um dos mais populares nos celulares. A ideia é bastante simples: um personagem avança automaticamente pelo cenário, cabendo ao jogador pular, desviar e executar outras ações para prosseguir. Essa proposta é boa para smartphones porque permite grandes aventuras com uma intervenção mínima.
 
Afinal, seria mais difícil jogar segurando o celular, pressionando um botão de correr e ainda tendo que acionar outros comandos. A lista de bons exemplos é longa, mas um dos primeiros foi Temple Run, seguido por Subway Surfers, Minion Rush: Despicable Me e Sonic Dash. Esses dois últimos, aliás, demonstram uma prática comum do gênero.
 
A utilização de franquias famosas para produzir jogos de celular, nos quais as marcas populares emprestam sua força ao título. Mesmo a Nintendo, famosa superprotetora das suas marcas, já embarcou na onda, incluindo um endless run chamado Super Mario Run. Logo, dado o seu carisma e a sua flexibilidade, era questão de tempo até que a turma de Crash Bandicoot chegasse aos smartphones.
A aventura é realmente divertida, embora ainda careça de melhorias
Crash On the Run! foi lançado em 25 de março para Android e para iOS, sendo que os primeiros vazamentos remontam a fevereiro de 2020. Estrelando o marsupial mais famoso dos games, temos um jogo, em que Crash e sua irmã Coco precisam correr por várias fases com elementos inspirados na franquia. Iremos conferir em detalhes como ele funciona.

Proposta clássica para um jogo simples

A história parece saída de um dos jogos principais da série: Dr. Neo Cortex começou a utilizar gemas especiais para abrir portais em vários pontos do tempo e espaço. Para controlar cada dimensão, foram enviados vários outros vilões como Dingodile, Fake Crash e Dr. Nitrus Brio. Com a ajuda de Coco, Crash deve mandá-los de volta às suas próprias dimensões e salvar o multiverso.
O jogo conta com várias figurinhas carimbadas da sua franquia
Cada vilão famoso conta com um bando de quatro ajudantes que precisam ser derrotados. Para isso, é preciso percorrer a fase de cada um deles destruindo caixas, coletando frutas Wumpa e enfrentando inimigos. No final dela, é preciso atirar um Soro de Portal Nitro para derrotar o ajudante, enviando ele de volta para a dimensão correta.
Derrotar os chefes é uma saudável mudança na jogabilidade
Após derrotar o bando de lacaios, é a vez do vilão principal. A maior diferença nos níveis entre eles é a necessidade de utilizar a Estouruva, uma fruta que deve ser atirada no inimigo para acabar com a sua barra de vida. Terminada a luta, o soro deve ser usado para mandar o malfeitor para casa e obter uma Joia de Poder, que proporciona novos desafios e o reinício do ciclo. Tudo funciona bem e a jogabilidade é sólida e intuitiva.

Equilíbrio entre jogar e esperar

Esses soros, na prática, são o fator limitante de On the Run. Como todo free to play, ele conta com uma mecânica que restringe o tempo da jogatina. Neste caso, para obtê-los é preciso coletar recursos, como a Casca Brilhante, e esperar um período de fabricação. O jogador pode gastar tempo procurando pelos itens e esperando o processo, ou então pagar com cristais roxos, cuja venda é amplamente divulgada no game.
A base de operações da dupla tem várias surpresas para serem liberadas
Preciso ressaltar, entretanto, que essa limitação é relativamente pequena. Comparando com outros jogos do mercado, o título é generoso e permite ao jogador curtir bastante sem precisar gastar. Mesmo skins e itens especiais podem ser coletados de forma razoável, mesmo que o aplicativo ofereça, com frequência, “promoções” para compra.
Temos muitos visuais diferentes, mas os preços são bem salgados
Infelizmente, muitas coisas só podem ser liberadas com o uso de dinheiro. Afinal, é assim que a produtora obtém lucro em um jogo gratuito. Creio que o equilíbrio aqui seja adequado, lembrando que o game ainda não possui nem um mês de vida. É normal a chegada de atualizações conforme o título ganha mercado, então vamos esperar que essa tendência positiva fique cada vez melhor.

Boas qualidades, mas sem ser muito envolvente

As fases seguem uma estrutura semelhante a outros jogos do gênero, com obstáculos que exigem que Crash (ou Coco), pule, desvie, gire e dê carrinhos. As animações são bem legais e os movimentos são claramente inspirados nos títulos da série. Os cenários e seus elementos também remontam a paisagens já conhecidas, sendo que tudo possui um belo e colorido visual.
É possível entrar em equipes e competir contra outros jogadores
O problema é que as fases são relativamente parecidas entre si, variando somente quando o jogador consegue coletar um número específico de joias derrotando os vilões e seu bando. Logo, os níveis se tornam repetitivos, mesmo com a adição de pequenas variações nos desafios dentro deles. Além disso, eles são, em geral, pouco exigentes e não oferecem desafios instigantes.
O sistema de criação de soros é fundamental para avançar
Eles se limitam a derrotar alguns inimigos menores pelo caminho, pular em plataformas, desviar de pedras e arrebentar caixas de frutas Wumpa. Nada revolucionário, seja no mundo do Crash, seja nos endless runners em geral. Some isso com as recompensas reduzidas e não muito interessantes e temos um título que ficou devendo.
Embora tenhamos temas como selva, templo e futurista, eles demoram para aparecer
Não que os títulos da franquia Bandicoot sejam sinônimos de adrenalina pura, mas Crash On the Run! fica abaixo deles. Entendo que a proposta foi abranger um grupo maior de jogadores, algo comum para jogos free to play, mas creio que o equilíbrio está prejudicado, sobretudo pela velocidade reduzida em que o game funciona. Existem, entretanto, duas exceções a essa característica.

Potencial escondido como uma gema rara

Como dito anteriormente, os soros usados para derrotar os vilões precisam de recursos para serem fabricados. Esses materiais podem ser coletados em fases especiais, que não contam com um chefe ao final. Conforme o jogador progride no game, ele libera missões especiais nesses níveis, que incluem corridas contra o tempo e coleta de joias coloridas.
As missões "clássicas" são as melhores de Crash On the Run!
Quem conhece a série sabe que esses são elementos clássicos e trazem um novo frescor ao aplicativo. Esses níveis são significativamente mais difíceis, mas sem exageros, alcançando aquele equilíbrio que falta às fases “principais”. Pena que temos poucos desafios desse tipo; ou seja, o título, na prática, é bastante casual e não têm maiores incentivos para o jogador avançar.
Destaque para o game poder ser jogado tanto online, quanto offline
Como as fases normais apresentam novidades de forma lenta, não temos desafios significativos e as recompensas são simples. Me senti pouco estimulado a continuar jogando. O charme da série acaba sendo o principal atrativo do game, como pode ser visto, por exemplo, na trilha e nos efeitos sonoros divertidos. Sei que estou sendo exigente para um aplicativo gratuito, mas temos bons exemplos no mercado que demonstram como oferecer uma grande experiência sem cobrar nada por isso (ainda que com algumas limitações e propagandas).
 
Várias partes do jogo apresentam mensagens “em breve”, salientando que podemos esperar novidades. São muitas as possibilidades: eventos, vídeos, fases especiais, novos personagens e variações de jogo. Tudo isso pode tornar o aplicativo em uma daquelas pérolas exclusivas dos smartphones. Em particular, torço para que os produtores da King olhem com carinho a extensa biblioteca da série Bandicoot.
Quem sabe o que a série principal pode emprestar para o título mobile?
Temos muitas ideias incríveis lá, sendo que as minhas favoritas são o Crash Motoqueiro, o ursinho Polar e o tigre de bengala Pura. Os níveis com as gemas e disputas contra o relógio também precisam de mais destaque, pois eles são os melhores do jogo. Se o título trouxer mais desses desafios clássicos e algumas novidades pontuais, ele poderá se tornar um daqueles apps obrigatórios nos nossos smartphones.

Um bom jogo que pode se tornar ótimo

Crash On the Run! (Mobile) é um bom jogo gratuito, com nível de qualidade compatível, e até melhor em certos pontos, que os demais endless run concorrentes. Os elementos emprestados da franquia Bandicoot são muito bem usados e combinam bem com a jogabilidade e mecânicas apresentadas. Infelizmente, a dificuldade é baixa e as recompensas por jogar são pouco interessantes. Agora é torcer para que ele receba boas atualizações e consiga conquistar seu espaço neste concorrido mercado.
Uma grande e divertida aventura da turma do Crash Bandicoot para jogar a qualquer hora e em lugar

Prós

  • Ideia básica de transpor o universo de Crash Bandicoot para um endless run é competente;
  • Gráficos são coloridos e charmosos, dignos dos visuais originais;
  • Músicas e efeitos sonoros inspirados na franquia são muito bons;
  • Jogabilidade e mecânicas são interessantes e divertidas;
  • Fases com gemas coloridas e contra o tempo são ótimas;
  • Dependência de pay to win não é exagerada e funciona sem internet.

Contras

  • Dificuldade no geral é reduzida, principalmente devido à baixa velocidade e seções de plataforma pouco inspiradas;
  • Repetição de cenários e inimigos é por vezes irritante.
Crash On the Run! – Android/iOS – Nota: 7.5
Revisão: Felipe Fina Franco

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.